Phaesea escrita por Madie


Capítulo 2
Macieira dos Suicidas


Notas iniciais do capítulo

Eu achei esse capítulo realmente triste... não sei vocês. E ele ficou com poucos diálogos, então talvez seja meio cansativo. Enfim, divirtam-se!



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Quando Alexandra e Samantha chegaram ao acampamento, Quíron reconheceu seus rostos rapidamente. É claro, ele imaginava que as duas, após a morte, foram para os Campos Elísios e voltaram nos dias atuais buscando as Ilhas Afortunadas, por isso, nunca falou nada a respeito de já tê-las conhecido.

No entanto, os anos foram se passando, e as duas tinham cada vez mais lembranças da existência que tiveram cerca de quinhentos anos antes. Para ajuda-las, Quíron contou tudo o que sabia.

Alexandra e Samantha eram Astrid e Abigail, respectivamente. Irmãs que chegaram ao acampamento jovens demais. Abigail com alguns meses e Astrid com dois anos de vida, mais ou menos.

Nunca se soube quem eram seus pais, nem de onde vieram. Ambas eram uma incógnita para todos.

Abigail sempre fora uma feiticeira poderosa, além de ter poderes curativos. Supunha-se que ela fosse filha de Hécate, contudo, isso jamais ficara comprovado.

Já Astrid sempre fora uma exímia lutadora. Uma guerreira incansável, poderosa e estrategista.

O estranho era que as duas ainda apresentavam essas características. Sam fazia feitiços simples, curava ferimentos leves e Alex era uma guerreira implacável e cheia de estratégia.

Porém, o maior mistério era o das duas, desde pequenas, vivenciarem flashbacks com cenas de sua existência anterior, pois, antes das almas voltarem ao mundo dos vivos, elas bebiam do rio Lete, o que apagava todas as suas memórias permanentemente, impedindo que elas se lembrassem do que quer que fosse.

Foi revelado a Samantha que Noah, o garoto com quem ela sonhava várias vezes e sentia uma ligação cada vez mais forte, tinha sido o grande amor de Abigail. Era sabido que ele foi morto por Hécate e que antes disso as irmãs já tinham uma péssima relação com a deusa. O motivo era desconhecido, porém, Quíron supunha que era Lanna, a ruiva dos pesadelos de Sam e filha de Hécate, a causadora desse ódio, pois na mesma noite em que ela sumiu do acampamento, Noah foi morto.

O sonho de Samantha só reforçava essa tese. Aliás, no dia seguinte, ele havia se repetido. Desta vez, Sam caminhava até a praia, contudo, foi impedida por um campista que ela não fazia ideia do que estava fazendo acordado àquela hora. Só ficou a par do motivo quando já era de manhã.

Houve uma cerimônia fúnebre. O menino que salvou a vida de Sam, tirou sua própria, certamente logo após de ajuda-la.

Ele foi em uma árvore conhecida como “Macieira dos Suicidas”, existente na floresta, e comeu um fruto, que o matou instantaneamente. Provavelmente, ele quis simular um acidente, porém todos conheciam esse pé, então a ideia de que foi acidental não era mais tão aceita.

Durante a cerimônia, a namorada dele passou o tempo todo em prantos. Ela gritava:

— Essa maldita árvore precisa ser derrubada! Por que ninguém toma uma providência? Olha quantas mortes essa praga causou! Campistas desavisados morrem ao comer dela por acidente, e ninguém faz nada! Eu te juro, meu amor, juro que irei arranjar uma forma de colocá-la abaixo!

Era óbvio que ela dizia que foi um acidente para se reconfortar. A pobre garota não aceitava que seu amor havia tirado a vida, algo compreensível. E é mais óbvio ainda que ninguém fez nada para tirar a árvore dali pois não havia o que ser feito.

Logo que o primeiro campista morreu e foi confirmado que isso se dera devido a ele ter comido uma maçã, fizeram de tudo para cortar a árvore, sem sucesso. Então, para evitar mais mortes, encheram de avisos e placas lá perto, tratando de espalhar pelo acampamento inteiro o perigo representado pela macieira. Por isso, os próximos a morrerem por causa dela sempre tinham uma carta escondida por aí, comprovando que, apesar dos avisos, alguns campistas iam até lá com o objetivo de morrer, sendo essa a origem do nome da árvore. Sam não duvidava que logo apareceria uma carta do recente suicida.

De certa forma, Sam sentia-se culpada por não ter tentado ajudar o falecido. Obviamente, ela não tinha como saber que ele se suicidaria, todavia, o sentimento de que talvez uma frase curta ou uma simples palavra poderia salvá-lo não ia embora.

O restante do dia foi carregado de um clima sombrio e triste. A carta que Josh escreveu foi encontrada em seu chalé, o de Ares. Tinha sofrido bullying durante toda a época da escola por ser gordo, usar óculos, ter dislexia e TDAH. Chegou no acampamento já com depressão, além de ser frequentemente rebaixado e humilhado por seus meio-irmãos, já que lutava mal e sequer podia se defender. Um garoto gentil que teve sua vida roubada.

A maioria dos campistas do chalé cinco parecia arrependida. Evitaram conversar com os outros e andavam de cabeça baixa.

Mas é claro que esse remorso não duraria muito tempo. Uma característica que está presente tanto em mortais, quanto semideuses e até deuses é a conhecida hipocrisia.

***

O acampamento inteiro acordou com os gritos de uma garota do lado de fora dos chalés:

— Harpias! Harpias! Venham, podem me comer! Façam de mim seu jantar!

Samantha, a sonâmbula, ataca novamente.

Dessa vez ela correu um risco alto. As harpias realmente se aproximaram, porém, antes que Sam virasse comida de galinha voadora, Quíron interviu as mandando embora e chamando Sam para uma conversa séria.

— O que eu acabei de ver, Samantha?

— Eu não sei, Quíron. Eu juro que eu não sei. — A filha de Quione chorava sem parar.

— Como não? É a terceira vez, Sam. Você não morreu até agora apenas pela graça dos deuses.

— Quíron, eu juro, juro pelo Estige! — Sam mordeu o lábio, incerta se deveria continuar. — Eu... eu estava amarrada a cama. Pode parecer loucura, mas eu pensei que...

— Então me mostre.

Samantha o levou até seu quarto. Haviam várias cordas caídas no chão, cortadas. Sobre a cama, um punhal, o mesmo que Hécate usava para matar Noah em seus pesadelos.

— Se você iria se amarrar, Samantha, sabendo que é sonâmbula, então não devia ter colocado um punhal, francamente!

— Quíron, eu já falei e repito: eu juro pelo Estige que não sei como isso aconteceu. Não coloquei esse punhal aí! — Sam agarrou os cabelos, sem parar de chorar. — Eu não posso estar louca, ou posso? Não, não, não! Merda de vida amaldiçoada!

— Precisamos arranjar uma solução para isso. Você não está louca, Sam. — O centauro falou com voz calma e reconfortante. — Descanse agora, pequena. — E, após desejar isso, saiu. Acreditava que a garota precisava de um tempo sozinha.

Sam jogou as cordas em um canto qualquer e guardou o punhal em uma gaveta, para então deitar-se, mas sem conseguir dormir, pois a única coisa em que conseguia pensar era em suas crises de sonambulismo, no punhal que aparentemente saiu de seus sonhos e no que Scarlet havia lhe dito dias atrás.

Talvez a filha de Nêmesis tivesse razão.

Talvez seu lugar não fosse no acampamento.

Talvez seu lugar fosse em um manicômio.

Foi chorando e pensando nessas coisas que Samantha passou a noite.

No dia seguinte, Sam não queria nem entrar no pavilhão. O que antes eram murmúrios, agora haviam se tornado comentários em tom alto, todos zombavam dela, riam, a chamavam de louca. Até os companheiros do chalé de Hermes caçoavam na cara dura. Alex os repreendeu e eles se calaram.

Durante o dia inteiro, ela não saiu do quarto a não ser para comer. Se saísse, teria de encarar os rostos de deboche e pena dedicados a ela.

É, talvez os campistas não aprenderam a lição que o pobre Josh passou ao morrer.


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