Mia

— Quase... lá...
Já estava nas pontas dos pés e ainda não alcançava a prateleira para colocar o livro no lugar. Por que tenho que ser tão anã...?
De repente, alguém o colocou no lugar para mim.
Esse perfume... É ele. Sei que é, mesmo sem ver seu rosto.
— O-obrigada. – disse sem me virar, olhando para o resto dos livros no meu braço.
Podia sentir minhas costas esquentar. Por que continuava atrás de mim?
Ele bagunçou meu cabelo e saiu.
Ah, posso voltar a respirar...
Não entendi muito o que aconteceu ontem, mas ele me pediu desculpas. Talvez por ter me tratado de forma egoísta. Algo o incomodava ( no caso, meus sentimentos) e ele simplesmente evitou isso (no caso, eu). E eu não podia culpá-lo por não poder me corresponder.
Olhei para ele discretamente de canto de olho. Ele estava perdido, olhando os livros. Achei graça da indecisão em separar um deles para ler.
Ah, queria muito voltar a falar com ele normalmente. Sinto falta disso...
“você sente saudade rápido demais, quer estar com ele o tempo todo”.
Por que estou lembrando disso? Eu já sei que gosto dele!
Assim que terminei ali, resolvi aproveitar o tempo para escrever alguma coisa da música.
Por que só consigo pensar em músicas tristes? Ou tristes românticas? Só sai isso! Ah, no final das contas, é melhor fazer covers mesmo.

Érick

Levei um bom tempo para achar o tal livro que o professor de literatura recomendou. Pensei que fosse terminar rápido, mas não esperava que o livro fosse tão grosso e com uma linguagem tão rebuscada. Vou ter que levar para casa.
Vi que só tinha uma pessoa ainda ali. Fui até ela.
Idiota... Dormindo assim aqui.
Em cima da mesa estavam vários papéis, e algumas partituras. Talvez ela estivesse compondo alguma coisa para o festival. Vi alguns bilhetinhos espalhados com algumas anotações.
É, ela tinha mesmo aprendido a estudar, e encontrado um jeito de não esquecer das coisas.
Acho que você não precisa mais de mim...

Mia

Eu podia sentir sua presença, acordei assim que senti seu perfume de novo. E mesmo continuando com os olhos fechados, pude sentir que ele estava me observando.
Por que ele está me olhando? Será que eu estou babando? Ele deve estar rindo de mim agora. Mas não consigo mover um músculo!
Senti meu corpo esquentar com o tecido em cima de mim. Ouvi passos, ele agradecendo a senhora do balcão e saindo. Me levantei.
Meu casaco... Ele me cobriu...
Sendo tão gentil comigo... desse jeito vou entender as coisas de um modo errado.
— E, aí? Está conseguindo escrever algo?
Levei um susto.
David se arqueou perto de mim, mexendo nos papéis em cima da mesa. Percebi que começou a franzir a testa quando começou a ler meu material.
— Mia, você disse que não tinha conseguido escrever nada ainda. Mas aqui tem um monte de letras prontas e... Bonitas.
— Eh? Sério? Mas são todas tristes e...
— São românticas. Par perfeito para algo clássico.
Ele recolheu meus papéis e me entregou, me puxando, apressadamente, pelo corredor até a sala do clube. Me sentou no piano ao lado dele e começou a dedilhar deixando soar uma agradável melodia.
— Gostei dessa introdução. Você que criou? Se bem que ela é bem parecida com...
Ele me olhou significativamente.
Era a música deles... A última música que meus pais compuseram...
David sorriu quando o olhei surpresa por ele ainda lembrar. — Você quer usá-la? Sei que isso mexe com você, mas eu lendo o que escreveu agora, achei que combinaria muito com a melodia.
Esse som sempre acalmou meu coração...
— Eu adoraria usá-la.
Treinamos bastante, e no final eu adorei o nosso trabalho completo. Fiquei receosa de mostrar a Sra. Park, mas se a letra não fosse boa, pelo menos a melodia era, mesmo que tenhamos mudado um pouquinho. Desculpa papai, desculpa mamãe...
— Isso está realmente muito bom, Amélia. Muito bom.
Meu coração deu uma cambalhota. Eu estava surpresa, foi a primeira vez que vi Sra. Park sorrindo.