Benê estava ansiosa para a festa anos oitenta, a última (e única) vez que tinha ido a uma festa foi a balada do bebê, e ela não poderia ter se divertido mais. Dançou, comemorou com suas amigas, ganhou uma aposta para ter aulas de piano e ainda beijou o Guto.

            Guto. Esse nome começava a ficar familiar na voz de Benê. Ela o tinha beijado somente para não ter que lavar a louça, mas não podia dizer que não tinha gostado. Ela gostara. E muito. Gostara tanto que até tinha convidado o menino para jantar com ela macarrão (ou pasta) no galpão com seus amigos. Gostara tanto que sempre tentava convence-lo de que ela era boa no piano e que as aulas dos dois valiam a pena, só que ele não pensava desse jeito, a última vez que eles tocaram juntos foi um desastre e ele deixara a sala enquanto ela berrava que ele era um grosso.

            Mas isso fazia uma semana já, e por mais que ainda machucasse a garota, nessa tarde ela queria se divertir, queria dançar mais e comemorar mais. Ela estava sentindo-se linda no vestido meio dourado meio prateado que conseguira arranjar e fazia um tempinho que todas as amigas tinham se reunido pela última vez. Amigas. No plural. Essa palavra ainda soava estranha para Benê, apesar de sempre sonhar em ter amigas, ela nunca imaginou que teria tantas e que seria tão bom.

            Os convidados já estavam praticamente todos ali, Fio, MB, Felipe, Clara... Todos estavam dançando, inclusive Benê, que ouvia a banda do Guto e não conseguia parar de pensar em quão talentoso o menino era, ele realmente era um prodígio e ela torcia para que ele fizesse um grande sucesso no futuro. Será que ele também torcia por ela? Será que ele também gostava dela?

            Alguns vários minutos depois Benê começa a escutar um som familiar, ela demorou em reconhecer que era a sua musica com a Tina, foi correndo tentar procurar a amiga para que elas pudessem celebrar juntas o sucesso. Também queria achar Guto, mostrar para ele que estava melhorando, que ela fazia o tempo dele valer a pena.

            - Tina – Ela disse enquanto se aproximava da amiga, que estava junto de Anderson – A nossa musica. Quem tá tocando esse piano sou eu – Ela diz para o namorado da menina de cabelos rosa. – Quer dizer, não agora, por que a Ellen que gravou. – Benê teve que acrescentar, se não o menino poderia não acreditar nela, como ela estaria tocando o piano na música, se tava bem ali, na frente dele?

            Então ela avistou o Guto, precisava ir falar com ele antes que a música acabasse se não era capaz dele também não acreditar nela. Agradeceu os elogios que recebeu de Anderson e Tina e foi encontrar o Rapaz.

            Ele estava de costas, dançando e curtindo o som. Será que ele estava gostando do piano? O cutucou nas costas, já que era a única maneira de chamar sua atenção.

— Sabe quem tá tocando esse piano? – Foi direto ao assunto. Benê sempre gostava de ir direto ao assunto, para que ficar enrolando? Gastando tempo com palavras desnecessárias.

— Chopin? – Chutou ele.

Benê sorriu por fora. E mais ainda por dentro. Ele tinha realmente achado que ela poderia ser tão boa quanto um pianista clássico?

— Errou – Respondeu a menina, ainda sorrindo – Fui eu.

— Nossa Benê, com uma performance dessa você nem precisa mais de professor né.

Aquilo magoou Benê. Por que ele sempre tinha esses comentários irônicos para fazer a respeito dela? Sempre uma piadinha. Nunca um incentivo. Ele era um péssimo professor, e um péssimo amigo também.

— Você tá sendo irônico né? Você tá sendo preconceituoso e metido. Musica clássica é muito boa, mas eu gosto também de pop e rap.

Benê detestava brigar, ela não entendia por que pessoas que se gostavam brigavam. Será que ele gostava dela? Às vezes ela achava que sim, ele topara ensinar a menina a estudar partituras e foi falar com ela aquele dia quando ela estava com o Tônico. Mas em dias como hoje, como o da mensagem maldosa ou o da última aula de piano ela achava que ele realmente só ficava em sua companhia porque tinha perdido uma aposta.

Ela queria sair de perto dele bem rápido. Será que a Lica estava bem? E a Keyla? Ainda não tinha visto muito as duas, queria ir falar com elas, às vezes bater uma selfie, Benê adorara selfies, mas então ela sentiu alguém a puxando pelo braço.

— Ei, pera – Levou um tempo até a menina assimilar que fora Guto. – Foi uma brincadeira Benê, você tem que aprender a entender mais as brincadeiras, menina normal.

— Eu não gosto de brincadeiras – Ela estava na defensiva. – E nem de quando você me chama de menina normal, eu já te disse que tenho um nome, é Benedita, ou Benê.

Guto deu um sorrisinho de lado.

— Tá bom, Tá bom Benê. Desculpa por essa piadinha hoje, e pela nossa última aula de piano também. Eu tava irritado e acho que de certa forma eu acabei descontando em você. Mas você tá melhorando, e bastante.

— Você acha?

— Claro! Eu não ficaria desperdiçando o meu tempo com alguém que não estivesse evoluindo.

Desperdiçando.

— Você acha que as minhas aulas são realmente um desperdício de tempo?

— É maneira de falar Benê. Que coisa. Vamos fazer assim, a gente vai lá dançar essa música que tá tocando, por que ela é muito boa e amanhã eu passo aqui para treinarmos mais um pouco, pode ser? Ai tu toca para mim essa versão ai.

Os dois sorriram. Ao mesmo tempo. Um para o outro.

Ela assentiu com a cabeça.

— Vamos então? – Guto perguntou, ainda com um sorriso no rosto.

Ela assentiu novamente e então ele fez algo inesperado, estendeu o braço para ela. No primeiro momento a garota não sabia como agir, mas depois entendeu que aquilo era um convite para que ela o segurasse e assim o fez. Os dois voltaram juntos para o lugar em que estavam antes para dançaram e se divertirem ainda mais.

No final, Benê só conseguia pensar que as chances que ele gostasse dela tinham aumentado bastante, e por alguma razão que ela ainda não conseguia entender, a festa ficara repentinamente muito melhor.