Abraçada pelo Mar escrita por Lua Chan


Capítulo 12
Capítulo 11




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Troquei olhares surpresos entre Caspian e o tal do Adrian, esperando o momento em que o tritão ao meu lado pudesse dizer que estava brincando. Alguns segundos se passaram e Caspian ainda estava boquiaberto, olhando para o garoto moreno - e maravilhoso - na nossa frente. Adrian não se atentou em olhar pra Caspian de volta. Dei um tapinha de leve no braço do garoto, que cerrou o punho fortemente.

— Caspian, o que você quer dizer? - sussurrei pra ele, enquanto o professor ainda falava com o novato. Meu namorado finalmente virou-se para mim.

Tinha um motivo para minha descrença e não me culpava por isso. Caspian e Adrian eram esteticamente opostos. Ambos tinham praticamente a mesma altura, só que um possuía cabelos negros que caíam sobre os ombros morenos, enquanto o outro, uma cabeleira castanho-clara que contrastava um pouco com a pele. Sem contar com os olhos. Os de Caspian abrigavam todo o oceano e eu me perdia neles tão facilmente quanto uma embarcação em meio a tempestade. Os de Adrian eram negros e quentes, tinha certeza que poderia ver meu reflexo ao encará-los por muito tempo. Seria no mínimo estranho chamá-los de irmãos.

— Não posso falar sobre isso aqui. - diz ele num sussurro - Não na frente dele.

— Mas é só...

— Lilah, fique quieta! - ele prosseguiu com o mesmo tom. Eu iria dar um tapa mais forte, só que pensei em ouvi-lo - E me faça um favor.

— Qual?

— Não chegue perto dele.

Caspian silenciou-se. Pensei que pudesse me dar alguma explicação, mas ele ficou mudo, encarando de soslaio o garoto que supostamente é seu irmão. Dessa vez, ele estava mais incomodado com Adrian, que ainda sorria para o professor e para os alunos. De repente, ele volta o olhar para mim, o sorriso que estava em seus lábios tornou-se misterioso. Caspian notou e quase se levantou para bater nele, mas eu o deti. O plano era não chamar mais atenção.

— Obrigado, senhor. - Adrian se pronunciou pela primeira vez, voltando-se ao nosso professor. Sua voz era tão bonita, que era como se ele estivesse cantando - Sinto muito se atrapalhei sua aula.

— É claro que não, meu rapaz. Todos os interessados a aprender são bem-vindos. Pode se sentar ao lado da srta. Mohoe, logo ali.

O professor diz, apontando para uma cadeira que ficava logo entre Kai e eu. Senti um arrepio atravessar na minha espinha quando Adrian se sentou. Ele não olhou para mim - até porque seria muito esquisito -, mas tive a sensação de estar sendo vigiada.

— Não ouça Caspian, sumani, e não precisa ter medo. Eu não mordo.

Ouvi aquilo de algum lugar. Era a voz de Adrian, mas ele não estava gesticulando a boca para falar. Será que ele...

— Sim, sumani, eu ouço seus pensamentos. Deveria ter mais cuidado.

Olhei para Adrian, que sorria maliciosamente, como se tivesse acabado de pregar uma peça em alguém (o pior era que eu era o tal "alguém") e fiquei abismada, sem fôlego. Como aquilo era possível? Caspian me falou que poucos Sirenos se comunicavam por telepatia em meio a terra. Se eu era capaz de ouvir as mensagens telepáticas de Adrian... significa que eu era um dos poucos Sirenos com essa habilidade!

— Muito bem, sumani, é bem inteligente. Confesso que esperava menos de você.

A voz dele continuou ressoando em minha mente e começou a provocar uma enorme dor de cabeça. Reprimi um gemido, mas Caspian deve ter notado que algo estava errado. Ele disse alguma coisa para mim, mas a dor não permitiu que eu o ouvisse. Eu mal pude respirar direito.

— Oessor, ewiah ecisa ir ao anheiro. - Caspian se pronuncia e eu me esforço, inutilmente, para entendê-lo.

O tritão falou algo a mais para o sr. Williams e o professor apenas balançou a cabeça afirmativamente. No instante seguinte, Caspian laça meu braço direito ao redor de seu pescoço e me ajuda a andar até o lado de fora da sala. Com passos trôpegos, seguimos até o ginásio e, ainda com sua ajuda, me sentei no chão. O tritão se agachou até ficar à minha altura e pressionou suas gélidas mãos contra minhas bochechas.

— Lilah, olhe bem para os meus olhos. Foque em minha voz.

Apertei os olhos, mas foi a coisa mais estúpida a se fazer naquele momento. Como alguém negaria aqueles olhos de oceano? Quem negaria olhar para imensidão majestosa do Mar Cáspio?

— Lilah, eu estou aqui. - ele repetia, sua voz ficando mais baixa e serena. Desejei ouvi-la mais vezes.

Caspian depositou um beijo em minha têmpora e eu tentei focar nele. Dessa vez, abri os olhos e vi o seu sorriso, que se desabou em poucos segundos. Notavelmente, ele ainda estava preocupado.

— O que aconteceu, Lilah?

Caspian segurou minhas mãos e se ajustou ao meu lado, sem deixar de fazer contato visual. Aquilo me deixou mais calma. Pigarreei, procurando sempre manter o foco.

— Eu ouvi a voz dele, Caspian. - disse lentamente, tentando processar o que ocorreu - Adrian estava falando comigo por telepatia.

— E você conseguiu ouvir? Mas... como?

— Acho que eu sou um dos poucos Sirenos que consegue fazer isso. - dei de ombros, pensando que poderia deixar o garoto feliz por saber disso, mas ele ainda estava perturbado.

— Você é mais especial do que eu imaginava, Delilah. - diz - Como deu pra perceber, Adrian é capaz de ouvir os pensamentos dos humanos na terra. Acho que ele, de alguma forma, sabia que você também era capaz.

— Ele me chamou de sumani. O que significa?

Caspian trincou o maxilar e desviou o olhar de mim.

— Traduzindo do Sireno antigo, significa "rainha" ou "princesa das águas". Adrian sempre foi meio irônico.

— E por que eu tive essa dor de cabeça tão forte? Foi como se uma faca tivesse atravessado o meu cérebro.

Caspian pensou por um instante, friccionando os dedos no queixo. Às vezes sentia raiva de mim por me distrair tão facilmente quando eu olhava pra ele.

— Isso é consequência do esforço que você fez para ouvi-lo. É a primeira vez que ouve os pensamentos de alguém na terra, não é?

Confirmo com a cabeça.

— Foi o que pensei. As primeiras vezes constumam ser dolorosas, mas o efeito passa com a prática.

— Está sugerindo que eu invada a privacidade de algumas pessoas mais vezes só para praticar essa habilidade? - eu rio e o garoto me devolve um sorriso - Não imaginei que você fosse tão ousado a esse ponto, sr. Mazur.

— Talvez nós dois possamos praticar. Você pode ler meus pensamentos, mas saiba que não vou conseguir te responder de volta enquanto não estiver debaixo d'água.

— Desafio aceito.

Caspian olhou bem no fundo dos meus olhos, aquilo foi o suficiente para me desconcentrar. Tentei deixar de lado a sensação de felicidade ao olhar para ele e foquei na minha nova habilidade. Estreitei os olhos e ele começou a rir de mim.

— Sabe que não precisa fazer caretas para ouvir meus pensamentos, não é? - diz ele, ainda rindo. Dei um tapa em seu braço - Foque no silêncio. É como invadir uma casa.

— Já invadiu uma, James Bond?

Ele me mostrou um sorriso brincalhão e perverso.

— Você nunca vai saber se nāo ler a minha mente.

Dessa vez, eu que dei uma risada. Fiz o que ele pediu novamente e cerrei os olhos. Foi difícil "focar no silêncio", mas fiz de tudo para que dessa vez funcionasse. Depois de alguns segundos, senti uma onda de náusea percorrer pelo meu corpo, mas não era tão ruim quanto a dor de antes. Senti que estava no caminho certo e ouvi algumas vozes na minha cabeça. Sorri em resposta e comentei sobre minha conquista com o tritão, ainda com os olhos fechados.

— Ótimo. - Caspian sussurrou, talvez para não interromper - Agora concentre-se em um só pensamento. Você consegue.

Obedeci e vasculhei a mente de Caspian, procurando um só pensamento. Tinha muita coisa lá dentro, mas algo me permitiu manter o foco. Me senti quente, como se as labaredas do fogo aquecessem meu peito. Era extremamente bom.

— Você conseguiu, minha pérola radiante.

Fui guiada pela sua doce voz, que me transmitia uma sensação de paz tão grande quanto seu sorriso. Meu coração bateu mais forte quando Caspian me chamou daquilo, já que nunca tinha ouvido tal elogio.

— Agora, você merece uma recompensa.

— E qual seria?

— Esta.

Caspian se aproximou de mim e pressionou os lábios contra os meus. Foi como na praia, só que dessa vez, eu já sentia uma intimidade muito maior por ele. Se eu pudesse, não sairia daqui por um bom tempo. Caspian me abraçou de lado e descansou a cabeça em meu ombro.

— Agora você está pronta?

Ergo os olhos até encarar os dele, um pouco confusa. O tritão esperou por uma resposta que, honestamente, eu não sabia retribuir.

— Pronta pra quê?

— Para ouvir o que eu tenho a dizer sobre Adrian.


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