Life passes you by escrita por Liids River


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

oinn
será se estou sumida? acho que não
então,depois da ultimo short-fic eu disse que faria outra e tal
estou vendo isso ainda suhsaushs
eu estou de férias até depois de julho ( amém) e venho escrevendo algumas coisinhas nesse meio tempo,vou atualizar o Nyah toda semana ( se eu me lembrar rsrssr)
essa One eu escrevi há um tempãaaaaaaaao quando eu terminei de ver "Como eu era antes de você" pela primeira vez (não que eu tenha assistido muitas vezes depois da primeira) (mas sim).
então é uma one bem tisti e talvez tenha ficado confusa,e eu deveria ter postado ela ontem massss
eu não postei antes porque eu tinha decidido que ia guardar ela pra mim,mas eu estava relendo ela hoje (agora) e decidipostar
uma das minhas inspirações (além do filme) foi One Day do Kodaline porque essa música tem me dado uns tapas na cara toda vez que eu escuto
por isso a one tem como nome,o trechinho que eu mais gosto na música ♥



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Em cima da minha bicicleta,pedalei o mais rápido que conseguia até – por alguma sorte do destino – um carro caro me acertasse.

Calma lá,se você vai dar continuidade daqui saiba que eu não estava tentando me matar de verdade. Não,claro que não. Eu tinha uma faculdade para terminar,tinha contas e boletos para pagar. Eu só estava frustrado. Muito frustrado e com vontade de andar sozinho,sem pensar muito para onde eu estava indo.

Somos criados para pensar que se não formos amados,não seremos felizes. Já parou pra pensar que talvez essa gente – os que ensinam – teem razão?  Já viu alguém,no auge dos 49 anos,sem ninguém distribuindo sorrisos por aí?

É,eu também.

Quando eu vi Annabeth – razão das maiores das minhas frustrações – pela primeira vez,sabia que estava enrascado por ela. Eu tinha 8,ela tinha 9.

.

— O que cê tá fazendo,Percy? – a garotinha perguntou cavando ainda mais na grama.

—Tô deitado na rede – respondi.

—Mas não tem rede. –ela riu.

Eu estava jogado na grama entre duas árvores. Minha mãe estava na casa da mãe dela fazendo bolo. Eu estava encarregado de cuidar da menininha da tia Atena.

— Se você imaginar,tem sim – murmurei ajeitando meu chapéu de pirata na cabeça. – Vem.

Peguei na mão da loirinha e puxei-a para se sentar comigo na grama entre as árvores. Eu sorri vendo-a toda desengonçada cair ao meu lado.

—Fecha os olhos – murmurei. Ela obedeceu fechando os olhos cinzentos e sorrindo com o lado da boca aparecendo ali uma covinha fofa. Coloquei meu chapéu de pirata na cabeça dela e segurei sua mão. – Agora você faz assim,imagina que tem uma coisa bem macia embaixo do seu corpo.

—Tipo um puff?

—Menos confortável,eu acho – cocei a nuca e murmurei – Redes não são tão confortáveis assim.

Ela riu e ficou séria de repente.

—Não tá funfando.

—Claro que tá – murmurei fechando os olhos como antes. – Eu tô numa rede.

—Eu tô na grama ainda.

Suspirei e me levantei,sentando-me atrás dela. Puxei seus ombros e encostei-a em mim. O rosto dela ficou vermelho mas ela não disse nada.

—Você não é confortável.

— Então eu sou a rede – murmurei passando as  mãos pelos seus braços. Eu senti um negócio engraçado no estômago. Um friozinho engraçado.

Talvez eu estivesse com fome.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

—Tá – sussurrou e riu – Agora eu tô numa rede.

.

Joguei minha bicicleta de lado quando cheguei ao parque. De todas as frustrações que eu já havia tido, Annabeth era a maior delas. E a mais legal também.

Poucas pessoas faziam com quê eu me sentisse vivo de verdade. Ela era a coisa mais doce que eu já havia conhecido. Você deveria ver o jeito como ela ficava comigo quando eu precisava.

Ela trazia esperança de volta. Tudo o que você pode imaginar de esperança.

Era de se imaginar que acontecesse certo?

Sentei-me em um dos bancos mais afastados da multidão que resolvera passear no parque hoje. Coloquei os cotovelos nos joelhos e apoiei a cabeça nas mãos.

Quando mais novos,eu me lembrava de ter uma pequena aversão à ela. Loira e de olhos cinzas? Ninguém tinha os olhos cinzas.

Até eu achar aquilo,a coisa mais bonita do universo.

.

— Eu odeio essa música! – ela reclamou. Estavamos na cozinha da casa dela. Enquanto

eu arriscava minha pele e minha dignidade em pé,em cima de um puff que estava em cima de uma cadeira.

Coloquei dois pães dentro da torradeira e abaixei a mãozinha da torradeira para fazer as torradas.

 

— Você não gosta da música do caminhão do sorvete? – perguntei irritado. Todo mundo gostava,aliás. Imagine,você começa a ouvir os toquezinhos e os sininhos e já sabe que a felicidade,estava a caminho.

—Não gosto – ela levantou as sobrancelhas fina e pigarreou. – Nunca gostei de sorvete.

—Isso porque você nunca tomou o sorvete certo – expliquei,olhando para fora da janela. Gostava de subir em lugares altos e ter a visão da janela,eu imaginava que quando fosse mais velho,seria mais alto...então eu mal esperava para crescer logo

— Você se acha um belo sabichão não é – ela riu de baixo. Segurei-me na cadeira e desci de cima do puff e da cadeira. Puxei Annabeth pela mão,mesmo sob suas reclamações. – Percy,me solta menino!

—Vem!

Puxando Annabeth pela mão,corri com ela para a grama na frente de casa.

—Percy vai sujar minha meia de grama!

—Tire a meia,oras! – esperei enquanto a Srta.Princesa tirava suas meias e enquanto o caminhão se aproximava ainda mais da frente da casa de Atena com a sua música libertadora.

Voltei a agarrar as mãos de Annabeth enquanto ela ria alto. Puxei suas costas e fingi dançar com ela enquanto o caminhão passava em frente a casa.

— A gente dança mal! – ela reclamou. – Essa música nem ritmo tem,Percy!

— Isso é o que você pensa,Annabeth Cabeça Dura Chase – afastei-me um pouco,fazendo-lhe uma reverência desajeitada – Tudo se trata de abstração.

—Abstrquê? – ela se balançava sem jeito de um lado para o outro.

—Abstração – fiz pose do cara que apresentava os telecursos da mamãe – Não sei muito bem o que é,mas a mamãe disse que é coisa boa.

Ela revirou os olhos e girou duas vezes,fingindo dançar.

—Assim?

Eu sorri. Eu tinha a melhor amiga de todas.

—Exatamente assim –sorri,voltando a dançar também

.

— Escuta não precisa fazer isso – ela riu de lado,enquanto pegava os cadernos na porta de seu armário na escola. – Eu sei me cuidar.

—Desde que seu pai me disse que eu deveria cuidar de você,eu estou cuidando de você – prontamente,fiz uma reverencia idiota para ela,que ria sem graça.

Annabeth desfez o sorriso,como se ela se lembrasse de algo que não gostaria. Desviou o olhar para o chão,passando uma mecha do cabelo para trás da orelha.

E ela não estava me contando.

Levantei as sobrancelhas para as bochechas coradas e fiquei em silêncio.

— .. não é nada – ela fechou a porta do armário com força e começou a andar.

Acompanhei-lhe confuso. Desde que eu me entendia por gente,eu nunca havia escondido nada de Annabeth. Tudo – até os maiores e mais pessoais questionamentos,eu falava com ela.

— Eu nem disse nada – murmurei,pegando meu celular no bolso e fingindo mexer em alguma coisa interessante.

—Bem,você estava com aquele olhar de novo – ela suspirou. – É só...meu pai acha que talvez ele vá se mudar de novo.

Assenti sem graça. O emprego do pai de Annabeth era o mais complicado do mundo.

Ele era médico. Um dos melhores e tratava pessoas com câncer.

Pessoas em fase terminal do câncer,eu não acho que preciso dizer mais nada aqui,hn?

Que irônico.

— Tudo bem – eu assenti. Peguei suas mãos e sorri para ela,por mais que estivesse chateado.

A família de Annabeth era a mais unida que eu já havia visto em todos os meus dias de existência. Não existia a opção : vá papai,nos deixe. A única opção era : vamos papai.

Por mais que ela odiasse mudanças e ter que se re-adaptar em nova cidade.

—Vai sentir minha falta? – ela perguntou,apertando minha mão e olhando-me de canto.

Por mais que eles fosse....

— É claro que vou – sorri,passando um braço ao redor dos seus ombros e levando-a até a sua sala de aula.

....ela sempre voltava.

.

Chutei um dos pneus da minha bicicleta e reprimi um xingamento pela dor.

Se existia um Deus,ele não era um camarada que estava ao meu favor. Eu sentia como se ele tivesse pegado seu saquinho com nomes,tivesse tirado o meu “Percy Jackson” e o tivesse colocado no potinho de coisas ruins. Parecia que todos os planos ruins estavam na minha reta.

E como eu era egoísta por pensar desse jeito.

Mas eu tive tão pouco tempo.

.

Eu sorri vendo-a passar por mim e entrar na livraria. Seis anos depois,e ela estava ali.

Usava os cabelos curtinhos cobertos por uma touca cinza que ressaltava seus olhos. O vestido com meia-calça por conta do frio a deixava tão bonita e eu tive que me controlar para não elogiar de cara. O casaco até os joelhos, azul escuro. Entrou com o celular na mão,a mochila nas costas e o fone no ouvido.

Arrumei meu moletom no corto e o aventalzinho da loja e fingi novamente empilhar os livros de George RR Martin na sua pilha colossal.

Alguém pigarreou atrás de mim e eu me virei abaixando a cabeça até a garotinha que me cutucava na coxa.

— Pois não? – abaixei-me na altura de seus cabelos pretos e olhos castanhos. – No que posso ajudar você?

—Eu perdi minha mãe –ela murmurou tímida. – Você pode ajudar a achar minha mãe?

Eu sorri,pegando-lhe pela mão. Deixei os livros nas caixas e fui até o caixa com a garotinha segurando minha mão.

A garota estava onde ela sempre ia : na área de CDs.

— Nico – chamei-o. Ele levantou do balcão e olhou para mim confuso – Mais uma. – apontei com a cabeça para a garotinha que apertava minha mão.

— Acho que hoje a gente bate o recorde de crianças perdidas – ele riu já pigarreando – Qual seu nome,chuchuzinho?

— Nico – repreendi-o. – Pelos deuses!

— É Sarah – ela sussurrou puxando minha mão – Pode achar minha mãe? Eu to com fome e ela me prometeu MC Donalds.

Nico riu e piscou para a garotinha pegando o microfone da loja. Abaixei-me pegando a garotinha no colo só para coloca-la sentada em cima do balcão.

—Tô alta!

—É pra sua mãe te ver melhor – eu sorri tocando seu nariz e fazendo careta. Ela riu e inclinou a cabeça.

— Obrigada moço – ela murmurou e eu assenti fazendo uma reverencia exagerada para ela. Nico riu falando o nome da garotinha no microfone e chamando a mãe dela.

— Por nada,querida princesa! – ela riu alto e no momento que eu levantei,bati a minha mão em alguma coisa macia e quente.

Atrás de mim,estava a garota loira de touca cinza,com a mão no rosto. Ela ria de nervoso e fazia uma careta pra mim.

Que belo,que belíssimo começo. Ou recomeço eu diria.

A minha reação foi arregalar os olhos e pedir para que alguém me levasse da terra. Eu queria nunca ter saído do meu cantinho. Queria ter ficado ali empilhando aquelas enciclopédias de George RR Martin e não fazer nenhum primeiro contato com ninguém.

—Ai. – ela reclamou depois de alguns segundos.

Na minha cabeça,meu amigo,tudo estava em câmera lenta.

— Eu.. – olhei para Nico que estava ocupado entregando a garota para a mãe dela – Moça...eu... eu não queria estapear você.

—Que bom,moço –ela riu de verdade – Ninguém deveria querer isso.

—Não.. eu- suspirei sentindo meu rosto esquentar. Deuses,eu tinha que ser tão idiota? – Foi sem querer.

Ela sorriu tirando a mão do rosto. Não tinha marca,nem nada mas eu estava extremamente envergonhado pela minha atitude. Eu queria que ela me socasse para ficarmos iguais – Você me socar pode se se quiser igualar...

Ela riu de novo,mais alto e mais...bonita.

Ela tinha um sorriso lindo.

— Quê?

— Você pode me socar na cara se quiser igualar. – sussurrei.

Ela riu e balançou a cabeça negativamente.

— Tudo bem – murmurou – A gente deixa isso pra próxima.

— Não pretendo te acertar na próxima – murmurei ajeitando meus óculos no rosto – Ou eu perco meu emprego. - ela sorriu colocando as mãos nos bolsos do casaco como se só agora ela tivesse percebido que eu trabalhava ali. – Não sei bem se estou sendo pago pra...pra atingir clientes no rosto.

Ela riu balançando a cabeça sem graça.

—É sério,tá tudo certo – apontou com a cabeça para o caixa. – Você passa pra mim?

— Claro – murmurei passando para o outro lado do caixa, mexendo no mouse enquanto esperava o computador voltar a ativa. A tela voltou junto com o sistema enquanto a moça me observava e me deixa extremamente constrangido. Provavelmente ela estava decidindo se me denunciava ou não. Levantei a mão olhando, decididamente, para a tela do computador e ela deixou um cd ali. Passei o leitor de código de barras no CD e suspirei esperando carregar mais um pouco. Nico passou por trás de mim e sorriu para a moça,sendo retribuído logo em seguida.

—Esse é ótimo! – Nico apontou para o CD em minhas mãos -  Eu particularmente gosto mais de The Cure,mas é ótimo.

Ela sorriu um pouco mais e levantou as sobrancelhas surpresa.

— Você não deveria comparar as duas.

— Eu vivo dizendo isso pra ele – sussurrei,empacotando seu CD na sacolinha da loja – Fica...R$49,90...

Ela tirou um cartão do bolso e colocou-o na minha mão.

Discretamente – o quão discreto um cara que se abaixa para fazer uma reverência de brincadeira e atinge o rosto de uma bela cliente pode ser –  olhei seu nome : Annabeth Chase.

É bonito. Leve. Familiar.

E de alguém que você acabou de acertar a cara.

Senti meu rosto esquentar de novo e ajeitei meus óculos,disfarçando.

Ela inclinou a cabeça em dúvida e eu só neguei sorrindo um pouco.

Nico desviou seus olhos de mim para ela e riu :

—Ok,vocês dois. – deu um tchauzinho e foi até a portinha do estoque – Estarei aqui dentro caso....alguém precise de mim.

A moça desviou os olhos para as botas com o rosto vermelho e um sorrisinho de canto.

Arregalei os olhos para Nico,dando-lhe o olhar “Cala essa boca,homem!”

Ele sorriu e fez gesto de “Ela tá tão na sua cara” – que consiste em dois “joinhas” com os polegares e eu revirei os olhos.

Inseri seu cartão colocando o preço e essas coisas e entreguei-lhe a maquininha. Olhei para a minha pilha de livros enquanto ela digitava sua senha. Milhares e milhares de caixas no estoque só me davam a certeza de que eu não iria sair tão cedo hoje. Suspirei pesadamente enquanto tirava a sua notinha.

— Você parece cansado – ela sussurrou enquanto guardava seu cartão e sua notinha.

— Olhe discretamente para a sua esquerda – ela fez,segurando um sorriso – Todos esses livros não se empilham sozinhos. – sussurrei abrindo o meu caixa e deixando sua notinha ali devagar,querendo prolongar sua estadia ali. – E ainda bem,eu acho.

— Eu queria muito trabalhar em livraria – ela sussurrou,apoiando as mãos no balcão. – Parece bom.

Eu sorri,fechando a gaveta e levantei uma sobrancelha.

— Assim que abrir o processo seletivo,avisaremos você.

Ela riu fechando os olhinhos. Parecia um desenho,não um ser humano. Parecia nem existir.

Mas o rosto dela era macio demais para não ser real. Sabe como eu sei disso? Porque eu estapeei esse rosto lindo.

Olhei-a e senti novamente meu rosto pegar fogo.

—Sabe... –ela fez um desenho imaginário no balcão com os dedos – Se toda vez que você for olha pra mim e lembrar que me estapeou,nós teremos um problema.

Eu sorri e revirei os olhos.

— Desculpe – murmurei pegando seu pacote – Eu juro que foi sem querer.

—Eu sei – ela pegou a sacolinha e colocou no pulso,sorrindente – Eu só vou ali em um cirurgião restaurar meu lado direito e aí... – ela piscou brincando.

Eu cocei nuca realmente envergonhado.

— Desculpe – murmurei – Desculpe mesmo.

— Tudo bem- ela sorriu e mordeu o lábio vermelho. – Obrigada por interromper seu trabalho e passar pra mim.

—Tudo bem,é meu trabalho também – sorri,saindo detrás do caixa e acompanho-a até a saída. Minha pilha de livros estava ali mesmo,então...

Ela pigarreou na saída e estendeu a mão.

— Annabeth Cabeça Dura Chase.

Eu sei. Eu li seu cartão.

E eu te dei esse apelido.

Me desculpe por isso e por...acertar seu rosto.

— Perseu Jackson – murmurei apertando sua mão e sorrindo – Para os mais chegados : Perseu Acertador de Rostos Alheios Jackson.

Ela gargalhou chamando a atenção de alguns outros funcionários,mas não se importou. E foi um belo show ouvir sua risada fofa e saber que eu estava realmente desculpado.

— Até a próxima,Percy.

— Nós agradecemos a preferência e ... –acenei – Desculpe pelo rosto.

Ela revirou os olhos e deu de ombros. Deu alguns passos de costas ainda olhando pra mim.

.

Eu achei que ela estava de volta. E estava para ficar.

.

Eu fiz uma reverência e ela riu alto de novo,colocando a mão na boca dessa vez e negando com a cabeça. Eu sorri também,vendo as pessoas desviarem da maluca andando de costas no meio do shopping. Eu acenei uma última vez,voltando aos meus livros e vendo-a finalmente virar de frente e voltar a andar.

.

E agora ela tinha me pedido para ir.

“Só vai,Percy!”

Para que eu não acompanhasse seu declínio.

.

— Você acha que chega essa semana? – perguntei para Nico enquanto eu arrumava os CDs 80s nas prateleiras. – Duas pessoas vieram atrás essa semana e eu deixei em aberto.

— Eu acho que chega – ele bocejou – É tarde já,eu acho que vou ao médico ver essa gripe.

—É bom – suspirei. – São quatro horas Nico.

—E?

—Nós fechamos as 9h – eu respondi. – Vá agora,eu cuido das coisas aqui.

—Não vou deixar você sozinho – revirou os olhos – Você sabe que a maioria só enrola aqui,vão acabar deixando você atender os clientes,tomar conta do caixa e arrumar as caixas.

Eu sorri e concordei. Por mais que Nico fosse o gerente,ele não tinha o poder de despedir ninguém – por mais que ele quisesse também. Grande parte dos funcionários só estavam para preencher os lugares das vagas,mas a maioria só enrolava. Isso me dava mais tempo para ocupar minha cabeça,por mais que me deixasse mais cansado também,claro.

— Você decide – suspirei – Só vá ao médico o quanto antes.

—Pode deixar – ele me deu um tapinha nas costas e eu suspirei,vendo-o ir em direção ao caixa.

Milhares de novos álbuns haviam chegado essa semana. A maioria de pop rock,mas alguns de rock também estavam na minha lista de arrumação. Eu suspirei me arrependendo de não aceitar o cartão-funcionário e ganhar descontos de até 60% na compra.

Faça já o seu.

Você deveria ter feito.

Vi um grupinho de garotas adolescentes virem na minha direção e eu logo me encarreguei de não parecer cansado,arrumando minha prateleira de CDs.

— Mas você ouviu? – uma delas murmurou – Eu ouvi aqui mesmo. Eles tem aquele sistema de fone que você coloca e ouve algumas prévias de músicas...

— Dá pra ouvir a música inteira até – murmurei,chamando-lhes a atenção. Três pares de olhos se viraram pra mim ao mesmo tempo. Eu estava sentado no chão,então elas sorriram e fizeram careta ao mesmo tempo.

— Oi –uma delas disse – Quem é você?

Eu sorri levantando-me e estendi a mão.

— Sou o cara que vai ajudar vocês a ouvirem o álbum inteiro e depois comprar – sorri. Apertei a mão da garota e ela riu – Eu trabalho aqui,vem comigo.

Andamos por entre as prateleiras em busca da maquina que permitia ouvir as músicas. Algumas delas faziam comentários bobos e diziam que era impossível que eu trabalhasse ali por ser muito jovem.

Encaixei o álbum que elas queriam na maquina e apertei o play de teste – apenas os funcionários podiam ouvir no play de teste. Era usado para ver se o álbum não estava arranhado ou com defeito.

— ...e aí vocês podem apertar aqui – indiquei o botão – para passar a música.

— Obrigada! – uma delas disse – A gente promete levar cada uma,um álbum só pra te ajudar.

Eu sorri e agradeci,voltando a minha caixa de CDs para arrumar.

Depois de arrumar uma pilha de álbuns da Lady Gaga ao lado de uma pilha de álbuns da Beyoncé,eu me levantei estralando os joelhos e fazendo careta pela falta de postura.

Estava parecendo um velho e não um cara que tinha acabado o ensino médio há pouco tempo.

Espreguicei-me com as mãos para cima e depois para as costas,mas na hora de desentrelaçar as mãos,eu batia em alguma coisa.

Ah Deus.

Por favor que seja Nico.

— Eu tô começando a achar que é de propósito.

.

Não era,Annabeth.

Não era.

.

Eu me virei devagar,encolhendo com a voz doce e melodiosa.

Ela estava com as mãos apoiadas na barriga,onde eu havia batido. Ela estava com um lenço na cabeça,não conseguia ver seus cabelos. Um cachecol bonito ao redor do pescoço. Os olhos brincalhões,paesar de vermelhos e a cabeça inclinada. Era a garota com a qual eu tinha passado boa parte da minha infância e que de repente,voltou.

— Poxa Percy.

—Eu não sei se perco tempo me desculpando ou me enterrando numa cova – suspirei entrelaçando meus dedos de forma envergonhada.

Ela riu e balançou a cabeça como se eu tivesse mencionado uma piada interna só dela.

— Doeu menos que a ultima vez,eu admito – ela disse e sorriu. – Terminou sua pilha de livros?

Eu olhei para Nico no caixa. Ele observava a vitrine da loja como se estivesse com uma ideia mirabolante de refazer a torre de livros que eu havia terminado há dois dias.

—Eu terminei há dois dias – sorri e apontei para Nico com a cabeça – Mas aquele cara ali deve estar pensando em como refazer o meu trabalho.

Ela riu acenando para Nico que desviou os olhos e nos observava surpreso. Ele acenou de volta e quando Annabeth olhou para mim, ele fez o joinha com ambas as mãos de novo.

Maldito.

Revirei os olhos e olhei para a garota em minha frente,sorridente.

Eu conhecia aquele sorriso. Eu sabia disso.

Eu abri a boca para lhe perguntar se ela precisava de alguma coisa,mas fui interrompido pelas garotas do grupo anterior.

—Ei! – uma delas gritou. Annabeth fez careta,mas disfarçou rapidamente. – A gente vai levar os CDs! Obrigada por nos deixar ouvir. – elas olharam para Annabeth e deram uma risadinha netre si.

Annabeth pigarreou desconfortável.

—Ahn,sim claro – eu acenei. – O caixa é ali –apontei com o dedo para Nico e sorri – Obrigado.

Annabeth sorriu e revirou os olhos.

— Você é o típico vendedor que faz sucesso entre esse público – disse.

Ela se virou para a pilha de CDs que eu tinha acabado de arrumar e foi passando-os.

—Típico? – perguntei,voltando a encaixá-los ali.

— Você sabe... –ela revirou os olhos – Nós já tivemos 15,16 anos.

—Tivemos? – perguntei.

Ela me encarou por alguns minutos.

—Bem,eu já tive –sorriu sarcástica e eu senti meu rosto esquentar. – Eles colocam um vendendor simpático,gente boa....– ela pigarreou escondendo o rosto com um LP de The Smiths e continuou - ...bonito,isso chama a meninada.

Eu sorri,apesar do meu rosto ter esquentado de maneira absurda.

—E... –pigarrei colocando mais um cd da Lady Gaga em sua fileira – O que te traz aqui hoje?

—Eu estava sentindo falta de ser acertada por você. – ela sussurrou com o LP ainda no rosto.

Sorri arrumando a fileira e acabando por fim. Abaixei-me para pega mais uma pilha e dei dois passinhos para o lado,arrumando a próxima prateleira.

— Você é engraçada – sussurrei.

— Eu sempre fui,você sabe.

Annabeth tirou o LP do rosto e sorriu,mexendo no laço do lenço na cabeça. Colocou o LP de volta no caixote em que estava e posicionou as mãos nas costas. Ficou ali parada me observando arrumar os cds da Lady Gaga.

Parece-lhe um inicio de história de amor?

Eu não sei.

— Então... – murmurei pigarreando de novo – No que eu posso te ajudar?

— Eu pedi um livro tem duas semanas...por telefone – ela murmurou coçando a nuca. As bochechas vermelhas e um meio sorriso muito bonito – Você sabe me dizer se chegou?

—Nenhum dos pedidos por telefone chegaram -  empilhei os cds na caixa e sacudi as mãos – Sinto muito.

—Tudo bem – ela murmurou e franziu a testa confusa.

— Tudo bem com você? – perguntei sem querer.

Não queria parecer muito invasivo. Ou... invasivo.

— Eu precisava do livro pra ontem – ela sussurrou e suspirou – Eu vou pegar emprestado depois,com alguém... escuta,você quer...tomar um café depois?

Se eu estivesse segurando a minha pilha de cds,ela com certeza teria caído. E teria feito um estrago no meu salário também.

— É claro – murmurei mais empolgado do que gostaria.

Ela sorriu e balançou a cabeça diversas vezes.

—Outro dia?

—Hoje! – falei rapidamente.

E claro,me arrependi de imediato sentindo meu rosto esquentar.

Ela abaixou-se também corada,pegando de volta o LP de The Smiths e disse :

— Aqui no café do lado? – deu uma tossida de leve e riu – Eu pago o muffin.

Peguei um LP da Madonna e coloquei no rosto também. Parecia mais fácil falar desse jeito,então...

— Eu pago os cafés. – ela riu baixinho e ficou em silêncio.

...

...

—Então...- sussurrei.

— Percy,quer tirar esse LP da cara? – rapidamente,afastei o LP do rosto e franzi a testa para Nico – Está cada vez mais difícil defender você!

Ele se afastou resmungando igual um velho babão e eu girei em meus calcanhares procurando por Annabeth.

Ela estava andando de costas para a saída. Olhava para mim sorrindo. Revirei os olhos dando-lhe um tchau com a mão,e ela sorriu um pouco mais.

“Mais tarde” – moldou com os lábios.

“Mais tarde” – respondi.

Ela se virou para a saída,olhando duas vezes para trás e se foi.

E eu estava ansioso. Ansioso para mais tarde.

,

Naquela outra tarde,tomamos cappuccino de canela e comemos muffins.

Ouvi algum carro buzinar atrás de mim,por ter saída da via de ciclistas. Mas eu não me importava mais.

Ela havia arrumado o casaco no corpo,juntou as mãos em frente ao copo do café superfaturado da Starbucks e sussurrou que não era mais acompanhante do pai.

Era paciente agora.

.

Joguei a minha bicicleta na garagem de casa e subi ao meu quarto,com raiva. Peguei o conjunto social dentro do armário e dirigi-me ao banheiro.

Nem percebi quando as lágrimas começaram a cair. Eu só soube quando o gosto da água do banho, ficou salgada.

.

— Onde diabos você está indo? – murmurei pegando sua mão de volta.

Ela sorriu colocando meus óculos no rosto e fazendo uma careta engraçada. Estavamos jogados no sofá do meu apartamento,junto com Nico e alguns outros colegas. Era noite de RPG e games no geral,e como havíamos nos reencontrado,não pude deixar que mais uma noite de RPGs e Games se concretizasse sem Annabeth.

Apesar dela nem gostar dessas coisas.

— Vou ver se o Nico precisa de ajuda com as coisas que engordam – ela sorriu indo até a cozinha.

Ao redor da minha mesa da sala de estar estavam mais 4 pessoas da loja as quais se convidaram para estar ali.Eu não estava ligando muito para quem estava ali,eu só conseguia vê-la.

Ela estava mais magra e parecia quebrar a qualquer momento.

Tentei não me concentrar na Annabeth doente e só no que era Annabeth.

Nico empurrou-a de volta para a saída da cozinha e ela revirou os olhos. Ela bagunçou os cabelos dele e sorriu.

— Não me olha assim,tô bagunçada – escondeu o rosto com as mãos. Puxei a mão direita para baixo e ela riu quando fiz careta para ela. – E não tomei banho hoje,então nem me cheira também.

Bagunçada.

Para mim,ela nunca esteve tão perfeita.

—Então – ela começou,pigarreando olhando para Oliver que estava arrumando a ficha de seu personagem na mesa –Semana que vem : Detroit.

Franzi a sobrancelha,olhando-lhe. Ela tinha dito que o Sr.Chase estava atrás de outros tipos de quimioterapia e que ela estava tentando ajuda-lo a não enlouquecer.

Mas eu sabia que ela estava cansada. Quanto mais mexiam com isso,mais ela se acabava.

Mas Annabeth tinha que dar o fio da esperança para o próprio pai,assim como dava o fio da esperança para mim também.

— Que péssimo – sussurrei,puxando sua mão. – São as terras do Eminem,tenha cuidado.

Ela jogou a cabeça para trás,rindo.

No fundo,eu era como o Sr.Chase. Quanto mais pudéssemos atrasar a ida de Annabeth...mais eu concordava.

— Queria ficar por aqui por mais tempo. – ela murmurou,apertando minha mão.

—Você vai ficar quanto tempo lá?

—Dois dias.

—Você vai sobreviver – sorri para ela.

— Não por muito tempo – ela sussurrou baixinho,ficando séria e apertando minha mão.

Eu fingi não escutar.

Mas eu escutei.

.

Vai embora! – ela gritou – Vai embora!

—Annabeth –

—Eu não te quero aqui,entendeu? – ela gritou mais alto. Os olhos vermelhos,o lenço que ela usava na cabeça,estava nas mãos enquanto ela limpava a boca.

Atena estava sentada em silêncio na poltrona,os olhos cobertos de água.

— Annie... –eu sussurrei. –Por favor.

—Eu quero que você vá embora –ela murmurou séria. – Antes que eu leve você comigo.

.

Arrumei meus cabelos e fingi não ver a vermelhidão nos meus olhos enquanto fazia isso.

Tomei meu rumo em direção a livraria que eu trabalhava.

Eu tivera pouco tempo antes de ela ir de novo.

Não ir se mudar. Não ir viajar.

Ir de vez.

Annabeth morreu na tarde de terça-feira.

Ontem.

 Era fim de tarde e estava frio por conta do final do outono,mas ela morreu quentinha nos braços de quem a amava independente do que havia acontecido.  Segundo seus pais,morrera contente consigo mesma por não ter levado quem ela amava,consigo.

Annabeth era única. Fora única.

E eu não tivera tempo de ter tempo com ela.

Porque ela não me deu tempo. Ninguém nos deus.

Caminhei em direção a sua lápide e me abaixei,passando os dedos pelo seu nome.

Você é.

Sempre vai ser.

Deixei o livro que ela havia pedido por telefone em cima da terra.  Se eu pudesse pedir tempo para quem quer que comandasse a terra,eu não pediria tempo para nós. Ou mais tempo para ela e sua família. Ela e os amigos.

Eu pediria tempo para que ela pudesse ler o livro que queria.


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Notas finais do capítulo

É isso SUHSAHSUSA
eu tenho mais 1 história tisti pra postar e depois disso MENINA SENTA E AGUARDA QUE VCS NÃO TÃO LIGADOS NO QUE EU TENHO EM MENTE RSRSRSRS

essa história é diferente do que eu costumo escrever e eu aprendi com ela que por mais que eu adore passar um tempo sozinha comigo,me,myself and i
eu tenho que passar tempo com quem eu amo também
então


AAAAAAAH
VCS JÁ LEVARAM ALGUM WEEBTOON?? QUERIA DIZER QUE O @ IVO ME VICIOU NESSE TREM
até mais ♥



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