Catherine escrita por honeymooon


Capítulo 8
Capítulo 7: Sorrir




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Meu sorriso é o mais belo, é o que falam. Dizem que meu rosto é simétrico, minha pele é bonita, meu tom de cabelo claro causa uma impressão de doçura no meu ser. Meus dentes não são os mais esbranquiçados, contudo isso não deteriora a qualidade final do produto. A verdade é que meu cabelo precisa de um corte, a pele tem espinhas e dizer que meu rosto é simétrico é uma blasfêmia daquelas. Ah, mas eu adoro os elogios. Quando, claro, vem de uma pessoa admirada por mim. Ou seja, nada de Ethan e tudo de Catherine.

Meu riso era o mais inebriante, ela afirmou entre uma piada ou outra. Ria mais vezes, Laura. Eu sempre te vejo tão séria, tão... Fechada. Caótica seria a palavra certa, contudo deixei a sugestão guardada em mim. Laura, Laurinha, Bubbles! Onde mora? Eu já disse que sua risada é linda? Seu olhar é misterioso, eu gosto disso. Laura, você é muito muito doce. Eu já te disse isso?

— Foca na rua – murmurei cheia de graça. Não podia me controlar, estava sendo uma noite cômica. Fizemos piada, rimos muito, levei elogios atrás de elogios e ganhei um lanche, além da carona para casa. Que frio fazia! Mas dentro daquele carro, estava uma temperatura muito agradável. Catherine, no entanto, era calorenta e desligava o ar constantemente “ou vou fritar, Laura”.

—Como posso se você está do meu lado? – eu ri mais, agora baixinho. Já tinha feito cena no restaurante com as graças sobre nossos colegas de trabalho. Todo seu repertorio era composto por vivencias diversas e fatos ilustrados – Eu meio que conheço seu bairro. Trabalhei por essas bandas.

—Aqui só tem pizzaria e padaria.

—E um mercadinho. Eu trabalhava no mercadinho.

—Aquele do velho Bob?

Ela riu.

—Esse mesmo, Laurinha – paramos em um semáforo e ela se virou sorridente – Não se importa com meus apelidos, né?

—Claro que não, por que me importaria?

—Talvez seja um incomodo.

—Ah, por favor! – minha voz ecoou sarcástica e dei outra risada controlada – Se fosse outra pessoa.

—Se fosse outra pessoa, o quê?

—Se fosse outra pessoa, eu iria me importar. Se fosse um Ethan.

—Um Ethan galinha, sim! – sua mão pousou na minha perna, sem grandes avanços. Fingi que nem senti.

—Hey, minha casa é virando a esquina. Quarta casa a esquerda, obrigada.

—Cerquinha de madeira?

—Cerca velha de madeira, sim – sorri. Por que na minha vida toda, sorrir tinha sido tão difícil, mas quando eu estava com ela, isso parecia tão fácil?

—Foi uma honra te ter em meu carro – ela despejou as palavras e eu não pude deixar de notar no brilho em seus olhos. Estava escuro naquele ponto, contudo eu conseguia enxergar claramente os olhos brilhantes, os lábios umedecidos e as sobrancelhas bem feitas.

—Foi uma honra receber um convite teu. Sorte eu ter te visto lá hoje.

—Sorte eu ter perdido a hora pra comer.

Queria beija-la e sei da presunção para tal ato ser cometido. Contudo, olhem que interessante, era cedo demais, estranho demais, novo demais. Já havia sentido-me bem assim com outras meninas ao meu lado, porém não recentemente e não com uma moça daquelas. Catherine tinha um ar mágico ao seu redor. Uma pitada de jovialidade com ternura, um comportamento diferenciado, um algo a mais que os outros não tinham. Ou as outras, no caso. Catherine era diferente. E seus olhos me diziam estar com desejo de me tascar um beijo, mas eu não iria pôr tudo a perder. Pois ainda sim eu era a moça do café. E não muito longe disso.

— Muito obrigada, Catherine – eu beijei-lhe a bochecha e parti fora dali, correndo contra o frio e a neve para dentro de casa. Seu carro preto já contava com uma longa cobertura branca. Eu acenei antes de fechar o portão e ela partiu. Eu estava sã, salva e confusa. Catherina conseguia fazer tudo isso por mim em apenas alguns minutos.

Dentro do conforto de meu lar, percebi já que era muito tarde. Mamãe repousava em seus aposentos, despreocupada. Eu, entretanto, não tinha mais tanto sono. As memórias da hora anterior invadiam minha mente, deixando-me desperta. Busquei tomar um banho quente e talvez ver televisão. Porém, não conseguia me acalmar. O peito pulava no ritmo do amor. Quero dizer, Catherine era apenas uma novidade em minha vida e eu adorava certas novidades, contudo ela trazia aqueles sentimentos a tona. Aquela doçura acumulada, perdida durante vários anos de existência. Aquele “quê” de vivência, aquela aventura que era sorrir. Tudo isso e mais. Estar perto dela  era desafiante, porém um desafio positivo. Eu estava gostando disso.

Não dormindo por conta dos motivos listados acima, reparei no meu celular a brilhar. Era uma da manhã e eu havia recebido uma mensagem de Betty, a minha amiga do café. Timida, ela perguntava se poderia me ligar. Respondi já discando seu numero.

— Eu não consegui falar aquela hora – Betty alegava em tom animado – Mas, eu tenho uma novidade.

— Então me diga.

— Queria lhe dizer antes que você soubesse por outra pessoa – ela prosseguiu ignorando meu pedido – Não quero que fique chateada comigo.

— Não vou ficar chateada contigo, menina. Você sabe que eu gosto muito de você.

— É por isso mesmo – o tom animado se esvairou conversa abaixo. Palavras mais frias tomaram posse da oratória – É que eu não quero você chateada.

— Diga-me logo, por favor. Vou começar a achar que é algo ruim.

— Não é ruim! – sua voz as vezes puxava uma corrente mais infantilizada do que o normal – É bom, é algo bom. Para mim, pelo menos.

— Então me diga, meu deus! Estou curiosa.

— É que... Laura! Eu estou namorando um rapaz!

Eu ri, desejando-lhe parabéns. Contudo, confesso que de nada eu estava feliz. Quer dizer, eu me encontrava feliz por ela, mas não feliz com ela. Betty havia sido minha primeira e única namorada e a foto cujo eu procurava horas antes, era nossa. Eu não nutria mais sentimentos sobre reatar, mas um pouco de ciúmes ainda habitava em mim. Eu não sabia se os outros cuidariam dela melhor do que eu cuidei.

Apesar disso, sim, eu estava muito feliz por ela. Apesar das circunstancias não ajudarem muito (ela não era lésbica?).

— Um homem? O que houve?

— Achei que eu nunca iria amar um homem, mas eu amo o Jason. Ele é da igreja que meu pai frequenta.

E eu entendi tudo. Betty havia sofrido muita repreensão por parte da família religiosa dela e agora ela tentava agradá-los. Será que ela percebia o obvio ou fazia isso de forma insconsciente?

— Eu te desejo muita sorte, Betty.

— Obrigada! – ela respondeu sorrindo através da linha – Não está chateada, está?

— Claro que não.

— Você não gosta mais de mim... não é?

— Não da forma que você tá perguntando, Betty. Somos amigas, lembra-te?

— Ah! Eu fico feliz de saber que não está chateada! Eu nunca quis te chatear.

Eu não sabia se ela estava falando desse episodio ou da nossa vida como casal. Porque ambos foram levemente inconvenientes para mim, contudo de formas diferentes. Eu ainda gostava de Betty, como disse anteriormente. Ela era muito meiga e precisava de cuidados. Não gostava de vê-la entrando em relacionamentos para esconder seus verdadeiros impulsos.

— Você nunca iria me chatear, menina.

Todos estavam seguindo em frente. Só faltava eu.  


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