Sapatinho de Cristal escrita por Folhas de Outono


Capítulo 9
Capítulo 9




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—Obrigada, eu me diverti bastante. – Disse-lhe simplesmente, dessa vez, olhando em seus olhos, antes de adentrar a carruagem e bater a porta, enquanto ele ainda estava a alguns metros de distância.

—Espere! – O ouço gritar. Mas apenas aceno, em sinal de adeus. E então, novamente, grita. -Esperarei ansioso pela noite de amanhã.

Uma pena que não pretendia voltar, já que meu par me dera um bolo. Bom, pelo menos, podia dizer que fiz um amigo.

CAPÍTULO 9

Dizer que a manhã seguinte foi tranquila seria uma lorota das grandes. Bastou me lembrar do bolo que levei para ficar desanimada, e depois, ao visualizar no cesto de lixo os restos do que um dia foi o vestido da minha mãe, foi quase como se meu coração fosse tomado pelas mãos de alguém e apertado, como se espremessem uma laranja.

Precisei de alguns momentos para recuperar o ar antes de verificar se o vestido estava bem escondido e sair da antiga dispensa, trancando a porta em seguida.

Logo depois, tive de encará-las. Lady T. fez com que suas filhas acordassem mais cedo que o comum. O assunto da manhã era o baile, o príncipe e principalmente a garota com quem ele estava, que ninguém conhecia.

—Certamente é, ao menos, uma condessa. Pode-se ver pela forma com que anda e principalmente, dança. Com certeza faz parte da nata da sociedade. – Ouvi dizerem umas ás outras. –Mas escutei o marquês De´Louvan dizer a mulher do Barão que a garota não havia sido vista em bailes antes. Aparentemente se acha muito superior, ou a mãe pensava que ela era uma vergonha já que pelo que ouvi, até mesmo as duquesas não sabiam seu nome.

—Cale-se Anastácia. – Repreendeu enfim Lady T. parecendo tentar conter sua frustração. –Vocês duas não devam perder seu tempo pensando nessa garota. Devem se concentrar em hoje a noite. Anastácia, trate de passar o dia em seu quarto pensando em como vai se arrumar e trate de achar uma forma de chegar até o príncipe e fazê-lo se encantar por você! Já você, Drizella, trate de, ao menos, servir para um barão, quem sabe até um marques ou ainda um conde?

—Barão? Porque ela fica com um príncipe, e eu com um Barão? – Indagou enraivecida.

—Oras, não me faça uma piada dessas a essa hora da manhã, garota! Você com o príncipe? O único ser que reparou que você estava na festa ontem foi o jovem criado que vinha repor as bandejas de doces e salgados que você devorava! Só saiu do pé daquela mesa quando eu mesma pedi que dançassem com você. Uma vergonha pensar que deve ter comido boa parte do banquete sozinha. Pois agora, corra atrás do prejuízo, consiga casar-se ao menos com um Barão.

Quase chorando, Drizella correu para o quarto, sendo seguida por uma Anastácia tão calma que parecia não ter ouvido uma única palavra grosseira sendo dirigida á irmã. Mas ela ouviu. Apenas não se importou o suficiente para deixar a pose presunçosa de lado e ir consola-la, ou ao menos se demonstrar solidaria com a humilhação pela qual ela acabou de passar. Não, Anastácia precisava conquistar um príncipe, não se preocupar com essas besteiras.

Me peguei pensando em como seria se algum dia uma delas descobrisse que a tal “condessa” era, na verdade, eu. Afastei o pensamento da minha mente. Esse era um dia que eu esperava nunca chegar, ou eu sofreria ainda mais nas mãos delas. Então, a fim de evitar que tais pensamentos se alojassem, me pus a trabalhar. Retirei a mesa, lavei a louça e me preparei para ir para a Fary Land.

Alice me recebeu tão animada que mais parecia uma pipoca pronta a explodir e exalar toda a energia que armazenava dentro de si. Nem se preocupou em abrir a loja, apenas fechou a porta assim que entrei, agarrou meu antebraço e me puxou ás pressas para seu ateliê.

—Me conte tudo! Como foi dançar com o príncipe? E, garota, como você estava fenomenal com aquele vestido! Coube como uma luva em você! E pensar que o meu vestido foi usado pela garota que não só chamou a atenção de todos do baile, como também a do príncipe! – Sem se conter, Alice se joga na cadeira mais próxima e suspira – Meu vestido dançou com o príncipe! Me diga, como foi?

—Bom, foi... legal. – oky, não consegui disfarçar minha incerteza tanto quanto eu queria. Não para Alice. No fim das contas, ela era a única com que eu poderia falar sobre o assunto. E eu avia pego um de seus maiores trabalhos e exposto muito antes da hora, eu devia isso a ela. Respiro fundo, suspirando logo em seguida e me dirigindo a poltrona mais próxima para me sentar. Essa conversa poderia demorar. – Quer dizer, foi meio constrangedor, tudo o que eu conseguia pensar era em não pisar na barra e tropeçar, ou esquecer alguma regra de etiqueta que me ensinaram quando era pequena. Só a ideia de passar vergonha com toda aquela gente olhando, me especulando, esperando um passo fora do compasso... foi desesperador.

—Que isso, você estava incrível! – Senti as palavras transbordarem animação.

—Não, o vestido que você fez estava incrível. Ele quem atraiu toda aquela atenção. Aliás, muito obrigada por ele. Realmente é magnífico. A melhor obra que eu vi entre suas fotografias e vídeos dos desfiles anteriores, e até mesmo dos croquis dessa temporada. Você realmente se superou.

—Muito obrigada, Ella. Mas ei, você realmente estava fenomenal e embora meu vestido tenha estado incrível, você não estava atrás. Pelo contrário, você estava tão fenomenal que parecia ser a dona, não apenas do vestido, mas de todo o castelo. Eu não poderia ter escolhido melhor pessoa para usá-lo, nem melhor causa. Afinal, deixando o príncipe de lado, como foi o encontro com o Caçador?

—Não foi. –Respondi desanimada.

—Como assim, não foi? – Senti meu ouvido um pouco sensível depois do grito agudo e descrente de minha amiga.

—Exatamente. Nosso encontro não aconteceu, eu levei o bolo. – Suspirei. De novo.

—Porque?

—Ele não apareceu no baile. Simples assim.

—Mas eu não te vi no baile quase a noite toda! Onde você estava? – Questionou, curiosa.

Depois de um breve resumo sobre como eu tinha chegado ao baile, minha dança com o príncipe, o Caçador não aparecer e o passeio pelo jardim acompanhada da realeza, seguido da minha despedida apressada, para dizer o mínimo, Alice estava chocada. Foram necessários uns seis ou sete minutos de silencio, apenas uma encarando a outra, antes que ela verbalizasse seus pensamentos novamente. O que para essa criatura, era como um recorde. E, quando enfim ela deu seu parecer sobre toda a história, foram ditas apenas três palavras.

—Nossa, que romântico...

Minha resposta, provavelmente foi meio decepcionante. Eu apenas sorri de lado e olhei para baixo. Não disse nada, pois não havia nada a ser dito. Alice estava certa. Um passeio a luz do luar com o príncipe nos jardins do palácio, depois de uma dança em um baile. Foi romântico. Mas infelizmente, a plebeia aqui já tinha o coração tomado por outro. Mesmo sendo romântico, quisera eu ter feito o passeio a luz do luar, nos jardins do palácio, depois de uma dança em um baile com o Caçador. Afinal de contas, era por ele que eu estivera ali. Apesar disso, não poderia dizer que a noite não havia sido especial.

Depois da conversa, voltamos ao trabalho.  A loja continuou bem movimentada, considerando que essa seria a segunda noite do baile e muitas garotas queriam comprar um segundo ou até terceiro vestido. Algo como não repetir a roupa para mostrar todos os atributos que uma garota poderia oferecer. E não me refiro apenas aos do meio financeiro.

Perto do fim do curto expediente, graças ao evento, Alice se aproxima com uma expressão séria. Ela não havia decido para a loja hoje, apenas se limitou ao ateliê, então me peguei pensando se havia algo de errado com seus vestidos ou se ela havia tido um problema com algum fornecedor de tecidos.

— Ella. Eu te conheço a pouco tempo, mas te conheço como ninguém. Sei que está pensando em não ir mais ao baile, que está desanimada com o fato de o Caçador não ter aparecido depois de te convidar e insistir tanto sendo que, no início, você nem queria ir mesmo. Pois bem, depois de passar a tarde sem conseguir fazer um rabisco que preste, somente pensando nisso, eu, como sua amiga, a proíbo de não ir!

—Olha Alice... – tentei responder. Mas antes que conseguisse terminar a primeira sentença, fui brutalmente corta.

—“Olha Alice” nada! Você vai. Talvez, ele só não tenha conseguido ir no primeiro dia. Nunca se sabe, ele pode ir hoje. E se não for, idaí? Esse é um evento raro por aqui. Não pode perder! Vá e curta a noite sozinha, coma aqueles pudins deliciosos, escute a bela música da orquestra da Academia. – Alice falava tão rápido e tão energética, que parecia nem mais respirar antes das palavras jorrarem para fora.- Quem sabe você não consiga a companhia de um belo rapaz para dançar a noite toda? Poxa! Aprenda a viver garota! Será uma bela memória para se lembrar daqui a alguns dias quando sua única distração voltar a ser o esfregão do vaso sanitário. E será uma bela memória para se apegar até que você finalmente saia daquele ninho de cobras em que vive. Sabe que farão de tudo para evitar que você faça qualquer coisa para se divertir e viver sua própria vida enquanto elas puderem.

Tudo bem, era obrigada a admitir que ela estava certa em pelo menos... tudo o que disse. Realmente não faria nenhum sentido não ir ao baile hoje. Meu par realmente poderia ter tido um contratempo ontem, mas pode ser que ele apareça hoje. E se não aparecer, bom, irei fazer o que Alice disse. Vou curtir o baile. Por mim.

Olhei no fundo de seus olhos, vendo que ela esperava apreensiva minha resposta.

—Tudo bem, eu vou ao baile. Você está certa.

Pude ver quando ela relaxou, deixando seus ombros caírem.

—Te vejo lá então. – Afirmou sorrindo, tranquila, enquanto pegava sua bolsa e caminhava em direção a saída.

—Alice! – Gritei de repente, ao me dar conta de algo.

Ela apenas se virou, franzindo a testa.

—Me empresta seu vestido de novo? Quer dizer, eu não tenho outro além dele para usar. – Perguntei, constrangida.

—Por favor, Ella. Ficaria ofendida se, depois de ontem à noite, você não o usasse hoje. Apenas não diga a ninguém que é um dos meus. Ao menos, não ainda. Não está na hora.

Não entendi bem o que ela queria dizer com “não está na hora”, mas concordei. Aliás, fiquei até agradecida, não contar quem era a estilista significa que para as fofoqueiras chegarem até mim seria ainda amais difícil.  Muito embora, se fosse seu desejo e alguém perguntasse, eu diria. Alice já estava me fazendo muitos favores, eu devia isso a ela. Afinal, as pessoas amaram o vestido, aposto que se soubessem, fariam fila na porta no dia seguinte na esperança de ter uma peça da Fary Land.


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