Sapatinho de Cristal escrita por Folhas de Outono
Logo me retirei para o trocador, onde vesti meu vestido simples branco com o qual vim.
—Ella? -Ouvi Alice chamar do outro lado da porta algum tempo depois. – Quero que conheça alguém. Lembra do convidado especial de quem eu falei? – gritou do outro lado.
—Claro Alice, já vou abrir!
Dizer que fiquei em choque depois de abrir a porta seria pouco. Lá estava ele, depois de tanto tempo.
O caçador.
CAPÍTULO 17 -O Fim, Parte 1: Desfile Fary Land e o Sr. Wallace Garden.
Por alguns poucos segundos, apenas o encarei, congelada, mão ainda na maçaneta da porta. Não imaginei jamais poder vê-lo novamente. Rapidamente, porém, me recompus.
—Ahm... Oi? – cumprimentei sem graça.
—Olá.
Fez-se então, um silêncio constrangedor.
—Tudo bem com você? Quer dizer, você sumiu, não te vejo a dias e... aqui está você!
—Sim... – ele riu nervoso, coçando a parte de trás do pescoço. -Me desculpe por isso, estive muito ocupado nos últimos dias...
—Muito ocupado? – “sério isso?” pensei. Que desculpa... decepcionante. Suspirei. Sim. Decepcionante, de fato, percebi então. De tantas formas diferentes, enfim em frente ao caçador, com tudo o que eu sentia por ele, amizade, carinha, amor... de repente a decepção causada por essas duas palavras sobrepujou tudo isso, trazendo um novo sentimento. Decepção. – Sim, imaginei. Afinal, você não pode me encontrar no baile, nem na clareira... Mesmo sendo você o que me convenceu a ir... -Observo seu constrangimento dar lentamente lugar a confusão e então a confusão, ceder a tristeza.
O Caçador abaixa a cabeça e, depois, ele a levanta para olhar nos meus olhos.
—Me perdoe. Eu realmente não pude estar ali. Mas...
—Três vezes – o corto, recomeçando minha fala. -Por três vezes, me arrisquei e fui te encontrar. Por sua causa, arrisquei ser descoberta pela minha família e então, sabe-se Deus o que seria de mim naquela casa. -disse, com a voz baixa, em lamento. – Em nenhuma delas, você estava lá. Eu contei com você até o último dia, esperei até o último dia. Até ver que não podia contar. Não com você.
—Mas eu fui! -afirma, de olhos abertos, parecendo desesperado.
—Então onde você estava?! – exijo. – Onde você estava?
—Eu estava com você! – sussurra, tão baixo, que tenho que me inclinar para frente para ouví-lo.
—O quê?! – exclamo, mau acreditando nos meus ouvidos.
Subitamente, ouço gritarem meu nome. Era Alice que, antes havia estado nos observando a distância, provavelmente tentando nos dar privacidade, mas que, no momento, me chamava, acenando com as mãos em sinal de pressa, enquanto acompanhava um senhor, baixo como ela e já de idade, ao seu lado.
—Olha... eu tenho que ir. – Digo, suspirando.
—Me encontre na clareira essa noite. – disse, com tom de urgência.
Passei um tempo apenas olhando-o nos olhos. Buscando qualquer sorte de sentimento que ali houvesse, mas tudo o que podia ver, era um pedido surdo sendo feito outra e outra vez. Um pedido de perdão. Um perdão seguido por uma nuvem densa e pesada de tristeza, quase pesar. E uma esperança cruel, bem ao fundo, brilhando como uma estrela solitária no céu da madrugada.
—Por favor. Então, eu explicarei tudo! – garantiu.
—Ella! – gritou novamente Alice, ainda mais frenética dessa vez.
—Tenho que ir – digo, já me dirigindo a minha amiga. Paro, por um momento, ao seu lado. -Esta noite.
Pouco antes de continuar meu caminho, ouço-o sussurrar.
— Ella...
Alice me recebe ao seu lado muito empolgada.
—Ella, eu te apresento o Sr. Garden. – Alice aponta o senhor ao seu lado.
— Olá Ella, é um prazer te conhecer. Eu sou o Sr. Wallace Garden, diretor da Escola Vitoriana de Dança e Cordas. Alice, foi uma de minhas alunas pessoais em piano, e hoje estuda e trabalha meio período conosco como recepcionista, você deve saber. – disse o senhor, muito simpático e educado.
—Sim, eu sei, foi onde eu a conheci, na verdade.
—Sim, sim, a pequena Alice me contou. Ela é esplendida no piano, sabe. Um verdadeiro talento, sempre digo a ela, poderia ir a lugares autos com a música caso seu sonho não fosse a moda. Imagine a minha surpresa ao ouvir seu pedido para vir hoje ouvi-la tocar o violino, Ella. - Congelei, olhos arregalados e mente em branco, sem conseguir pensar ou fazer qualquer coisa além de ouvi-lo. -Geralmente não faço esse tipo de coisa, sabe. Afinal, temos as audições e os olheiros para isso. Mas quem pode dizer não a Alice?
—Realmente, não é... – Sussurrei, encarando chocada minha amiga – quem pode dizer não...
—Bom, devo dizer que realmente gostei muito do que ouvi. Estaria disposto a recebê-la na escola a partir do próximo semestre para aulas no Curso Introdutório de Cordas Violino da nossa escola. Bolsa integral. - Terminou ele, sorrindo.
Estava tão chocada que fiquei alguns segundo só olhando, congelada, o senhor que parecia me oferecer meus sonhos em uma bandeja de prata. Prata não, ouro! Isso é, até Alice me cutucar com o cotovelo. Pisquei duas vezes, voltando ao normal, antes de responder:
—Nossa, tenho que admitir que não esperava receber m convite como esses, estou chocada. Nem sei o que dizer...
—Sim, Sr. Garden. Minha amiga diz que sim. – Intrometeu Alice.
O jovem senhor, por sua vez, vendo-me paralisada, rio divertido.
—A escola não é fácil, minha jovem. Tem certeza?
—Claro! Sem dúvida nenhuma, é uma honra. – Exclamo apressada, com medo que a qualquer momento ele pudesse mudar de ideia.
—Bom... Fico feliz, jovem. Até mais. -Se despediu. Depois, voltou-se para minha amiga, acenou com a cabeça e a cumprimentou em tom de adeus – Alice.
Ainda congelada, observei o senhor indo embora, até sumir em meio a multidão que restava do desfile.
—Eu não acredito nisso... Eu vou para a Escola Vitoriana de Dança e Cordas! – sussurrei chocada.
Alice, ainda ao meu lado, apenas riu.
—Vamos, está na hora do almoço. Pode ir pra casa, deixa que eu converso com os convidados e depois fecho a loja. – disse ela, ainda com vestígios de diversão em sua voz.
Eu, no entanto, mal acreditando na sorte que estava tendo logo pela manhã, apenas peguei meus pertences e me despedi, saindo da loja ainda meio boba com tudo o que já havia acontecido.
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