Sapatinho de Cristal escrita por Folhas de Outono


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

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CAPÍTULO 14

           Fui arrancada do estupor ao me assustar com um estouro. Não foi alto, na realidade, foi um som bem baixinho de explosão, como se estivesse a quilômetros de distância, mas corrompeu o ambiente antes tão silencioso que foi como se tivesse gritado.

Olhei, curiosa, pela janela.

Fogos de artifício explodiam e coloriam a tela negra em que o céu havia sido transformado. Ficamos, por bons minutos, apenas ali, abraçados em frente à janela, admirando a vista, sem nenhuma necessidade de dizer nada um ao outro para como que já soubéssemos o que seria dito. Pela primeira vez, notei o perfume do príncipe. Um cheiro suave que me lembrava vagamente de sentir não apenas nas últimas duas noites, mas em algum outro lugar. Alguma coisa que eu não conhecia, e um amadeirado parecido com pinha. Busquei brevemente no fundo da minha mente de onde o reconheci, mas logo deixei pra lá, a fim de apenas curtir o momento ali, com ele. Isso podia ficar para depois.

—Os fogos são lindo. – disse-lhe, quando pareceu estar próximo ao fim do show.

—Sim. Eles são. – respondeu, beijando o topo da minha cabeça. –Já é quase meia noite. Diga, porque sempre foge de mim?

—Não é de você que fujo. São delas. – Digo, sem nem pensar. Quando vejo, já comecei, talvez pela primeira vez, a falar algo realmente pessoal sobre mim.

—Elas?

—Minha madrasta e minhas duas meio-irmãs. Elas são... cruéis. Se apenas sonharem... – rio nervosa, torcendo os dedos das minhas mãos.

—Não precisa teme-las. –soou como se tentasse me confortar. Mas ele não as conhecia. Bastava pensar em tudo que já fizeram que eu mesmo havia, uma vez, duvidado de que fossem capazes para que eu soubesse que não deveria cometer esse erro. – Por favor, me diga seu nome. Não tem ideia do quanto quero saber. Do quanto eu preciso saber...

—Henry... – Comecei, pensando em negar imediatamente. Mas então... Bom, certamente eu não era nada mais que apenas eu. Mas eu sabei que ele era, não? Não seria justo que, ao menos o meu nome ele guardasse para sí?

Tenho meus devaneios e ponderações interrompidos quando ele, provavelmente assumindo um não, me indaga, com a voz tão baixa que mal escuto nada.

—Porque veio na primeira noite? – perguntou, olhando para os própios pés.

—Você sabe... – respondi, tão baixo quanto, de repente me sentindo culpada. – Vim por ele.

—E na segunda noite? – olhou em meus olhos.

—Também...

—Hoje?

Abri a boca para responder, mas antes que qualquer som saísse, ouço o sino. O maldito sino. Quando o badalar soa pela segunda vez, não apenas me engole em seu som, mas também engole o som de uma gota caindo ao chão. Só que dessa vez, não era uma goteira do teto que soava ao se esparramar em meio a uma pequena poça. Era o som de uma lagrima caindo entre o farfalhar de tecidos. Olho pela janela e, de olhos arregalados, olho para Henry.

Lentamente, seguro a saia do vestido e, tão apreçada quanto os saltos permitem, desço as escadas antes de seguir correndo, a cada paço saindo mais do torpor, até que finalmente atinjo a minha velocidade normal. Ou tão normal quanto o peso das camadas de tecido permitiam.

O caminho pareceu um borrão, como uma foto sendo tirada lentamente enquanto objetos se movimentam e, quando revelada, tudo se torna irreconhecível. Até que, enquanto descia os últimos degraus da escadaria final do jardim, prestes a sair para encontrar a carruagem, sou puxada para trás. Quando olhei para trás, não havia nada. Tentei me movimentar novamente, mas percebi que meus pés estavam presos, como se grudados em meio a um melaço. A luz da festa dentro do salão ao lado aumentou, e finalmente pude, apenas por um instante, ver claramente o chão. Estava negro e brilhoso, como um espelho que refletia o céu em toda a sua profundidade. Mas não era um espelho.

Era piche.

Ele havia mandado jogarem piche em metade da escadaria.

Tento me mexe e percebo que minha perna esquerda estava presa. De repente, me sinto começar a ficar com falta de ar, e quanto mais puxo minha perna, mais ofegante fico, não por causa do esforço, mas pelo pânico que começa a me atingir. Minha perna já estava dolorida quando ouço sons de paços e congelo. Lentamente, olho para onde vem o som. Lá está Henry, andando calmamente, ainda no topo da comprida escada.

—Você prometeu! –grito, pois vê-lo andando tão calmamente reacendeu e fomentou a chama da raiva e incredulidade que me dominava naquele momento. Estava incrédula, para dizer o mínimo. Por um segundo, fiquei de fato agradecida por estar presa bem ali, a uns bons 15 metros de distância, ou seria provável de que tentasse ataca-lo de qualquer forma possível, visto que não estava em meu momento mais lúcido.

Por um segundo, ele parou. Não esboçando reação alguma em relação ao meu grito, quase como se não o tivesse ouvido. Embora eu sabia que ele tinha.

— Me desculpe por persegui-la ontem. Eu... apenas fiquei louco com a perspectiva de não vê-la mais. – disse, voltando a descer a escadaria.

—Você prometeu que me deixaria ir. – disse, agora, não com raiva, mas com pura incredulidade.

—Prometi que não a perseguiria ou que mandaria que outros o fizessem. E, bom... Tecnicamente... Ninguém está te perseguindo. Me desculpe, mas eu tinha que tentar fazê-la ouvir a voz da razão.

—Ouvir a voz da razão... e que voz seria essa? - se pudesse regar palavras, as minhas estariam escorrendo sarcasmo neste momento.

—Há algo que tenho que lhe dizer.

12 metros de distância.

— E o que seria?

—Eu te amo.

Sabe quando você está mergulhando e, lá embaixo, dentro da água, você vê alguém na borda gritando, mas tudo o que pode ouvir é o nada, como se o mundo estivesse em mudo, ou como se uma bolha tampão o cercasse? Eu me senti em meio ao fundo da piscina. Minha mente flutuando inerte enquanto observava Henry falar alguma coisa que eu simplesmente não podia ouvir, como se ele estivesse na borda gritando e eu estava lá no fundo.

Sacudo de leve minha cabeça, tentando me despertar dessas sensações.

—Desculpe... o quê? – disse, baixinho.

8 metros de distância.

—O que você sente por mim? Porque não me diz seu nome?

O que eu sentia por ele? Eu deveria responder essa pergunta? Não. Não acho que deveria. Porque jamais poderia apenas dizê-lo e ser cem por cento sincera. Porque eu sabia o que sentia por ele, mas não apenas por ele. E o apenas era fundamental. Porque sem o apenas, eu iria simplesmente magoá-lo. Mas a pergunta era, eu poderia apenas deixa-lo ali e talvez nunca mais vê-lo, sem responder? Eu sabia a resposta para isso também. Eu não poderia.

—Eu estou apaixonada por você Henry. –admiti baixinho, olhando para os meus pés, parte de mim desejando que ele não ouvisse.

—Então porque continua fugindo? Porque não me diz quem é?! – sua voz sai baixa, tanto quanto a minha, mas a angústia havia sido acrescentada.

—Mas... Eu também amo outra pessoa. – completo, erguendo meu olhar. Porque ele merece saber que é verdade, não quero feri-lo, mas não posso faze-lo feliz também.

—Quem? – sussurrou.

Volto a olhar para baixo. Essa é uma pergunta que, pelo bem de todos, jamais responderia. Não apenas não adiantaria de nada, mas destruiria a amizade entre os dois rapazes, a confiança, e talvez, o Caçador sendo apenas, bom, um caçador, mesmo que nobre, poderia destruir sua vida. Mas não precisei responder, porque sem dizer uma palavra, ele soube.

O encaro profundamente em seus olhos.

5 metros de distância.

—Me desculpe... – sussurrei antes de soltar meu pé do calçado que estava prezo, me virar, e voltar a correr.


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