Acordo com o despertador tocando, como sempre gostei de clássicos dos anos 90 e alterno todos os dias com musicas que marcaram a adolescência dos meus pais e que de certa forma me trazem uma alegria matinal que é ótima. Hoje acordei com Wannabe das Spices Girls, uma curiosidade sobre esse grupo é que ele é um dos poucos, se não o único grupo feminino do UK a fazer sucesso no mundo todo.

Desci as escadas e encontro meus pais e minha irmã tomando café da manhã, tem de tudo, o que é estranho, geralmente só tem pão e manteiga. Sento-me.

— Dia especial? - Pergunto olhando para minha mãe.

— Claro, hoje é seu primeiro dia no terceiro ano! E Anna começa o primeiro ano. - Minha mãe sorri para meu pai, orgulhosa.

— Claro! Grande dia para nós dois né maninha? - Dou um tapinha no ombro dela, que me olha torto.

O mau humor matinal da minha irmã é algo curioso, mas compreensível, afinal, devo ser o único ser vivo a amar acordar de manhã. Termino de comer e escovo os dentes. Anna já está dentro do carro com seus fones de ouvido, enquanto meus pais brigam para saber se vão escutar Adele ou Katy Perry. Entre as duas eu fico com a Adele, pop chiclete nunca foi meu estilo. Então arranco um CD da bolsa e entrego ao meu pai, que entrega para minha mãe, atrás da capa contém o nome das musicas que eu coloquei nele. Minha mãe se alegra em conhecer todas as musicas listadas e as lê em tom alto, para que todos escutem.

Spice Girls - Wannabe

*NSYNC - Bye Bye Bye

Come As You Are - Nirvana

Sacrifice - Elton Jhon

You Learn - Alanis Morissette

Womam In Chains - Tears For Fears

Don't Speak - No Doubt

No Scrubs - TLC

As Long As You Love Me - Backstreet Boys

Take A Bown - Madonna

Ela coloca o CD para tocar e canta junto como se estivesse revivendo toda a sua adolescência, quando começa a tocar Nirvana meu pai ri e olha para ela.

— Essa musica estava tocando no carro, no dia em que pedi sua mãe em namoro. Sabe o que ela fez?

— O que? - Pergunto curioso.

— Ela mudou todas as estações de rádio até achar uma musica romântica e pediu para que eu fizesse o pedido novamente.

Todos começaram a rir da situação, às vezes sinto que sou o único garoto da minha idade que gosta de ouvir o que seus pais faziam quando eram adolescentes, mas me divirto. Anna tira os fones para ouvir o que estávamos falando.

— Quando lançaram essa musica? É nova?

— O que? Isso é um clássico, musica da época dos nossos pais. - Respondo incrédulo.

— Prefiro One Direction. - Ela coloca os fones e volta para o mundo dela.

Eu respeito o gosto da minha irmã, mas nunca vou entender como as pessoas de hoje em dia se limitam a uma banda que fala sobre garotas o tempo todo, com toda essa musica boa que está sendo esquecida cada vez mais, já tentei mostrar tanta coisa pra ela, mas ela sempre fala "prefiro One Direction". Não é pecado nenhum, mas se limitar apenas isso não é legal. Nota: Eles têm musicas legais.

Nossos pais nos deixam na escola e Anna corre até algumas amigas dela, passo um pouco perto e escuto uma delas falar "você viu que o Zayn terminou com a Perrie?". Resolvo então aproveitar o tempo que tenho e vou pesquisar quem é Perrie.

*Perrie é uma cantora de uma girlband britânica chamada Little Mix.

O nome me pareceu infantil, mas fiz uma nota no meu celular para pesquisar as musicas assim que chegasse em casa. Gosto de estar por dentro de tudo que faz sucesso hoje em dia, pois quero que meus filhos saibam que as musicas da minha época podem ser boas e consequentemente crio uma lista de coisas a se ouvir da minha época.

Entro na sala de aula, reconheço alguns rostos, comprimentos alguns amigos e sento no mesmo lugar de sempre, a ultima cadeira da fileira do canto esquerdo. Uma menina senta ao meu lado, um pouco envergonhada, talvez seja nova nessa escola, nessa cidade ou até mesmo nesse país.

— Speak portuguese? - Brinco com ela.

Ela ri e fica vermelha, mas não fala nada.

— Eduardo. Mas meus amigos me chamam de Tato. - Estendo a mão para ela.

— Carolina. Minhas amigas me chamam de Bela. - Ela aperta minha mão.

Fico ali imaginando o porquê de a chamarem de Bela, mas assim como meu apelido o dela deve ter um motivo. Me chamam de Tato por causa da minha irmã, ela sempre teve o costume de me chamar assim quando era criança, talvez por preguiça de falar meu nome, ela participa do grêmio estudantil, o que me deixa orgulhoso, minha irmã sempre teve dom para politicagem. Um dia ela entrou na minha sala e me viu fazendo bagunça. "Tato! Quer tomar advertência?". Ai o apelido pegou e foi tarde demais. Olhei para Bela mais atentamente tentando entender o apelido. 

— SAQUEI! - Dei um grito e todos me olharam.

— Você quer me matar do coração?

— Desculpa, seu apelido, saquei o porquê.

— Por quê? - Ela riu.

— Você é a cara da Kristen Stwart.

— Bingo. - Ela riu.

*Kristen Stwart é uma atriz norte americana que ficou conhecida pelo papel de Bela, na saga de filmes Crepúsculo.

Conversamos sobre assuntos aleatórios até a professora de artes entrar na sala e começar a falar sobre arte barroca. Nunca tive interesse por artes, porém resolvi prestar atenção, afinal, quero passar o terceiro ano com notas ótimas!  

Todas as aulas do primeiro tempo passaram como um piscar de olhos, o que se tornou ótimo, na hora do lanche desci até o pátio e fiquei observando os alunos, todos tinham algo em comum e falavam sobre as mesmas coisas, o que frustrava um pouco, tantas pessoas com gostos e particularidades diferentes e se limitam à pessoas com as mesmas coisas em comum. Resolvo então voltar para sala de aula quando me deparo com Caleb. Ele é um dos garotos populares da escola que zoa com aqueles que têm menos condições que ele, um perfeito babaca. 

Passo por ele como quem não quer nada e sigo meu caminho até as escadas, escuto ele chamar pelo meu nome e rezo para que ele não queira nada além de dizer o quanto me odeia por eu ser pobre e essas coisas, mesmo tendo uma vida com condições ótimas, eu nunca quis que soubessem que meu pai tem grana pra sustentar até quatro famílias se ele quiser. Me viro e deixo ele vir até mim.

— Olha quem veio pro primeiro dia de aula! Sua mamãe te trouxe naquela van morimbunda?

— Sim. - Me limito a responder o básico.

— Poxa! Deve ser triste ser você, claro que todo mundo sabe que você é uma bixinha que não pega ninguém.

— Era pra eu me ofender?

— Bixinha! Viado!

— Tchau Caleb.

Sinceramente eu não sei como alguém com a mentalidade dele pode estar no terceiro ano, prestes a se formar, ainda mais, como alguém acha que me chamar de bixa pode me ofender? Tudo bem que eu sou hétero, mas se fosse gay não seria um problema. Percebo uma mão no ombro, Caleb. Pra ajudar dois amigos dele me seguram pelos braços, impossibilitando que eu possa me defender ou sair correndo.

Claro que eu vou apanhar, sem fazer nada. Caleb me acerta no rosto, depois no estomago, é uma dor até que suportável, mas ainda assim dói. Ele acerta mais um no rosto e me derruba, sobe em cima de mim e começa a me socar. Um, dois, três... Até que eu perco a conta. Ninguém ajuda, as pessoas têm medo dele e claro que não querem ficar marcados na lista de pessoa a ser espancada do dia.

Começo a perder a consciência, tudo está girando e ficando preto. A ultima pessoa que eu vejo se aproximando é Roberta.