A Arte pega a sua mão. Você a entrega, achando lindo, achando-se lindo. A Arte toma o seu braço. Você deixa e vai indo aonde não sabe. A Arte assume as suas pernas. Você pensa que alguém disse "perdeu, mané". A Arte pega seu sexo, barriga, peito... Invade o seu coração. Você não percebe mais o tempo passar, esquece a sua idade, vive ora no Céu, ora no Inferno, ama e não entende a quem, é traído e não descobre por quem, torna-se um egoísta filho da puta e, quando espuma ou quando sangra, supõe-se canonizado como o mais generoso dos santos. A Arte aperta o seu pescoço. Você engasga, sufoca, quase morre... E, de repente, nota que está respirando outro ar -- rarefeito, inebriante. A Arte lhe entra pela boca e fala por você, enraíza-se pelo nariz e você sente perfumes inexistentes, infiltra-se pelas orelhas e, inesperadamente, você ouve músicas inaudíveis, cega os seus olhos... Enfim, você vê... Quê?! Você vê. A Arte domina o seu cérebro, encharcando-o de drogas desconhecidas​ (às vezes, alucinógenas), de imagens (às vezes, arquetípicas), de lembranças (às vezes, ancestrais ou futuras)... E você, depois do tempo de uma vida, humilde, rende-se absolutamente... E goza.
A Arte é Você. Você é a Arte. E, só então, por fim, pode dizer-se Artista.