Prosopagnosia escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
prosopagnosia




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pro.so.pag.no.si.a, feminino

1. (Patologia) enfermidade que provoca incapacidade de reconhecer rostos de outrem, e, em casos extremos, do próprio indivíduo.

 

 

 

Euphemia era uma voz suave que cantarolava sempre que podia, enquanto Fleamont era o cheiro de canela e uma risada alta demais. Desde sempre fora assim: James reconhecia os pais por cheiros e sons, pelo jeito que mexiam com as mãos ou como mantinham a postura enquanto conversavam.

Em Hogwarts, não foi diferente. Sirius era uniformes de tecido fino e caro, perfume forte e voz com um tom de brincadeira em cada palavra, enquanto Remus era o cheiro de lã, ombros caídos e voz suave que, vez por outra, deixava transparecer a mesma brincadeira que permeava as frases de Black. Peter era uma gravata com um nó errado e palavras faladas rápidas demais, como se o garoto estivesse sempre muito animado, querendo contar tudo para os amigos.

O restante dos alunos era mais complicado. Com o tempo, James aprendeu a reconhecer Marlene McKinnon pela voz estridente e Mary MacDonald pela cor de pele e os prendedores de cabelo coloridos. Severus Snape, por pior que fosse, era fácil: cabelos oleosos e postura arqueada, um morcegão (no início, Potter não o associava aos morcegos por querer ser maldoso, mas porque era a única forma que ele tinha de reconhece-lo... além do mais, pobres morcegos).A Professora McGonagall era o sotaque escocês pesado e vestes de tartã, enquanto o Professor Dumbledore era tons de roxo e bordô e uma barba enorme enfiada por debaixo do cinto. Flitwick era muito fácil, afinal, a altura ajudava, e Slughorn era apenas um tom de voz animado demais.

De resto... Um banquete de boas vindas com a seleção das casas era apenas uma fila de crianças que James nunca reconheceria e os intervalos entre as aulas eram um mar de vestes negras, com as eventuais cores das casas, e vozes sem rostos.

Sempre fora assim e James aprendera a conviver com isso. Para todos, ele dizia ser apenas uma dificuldade de guardar o rosto das pessoas, da mesma forma que Sirius era terrível em se lembrar do sobrenome dos outros ou como Remus às vezes esquecia de que casa um aluno era. Essa pequena particularidade nunca o incomodou até Lily Evans.

A garota era fácil de reconhecer. Cabelos ruivos longos, na maioria das vezes mantido fora do rosto por faixas e lenços coloridos. Ela era uma voz divertida e uma risada que começava discreta, mas podia se elevar até o ponto de parecer quase estranha. Havia as mãos também, as mãos que se apoiavam na cintura quando ela estava irritada ou que enrolavam uma mecha de cabelo vermelho nos dedos quando estava pensativa. James havia ouvido Alice Purkiss falar sobre como tinha inveja dos olhos verdes de Evans, então começou a imaginar olhos tão verdes quanto a grama dos terrenos do castelo durante os raros dias de sol do verão escocês.

Era fácil reconhecer Lily Evans, tão fácil quanto reconhecer Sirius ou seus pais.

Isso é, até alguém tirar o uniforme preto e o cabelo ruivo... Como alguém esperava que ele reconhecesse a menina quando ela decidiu aparecer no meio de Londres, sem o uniforme de Hogwarts e com os cabelos cortados tão curtos que mal alcançavam o seu queixo? Para James, aquela moça que o parou no meio da capital, cumprimentando-o e perguntando se ele estava indo para o Beco Diagonal, era uma bruxa ruiva qualquer.

Foi uma caminhada rápida até o Beco, com Potter falando sobre Quadribol e a menina ouvindo com atenção. Ela estava quieta demais, concentrada demais, observando demais. Ele devia saber que havia alguma coisa errada, que a desconhecida era, na verdade, Evans e ela estava mais confusa do que Peter quando o Professor Flitwick anunciava uma prova surpresa.

Quando as aulas voltaram naquele sétimo e último ano, James sentiu-se corar e odiou a si mesmo quando viu Lily Evans com o costumeiro uniforme preto e os cabelos ruivos curtos. A menina de Londres. E ela, claramente, se lembrava daquela caminhada, pois perguntou como estavam os seus pais e comentou sobre as histórias que ele havia contado.

Naquele ano, James Potter foi nomeado Monitor-Chefe junto a ela. Ele precisaria aprender a reconhecer vários alunos para conseguir se referir a eles e isso quase o fez pedir para Dumbledore escolher Remus no seu lugar. Mas então Lily começou a lhe ajudar: nas rondas em dupla, ela tomava a frente na hora de dizer o nome dos alunos e, nas horas mais monótonas, a garota lhe indicava manias e gestos que entregavam um ou outro aluno.

James Potter não conseguia se lembrar de como o rosto de Lily ficou quando ele a pediu em casamento, mas sabia com todos os detalhes a forma como os ombros dela se encolheram e as mãos voaram para a boca. E a risada que se seguiu, enquanto ela tentava dizer que aceitava. Ele também não se lembrava da expressão de Sirius e Remus quando estes lhe disseram que Dorcas havia sido morta, mas ele preferia assim.

O homem não sabia dizer como era o rosto de seu filho quando este nasceu (Black, no entanto, dizia que todo bebê tinha cara de joelho, então ele só precisava imaginar um joelho e pronto, lá estava Harry), mas sabia identificar cada gritinho, risada ou choro.

Naquela noite de Halloween, a dificuldade de James para rostos não o impediu de saber quem havia acabado de invadir a sua casa. Na verdade, ele ficou feliz por não conseguir reconhecer rosto algum, por não conseguir se lembrar de nenhum sorriso maldoso um minuto depois de vê-lo. A magia que tomava conta do ar, pesada e ruim, era o suficiente e a única coisa que James Potter sentiu falta, foi de lembrar do rosto de Lily e de Harry logo antes da maldição da morte o atingir.


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Notas finais do capítulo

Sabe quando você quer escrever alguma coisa, mas está travado? Eu só queria escrever qualquer coisa pra tentar sair disso... Não sei se deu certo.



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