Por favor me ouça... escrita por Hideki4500


Capítulo 2
Sobre meus Pais...


Notas iniciais do capítulo

Esse capitulo é o ultimo dessa semana e os próximos dois são só na semana que vem Sexta e Sabado... Está um frio desgraçado pq é 4:59 da manhã



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Eu me via novamente no cenário escolar do meu primeiro ano, as crianças e professores riam de mim, eu não me importava, apenas continuava a tocar minha vida, apenas fazendo minhas tarefas escolares e pensando no futuro, que tudo vai ser melhor. Frases como "Fique longe do meu filho, não quero que o influencie." Ou "Seu viadinho, você vai ver na hora da saída, acabo com você e com seus dois pais" eram ouvidas. Foi quando bateu o sinal do intervalo que eu acordei, eram sete e meia da manhã e eu desliguei o despertador, meu turno só vai começar as 15 da tarde. 

 Me levantei da cama pensando em quão ingênuo eu fui ao pensar que com o tempo tudo ia melhorar, foi em meus quatorze/catorze anos que descobri que se sua vida é um lixo tudo só vai piorar. A vida só é boa para quem tem dinheiro, e isso é algo que minha família não tem... Quer dizer, meu avô pai de Hikaru tem, mas eu não gosto dele, por que? Ele é homofóbico, não acho que devo me misturar com esse tipo de gente. 

 Fui para o banheiro e me olhei no espelho, meus olhos continuavam sempre os mesmos, tentei dar um sorriso, acontece que lembrei que o dia só começou e com certeza ele vai ser horrível, abri o chuveiro e lentamente me despi, dei uma outra olhada no espelho e o abri para pegar minha escova de dentes e o creme dental e os deixei em cima da saboneteira da parede. Entrei debaixo da agua que rapidamente cobriu toda a extensão do meu corpo, peguei o shampoo e esfreguei nos meus cabelos por uns cinco minutos antes de enxaguar, não passei condicionador, não preciso dele, meu cabelo é macio por natureza, nem por isso minha vida é melhor.  

Enchi minha mão de sabonete liquido e passei pelo meu corpo magro, Hikaru diz que sou seco como um esqueleto, eu digo que sou normal assim como Marlo. Tenho alergia ao sabonete em barra, meu corpo fica todo embolotado e essas bolotas explodem em pus e sangue, acredite, não é bonito de se ver. Escovei meus dentes enquanto pensava na vida, meu salário como caixa não me permite sempre ver a Layla, ganho apenas quatrocentos euros no mês e ela cobra 100 por hora, eu acho que deveria arrumar uma maneira mais barata de desabafar... Algumas pessoas fazem isso com blogs e vlogs, mas não funciona comigo. Desliguei o chuveiro, me sequei no box mesmo. Fiz a barba rapidamente, me cortei uma ou duas vezes no processo mas não sangrou, como eu disse, tenho tido problemas circulatórios. 

Desci até a sala de estar, Marlo estava ocupando todo sofá com suas pernas e usava seu notebook, me joguei na poltrona de Hikaru, ouvi um estalo da madeira interna quando fiz isso. Marlo olhou para mim e sorriu. 

—Já acordou? Está com fome? Acho que Hikaru comprou um bolo e tem chá. - Disse ele apontando para a cozinha. Me levantei e me apoiei no encosto do sofá de uma maneira que eu pudesse ver no que Marlo estava trabalhando. - É a capa de um livro, se o cliente gostar a editora vai faturar bastante e então vou poder comprar aquela jaqueta cara que você sempre quis.  

—Eu sou adulto, posso comprar a jaqueta... - Falei e coloquei a mão no ombro dele como uma demonstração de carinho.  

—Eu gosto de comprar coisas para você, sabe, você é meu filho e nunca consegui te dar muita coisa afinal nunca tive um design aprovado e o dojo do Hikaru está sempre a beira da falência. - Ele disse parecendo triste, mesmo assim colocou sua mão sobre a minha. 

—Não se preocupem, eu posso dar meu salário todo pra ajudar, sei que quatrocentos euros não é muito mas deve ajudar. - Ele fechou o rosto por um segundo e então sorriu de novo. 

—Não, eu quero que você use seu dinheiro para o que te faz feliz, afinal você o ganhou, nós daremos um jeito, você vai ver... Ah agora que me lembrei, tome o café da manhã e leve a marmita para Hikaru, ele esqueceu na geladeira. - Concordei com a cabeça, ele tirou a mão de cima da minha e voltou a trabalhar na capa do livro. 

Peguei um pedaço de bolo e enchi uma xicara com água, nunca gostei de chá, é estranho não é? Um londrino que odeia chá, comi rapidamente. Peguei a marmita e saí, os primeiros raios de sol do dia atingiram meu rosto por um segundo antes das nuvens o cobrirem, aqui é Londres é quase sempre nublado então qualquer vestígio do sol é sorte. Quando cheguei no dojo um dos alunos de Hikaru havia acabado de derrubar seu oponente, haviam apenas seis estudantes, quatro deles eram adolescentes, um outro tinha a mesma idade que eu e por fim um mais velho que devia ter uns 40 anos assim como meu pai sensei.  

—Ah, Stuart, alunos, de pé. - Dito isso todos os seis o obedeceram. - Este é meu filho Stuart.  

—Ele também luta sensei? - Perguntou aquele que tinha minha idade. - Pela cara de acabado que ele tem, tenho certeza de que posso acabar com ele. 

—É lógico que ele luta. - Falou Hikaru e em seguida deu uma risada orgulhosa. 

—Eu não luto. - Falei logo em seguida, apenas caminhei até o balcão em que eles almoçavam e deixei sua marmita ali.  

—Como assim não luta? Te ensinei tudo o que sei, é sua obrigação ensinar aos seus filhos e assim por diante e depois que eu morrer assumir esse dojo. - Disse ele, senti algo atingir minhas costas e atingir o chão com um som abafado, me virei para olhar o que era. Um quimono e uma faixa preta estavam aos meus pés, olhei dele para Hikaru. - Veste o quimono. 

—Eu não vou vestir. - Disse o pegando do chão calmamente e o dobrando e em seguida o colocando no balcão... Agora que notei que essa mania de Marlo de arrumar tudo passou pra mim... Estranho... 

—Veste por mim, por favor. - Suspirei, peguei o quimono eu fui para o banheiro, conheço esse dojo como a palma da minha mão, visitei muito esse lugar antes de completar 17 anos que foi quando consegui a faixa preta, mesmo assim eu não luto. 

Coloquei o quimono na pia e tranquei a porta, sentei encostado na parede e peguei meu celular, olhei meus contatos para ver se tinha para quem ligar, infelizmente não. Me levantei e coloquei o quimono. Quando saí do banheiro Hikaru acenou para mim e eu caminhei até o tatame onde me esperava aquele rapaz que tinha minha idade. 

—Mostra pra eles filho, mostra que eu te ensinei bem. - Sorri de forma forçada, mas o sorriso não engana se os olhos denunciam a verdade. Nos cumprimentamos e fui derrubado. - Que isso filho, você pode vencer, se esforce um pouco. 

Me levantei novamente, ele me cumprimentou de novo antes de me derrubar pela segunda vez. Me levantei e saí do tatame ignorando os pedidos de Hikaru, voltei ao banheiro e vesti minhas roupas normais, ele caminhou até mim. 

—O que foi? Quando era mais jovem você se esforçava mais. - Ele perguntou quando já estava próximo. 

—Não... Eu não era esforçado... Era egoísta, eu sempre imaginava meus oponentes como as pessoas que tiravam sarro de mim na escola... Afinal, você disse que eu tinha que controlar meus sentimentos... Mas isso era algo tão difícil... - Algumas lágrimas brotaram nos cantos dos meus olhos e ele me abraçou, retribui o abraço e seguei minhas lagrimas.  

—Pare de chorar Stuart, precisa ser forte psicologicamente assim como fisicamente, não te criei para ser um chorão. - Ele disse quando nos separamos do abraço e então ele bagunçou meu cabelo rindo, não sorri, me sinto mal pois eu deveria tê-lo feito. Ele correu até a mochila dele que estava no canto e pegou sua carteira e dela tirou duzentos euros. - Toma, vá se divertir, comprar alguma coisa, sei lá. 

—Eu não preciso, eu tenho um emprego... - Eu respondi tentando negar o dinheiro, ele pegou minha mão e colocou os duzentos euros ali dentro e a fechou. - Não faça isso por favor, eu já sou adulto. 

—Eu insisto. Por que não chama aquela garota do caixa 4 pra sair? Ou quem sabe o rapaz do caixa 9. - Ele deu uma risada e voltou para seus alunos.  

Guardei o dinheiro no bolso e saí do dojo. Eu não sabia para onde ir, eu nunca sei para onde ir, não tenho amigos ou relação amorosa. Fui até o mercado, ainda era o turno da manhã, fui até o cinema mas não vejo graça em filmes há um bom tempo. Olhei para o fim da rua onde o cinema ficava e ali havia um prédio tão sujo e mofado quando ao que Layla morava. Me virei e caminhei até um ponto de ônibus, sentei e peguei o celular de novo. Hikaru me deu 200 euros, sei que pode não parecer muito, mas... Estamos falando de Euros, acho que isso é a soma das mensalidades de todos os alunos dele... Eu devia ter devolvido... Quando o ônibus parou eu subi nele, coloquei o dinheiro no cobrador eletrônico e subi para o segundo andar.  

Não demorou dez minutos até que eu descesse cerca de cinquenta metros do prédio de Layla, guardei o celular no bolso quando vi que olhares estranhos vinham em minha direção. Alguém normal teria ficado tenso ao caminhar os cinquenta metros de distancia até o prédio de Layla por aquela região meio sem leis, eu estou pouco me fodendo pra ser assaltado ou morto, não devo mais nada pra ninguém nessa vida e mesmo que devesse eu não iria me importar. 

Usuários de drogas estavam caídos por todos os lados como se fossem vampiros enfraquecidos pela luz do dia, entrei direto no prédio que não tinha portaria. Aquela área provavelmente era a parte mais esquecida de Londres que por sinal é uma cidade comum, cheia de violência como qualquer lugar do mundo, acontece que quem é turista prefere não ver esse lado da cidade. Subi os lances de escada até chegar no quinto andar, parei para descansar um pouco quando terminei de subir o ultimo degrau. 

Olhei para os dois lados para processar o local e me lembrar de qual dessas portas era a correta. Bati e ouvi vozes lá dentro, duas femininas e uma masculina. Quando a porta se abriu eu vi o rosto de um homem negro nu, ele me olhou de cima a baixo e soltou uma pequena risada. 

—Que foi irmão? Quem você tá procurando? - Foi o que ele perguntou. 

—Eu queria ver a Layla... Ela está? - Perguntei, ele olhou para dentro e sua língua passou pelos lábios antes de ele voltar a me olhar sorrindo. 

—Ah sim, ela está... Espera uns 10 minutos que eu tenho coisas para acabar com ela e com a amiga dela também. - Ele disse e fechou a porta o trinco foi fechado também para que eu não a abrisse. 

Peguei meu celular novamente, nele uma mensagem da minha operadora e uma de Marlo pedindo para eu comprar ovos na volta pra casa. A porta se abriu de novo, dessa vez o homem negro estava vestido, ele sorriu pra mim e foi embora descendo as escadas, o observei até que a parede o cobrisse completamente. Layla estava parada na porta olhando para mim. 

—Eai, vai entrar ou prefere ficar do lado de fora? - Entrei, ela estava semi-nua assim como sua companheira de quarto. 

—Quer que eu cuide desse pra você?- Perguntou a outra mulher se aproximando de mim, Layla puxou meu braço para me afastar dela. 

—Não, esse aqui é um caso em especial... Elizabeth esse é S/N e S/N essa é Elizabeth. 

—Prazer. - Estendi minha mão, ela riu e a apertou.  

—Ok então, vou estar no meu quarto, se precisar de ajuda me chama. - Ela disse e foi para o quarto que estava com a porta aberta, olhei em volta. 

—Então... Aquele que saiu daqui... Era um cliente? - Perguntei recolhendo algumas das roupas do chão e as dobrando e depois colocando no sofá todo surrado... Essas manias do Marlo as vezes me aparecem do nada. 

—Eu preciso ganhar a vida de alguma maneira não acha? - Ela disse se jogando no sofá e consequentemente por cima das roupas. - O que está fazendo aliás? Achei que trabalhasse no mercado. 

—Só das 15 até as 22... E estava arrumando para ver se isso aqui se tornava morável. - Disse a olhando, peguei uma nota de cem no bolso. E dei para ela que encarou a nota novamente, mas diferente de como fez da outra vez. Ela guardou a nota entre os seios e fomos para o seu quarto, ela trocou os lençois da cama de uma forma mal feita e se jogou ali, bateu ao seu lado como se dissesse para eu deitar ali. 

—Então... Começa. - Ela disse, eu respirei fundo antes de começar a contar. 

—Bem... Depois que eu parei de chorar nós saímos para jantar fora, eles sabiam que isso sempre me animava e animava Marlo também. 

"Resolvemos ir a um restaurante chinês que tinha acabado de abrir e queríamos experimentar os pratos que haviam lá, logo que chegamos estava tudo normal, provavelmente pensaram que Marlo e Hikaru eram colegas de trabalho ou algo do tipo e eu era filho de algum dos dois já que não tenho traços orientais como Hikaru, afinal eu sou adotado. Tudo se seguiu normal durante algumas horas, nós conversamos, rimos, esse tipo de coisa que as famílias da televisão fazem. 

Eu disse que se seguiu normal durante algumas horas, não foi? É... Teve uma hora que Hikaru colocou sua mão por cima da de Marlo, isso foi o suficiente para que alguns olhares estranhos fossem direcionados para nossa mesa. Eu era criança não entendi aquilo, achava que eles estavam impressionados pelo amor que meus pais tinham, mas era apenas pura homofobia.  

Tudo desandou de verdade quando Marlo sussurrou um simples "Eu te amo" para Hikaru, em um mundo perfeito nada teria acontecido... Não vivemos em um mundo perfeito. Uma garçonete que passou um pouco perto demais ouviu essas palavras e foi falar com o gerente. Este por sua vez nos fez pagar a conta e nos expulsou, dava para ouvir vaias de todos os lugares e palavras como "Pecadores, tomara que queimem no inferno", "Vocês acham que isso é certo para essa criança?", "Poderiam ter batido, baitola tem que apanhar". Foi nesse momento em que caiu a ficha. Ninguém nesse mundo é feliz, todos precisam do sofrimento dos outros para ridicularizar e se sentir miseravelmente melhor, por isso os Bullies existiam e iriam existir para sempre.  

Voltamos para casa em silencio, nem sequer o rádio do carro foi ligado, ninguem estava em clima para festejar nada... Chegamos em casa, Marlo me colocou para dormir, ouvi ele falar com Hikaru depois que saiu "Não podemos deixar que ele veja esse tipo de coisa, ver o sofrimento que gente preconceituosa causa, não podemos deixar ele crescer infeliz" Hikaru concordou. Não me lembro de nada depois disso pois eu acabei adormecendo. 

As sete da manhã seguinte eu já estava na escola para o segundo dia, fui recepcionado com tapas fortes na cabeça dados pelos garotos mais velhos e mais fortes, aquele a quem eu feri não havia ido. Na sala todos faziam o máximo possível para ficar longe de mim, toda vez que eu falava com alguém eu era ignorado. Esse dia foi bem normal até a hora da saída, eu ia embora a pé e por isso um monte de garotos se juntou no portão para me esperar, insultos costumeiros eram atirados contra mim que ignorei e tentei ir embora mesmo assim. Um soco vindo por trás me atordoou e eu caí, poderia ter acabado com todos eles, eu tinha treinamento, eles não, mas eu não fiz isso, não fiz por que Hikaru pediu para não fazer. Eu apanhei por pelo menos uma hora, foi quando um policial passou por ali e espantou meus agressores. Ele me ajudou a levantar e me mandou ir para casa. 

Quando cheguei Marlo correu até mim e me abraçou, perguntou o que tinha acontecido, eu não disse nada, tentei me soltar mas ele apertou o abraço para que eu não pudesse ir embora. 

—Me diz o que aconteceu. - Ele insistiu. - Eu falei pro Hikaru te explicar que com brigas não se resolve nada... Ele não fez isso? 

—Fez... - Respondi com a timidez de todo garoto de seis anos ao ser repreendido pelo pai. 

—E por que você brigou?  - Disse ele preocupado. 

—Eu não briguei... Eu só queria vir embora... Mas eles fecharam meu caminho... - Naquele momento eu senti que ia começar a chorar, Hikaru veio por trás de Marlo e colocou suas mãos no ombro dele. 

—Não chore Stuart. Um homem forte se fortalece na dor. Não quero que se torne um rapaz fraco e incapaz de superar problemas. - Irônico... Foi o que me tornei, acho que se eu tivesse entendido na época que o que Hikaru falava era para o meu bem, talvez hoje eu não tivesse esses olhos sem vida. 

—Mas... Eu não quero ser forte... Eu quero que os outros não vejam vocês como aberra... 

—NÃO CHORE. - Ele gritou me impedindo de terminar a frase, ele sorriu mas eu vi a dor nos seus olhos. - Eu tenho te ensinado em casa... Mas agora você vai para o Dojo comigo todos os dias antes da aula, transforme sua dor em força... Se não fizer por você, faça por mim, por Marlo, você nos ama não é? - Eu havia concordado com a cabeça e então o sorriso dele se alargou e toda sua dor pareceu desaparecer...  

O bulliyng nunca parou, eu treinei todos os dias até eu adquirir a faixa preta aos 17 anos e mesmo assim eu nunca levantei minha mão para ninguém.  

Naquele mesmo dia meu avô foi me visitar, nessa época eu ainda gostava dele. Junto com ele veio um Playstation 2, foi meu primeiro console. Ele brincou um pouco comigo do lado de fora e depois me deixou sozinho no quintal pois queria falar a sós com Hikaru. 

Toda vez que meu avô me via nessa época ele me dizia "Não me decepcione Stuart, você é minha ultima esperança" e sorria, eu não entendia, hoje eu sei o que isso significava. Significava que ele sentia vergonha e decepção de Hikaru por ser gay e ter escolhido Marlo no lugar de uma mulher. Depois que meu avô foi embora Marlo me ajudou a ligar o video-game, e passamos o resto da tarde jogando, aquele foi o único dia naquela semana em que eu não desejei morrer durante o sono." 

A campainha tocou, deu para ouvir Elizabeth atender, olhei para o relógio e já eram 14 horas e 12 minutos, me levantei e ela se sentou na cama, peguei meu celular e coloquei na agenda. 

—Me passa o seu numero. - Falei para ela. 

—Para que? Já se apaixonou por mim? - Ela perguntou entre risos, eu não a acompanhei, permaneci sério, ela deve ter percebido pois parou subitamente. - Desculpe. 

—É para evitar que o momento constrangedor de hoje se repita. - Disse me referindo a hora em que eu cheguei naquele apartamento. 

Ela concordou, nós trocamos telefone e ela me acompanhou até a porta. Nos encaramos por um tempo. Me virei para ir embora, mas antes que eu pudesse chegar na escada ela me chamou e eu me virei. Ela tirou a nota de cem que estava dentre os seus seios, caminhou até mim e me devolveu. Olhei da nota para ela. 

—Não está certo... Você precisa... eu consumi seu tempo. - Apesar de ter parecido mais legal na minha cabeça essa frase saiu sem vida na vida real. 

—Não, primeiro que você nem ficou a uma hora inteira, e dois, você nem me tocou ... de novo, mas a outra nota eu já gastei. Sei lá, você não tenta encostar em mim, não tenta me beijar, me abraçar e nem sequer pegar na minha mão... Por que você é assim? - Ela questionou. 

—Assim como? - Perguntei, não havia entendido. 

—Tão... Educado, você me deu vodka, arrumou minhas roupas, você até me corrige quando falo que sou puta.  

—Você não é. - Ela pareceu ficar um pouco irritada com isso. 

—É que sou, enfia sua educação no cu. - Ela gritou para mim, isso chamou a atenção de um velho que estava fumando alguma coisa mais a frente e mesmo assim o cheiro de maconha chegava até nós. - S/N eu transo por dinheiro, princesa eu não sou. 

—Eu não quero ficar aqui te ouvindo gritar... 

—Ótimo... então vai embora... você precisa trabalhar de qualquer forma. - Ela disse, voltou para dentro e bateu a porta com força. 

Desci as escadas e peguei o ônibus de novo, tenho que pedir desculpas ao Marlo, mas eu vou direto para o supermercado e não vou poder levar os ovos. Peguei o celular e lhe enviei uma mensagem e outra para Hikaru para pedir que fizesse aquilo por mim. Olhei para o nome de Layla e liguei, ela atendeu irritada com um "NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ" falei que a noite eu ia até o ponto dela, não gosto de quando pessoas ficam irritadas comigo, isso faz o sentimento de "não devo nada e por isso posso partir" se desfazer, pois vou estar devendo algo a ela. E ainda tenho coisas para contar...


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Notas finais do capítulo

E foi isso pessoal. Que tal?



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