O Estranho de Amarelo escrita por Maryusuke


Capítulo 6
Pelo resto da eternidade




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— Eu as vezes me confundo se você está falando sério ou é mais uma piada. – disse Jeferson.

— Eu nunca falo piadas. As vezes falo coisas serias de modo mais “descontraída”. – respondeu Ny.

Jeferson fitava o deus de terno amarelo. Ny colocou o ultimo pedaço da barra de chocolate na boca e jogou a embalagem vazia no cesto de lixo à sua esquerda.

— Vamos andar um pouco? Gosto de caminha para fazer digestão. – então se levantou e foi em direção a calçada frente a praça. Jeferson ainda sentado apenas o observou, meio confuso. Depois de um segundo ele também se levantou e apressou o passo para alcançar Ny. Se não fosse a pressa, talvez Jeferson teria percebido que no cesto de lixo em que Ny jogara a embalagem de chocolate, jazia o cachorro morto que fora enforcada na arvore do parque pouco tempo atrás.

A calçada estava molhada pelo orvalho noturno. Os passos dos pés de Ny faziam um som oco enquanto ele caminhava lentamente. Diferente dos de Jeferson, apresados e silenciosos.

— Dá pra explicar isso de uma vez?! – pediu ele.

Ny não olhava para Jeferson. Caminha observando o horizonte da rua deserta e escura.

— É simples, meu amigo. Quando ofereço meus serviços sempre coloco como pagamento a alma do cliente, como lhe expliquei. Logico que só após sua morte é que eu pego ela. E geralmente eles pedem coisas egoístas, como dinheiro, sexo ou matar alguém que ela odeia. Uma alma assim é a que eu mais gosto pro meu coral particular. Mas nos casos de matar alguém, às vezes, a vítima do cliente tem uma índole bem pior. Então eu faço como disse que faria com você. Pegaria a alma do alvo do cliente.

— Sim, isso eu já entendi. Mas por que você vai cobrar minha alma pra curar minha irmã?

— Porque para fazer algo bom eu cobro algo bom. No caso, sua alma. – Ny deu uma piscada de olho para Jeferson. – Mas tem uma outra condição que vai deixar você mais triste ainda.

— Nem sei se eu quero saber mais alguma coisa... – Jeferson diminuiu a velocidade do passo, tomado por um desanimo repentino.

— Ah, mas vai ter que saber. Gosto de explicar todas as implicações para os meus clientes. Para não haver reclamação, sabe como é. E é o seguinte. Para realizar algo não muito correto para alguém de alma ruim eu apenas venho buscar sua alma no momento da morte do pedinte. E pode demorar os anos que for. Pra mim são apenas segundos mesmo. Mas no caso de uma alma caridosa que se sacrifica por alguém, eu exige ter imediatamente sua alma.

— O q-que quer dizer com isso? – Jeferson parou de andar. Ny também parou a alguns passos à frente dele. Então se virou para Jeferson e disse:

— Você terá que se matar para eu curar sua irmã.

Os primeiros raios de sol entravam pelas janelas da casa de Jeferson. Mesmo assim o frio fúnebre tomava o ambiente. A sala mal iluminada e silenciosa parecia que estava abandonada a décadas. Os moveis antigos dos pais juntos com a tapeçaria nova. As portas de carvalho colocadas pelo avô talhadas a mão, com maçanetas de alumínio. O passado e o presente juntos ali. E sem um futuro para esperar.

“Você terá que se matar para eu curar sua irmã”.

Jeferson estava ainda na porta da frente, cabisbaixo, relembrando sem parar a conversar da madrugada passada. O deus Ny havia lhe dado a oportunidade de se livrar da sua terrível irmã. Em troca de uma alma, que poderia ser a dela mesma. Entretanto, para curá-la ele exigia a alma de Jeferson, e de imediato. O que significa que ele teria de tirar sua própria vida para salva-la.

Ele enfia a mão no bolso da calça e sente algo pequeno e redondo ali. Era a pílula que Ny o dera. Aquela que mataria sua irmã como se fosse algo natural e espontâneo. Ele odiava o jeito irresponsável da irmã. E mais ainda o fato de ela atrapalhar sua vida por causa de um acidente que ela mesmo provocou. Jeferson se obrigou a cuidar dela, mas em troca perdeu sua liberdade. Sem poder trabalhar, sem poder viajar ou mesmo sair mais do que algumas horas. E ele nunca fez nada para merecer isso. Nem poderia internar a irmã, seu orgulho o impedia de pagar as despesas e ela obviamente não iria cooperar. Era um beco sem saída. Ele olha para a direção da porta do quarto da irmã. Estava silencioso demais. Ele ficou mais tempo do que costumava ficar fora de casa. Ela devia ter ficado louco e gritado de raiva até dormir. Até morrer, talvez?

Ele caminha lentamente até a porta. Para a meio metro. Ainda não ouve nada. Sua mão vagarosamente vai em direção a maçaneta. O toque no metal gelado faz a pele de seu braço arrepiar um pouco, e ele a gira. Empurra a porta com a mesma vagareza, e imediatamente um fedor podre de fezes e urina penetra em seu nariz. Ele entra no quarto prendendo a respiração. A única luz é a do sol que ainda estava nascendo e entra fracamente pela janela de vidro. Mas foi o suficiente para ver o ambiente. Tudo fora do lugar, urina e excremento pelo chão. Comprimidos espalhados para todo lado. A cama desarrumada. Mas ninguém estava ali. Jeferson apertou os olhos para enxergar melhor. Sim, a irmã não estava na cama. O que será que aconteceu? Ele resolve acender a luz. Apalpa a parede atrás dela e encontra o interruptor. Com um clique tudo se ilumina por completo. E, de repente, algo o agarra pelo pescoço derrubando-o no chão

— SEU DESGRAÇADO!!! VOCÊ ME ABANDONOU!!!!

Claudia estava oculta pela pouca iluminação de seu quarto. Jeferson nem notou que a infeliz estava no canto perto da porta. E, ao vê-lo, ela usou de todas as suas poucas forças para atacar o irmão que a deixara sozinha para farrear na noite. Seu corpo era magro e seus músculos fracos. Ela mal podia ficar em pé. Mas o ódio lhe deu força para faze-la dar um impulso e agarra com seus dedos ossudos o pescoço de Jeferson.

— Sai daqui! Me larga! – ele agarrou os pulsos dela e com um empurrão a mandou para o chão. – Você pirou de vez, foi?! Sua desgraçada!

Claudia estava com o corpo encolhido, olhava para Jeferson por entre os fios de cabelos desgrenhados. Seus olhos estavam velhos e fundos nas orbitas, ela nem sequer tinha bochechas.

— Você me deixou sozinha aqui! SOZINHA!!!

— E dai? Foi só por algumas horas, pra variar! – Jeferson massageava o próprio pescoço – Já não basta tudo o que eu me sacrifiquei para cuidar de você, sua ingrata! Eu parei de viver por sua causa!

— Que grande vida de merda você tinha. Não conseguiu nem se formar na faculdade, mal durava em um emprego, e nenhuma mulher queria um maricas como você. Sorte sua o papai ter deixado aquela grana pra você. Se não fosse isso você serie menos que nada agora!

A raiva infestou a mente de Jeferson. Ele apertava os punhos. Sua vontade agora era de chutar o rosto dela, ali no chão. Mas ai lembrou do comprimido. Sim, se ele partisse pra agressão física tudo poderia complicar. Mas o comprimido iria dar cabo de tudo. Era só ter calma. Pegar um copo de agua, jogar a droga e colocar na mesa de cabeceira da cama dela. Na madrugada a sede irá acabar com tudo.

— Você está certa. Eu não devia tê-la abandonado. Me desculpe. – ele dá um passo em direção de Claudia e estica seu braço com a mão aberta. Ela olha com uma nítida expressão de pasmo na face. A desconfiança era visível até para Jeferson. Um pequeno temor de pôr tudo por agua a baixo o acometeu. De repente ela agarra sua mão. O toque gelado e sujo dela arrepia novamente os pelos de seu braço. Ele a levanta e a leva calmamente para sua cama. Ao deita-la ele olha para o copo de água que estava na mesinha do lado da cama. Estava quase vazio.

— Vou pegar um pouco de água para você. – ele pega o copo e se vira para a saída. Quando dá dois passos sua irmã sussurra

— Me desculpe...

Jeferson para no mesmo instante e se vira lentamente para a irmã.

— C- como é que é?

Ela estava sentada no meio da cama, encostada na cabeceira e cabisbaixa. Seus longos cabelos amassados cobria sua face maltratada. Mas Jeferson pôde ver que lagrimas escorriam por ele.

— Eu sou uma péssima irmã, sempre fui. Sou egoísta e só queria fazer o que me desse vontade e passava por cima de qualquer um que me atrapalhasse me curtir a vida. Até mesmo nossos pais e você. Agora estou sofrendo a Lei do Retorno. Nossos pais morreram e meus “amigos” sumiram. Só você restou em minha vida. Sacrificou tudo pra cuidar de mim. E eu nunca disse um obrigado. Nessa noite em que fiquei sozinha eu gritava e te amaldiçoava por ter me deixado pra sair e se divertir. Coisa que eu sei que você não fazia a tempos. Por mim causa. Então, depois de tanto gritar e chorar eu cansei. E nesse cansaço, pela primeira vez na vida, a razão tomou conta dos meus pensamentos. E agora eu percebo a verdade. E a verdade é que eu não presto. Eu deveria ter morrido naquele acidente. Eu deveria morrer agora. Me desculpe.

O silencio durou um tempo indeterminado. Pelo menos para Jeferson. Pois ele não falou nada, e nem sabia o que falar ou como reagir depois de ter ouvido o que acabara de ouvir da sua própria irmã. Ela, que só pensava em si mesmo antes dos outros, acaba de admitir todas as suas falhas e defeitos. Jeferson tentou, mas realmente estava sem palavras. De repente a irmã volta a falar.

— Você pode sair quando quiser e pelo tempo que quiser, irmão. Não vou mais lhe negar esse direito. Mas só lhe peço uma coisa.

— O- o que? – ele finalmente disse.

— Não me mande embora daqui. Não quero passar o resto de minha vida em um hospital ou coisa parecida. Quero morrer aqui, na casa de nossos pais, perto de você.

Um nó na garganta fez Jeferson prender a respiração. Não conseguia processar aquilo tudo. Claudia não falou mais nada. Apena se deitou na cama e se cobriu com o lençol. Jeferson ainda estava parado no meio do quarto. Quando sua consciência despertou novamente daquele transe ele andou em direção a porta.

Enquanto caminha vagarosamente para o seu quarto, incontáveis pensamentos passavam em sua cabeça. Todos eles eram sobre sua irmã.

Entrando em seu quarto ele ascende a luz sem olhar para o interruptor. Diferente da irmã, seu quarto eram perfeitamente limpo e organizado. Jeferson se senta em sua cama. Na sua frente a uma penteadeira velha, que pertencia aos seus falecidos pais. Ele enfia o rosto nas mãos tremulas. Uma sensação terrível o esmaga o peito. Vergonha, arrependimento, pesar. Todos a ver com sua irmã. Sua mente volta no tempo e o lembra de quando ela era uma jovem e esperta garotinha. Bem antes das coisas e das pessoas desse mundo a transformarem. Uma garotinha feliz de brincar com o seu irmãozão. O irmão que deixou que o mundo a corrompesse para cuidar de suas ambições egoístas. E ele se amaldiçoa por ter se lembrado dessas coisas.

Subitamente ele olha para frente e vê seu reflexo no espelho da penteadeira. Sua faça parecia estar mais arrasada e decadente que a da irmã doente. Jeferson se levante e vai até seu reflexo. Percebe as coisas jogadas em cima da penteadeira, seus perfumes, pente, caixa de lenços úmidos e o bloco de notas que ele usava para anotar coisas que poderia esquecer. Ele tira a pílula de Ny do bolso e a contempla. Agora ele já sabe exatamente o que fazer.

.......

Algumas horas se passaram desde o amanhecer daquela noite estranha. A grande casa de Jeferson e Claudia estava totalmente iluminada pelo Sol. Não havia nuvem alguma no céu. Entretanto as janelas ainda estavam fechadas e a escuridão tomava conta do interior. A escuridão e o silencio. De repente o silencio foi rompido pelo metálico som de uma porta se abrindo. A porta do quarto de Jeferson, que se abria vagarosamente por alguém do lado de fora. Um rosto coberto pelas sombras espia para dentro, e contempla uma cena de horror. Jeferson estava caído no chão, sua pela estava pálida e seus lábios roxos. A figura por trás da porta finalmente adentra ao local. Era Claudia, irmã de Jeferson. Seu corpo não estava mais magro e abatido. Seus cabelos estavam lisos e perfeitos, seu rosto estava belo novamente, com seus lábios carnudos e olhos claros cheios de vida. Ela se aproxima a passos calmos. Chegando ao corpo caído ela se abaixa. E agora percebe que Jeferson estava de olhos abertos, com lagrimas escorridas. Claudia aproxima o ouvido em sua boca, ele não respira mais.

— Meu Deus. – ela leva sua mão à boca, aterrorizada.

Claudia olha para a mão direito do falecido irmão e percebe outra coisa. Um pedaço de papel dobrado e uma caneta caída ao lado. Lentamente ela retira o papel, sem querer ele toca a mão de Jeferson e sente sua pele gelada. Ela desdobra a folha, e lê o que está escrito.

Minutos indefinidos se passaram, Claudia abaixa a mão que segura o papel. Seu olhar está vidrado e lacrimejante. Ela observava novamente o corpo caído à sua frente, e nada fala. De repente uma voz masculina fala na entrada do quarto:

— Nossa. O que aconteceu aqui? Não me diga que ele fez? – perguntou.

— Sim... ele fez. –respondeu, Claudia.

— E o que é esse papel aí? – perguntou o homem.

— Um pedido final de desculpas, para mim. Ele está se desculpando por não ter dado atenção a mim quando eu era mais jovem. Disse que foi culpa dele eu ter ido para o “mal caminho”. E que sabia que aquela menininha linda e doce ainda estava dentro de mim. Mas que agora poderia compensar isso. Parece que ele fez algo e eu acabei acordando totalmente curada.

— Eu estou vendo... – disse o homem, ainda sem se revelar na luz do quarto.- E como se sente por dentro...?

Claudia abaixa a cabeça e aperta a carta de seu irmão com força nas duas mãos.

— Como...eu me... sinto? – sussurrou. Fez-se uma pausa silenciosa. – Você não tem mesmo ideia de como eu me sinto...?

De repente ela se levanta e ergue os braços, gritando numa explosão de alegria:

— EU ME SINTO OTIMA! HAHAHA!

Ela começa a dar pulinhos em volto do corpo de Jeferson enquanto sorri com uma alegria sem fim

— Eu consegui! EU CONSEGUI! Me curei de todos as minhas doenças, me livrei do meu irmão imbecil! E de quebra ainda ganhei a parte da herança que era dele! Eu consegui! Consegui!!

O homem anônimo solta uma risadinha pelo canto da boca. Claudia percebe.

— Mas é claro que foi tudo graças a você. Vem aqui dançar comigo.- Com um pulo ela vai em direção à porta e agarra o braço do sujeito. Ela o puxa com força para dentro do quarto, e finalmente sua figura se revela na luz. Era Ny, o deus de outra dimensão.

— Obrigado, mas eu não danço. – disse ele com um sorriso suave de alguém que ficou feliz de ter feito um bom serviço.

— Ah, é? Então você apenas se satisfaz com suas almas penadas cantarolando em volta de você? – perguntou Claudia, ainda cheia de alegria.

— Sim. Pra mim isso já me basta. Não sou um deus muito exigente, sabe?

Claudia se aproxima mais perto de Ny. Encostando seu corpo com o dele ela leva a mão de Ny até sua coxa macia, e sussurra no ouvido do deus:

— Tem certeza de que não há nada que eu possa fazer para agradecer?

Ny solta mais uma risadinha abafada e afasta calmamente Claudia com as duas mãos.

— Acredite, você não iria gostar nada de fazer isso comigo. Mas creio que há um outro sujeito que merecia esse agrado. Afinal, ele foi quem praticamente teve a ideia de tudo que aconteceu esta noite.

Claudia se afasta de Ny, mas a rejeição não diminuiu nem um pouco sua alegria.

— Está bem, pode ser que você esteja certo. E onde está ele?

— Está na sala, vamos lá.

Os dois saíram do quarto de Jeferson. O resto da casa está plenamente iluminada pela luz diurna. Estava emitindo vida e frescor. E ali, no meio da sala em um grande sofá, um homem se sentava bem à vontade enquanto bebia uma garrafa de cerveja.

— Ai está você. – disse Claudia se aproximando do rapaz. – Já está comemorando sem a gente?

— Ainda têm muitas dessas na geladeira. – respondeu Ricardo, o melhor amigo de Jeferson.

— Você merece todas elas. Se não fosse você eu nunca teria conhecido Ny e o seus serviços. – Claudia falou entre risos.

— Pois é. Foi meio estranho. Quero dizer. Quantas vezes alguém conhece um deus no bar de uma boate? – disse Ricardo.

— Eu vou aonde eu acho que precisam de meus serviços. – respondeu, Ny. – E os lugares onde os pecados são mais evidentes é aonde eu encontro os meus melhores clientes. E você era um em potencial. Já que desde sempre queria se livrar do seu amigo. A inveja é algo que aprecio muito.

— Claro. Crescer sendo um cara pobretão e ferrado como eu e tendo um amigo podre de rico que só reclamava da vida. – disse Ricardo. – Eu queria sim me livrar daquele chorão. Mas não à preço de virar sua alma penada cantora.

— Ainda bem que você me falou disso tudo. – interrompeu Claudia, sentando no sofá com um pulo e abraçando Ricardo. – Pude ter tempo pra fazer esse nosso pequeno plano, haha.

Ela começou a beija-lo. Ny ainda estava em pé, observando o casal. Ele observava seus pensamentos, sem que eles dessem conta. A alegria e satisfação ainda dominavam suas mentes. Mas outros pensamentos flutuavam sem parar: Viagens para as melhores cidades que o dinheiro poderia gastar. Casas luxuosas, carros, barcos, e toda a sorte de coisas que o mundo poderia lhes oferecem agora. O deus de terno amarelo deu um leve sorriso.

— Nada mudou. – disse baixinho para si mesmo.

Claudia largou Ricardo e se levantou rapidamente. – Estou morrendo de fome. Quero comer tudo aquilo que aqueles médicos de merda me proibiam. Vamos a uma lanchonete. Depois quero comprar umas roupas novas.

— E o defunto? Vai deixar ai? – perguntou Ricardo.

— Ah, deixa ai por enquanto. Depois eu ligo pra emergência e finjo uma voz desesperada gritando “socorro, meu irmão parou de respirar!” – Claudia deu outra risada. Ela agarra a mão de Ricardo e o puxa do sofá, indo em direção a porta de saída. Mas, ao segurar a maçaneta, ela para e olha para Ny, que ainda estava parado no mesmo local. – Você não vem?

— Eu não comemoro a conquista dos meus clientes. – disse Ny, com um olhar simpático. – Vou ficar aqui e pegar o que é meu. – Ele olha para trás em direção ao quarto de Jeferson. Claudia e Ricardo ficaram sérios por alguns segundos. Depois ela disse: - Você é quem sabe. Fica à vontade. – Saíram de uma vez e bateram à porta. E tudo se silenciou novamente.

Ny caminhou calmamente até o quarto de Jeferson. Parou perto de seu corpo no chão. Os olhos do cadáver ainda estavam escorrendo lágrimas. Parecia que eles estavam olhando Ny ali em cima e perguntando “ Por que?”.  Ny estava com uma expressão séria. A alma de Jeferson já havia sido despachada para a sua dimensão antes mesmo da irmã achar seu corpo. Mesmo assim, ele entendeu o que aquele olhar queria dizer. Então ele se agachou e ficou mais perto do rosto de Jeferson. Encarando aqueles olhos, ele disse:

— Não foi pessoal, eu juro.

Subitamente Ny desaparece. Apenas o cadáver de Jeferson resta ali, naquele quarto escuro e cheio de tristezas. Ele seria encontrado, novamente, horas depois. Como último (e único) ato de caridade, Claudia enterra o corpo do irmão em um caixão da mais fina madeira. Seu corpo agora jaz em um cemitério na periferia da cidade, e sua alma está em um lugar que nenhuma mente humana poderia descrever ou imaginar. Ela canta e continua a cantar uma melodia de dor, raiva e sofrimento, pelo resto da eternidade.


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Notas finais do capítulo

Obrigado pra quem leu. E até a próxima.



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