Malina

O jogo estava prestes a começar. O Kazemaru foi o primeiro a ir para o campo sendo ele a colocar a bola no centro para dar início ao jogo. Olhei para as bancadas e consegui encontrar o seu antigo colega do clube de atletismo. Com certeza que isso ainda o preocupava. Abanei a cabeça, tentando afastar os meus maus pensamentos, antes de caminhar até ele, sorrindo.

—Kazemaru?- levantou-se e encarou-me, surpreso. Um sorriso apareceu no seu rosto antes de me voltar as costas.

—Com uma simples bola, posso transmitir o que sinto a todos vocês.- Assenti. Como compreendia aquele sentimento- E eu também compreendo os sentimentos de todos vocês. As tristezas... As alegrias...- Olhou para todos os nossos companheiros e por último para mim. Assenti, fazendo ele o mesmo, sorrindo. Entendia-o perfeitamente- Por isso é que gosto tanto de futebol.
Voltamos todo às nossas posições. Estava satisfeita com a resposta dele. Sentia-me aliviada. Podia ser um sentimento egoista, era verdade, mas queria muito que o Kazemaru continuasse connosco e queria acreditar que aquela tinha sido a resposta que eu mesma queria.

O árbitro apitou para o início da segunda parte do jogo. A Igajima começou logo a atacar, sendo eles a ter a bola. Assim como se tinham comprometido os nossos defesas, todos estavam a dar o seu máximo para defender. Corriam, punham-se na frente, e paravam a bola.

—Não o permitirei! Não permitirei que marquem mais nenhum golo!

—Kazemaru...- aquele sim era o espírito do Kazemaru Ichirota!

O Kazemaru passou a bola para os nossos centro campistas que tentaram trazê-la até nós a todo o custo, mas infelizmente os nossos adversário voltaram a ficar com ela. Ainda tentei recupera-la, tentei ajudar, mas nada. Foi em vão.

—Tática Futebolista de Igajima!- outra vez?- Full Moon Formation!

De repente, alguns dos jogadores da Igajima puseram-se atrás de um dos jogadores antes de começarem a ir para os lados, fazendo uma formação triangular, indo um dos de trás com a bola. O pior veio quando o ar à volta deles começou a ficar espesso e escuro, como se os protege-se como um escudo. Os nossos centro campistas foram atirados para o ar, bem como os nossos defesas.

—Não! Rapazes!

Na defesa já só sobrava o Kazemaru e o Kabeyama, enfrentando o Kirigakure. Se eles falhassem chegariam ao Endou. Comecei a correr. Vi o Kazemaru ser novamente apanhado pela técnica Zanzou, passando por uma ilusão.

—Kabeyama! Para-o!- gritei.

Ele era o único que sobrava. Vi-o assustado! Só pensei que aquele não era o momento para isso! Porém, uma luz amarelada surgiu dele e por trás do nosso defesa, foi como se aparecesse um muro de pedra enorme o qual bloqueou o remate do atacante rival. Ele tinha conseguido! E tinha feito uma técnica!

—Muito bem, Kabeyama!

Só que a bola ainda continuava em jogo e o Kirigakure aproveitou-se disso. Tornei a correr o mais rápido possível para a bola, tentando recupera-la, mas não consegui e quando percebi, o atacante já estava a fazer a sua técnica Tsuchidaruma. O grito na minha garganta foi logo abafado ao ver o Kazemaru pôr-se na frente. Porém, não chegou a tempo e bola passou por ele. E claro, o Mamoru fez a God Hand... Mas aquele tonto fez com a direita. Mas assim que a técnica se quebrou, saltei e consegui apanhar a bola antes que entrasse na baliza.

Não dei tento a que reagissem. O Kirigakure parecia ter ficado perplexo, por isso avancei sozinha, rapidamente pedindo ao Kazemaru que subisse comigo.

—Malina!- olhei para trás e vi que o jogador da Igajima estava prestes a fazer a Kumo no Ito. Não pensei duas vezes, passei logo para o Kazemaru, que começou a fugir da teia de aranha- Achas que me podes apanhar com isso?

Eu acabei presa, mas estava bastante aliviada por ele ter escapado. Só o nosso Kazemaru conseguia algo assim! E mal o efeito da técnica terminou, corri para junto dele, pedindo-lhe a bola. Era hora da nossa arma secreta!

—Vamos! Goenji! Kazemaru!

Atirei a bola para o ar para um ponto perfeito onde eles se pudessem encontrar, e tal como nos treinos, estavam perfeitamente sincronizados! A bola foi ao ar e eles saltaram também ao mesmo tempo, estando sincronizados até na respiração, executando um poderoso Honoo no Kazamidori que entrou e fez o nosso primeiro golo!

—Empatamos!- agarrei-me aos ombros de ambos, felicitando-os.

O jogo retornou sendo que nós tínhamos a posse de bola novamente. Conseguimos recupera-la e o Kazemaru tornou a ficar com ele, avançando rapidamente pelo campo. Claro que o Kirigakure começou logo a correr atrás dele, tentando apanha-lo, e quando o fez começou a empurra-lo. Estavam novamente a competir. E quando estavam quase a chegar ao final no campo, o Kazemaru levantou a bola, fazendo passar por cima da cabeça do adversário, a qual eu apanhei. Talvez não fosse apenas com o Goenji que eu estava em perfeita harmonia, e isso era fantástico! Assenti para que os nossos ataques subissem, e mal vi o Goenji sozinho, passei-lhe a bola para o alto, onde ele fez o Fire Tornador, deixando-nos na frente! E nesse mesmo momento, o sinal do fim de jogo foi soado! Tínhamos vencido o nosso primeiro jogo no Football Frontier!

Olhei para trás e vi o Kazemaru caminhar até ao Kirigakure... Estendeu-lhe a mão para que se levanta-se, e pude ver o nosso adversário sorrir.

—Venceste-me. Perdemos!- ainda assim parecia satisfeito. Agarrou a mão do meu companheiro e levantou-se.

—Bom jogo!

Assim era o futebol! Por muito que todos ambicionássemos a vitória, no final os adversário podiam tornar-se grandes amigos com os quais poderíamos aprender muito.

Sorri e caminhei até ao meu primo para ver como ele estava. Vi-o já sem a luva e a ligadura e a soprar para a mão. Ri-me e aproximei-me dele, agarrando na sua mão com cuidado antes de a beijar. Ouvi os rapazes por de trás de mim ficarem extremamente espantados. Olhei para o Mamoru e estava um pouco admirado.

—Um beijo dado com amor, pode curar qualquer dor, lembraste?!- aquilo era algo que sempre dizíamos em crianças, e mesmo que já não fossemos crianças, eu preocupava-com com ele- Mas ainda assim vais ao hospital!- e se não quisesse ia arrastado!

*

Eu e a Aki ficamos à espera do meu primo, que não demorou muito a ficar despachado, após o médico dizer que não era de grave, apenas um pequeno inchaço e que passaria com o tempo. Felizmente não era nada preocupante, eu mesma fui conferir com ele! Porém, quando chegamos junto à sala de onde estava o pai da Natsumi, vimos a própria sair de lá com uma cara abatida. O seu pai piorado?

—Olá.- Cumprimentei-a- Como está o teu pai?

—Não há porque preocupar-se.

—Ainda bem!- assenti.

—Sim.- Mas nesse mesmo instante, ela pareceu ter reparado na mão do meu primo- E isso?

—Oh! Isto?- levantou o punho.

—Foi o meu primo a ser imprudente.

—Não foi nada!- ri-me- O jogo de hoje foi apenas um pouco duro. Mas no final conseguimos vencer! Primeira ronda superada!

—A sério?! Isso é estupendo!- ao menos tínhamos levado até ela alguma alegria- Então esse foi o preço da vitória, não?

—Não, não é bem assim.- E começou a mexer a mão- Acabaram de vê-la e disseram-me que num par de dias poderei movê-la perfeitamente.

—Fico feliz porque és o único goleiro da nossa equipa, mas se vencemos, será como diz o ditado: A cavalo não se olha o dente.

—Qual cavalo? Chamaste-me cavalo?!

—Mamoru...- ele tinha pensado mesmo isso?

—Não era isso que eu queria dizer.

—Mas disseste-o, não foi?! Chamaste-me cavalo, não foi, Malina?

—Foi só um exemplo, Mamoru!- ainda assim não parecia convencido.

—Vês?! Chamaste-me cavalo!

—Não percebes nada!- suspirei, antes de olhar para a Aki. Rimo-nos.

—Não sei dizer que eles se levam bem ou mal!- encolhi os ombros. Boa pergunta.

—Era para me chamares o quê?! Um cavalo de corrida?!

—Acho que cavalo é demasiado para ti porque não chegas nem a isso!

—O quê?! Não chego a cavalo?! Então o que sou?! Um burro?!

—Não penso explica-lo! Burro!

Perguntava-me se no quarto da Yuka se ouviria aqueles dois a discutir.