Malina

Corremos de volta para o campo para continuarmos o treino, mas durante o caminho, ao passarmos pelo prédio escolar, não podemos ignorar as palavras de incentivo dos alunos da Raimon. Sentia-me uma espécie de estrela ali no meio. Era bom saber que os orgulhávamos!

—Tem cuidado, Mamoru!- consegui agarrar o meu primo a tempo, ao vê-lo cair para trás. Nesse mesmo instante, olhou por cima do ombro. Fiz o mesmo vendo o Kazemaru conversar um membro do clube de atletismo.

—O que se passa, Kazemaru?

—Não é nada. Vão andando. Já lá vou ter.

—Está bem.- Ambos descemos o restante do gramado que faltava para o campo, antes de eu encontrar o Goenji a fixar o Kazemaru.

—Vamos?- assentiu, correndo também para o campo.

Só então me lembrei que aquele antes era o clube do nosso defesa. E agora que ele foi com aquele membro do clube... Bom, não sabia exatamente o que pensar sobre isso. Estaria tudo bem? Só esperava que o Kazemaru não estivesse a pensar em... Tentei a todo o custo afastar esses pensamentos. Tinha de me concentrar no treino! Só que estava difícil fazê-lo, principalmente quando o Kurimatsu, após ir buscar o Kazemaru, voltou com uma cara bem triste.

—Ei, Kazemaru. Demoraste!

—Desculpa.- Correu até nós, atacantes, com um enorme- Vamos começar?

—Vá, vamos lá!

—Sim!- voltei as costas aos rapazes para me preparar, mas o Goenji nem se mexia.

—O que queria esse rapaz no primeiro ano?

—Nada importante.- Talvez não fosse a única a pensar que fosse algo realmente importante.

Tentei não pensar muito nisso. Apenas voltei para a minha posição, o meio do campo, para podermos fazer uma vez a Honoo no Kazamidori. Aquela técnica que tinha que ser perfeita para o próximo jogo! Principalmente porque agora jogaríamos com oponentes muito mais fortes!

—Kazemaru! Goenji! A Honoo no Kazamidori.- Os dois responderam positivamente ao treinador.

Chutei a bola para o ar com toda a minha força antes de quase cair no meio deles. Começaram logo a fazer a técnica sem qualquer hesitação. Tudo parecia correr bem até que a bola passou pela baliza... Foi desviada. Aquilo tinha sido muito estranho. O pior mesmo é que isso continuou a acontecer nas vezes seguintes em tentaram. Algo estava mal. Aproximei-me para lhes propor um descanso. Talvez isso ajudasse.

—É fácil ver quando alguma coisa te preocupa.- Nem tive tempo de abrir a boca ao ouvir o Goenji.

—O que queres dizer?

—Ou esse rapaz do primeiro ano não te pediu que voltes para o clube de atletismo?

As palavras dele espantaram-me um pouco, mas, honestamente, também pensava um pouco no mesmo. O Kazemaru limitou-se a dar um pequeno sorriso. Olhei para o meu primo... Notava-se a preocupação no seu olhar.

*

Desci as escadas pouco a pouco, ainda meio perdida em pensamentos e sobre o que aconteceu naquela tarde. Ajeitei a saia do vestido verde, ouvindo os meus pais falarem na sala. Provavelmente o meu pai estava a contar-lhe os lugares por onde ia passar, onde iria ficar, com quem, o que faria. Não que a minha mãe lhe exigisse tal coisa, nem precisava, o próprio fazia questão de lhe contar tudo.

Sentei-me nas escadas escutando a conversa. Sabia que não o devia fazer, era má educação, mas custava-me sempre ouvir aquilo. Sabia que o meu pai ficava muito feliz por ter trabalho, por nos poder dar um excelente vida e ainda poder realizar o seu sonho de viajar pelo mundo, mesmo que seja em trabalho. Só que acaba sempre por ficar meses sem ele. Mesmo na Europa, enquanto nós estávamos numa cidade, ele por vezes tinha que ir para outro que ficava a mais de cinco horas de distância e custava-lhe voltar todos os dias para casa, e agora seria pior. Ele nunca faltou a datas importantes, nem mesmo ao meu aniversário ou ao da minha mãe, mas adorava-o e por muito que ela não o demonstrasse, sabia que minha mãe sentia muito a falta dele. E eu ia sentir bastante... Principalmente nesta nova fase do clube.

Tornei a subir as escadas em silêncio e entrei no meu quarto, fechando a porta com o mínimo de barulho possível. Olhei para o meu celular que estava sobre a cama e comecei logo a pensar na equipa. Sentei-me pesada ao lado dele e deitei-me com o aparelho eletrónico nas mãos. Devia ligar para alguém? Talvez para o Mamoru e fazer com ele sobre a questão do Kazemaru. Era algo que me estava a preocupar e podia apostar que a ele também. Ou talvez ligasse para o Goenji... Mas para quê?! O que iria dizer? Que liguei só para a ouvir a voz dele? Morreria de vergonha antes mesmo dele atender. Sempre podia ligar para o Kazemaru e falar logo com ele, mas... Não me devia intrometer. Confiava nele e tinha a certeza que tudo se resolveria.