Sempre ao seu Lado escrita por Aquela Trouxa


Capítulo 30
Bônus III ➳


Notas iniciais do capítulo

Foi por aqui a petição de mais capítulos bônus?!

Este capítulo é especialmente para deixá-los mais entendidos de cada quileute que poderá aparecer no desenrolar futuro e também para sanar as dúvidas sobre o tempo em que a história está se passando. Haverá links em palavras chave que farão com que possam visualizarem melhor!

E também, de maneira super importante, este capítulo é em agradecimento à TERCEIRA RECOMENDAÇÃO da história! Obrigada DM pelo carinho! ♥ ♥


Aproveite a leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/734647/chapter/30

 

Sempre ao Seu Lado 

↠ .Renesmee. ↞

 

 

— Jake pelo amor, atende logo esse bendito celular! — exclamei dentro do espaço enorme do banheiro do hotel, ouvindo seu celular não ser atendido pela quinta vez consecutiva irritando profundamente minha audição aguçada e sensível. Era exatamente por isso que eu mantinha o meu no modo vibrar. Afofei a toalha no meu rosto retirando os resquícios de água arrumei a posição de alguns cachos sobre meus ombros tocando suavemente nos fios para que não ficassem bagunçados e saí do banheiro no momento em que ele atendia a bendita chamada. Era Seth trazendo-lhe notícias sobre uma humana em Forks. Parei meus passos ainda perto da porta do banheiro olhando o corpo grande bonito e robusto dele apreciar a paisagem privilegiada que tínhamos ali.   

 

 — ...Martim viu a origem da placa, é de longe. — a voz de Seth soou no aparelho. 

 

 — Qualquer lugar fica longe de Forks, Seth. — Jake replicou virando seu corpo e olhou diretamente para mim — Seja mais específico tá legal?  

 

 — Okay, okay... — a respiração profunda chiou — Vinda de Wyoming, isso é distante o suficiente?  

 

— Um pouco... — Jake cedeu ainda com seus olhos sobre mim, sua coxas se moveram sobre o algodão do shorts — Mas o que tem de tão especial em uma humana estar em Forks, talvez seja parente de alguém por aí. — foi irrelevante. 

 

 — Estou achando que seja a mulher que vocês comentaram que chegaria. — Seth foi direto — Estou te avisando porque alguns estão agitados com a chegada dela. Há muitas suposições erradas sobre a vinda da mulher. 

 

— Ness? — Jake ergueu uma sobrancelha. Sua pergunta muda ficou no ar por alguns instantes enquanto eu pensava no que responder. 

 

— Vou ligar para a minha mãe. — foi a única coisa que respondi, pois sabia que Seth teria ouvido. Peguei meu celular sobre a cama e digitei uma mensagem breve para a minha mãe. Depois eu ligaria. 

 

— Tente acalmá-los. — Jake continuou a falar com Seth — Não há pânico algum... 

 

 — Sim, não há... — Seth concordou. Mantive meus olhos no celular esperando a resposta da minha mãe, movendo meu dedo de um lado para o outro na tela fingindo que estava ocupada apenas para não corresponder ao olhar de Jake. Eu sentia a intensidade de seus olhos escuros sobre mim — ...Mas eu e o Martim não fomos os únicos a ter visto a mulher. Na verdade, sequer a vimos realmente. 

 

— E quem mais? — Jake soou confuso. 

 

 — Cole estava no hospital quando ela chegou... — Seth relatou tudo a Jake, prestamos a atenção em tudo que ele falava na chamada. Fiquei até surpresa que minha mãe já estivesse com seu Jaguar novo, mas não deixei de ficar intrigada com a coincidência de ter sido justamente ele — ... Foi disso que as especulações foram geradas. Eles já estavam discutindo sobre ela antes que eu abordasse o assunto, ou que tentasse contornar... Jake, preciso que vocês voltem o quanto antes. Sei que a Nessie pode nos dar mais notícias sobre isso, mas eu não vou dar conta do recado na alcateia. 

 

— Entendi. — Jake parou pra pensar — Estamos voltando o mais rápido possível. — garantiu. Eles ainda trocaram mais algumas pendências e logo depois, Jake encerrou a ligação — E então? — ergui meus olhos na sua direção, bloqueando o celular. 

 

— Vamos esperar meus pais confirmarem alguma coisa. — pedi balançando o celular — Eles foram para Denali... 

 

— Ness, — Jake me interrompeu chegando a minha frente em dois passos largos — Sua mãe te ligou, sabemos onde eles estão. Mas porque não te deram mais nenhuma notícia? — quis saber. Apertei meus lábios sem saber como dar-lhe uma resposta. Hesitei — Nessie? — Jake desconfiou. Era muito difícil as vezes que eu conseguia guardar algo apenas para mim quando ele desconfiava que eu pudesse estar privando-o de alguma coisa. Jake sentou na ponta da cama e me olhou dali — Estou te ouvindo.  

 

— Tudo bem! — soltei um longo suspiro — Você sabe, Alice estava tendo visões estranhas com uma mulher, e coisas parecidas; estava lá comigo quando comentei isso para Seth. — o lembrei. 

 

— Mas ela está mesmo procurando Carlisle para ser transformada?! — seus olhos se arregalaram. Vi sua mão começar a tremer. 

 

— Não! — neguei ofendida. Jake respirou aliviado, mas a tensão ainda estava estampada em sua cara — Ai, Jake... — resmunguei nervosa alisando um cacho nos meus dedos— Não sei nem como te falar!... Tá, espera! — fechei meus olhos e respirei fundo tomando coragem para tentar esclarecer — Eu já sabia sobre ela. —  admiti — Meu avô recebeu um e-mail, que premeditava a vinda dela. Eu achei que não era nada demais, só que é algo demais sim! Eu vou te contar o que eu prestei a atenção em saber, naquele dia você não estava mais na casa dos meus avós, eu até já estava indo dormir...  Olha, essa moça é humana sim, não sabe de muita coisa sobre vampiros e sequer sonha com a existência de metamorfos. Ela precisa mesmo de toda ajuda possível do meu avô, pois receberam esse e-mail que nem foi ela que mandou; foi um médico que trabalhou com ele há anos atrás Jake. A situação dela é séria mesmo! As visões da minha tia não revelavam muita coisa, só sabíamos que ela viria. Depois que voltarmos eu converso com eles, não vou nem tocar no assunto de que já estaremos em Forks e aí eu revelo tudo para você e os meninos. 

 

— Tudo bem. — ele absorveu tudo que eu tentei explicar — Se ela ainda é humana, é bom que os demais da matilha saibam que isso não vai mudar. — fez uma careta — É, teremos mesmo que voltar. — resmungou chateado olhando para o belo quarto que eu havia disponibilizado para a gente. 

 

— Ela vai continuar humana! — afirmei passeando meus olhos sobre o belo quarto do hotel — Bom, pelo menos temos o seguro de viagem e albergaria, voltaremos para a Tailândia em breve. — mostrei um lado bom. Com isso poderíamos remarcar a viagem quantas vezes eu quisesse — Vamos arrumar as malas para voltarmos para casa, Jacob Black! — dei dois tapinhas no seu bíceps — Vai logo arrumar a sua cama! — o empurrei para que saísse da cama que eu estive dormindo. 

 

  

 

➳ 

 

 

 

 

Envolvi meus dedos entre os fios grossos e longos do lombo lupino de Jake. Não faziam muitas horas que havíamos retornado para as terras húmidas de Forks para que pudéssemos esclarecer o motivo de uma humana estar na responsabilidade da minha família. Pois até onde os cochichos na mente de Jake tinham ciência, a humana sabia sobre a natureza vampírica da minha família, o que não deve ser uma mentira, mas a possibilidade dela estar ali para ser uma vampira chegava a me ofender. O arfar quente que saía das narinas do lobo marrom avermelhado transformavam-se em uma leve nuvem condensada pela baixa temperatura entre os rochedos do penhasco, encarávamos em silêncio as ondas bravas do mar escuro quebrando-se nas rochas pontiagudas abaixo de nossos pés enquanto nos perdíamos em pensamentos. Apesar de ele estar na forma de lobo e não podermos nos comunicar verbalmente, nossa sintonia era boa o suficiente para que nossas dúvidas fossem as mesmas. Pensávamos na alcateia como um todo e pensávamos na missão que minha família se disponibilizou para ajudar a mulher que estava hospedada na mansão dos meus avós que tanto amo.  

 Mais do que isso, eu sabia em quem ele estava pensando nesse momento. Eu passava mais tempo entre o povo quileute do que com parte da minha família, sabia cada nome e sobrenome das gerações nascidas na terra que continuava firme neste solo, sempre preservando a linhagem indígena conseguindo perpetuar a transcendência com a proteção dos espíritos guerreiros da tribo. Eu sabia que ele temia pelo povo, tínhamos receio de que os Volturi poderiam querer interferir apenas porquê minha família estava envolvida. 

Jake passou sua língua pelos dentes afiados do lobo, movendo suas orelhas sensíveis para o mínimo sinal sonoro a nossa volta. Seus olhos penetrantes cruzaram com os meus por apenas um instante antes de voltar a olhar o mar a nossa frente. Seus pensamentos não estavam mais reclusos a si, alguém havia se transformado. 

 

— Tudo bem então, Alfa. — entendi o recado afastando-me de seu calor — Vamos voltar para a reserva. — concordei. Jake ajeitou a postura e corremos pela mata molhada até ao terreno mais próximo da propriedade Black. 

 

Continuei meu caminho entre as árvores mais espaçadas por onde surgia um território mais habitável, aos poucos o terreno se mostrava mais adepto para habitação e logo eu já avistava o galpão usado como garagem da modesta casa. Atravessei a lateral da garagem contornando boa parte do terreno passando por entre a mesa de madeira velha e extensa que havia bancos grossos até estar à frente da porta da entrada principal da casa. Me abaixei procurando a chave entre um pequeno vaso de cimento e um tapete maltratado, quando achei o objeto arredondado, o envolvi nas mãos e me coloquei em pé para abrir a passagem entrando na casa abrindo cada janela ao passar pela pequena sala e me sentei em uma das banquetas a frente do balcão que iniciava a cozinha que separava os cômodos minúsculos. Apesar dos anos e das diversas reformas que o local passou, a casa nunca deixou de seguir o padrão de construção inicial, para mim ela sempre estava similar à primeira vez que entrei nela, quando era criança e Billy Black ainda estava majestosamente vivo sobre sua cadeira de rodas. Ergui meus olhos para um lugar específico da parede onde o colar com as cinzas de um vampiro jazia. O objeto tão significativo era a lembrança mais presente de Billy entre as raízes Quileute da geração Black. 

 

— Seth irá chamá-los. — foi a primeira coisa que Jake disse após fechar a porta atrás de si — E mesmo que eu deteste fazer isso, apresentei como uma ordem. 

 

— Eles devem estar ansiosos por alguma notícia a respeito da mulher. — debrucei sobre o balcão erguendo meu traseiro da banqueta para pegar meu celular no bolso — Pelo menos eu tenho provas. — sorri mostrando o aparelho. 

 

— Sim, ainda bem. — sorriu e passou a mão pelos cabelos — Estou evitando em me transformar. Não quero todos aqueles pensamentos gritando dentro da minha mente ainda. — chacoalhou a cabeça e suspirou. 

 

— Tudo será bem esclarecido Jake. Nenhuma guerra será declarada na sala da sua casa. — tentei tranquilizá-lo com um sorriso no rosto. De longe eu ouvi a presença dos lobos — Estão chegando. — avisei, mesmo que ele já tenha ouvido também. Jake moveu a cabeça num aceno quase imperceptível. 

 

 Seth foi o primeiro a entrar na casa e logo após ele, Cole, que estava inquieto para saber os motivos que levavam a moça a estar hospedada na casa dos meus avós. O cumprimentei com um sorriso e ele tentou corresponder da mesma maneira, mas ambos tínhamos ciência da tensão que os lobos estavam, ele ainda mais que os outros. Mesmo que ele não gostasse de admitir, Jake me falava a fragilidade que a relação entre seus dois seres estavam, qualquer assunto que o desagradasse poderia fazê-lo explodir num lobo enorme. Logo os três anciões estavam ali. Era algo perturbador para mim, vê-los velhos com a vida esgotando-se a cada minuto. 

Sam Uley olhou-me com um olhar intenso movendo sua cabeça num cumprimento, Paul e Jared fizeram o mesmo e correspondi, seus corpos altos haviam envelhecido de tal forma que a coluna se curvava para frente alguns centímetros devido ao avanço das suas idades, pois deixaram de se transformarem para envelhecerem ao lado de suas esposas. Eu não conseguia imaginar Jake idoso sem a presença ativa do lobo Alfa que é, de forma alguma, e por mais que eu soubesse os motivos que levaram esses homens a essa decisão, eu sempre me sentia grata por ser híbrida; um coração bate dentro de mim, há vida circulando em minhas veias e o mais esplêndido é saber que Jacob não precisaria deixar de ser lobo, viveremos tantos dias possíveis nesta terra, juntos, sem morte, ou doenças. Mas se algum dia imortalidade estabelecesse um prazo para um de nós, tenho certeza que nós percorreríamos o mundo inteiro atrás de uma solução. Seja para estender nossa vida, ou a findarmos juntos, não me parecia mais haver sentido em viver sem tê-lo ao meu lado, Jacob é o cara que eu gosto de uma maneira única e privativa, ele me pertencia de uma maneira tão exclusiva, que as vezes brincávamos em sermos mais importantes que nosso oxigênio. Eu sabia da nossa ligação através do imprinting a muito tempo, não foi tão atormentador e escandaloso, eu participava das festas dos lobos, eu ainda amo cada palavra proferida sobre as histórias passadas e de como eu sou uma parte desta história, apenas tive minhas intuições esclarecidas à respeito. Em palavras difíceis, Jacob Ephraim Black, é idílico, singular, astuto, na maioria das vezes idôneo e muito afável. Somos tudo que podemos desejar e ser como pessoas. 

 

Observei os três se acomodarem no sofá próximo à janela e em poucos minutos a casa ficou mais apertada do que de costume, cheia de homens e mulheres se apertando no espaço limitado onde nos reunimos. Era incrível ver o quanto um grupo de seis lobos, agora são muitos lobos, tantos que mal cabiam na casa. Passei meus olhos curiosos por cada um ali, sentia as mãos de Jake descansando na minha cintura enquanto esperávamos todos se apertarem ali. 

Sabíamos que eles não seguiram o conselho de Seth em esperar por nós. Sete lobos haviam na cara de pau, batido na porta da casa dos meus avós apenas para bisbilhotar a respeito da nova visitante e se surpreenderam quando descobriram que não era apenas uma humana, mas sim, duas. Estavam muito ansiosos, pra não dizer sedentos, para que eu pudesse sanar as dúvidas e acabar de vez com as mentes mirabolante de alguns. Movi meus olhos na direção da antes, jovem e bela Emily Uley que acabou de entrar na casa. Ela apareceu logo depois do marido junto à sua nora, a tia Franchesca e sua filha, Olívia. Desci da banqueta abrindo um sorriso, para recepcioná-las bem. As pálpebras enrugadas sobre os olhos de Emily se ergueram minimamente em surpresa quando se encontrou comigo no meio da sala, seu corpo delicado envolveu-me num abraço carinhoso, parecia que era ela quem estava me recebendo na casa, nos afastamos e eu recebi Olívia com um abraço humanamente apertado. Indiquei o outro sofá para que elas pudessem se sentar e cumprimentei a tia Franchesca depois de ajudarmos ela a se sentar, dando um abraço também. 

 

— Oi tia! — afastei-me de seu corpo com um sorriso tão feliz em vê-la que meus olhos ficaram miúdos, entretanto nossas mãos estavam sobre os braços uma da outra. 

 

— Oi minha menina! — ela também sorria mesmo tendo aparentado estar tensa quando entrou — A viagem fez bem a você, sua pele não está mais tão pálida, está mais corada! — analisou movendo seus olhos sobre os meus braços segurados por suas mãos. 

 

— Gostou? Estava mesmo precisando de uma corzinha! — dei uma risadinha. 

 

Não estendemos o assunto, logo ela sentou-se ao lado da sogra e deu espaço para todos pudessem entrar. Martim Harrison o neto aparentemente mais novo de Sam e Emily passou pela porta me cumprimentando brevemente, logo ele estava ao lado da avó, acariciando seus fios branquinhos presos num laço. Fui movendo meus olhos de um lado para o outro, fazendo uma listagem de cada quileute que entrava, voltei a me sentar na banqueta do balcão e soltei um suspiro. A lista era longa... 

 As famílias estavam todas reunidas de acordo com seus compromissos vividos na alcateia. Os descendentes de Sam e Emily Uley estavam bem representados ali. Olívia Harrison, a filha do casal estava acompanhada de sua filha mais nova, Allie Harrison e o agora finalmente seu namorado, o metamorfo Hugo McMurray e seu filho mais novo, Martim. Sua filha mais velha, imprinting e esposa de Embry Call, Rebecca, achou melhor não vir com a pequena Kaylee para essa reunião em especial. Tia Franchesca, sendo viúva de Arthur Uley, irmão de Olívia, estava com seu único filho, Cole Uley. 

  Os descendentes de Jared e Kimberly Cameron também estavam presentes, bom, pelos menos seus netos estavam. Jared e Kim tiveram apenas três filhas, Cheryl, Kathleen e Beatrice. Mesmo que a possibilidade delas se tornarem lobas fosse considerada, isso nunca aconteceu então foi esperado para a geração futura. Jared sempre declara a boa sorte e alívio em sua filha mais velha ter sido imprintada por um dos lobos; Tristan Sanders. Ele era um dos sete recém transformados na época em que minha família havia reunido testemunhas a meu favor, assim como Hugo. Kathleen casou-se com um residente de Forks, Robert Morris; e a irmã mais nova, Beatrice casou-se com Laura Thorne. 

Apenas um dos três filhos de Cheryl e Tristan estava presente, Leovanni Sanders. Sua imprinting, Bruna, achou melhor não fazer parte desta reunião, pois pertence a descendência dos Makah. Seu irmão mais velho, Alvin Sanders havia se casado com uma garota de Forks, Leora, eles foram namorados durante a adolescência, mas ela não é sua imprinting; não que isso anule tudo o que ele sente por ela, é claro, mas é perigoso... A filha mais nova de Cheryl, Lilly, é a segunda mulher nascida com os genes de metamorfo, ela é excepcionalmente incrível no seu autocontrole, o que facilitou para ela poder seguir livremente o desejo de estar em outro estado para uma graduação. Sinto muita falta dela por aqui, me ajudando a pôr juízo nos garotos... Não que tenhamos conseguido muitos resultados. 

Taylor Morris, era filho de Kethleen, ela havia tido mais duas filhas, Mabel e Freya Morris. Ele estava ali, em silêncio sentado no tapete próximo às pernas da senhora Uley. Ele é um dos lobos mais novos atualmente, sequer tínhamos expectativas dele se tornar um, já que seu pai é apenas um humano comum sem ligação quileute ou sangue indígena. Ele tem passado os últimos quase dois anos morando na casa da sua tia Cheryl, a princípio para evitar seus pais, ele achava que sua mãe não tivesse conhecimento da vida sobrenatural apenas por morar fora da reserva, e mesmo atualmente, após tendo esclarecido tudo a sua mãe, ele prefere morar com a tia, apenas para que isso não perturbe Robert, seu pai. 

Os filhos de Beatrice, Wyatt e Paisley não podem participar, a não ser que um dia sejam alvo de um imprinting, pois não há ligação sanguínea direta a ela por serem adotados. Particularmente ela prefere que seja assim. Duvido que a essa altura sua esposa saiba de algo verídico sobre as lendas. 

   A descendência de Quil e Claire Ateara estavam sendo representada pelo seu filho mais novo, Ravi Ateara. Foi uma surpresa para todos quando o casal decidiu quebrar a continuidade do nome. Ravi considera levar sua possível longa trajetória como lobo por muito tempo e não anseia pela aparição da sua imprinting, ao contrário de sua irmã mais velha Alexa Kate, que se frustrou por não ter o gene lupino e isso influenciou bastante o desenrolar da sua vida após isso. Ela teve um breve namoro com um quileute e logo se casaram, o que não ocasionou boas situações para ambos já que o divórcio veio poucos anos depois. Alexa sempre me pareceu um pouco complicada desde a infância, espero que isso tenha mudado depois de estar trabalhando na Woodland Mountain viajando mais que uma comissária de bordo. Como sou uma pessoa antenada, sei que ela ainda mantém contato com o ex-marido, eu particularmente acho que eles possam reatar, mesmo que durante este intervalo da relação, Kolden, o ex, tenha tido uma filha sem compromisso com a vice coordenadora de Forks High School, Elodie Wren Carter. A menina constantemente chamada de Marina, passeia pelas areias escuras de La Push feliz com a companhia do pai. 

   A descendência de Paul e Rachel Lahote parecia a mais completa ali. A perturbadora aparência frágil da minha cunhada confundia muitas pessoas quando descobriam ou lembravam-se que os gêmeos idênticos, Isaac e Thomas Lahote eram seus filhos, sendo de certa forma meus sobrinhos; mas me chamarem de tia estava fora de cogitação! Os meninos tinham uma ideia mútua e fixa de que só envelheceriam depois de encontrarem o par ideal, seus imprintings. E pareciam dispostos a esperarem todo o tempo do destino. Não que eles se mantinham num voto de castidade até lá; Thomas que ô diga, mas não houve um dia sequer que a palavra compromisso tivesse passado por eles. Paul não se preocupou com isso, contando que sua linhagem fosse devidamente preservada e passasse adiante, Rachel ama sua família e apesar da cabeça avoada do seu filho mais novo, ela confia no que o futuro tem para eles.  

 Além de Jake e Seth, estavam na cozinha, Collin Lettlesea atrás de mim procurando alguma coisa que tivesse para comer na geladeira junto com seu melhor amigo, Brady Fuller. Ainda na cozinha, Thomas Lahote estava entre os dois, e eu tentava evitar de ouvi-lo falar sobre mais uma noite intensa de sexo com não sei quantas pessoas... Observei os demais lobos participantes da alcateia que não tinham ligação direta na descendência dos outros, Jake me cutucou levemente indicando a oportunidade perfeita para que finalmente pudéssemos iniciar a reunião do conselho entre todos eles. Desci da banqueta e movi meus pés passando por Daniel Kinkead que estava sentado sobre o tapete da sala com Evan Graham, bem ao lado de Taylor, apenas aguardando a reunião. Os gêmeos não idênticos, Ryan e Andrew Stevenson se encostaram contra a parede atrás do sofá onde a senhora Uley estava. Os quatro têm quase a mesma faixa etária, e assim como Hugo, se transformaram no tempo em que minha família reuniu vampiros na casa dos meus avós para testemunharem pela minha vida. Devem ser uns doze anos mais velhos que eu, no mínimo. Estes gêmeos estavam meio que se aposentando da matilha agora. Ryan havia se cansado de esperar por um imprinting e casou-se com a quileute Beatrice, o quão inusitado foi a situação em que seu irmão, Andrew acabou tendo um imprinting pela irmã de Beatrice, a Camille. Então agora eles estavam minimizando seus dias de lobos para acompanharem o avanço da idade delas, pois logo Camille teria seu primeiro bebê e Ryan também desejava iniciar sua família. 

  Parei entre eles chamando a atenção de todos para mim. Fiz questão de cortar o assunto que Thomas falava tão animado, que ele nem hesitou em reclamar que eu estava tirando todo o tesão da melhor parte da sua noite. Revirei meus olhos e encarei todos os quileutes que me olhavam ansiosos. 

 

— Bom dia gente, espero que não tenham caído da cama por conta do horário. — tentei soar o mais descontraída possível. Alguns riram — Todos sabem o motivo de estarem aqui e acreditem, não é algo para terem medo... — interrompi minhas palavras quando me virei ao ouvir a porta da entrada ser aberta. Me surpreendi, mesmo que eu não tenha demonstrado por ver Alvin entrar para dentro do cômodo parecendo sem graça por ter chegado atrasado — ...Nada alarmante, isso eu posso afirmar. — esperei que ele se acomodasse em algum canto disponível e continuei a falar desviando meus olhos — Conversei com meus avós ontem de noite, soube de algumas visitas inesperadas e outras feitas pelo Embry direcionado pelo Jake. — fiz os lobos ativos na matilha saberem, antecipando-os da conversa que teriam com Jake, eu bem sabia o quanto minha tia Rose ficou enfurecida com isso, ela havia feito questão de nos falar isso durante a chamada que fiz com meus avós — A questão em aqui nem é esta, estamos todos aqui para tratarmos da situação da hóspede dos meus avós, que se chama Amberli Scott. — movi meus olhos na direção de Jake para saber se ele queria acrescentar alguma coisa. Seu olhar estava atento como o de todo mundo, o que simploriamente significava que ele não tinha nada a falar nesse momento. Continuei — Essa moça veio de Wyoming, o que muitos já estão sabendo. Ela veio com sua filha, que não tem nem dois anos de idade, meus avós disseram que o motivo que a levou até aqui é bem delicado então eu vou direto ao ponto, ela está grávida de um vampiro. — apontei para mim — De um híbrido, como eu. 

 

Houve vários tipos de reação, dos mais velhos a expressão era mais espantosa, talvez pelas lembranças que a situação já tinha os feito viver no passado; no mais a maioria estava bem mais confusa, não sabiam o que isso poderia significar. O futuro sobre isso estava incerto até mesmo para mim. 

 

— Pois é, ela não está em Forks para ser transformada ou com nenhum motivo a mais além de querer salvar a própria vida e a do bebê que está gerando. — deixei claro — Vocês sabem como minha mãe viveu entre a vida e a morte na gestação e devem concordar comigo quando digo que não desejamos isso a ela. 

 

— E o vampiro? Pai do bebê? — Thomas soou incerto atrás de mim. 

 

— Ela, — quase vacilei com a entonação da minha voz — não sabe quem foi. Não se lembra de nada. — o respondi me sentindo desconfortável. Deixei que todos sentissem o peso das minhas palavras. As mulheres foram as primeiras a entender. 

 

— E não é um perigo mantê-la aqui? — me virei ouvindo a voz de Alvin soar hostil — Os reis da sua espécie podem voltar e acusar sua família novamente. 

 

 — Não acho que chegaria a tanto. — neguei expressando meu otimismo — A existência de híbridos é conhecida agora, mesmo que a natalidade continue quase inexistente. Não somos uma ameaça tão letal assim. — não dei abertura para que novas perguntas surgissem entorno da minha espécie. — Bem, eu só sei que minha família está dando todo o apoio necessário para ela e sua filha. Não sei muito sobre sua vida antes de vir para cá, mas acredito que em um ano ela não precise mais do auxílio que meus avós estão lhe dando. — aguardei por suas opiniões tranquilamente. 

 

— Não vejo o porquê de não a ajudar. — a voz madura da velha Emily Uley soou entre os múrmuros pensativos de cada um. Virei meu rosto para sua direção. O lugar ficou silencioso, todos estavam atentos ao veredito da anciã — Ela é humana e precisa de apoio num momento como esse. — sustentou sua opinião se compadecendo de Amberli. — Diga-me, Nessie, poderíamos saber sobre ela mais de perto? — pareceu pensar em alguma coisa. Captei o movimento de seus olhos encontrarem-se com os do marido — Há muitos olhos lupinos curiosos para conhecê-la além de Collin, acho uma boa ideia que ela se acostume com nossa presença entre sua família. Não há surpresa alguma em termos controle de quem entra e sai desta cidade, mesmo que os residentes de Forks não tenham noção disso. Mas é tudo para nossa própria segurança. 

 

— Sim, não descarto sua ideia, — assenti curiosa pelo seu posicionamento — eu também estou curiosa para conhecê-la e o Jake vai estar sempre lá comigo, seremos seus olhos e ouvidos por lá. Será como se ela fizesse parte da minha família, acho que é uma boa estratégia para saber mais sobre quem é Amberli Scott. 

 

— Faça isso Nessie. — ela se agradou das minhas palavras. 

 

 Depois das palavras de Emily Uley e seu consentimento em apoiar meus avós em cuidar da moça, ninguém mais parecia disposto a declarar uma objeção. Nós continuamos na casa de Jake discutindo sobre a vida da humana recém chegada e seu futuro imprevisível, eu era responsável pela maior parte em manter um pensamento positivo de que a gestação dela seria muito melhor e qualitativa que a que minha mãe precisou passar para me conceber. Sem contar com o parto, isso os fizeram levantar suposições de problemas que somente meu avô sendo um médico poderia respondê-los. Após isso, eu convenci todos a participarem do café da manhã, a dispensa de Jake nunca ficava vazia e isso foi um toque a mais para que todos os quileutes de diversas idades ali ficassem para pelo menos aproveitarem do café. Toda aquela falação alta e agitada logo pela a manhã me sustinha como um combustível, logo eu estava tão falante e agitada quanto eles. Éramos sempre calorosamente divertidos, a maneira quileute de ser estava cravada na minha pele e eu sempre gostei da sensação. 

 Quando os anciões e os demais que não faziam mais parte da matilha se foram, o clima pesado da incerteza tornou a pairar. Estranhei em ver que Alvin ainda estava na casa, ele mal se transformava... Não me parecia agradável tê-lo tão incluso com apenas aqueles que dividiam constantemente seus ideais e pensamentos. Pareceu se abrir um leque pesado e pesaroso de suposições e receios. Senti que havia voltado à estaca zero quando as palavras da velha Uley desvanecia com a sua ausência; eu teria que desenvolver outro método de convencê-los a acreditar que a presença da mulher não os atingiria negativamente, para mim, eles poderiam apenas ignorá-la e deixar que minha família lidasse com aquilo, até porque, a ajuda havia sido pedida a eles apenas. Mas o fato de eu estar ligados a eles, e Jake estar ligado a mim, levavam-vos a crer que por causa de Jacob o assunto os ligava, eu querendo ou não. Sempre me dava uma vontade enorme de fazer birra e bater os pés no chão, mas isso não iria resolver de nada na minha vida, a não ser que eu quisesse que essa encenação de revolta se tornasse a justificativa perfeita para que eles pudessem tirar sarro da minha cara. Eu sou bastante inteligente para que isso não ocorra de forma intencional. 

 Estive analisando discretamente cada feição enquanto ajudava Isaac a terminar de lavar a louça, a maioria dos lobos mudaram suas expressões demostrando minimamente o quanto estavam insatisfeitos, podia contar nos dedos de uma mão quantos estavam mais apaziguados com a situação. Sondei o estado de espírito de Jake, eu estarei menos afoita se ele estivesse tranquilo, mas suas sobrancelhas estavam tensionadas e não estava interagindo muito bem com as pessoas ao redor, um pouco aéreo. Eu tinha que confrontá-los a respeito disso. 

 

— Falem agora, ou calem-se para todo o sempre! — exigi a atenção de todos com um sorriso no rosto. Eu nunca gostava de demonstrar meus desconfortos em situações complicadas. Meu trocadilho já era conhecido e sabiam muito bem o que eu estava querendo dizer om aquilo. “Falem logo o que pensam, se não tudo continuará errado...” era algo do tipo. 

 

 — Graças a Deus alguém começou! — Taylor revirou seus olhos escuros afundando seu corpo enorme contra o sofá — Os velhotes deveriam ser os primeiros a ‘botar’ para fora! — incentivou — Eu serei ouvinte. 

 

— Eu ainda não estou convencido de que essa Amberli escapará com vida... — Daniel foi o primeiro a se pronunciar. Sua voz vinha do minúsculo corredor que levava ao banheiro — E se precisarem transformá-la? — perguntou duvidoso aparecendo na sala. 

 

— Não só por isso, — Cole manifestou depois dele, um pouco indeciso com suas palavras — E se ela for transformada, de que lado ela ficará? Sua família irá adotá-la também...? 

 

— Ou ela será uma nômade? — Collin completou — Ela não poderá viver sem destino no nosso território.  

 

— E a criança?! — Alvin quase gritou entre todo o bombardeio de suposições e questionamentos ao se pronunciar — Quase nenhum cara pálida é como seus pais, assim como os híbridos não são pacíficos como você Nessie. Sabemos os diversos poderes que podem possuir e se essa criança for como aquele Benjamin? Dominar tudo, ou invocar a destruição, controlar mentes... Pode ser uma ameaça!  

 

— O que Alvin falou pode acontecer, isso chamaria a atenção dos reis da sua espécie se não for controlado... — Hugo pareceu considerar trazendo à tona o comentário que eu parecia ter conseguido anular, Evan concordou com ele. Isso pareceu dar vida as suposições impensadas que Alvin poderia apresentar. Eu não estava gostando do rumo que isso estava dando, desejei que os anciões estivessem aqui novamente para ouvi-los. Tentei intervir. 

 

— Eu acho que não deveríamos tratar isso como se estivesse em nossas mãos... — Isaac tentou contorná-los quando eu não consegui erguer meu tom de voz o suficiente. 

 

— E se essa coisa se descontrolar por sangue humano? — Alvin jogou outra pergunta por cima dos questionamentos de Hugo cobrindo a fala de Isaac. A designação à “coisa” me acertou de forma dolorosa. 

 

 Foi como um turbilhão violento que me levou imediatamente para anos atrás, e me senti no lugar da minha mãe. Todos decidindo por ela, todos traçando seu futuro como se ela não tivesse escolha alguma, como se isso não fosse parte dela. Eu fui a “coisa” também, eu fui indesejada, eu tive destinos traçados para a morte, apenas por causa de incertezas e percebi amargamente que mesmo eu estando ali, o cenário não parecia tão alterado, o desespero poderia revelar os piores pensamentos de uma pessoa imperceptivelmente. 

Todos os corpos quentes pareceram se congelar quando essas palavras foram soltas no ar. Vi nos olhos de Alvin o quanto que ele queria ter recolhido as palavras para dentro de sua boca, a razão voltando a clarear seus pensamentos, mas não tinha como, elas entraram em cada orelha capaz de escutar. Pisquei minhas pálpebras com calma e franzi minhas sobrancelhas como se minhas reações estivessem mais lentas que meu raciocínio e eu soube que o perdoaria, não consigo guardar rancor de pessoa alguma. Senti as mãos de Jake tocarem meus ombros com ternura, seus olhos estavam agressivos pela ofensa destilada dos lábios de Alvin. Engoli com dificuldade um bolo em chamas que apertava a minha garganta e mantive minha respiração estável. Todos encaravam de mim e Jake a Alvin. Um silêncio crucial e pesado o suficiente para causar um incômodo sobre nossos ombros. 

 

 — Me admirei pelos momentos em que você pareceu se importar com sua família e com seus irmãos ao entrar por aquela porta. — Jake comentou com um desgosto incontido em cada palavra, eu poderia facilmente perdoá-lo, mas eu não diria o mesmo de Jake. Suas mãos tremiam sobre meus ombros. Meus olhos corriam de um quileute para outro, mas eu não conseguia encarar Alvin, isso havia me chateado, apesar de tudo. Me senti tão inferior a ele — Eu gostaria de ter permanecido com os bons sentimentos, se você tivesse adquirido o bom senso de ter saído daqui quando todos os outros se foram. Não faz mais parte da alcateia. — Jake cuspiu tudo aquilo com dificuldade. Ouvi sua respiração pesada tremer em seu peito — Ouviu o que eu disse? Não faz mais parte da alcateia para achar que pode sair jogando suposições sobre algo que sequer esteve presenciando nos últimos dias, ou meses. — desta vez havia um peso da propriedade Alfa sobre as palavras. E eu sabia bem o porquê. A regra mais importante e inquebrável de um lobo era que nunca, em hipótese alguma outro lobo poderia atacar e ferir a imprinting de um igual, independente da maneira. Alvin pareceu tremer e se encolher ali na nossa frente, como se as palavras o tivessem ferido. 

 

— Me desculpe Nessie, eu não tive a intenção... — ele tentou contornar com o lamento com pesar. Por um momento até pensei que ele se ajoelharia a minha frente, e me inquietei com o pensamento de que Jake poderia obrigá-lo a fazer — Isso foi algo totalmente impensado e burro da minha parte, me desculpe mesmo. Me desculpe! — implorou. 

 

Minha garganta pareceu secar e no fundo eu senti a leve queimação na garganta quando eu não soube o que lhe responder. Suspirei decidindo me pronunciar. 

 

 — Isso me deixou bastante chateada se quer saber. — fui verdadeira — mas te entendo e até admito que suas palavras foram reflexo do seu medo sobre uma criança híbrida, mas não é bem assim. — dei uma pausa, não sabia se Jake tinha mais palavras para ele. Quando meu silêncio se estendeu pelo cômodo eu tornei a falar — Foram palavras de reflexo, mas deveria policiar seus próprios pensamentos. Você convive comigo desde que se lembra e eu me lembro muito bem da sua mãe grávida de você, não deveria haver lugar para a aversão da minha espécie em seus pensamentos. Eu também sou híbrida e fui inocente como essa criança sendo gerada nessa mulher, tenho certeza que ela seja bem mais do que eu. Não vou anular as palavras que Jake direcionou a você, ele está certo, faz meses que você não se transforma, arriscando-se ao casar com Leora. E aparece aqui e expõe suas opiniões como se soubesse em primeira mão sobre o que estamos vivendo, e terá que concordar comigo em saber que está redondamente enganado. — expus com sinceridade mantendo minha voz estável — Você não chateou apenas a mim, mas a todos os que estão convivendo comigo até o presente momento, pois nem parece que você esteve com eles a poucos meses atrás Alvin! Poxa, tudo bem querer seguir suas próprias decisões, mas impor suas ideias em algo que não faz mais parte é estupidez. 

 

Ele encarou-me em silêncio, seus olhos moveram-se para o rosto de Jake acima do meu tentando manter sua postura alinhada perante seu Alfa, não parecia ter respaldo para impor suas certezas e convicções sem parecer estar provocando a liderança. Movi meus olhos para longe dele, os demais apenas o encaravam esperando o momento em que ele apresentaria alguma justificativa estúpida apenas para que não ficasse calado, Alvin tinha uma mania irritante de sempre querer manter sua palavra final, mesmo que elas não acrescentassem em nada. Não demorou muito para que esse momento chegasse depois de quase um minuto em silêncio. 

 

— Eu não queria ofender sua espécie, é quase difícil de se lembrar que você não é totalmente humana, por mais que haja o cheiro característico de um vampiro em você Nessie. E não quero ser nenhum divisor de água nisso então vamos apenas fingir que eu havia saído por aquela porta acompanhado pela minha família, eu não posso me estender mais além do pedido de desculpas e submissão ao Alfa. — pareceu curvar sua cabeça evitando de olhar-nos. 

 

 Senti as mãos de Jake pesarem sobre meus ombros, olhei para o seu rosto acima de mim, tentando entender qual mensagem ele queria me passar com isso. Subi minha mão esquerda até a sua e perguntei “Seria melhor que apenas deixássemos ele ir embora?”. Jake não me respondeu. Seus olhos se mantinham atentos a cada um presente ali com a gente, passei a sondar o estado de espírito de cada um novamente, analisando com discrição o posicionamento que Alvin se obrigava a manter ali mesmo acuado. “Acho que ele teme pela vida da esposa... Ela não precisa ser um imprinting para que ele se importe com ela.”  expus a ele. Seus olhos profundos sobre a pálpebra pesada encontraram os meus, ele queria ter certeza daquilo que havia compartilhado, sabia que a posição desafiante que Alvin havia apresentado não durou mais do que sua coragem para o fazê-lo, mas também me recriminava por parecer minimizar a força do imprinting. Seus olhos se afastaram dos meus com uma lentidão maçante, disposto a encarar Alvin com toda a autoridade intimidante que corria por nascença em suas veias. O peso pareceu atingir a todos os lobos ali, pois inclinaram suas cabeças como se estivessem fazendo uma prece silenciosa, todos ao mesmo tempo. Jacob afastou-se de mim, passando por Seth, Collin e Thomas. Seth era o único a conseguir manter sua posição por ser o Beta, mas estava tão submisso quanto os outros, assim como sua irmã, Leah se mantinha... Deixei que me aprofundar nos meus pensamentos analisando os passos silenciosos pararem a frente do lobo que decidiu se exilar, a questão ali em si nem era essa, mas Jake estava disposto a fazê-lo entender que cada atitude que ele tem feito era graças a benevolência que ele tinha em deixá-los tomar grandes decisões sem interferir, de maneira que os fizessem a respeitá-lo por isso. Nunca foi novidade a nenhum deles que Jake odiava intervir em suas vidas e ele sempre deixou isso claro o suficiente para apenas exigir atenção aos seus conselhos não se responsabilizando pelo que o futuro se encarregaria de cumprir com a independência que ele havia presenteado aos lobos interligados. Isso não havia surgido ontem ou há um ano atrás, era há mais de oitenta anos. 

 

 — Um pedido de desculpas não chega a diminuir a consequência do que acabou de falar. — a voz intimidadora do Alfa soou contra todos. Era impressionante a maneira que eles nem precisavam estarem na forma de lobo para que a hierarquia primitiva fosse mantida — Sua sorte é que a Nessie demostra generosidade até demais, um comportamento limpo e altruísta e não pudemos discordar de que também esteja preocupado com sua esposa em Forks, mas o que não podemos nos esquecer é que a coisa que está sendo gerada naquela mulher ainda é um bebê e possui 50% da humanidade. — ele dizia isso para todos — Não estaremos com bandejas de prata estendidas para aquela mulher, mas não estamos em desacordo com a família Cullen. Sabemos que se algo assim acontecesse a uma das mulheres da reserva, Carlisle não hesitaria em ajudar. — aquilo pareceu deixá-los desconcertados. 

 

Esperei que aquele tempo de silêncio entre eles fosse o suficiente para que pudéssemos afastar os conflitos. Mexia meus lábios de modo afoito, sedenta para que outro assunto fosse iniciado. Movi minhas pernas entre os ferros da banqueta inquietamente. Alvin não teimou consigo mesmo e fez o que devia ter desde o princípio; se desculpou novamente e bateu a porta de entrada, entrou no seu carro e dirigiu para fora da reserva. Jake permaneceu por longos minutos naquela mesma posição, parado de costas para mim. 

 

— Mais alguém? — meus lábios se moveram antes que eu pudesse evitar. Encolhi meus ombros quando os olhares interrogativos se focaram sobre mim. Jake continuou quase imóvel na mesma posição — Sei que ainda não estão convencidos o suficiente... — respondi para eles sentindo minha testa apresentar uma formicação típica de quando ela assumia uma tonalidade rosada. Tentei alinhar minha postura — Esse assunto não vai se extinguir tão cedo gente. — tive que lembrar. 

 

— Olha Ness... — Isaac foi o único a se pronunciar movendo seu corpo pelo cômodo passando por Jake para se aproximar de mim — Eu acho que deveríamos preparar o almoço agora. — aconselhou — Não acho que lobos irritados ficariam com um humor melhor quando começarem a sentir fome. — comentou com cuidado, me instigando a sair da banqueta para começarmos a preparar o almoço. 

 

 — É, — suspirei saltando da banqueta — vamos preparar um banquete para todos esses lobos irritados antes que fiquem famintos! — tentei me animar — Vai que eles tentem nos devorar!... 

 

— Ness, — um ar risonho escapou por suas narinas — Eu sou um lobo também. 

 

— Íih... É verdade!... — fingi me lembrar com os olhos arregalados num falso assombro. Isaac soltou um riso. Estava agradecido por mim estar ajudando-o a aliviar o ambiente. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 ➳

  

 

O clima estava bem melhor agora. Todos estavam ocupados o suficiente com suas refeições, que conseguiam manter o ambiente calmo e satisfatório durante toda a refeição. Havíamos almoçado ao ar livre na mesa de jantar de madeira que há perto da garagem, Evan e Thomas ficaram responsáveis por arrumar o local e acharem uma maneira eficaz de secar o banco para que em poucos minutos estivéssemos por lá. Isaac recrutou Hugo e Daniel para nos ajudar na cozinha enquanto Jake pareceu relaxar com a situação o suficiente para conversar tranquilamente com os demais. Foi um almoço diferente de todos os outros que já havíamos feito, mas ainda assim foi bom. 

 

— Beleza, quem vai arrumar a louça agora? — perguntei caminhando para fora da casa vendo-os ajuntados ao redor da mesa. Todos os rostos, sem exceção murcharam quando ouviram minhas palavras. Mudei minha expressão para uma descontente quando eu vi o desanimo de todos aqueles homens — Quem se voluntaria? Se ninguém se dispor, eu vou escolher! — ameacei. Enquanto um olhava para a cara do outro com um desgosto similar, eu me desfiz da cara zangada voltando a caminhar na direção deles. 

 

— Nós vamos. — as vozes desanimadas de Brady e Collin soaram entre os demais, que suspiraram de alívio pela iniciativa dos dois. Abri um sorriso apreciativo para eles. 

 

 — Você sempre consegue as coisas que quer, né Mostrinha?! — Brady tentou mexer nos meus cachos quando passou por mim. 

  

— Vai logo lavar a louça! — dei um tapa na sua mão afastando seu toque. Ele riu. Revirei meus olhos passando minhas pernas pelo banco para poder me sentar ao lado de Jake. 

 

— Acho que já deu a minha hora... — Hugo anunciou se levantando, seu celular notificou uma mensagem que exigiu sua atenção imediatamente — Allie está me esperando, nós vamos para Port Angeles hoje à noite. 

 

— Contenha os teus pensamentos durante o turno! — Thomas o avisou não fazendo o favor de conter a malícia em suas palavras. Sorrimos sem nos conter — Não queremos que o Martim se escandalize tão cedo. — cutucou o garoto ao seu lado rindo com vontade. 

 

— Vocês são ridículos. — Martim revirou seus olhos escuros desaprovando nossas expressões, mas logo pareceu mudar de conceito — Por favor, contenha seus pensamentos. — reforçou a Hugo, deixando-o livre para se despedir e ir em direção ao seu carro — Espere! — Martim gritou por ele levantando-se do banco — Eu sou muito idiota, eu também preciso ir embora! Tchau gente! — quase correu para alcançar Hugo. 

 

— E então, — perguntei ao Jake enlaçando meu braço direito no seu esquerdo chamando por sua atenção — acha melhor irmos hoje na casa dos meus avós? 

 

— Ainda não. — me respondeu baixo entre o fôlego usando sua mão direita para acariciar a minha mão enroscada em si.  

 

— Ei, Renesmee! — um deles pediu pela minha atenção. Pela forma como fui chamada, era óbvio ser Cole. 

 

— Sim? — virei meu rosto para a sua direção olhando para os seus olhos claros com curiosidade — O que foi? 

 

— Minha mãe havia me pedido para te perguntar se você poderia ir na casa dela ainda hoje. — me informou — Eu ainda tenho algumas coisas para fazer no portuário, mas antes de ir para lá eu tenho que passar em casa, se quiser, eu posso te dar uma carona. — ofereceu. 

 

Ponderei sobre a carona que me ofereceu. Eu poderia sem problema algum correr até lá, mas a forma como Cole pareceu me contar só agora sobre o pedido da tia Franchesca me fez analisá-lo melhor. Não era surpresa alguma para mim que todos sabiam do conflito interno que ele estava vivendo nos últimos dias, principalmente agora com a chegada da hóspede, pois ele havia tido um breve vislumbre dela no hospital, e através da boca incontida de Thomas eu fiquei sabendo sobre sua estranha curiosidade a respeito dela. Talvez, só talvez ele quisesse comentar algo sobre ela de uma forma distante dos seus irmãos que conseguem ter acesso a cada mínimo pensamento que ele é capaz de ter quando está na forma do lobo. Movi minha cabeça na direção de Jake, transmitindo uma imagem onde eu me via com Cole no interior de um carro, parando na frente da casa da tia Franchesca. Jake apenas assentiu, afastando seu braço dos meus e moveu seus lábios de encontro aos meus deixando-me livre para ir. 

 

 — Quem sabe eu não fique por lá para jantar! — comentei ao Jake e sorri ao apertar meu lábio inferior contra meus dentes afiados afastando-me da sua presença. 

 

 Me despedi daqueles que ainda estavam sentados à mesa e também me despedi dos dois que se ocupavam em lavar e guardar a louça. Segui Cole até seu veículo recente, não deveria fazer nem dois anos que ele havia trocado o modelo da sua caminhonete Dodge, eu preferia falar, que é uma monstruosidade veloz de quatro rodas muito linda, minha sorte é que sou ágil o suficiente para conseguir entrar dentro dela, se fosse apenas humana, seria obrigada a carregar um banquinho para todos os lugares, se eu quisesse subir nisso. Ao contrário do que muitos comentaram por aí, Cole apenas chamava o veículo de “carro”, tirando toda a propriedade e soberania que a caminhonete possui, dessa forma, ele acabava inconscientemente contradizendo as suposições de que ele deveria ser um filho mesquinho. 

 

 — Caramba, olha só esse painel! — comentei empolgada passando meus dedos suavemente sobre o display, enquanto ele dava partida e maneirava o veículo para sair da propriedade Black. 

 

— Pode procurar uma música do seu gosto. Sabe que sou bem eclético para isso. — deixou-me a vontade para mexer. Não precisei que ele falasse mais uma vez e movi meu dedo sobre a superfície sensível, procurando uma faixa que me agradasse. 

 

— Tudo bem... — me acomodei sobre o banco deixando a música soar pelo ambiente por alguns minutos e o olhei com expectativa — Acho que já estamos longe de qualquer ouvido sensível a nossa volta, você pode me contar o que deseja contar Cole. 

 

— Você tem uma perspicácia impressionante... — comentou com seus olhos atentos na estrada. 

 

— Estou pronta para ouvir! — aguardei o tempo necessário para que ele se sentisse confortável para começar a falar. 

 

— Eu ainda não estou confortável com a presença dessa Amberli sendo protegida pela sua família. — pareceu tirar um peso de seus ombros ao me contar — Mas também não posso ignorar o fato de que ela tem uma filha. Pequena. — ressaltou — Eu vi a menina Renesmee, olhei nos olhinhos dela. Me parece um absurdo escutar que ela esteja aqui para se tornar vampira quando me lembro da criança... — soou exasperado — Ela não vai sobreviver. Nem sua mãe conseguiu se manter humana. 

 

— Naquela época não sabiam como ajudá-la direito, agora eles sabem o suficiente para ajudar a Amberli. — comentei tentando transmitir alguma esperança. 

 

—Eu não entendo... —murmurou confuso e soltou um riso. A risada naquele ambiente me pareceu errada, por mais que não houvesse humor algum no som. 

 

— O que você não entende? — perguntei quando o carro entrou em uma área da estrada em que uma chuva forte caia. Cole ligou o limpador do para-brisa. 

 

 — Eu tenho vontade de conhecê-la. — desviou seus olhos da estrada por um momento para me olhar e admitir isso — Eu me sinto inquieto por não ter captado sua essência antes, por... — tragou uma longa respiração — por não ter nem percebido que ela não é residente das proximidades... — pareceu frustrado consigo — Eu não sei... Talvez seja o lobo querendo estar a par de tudo agora. Sinto como se ele quisesse se impor até nas decisões finais dos meus negócios. 

 

— Esses momentos têm se tornado estressantes, — arrisquei — por isso acha que sua parte lobo queira intervir. Estão sensíveis um ao outro, e não é só você que está curioso para ver de perto a mulher corajosa que se dispôs a manter essa gravidez. Eu também estou e acredite, eu queria já ter ido direto para a casa dos meus avós. Você foi o único sortudo até agora, sabia?! 

 

— Mas não vi seu rosto, ela estava de costas. — quase resmungou. 

 

— E eu não vi nada. — gesticulei — Nem sei qual é a cor do cabelo dela. 

 

— É castanho quase escuro; curto, mas nem tanto. — me informou no mesmo instante, mas ainda assim eu percebi que não havíamos entrado na questão que parecia perturbá-lo. 

 

O veículo foi conduzido na entrada da rua onde fica sua casa. Era uma rua sem saída e bem silenciosa como todas as outras já que a chuva limitava o tempo de as pessoas aproveitarem seus jardins. Na minha opinião a casa dele era a mais bonita, o que fez com que os outros moradores quisessem melhorar as suas depois que eu consegui convencê-lo de uma reforma incrível ali. Cole estacionou no meio-fio bem rente a sua calçada e olhou para mim. 

 

— Vai querer entrar? — me perguntou recolhendo um pequeno molho de chaves. 

 

— Claro! — aceitei na hora. Cole abriu sua porta e saiu da caminhonete. Olhei para fora, percebendo que a chuva não estava tão intensa como antes. Abri a minha porta também e saltei para fora do veículo enorme — Eu não vou perder a oportunidade de saber se está mantendo a decoração intacta. — segui atrás dele na direção da entrada. 

 

— Não vou te dar grandes decepções. — comentou destrancando a porta — Ainda se lembra de como funciona o sistema de segurança, não é? — perguntou antes que pudesse abrir passagem. 

 

— Não é a primeira vez que entro aqui. — revirei meus olhos — E fui eu que te passei o código. — passei por ele num piscar de olhos e entrei na casa chocando meu corpo no ar abafado. Não usei mais do que um segundo para desativar o sistema incrível de segurança que a minha avó havia contratado para ele. Depois de dois segundos a porta da entrada foi fechada e Cole parou aos pés da escada me olhando como se estivesse entediado — Me lembro bem mais do que as funcionalidades do sistema, não acha?! — movi minhas sobrancelhas para cima soltando um risinho. Cole apenas moveu os cantos dos lábios num sorriso curto. Olhei para o ambiente ao redor, percebendo que até ali, tudo estava exatamente do mesmo jeito que eu e minha avó projetamos — Nada produtivo. Nem mesmo uma nova sugestão de cores... — reclamei movendo meus lábios de um lado para o outro num bico. Agora Cole se permitiu a soltar uma risada — Não gostei. — muxoxei. 

 

— Eu te avisei, nada de decepções. — manteve um olhar calmo sobre mim ao mostrar-me com as mãos todo o ambiente. 

 

— Mas eu estou decepcionada! — expressei minha insatisfação. — Tá. — traguei o ar quente do ambiente para os meus pulmões — Você disse que vai voltar ao trabalho e a sua mãe me quer lá ainda hoje. Eu vou dar uma olhada por aqui enquanto eu te espero. — me referi à sua sala a minha esquerda. 

 

— Fique à vontade. Talvez você consiga encontrar bastante novidade na minha dispensa. Nisso eu posso te garantir que são produtos recentes. — fez questão de soltar um riso pelas narinas — Eu volto logo. — sumiu pelos degraus da escada. 

 

Virei-me disposta a achar alguma coisa que estivesse diferente ou que fosse novidade em todo o trabalho que as demais mulheres da minha família se dispuseram a realizar ali com cores neutras e claras, mas Cole estava certíssimo em dizer que se minha análise fosse contrária eu estaria muito contente pela sua extrema organização. Eu não chegaria a bater palmas por isso, até porque eu sei que essa casa vive mais vazia e fechada do que sendo devidamente apreciada e habitada. Caminhei por entre os móveis claros idealizados a estarem exatamente ali. Apreciei a pintura pendurada sobre o sofá que fica de frente com a lareira. O barco bem pintado com traços suaves é um dos poucos objetos pessoais de Cole pela casa além dos retratos posicionados timidamente entre as extremidades da janela dupla que iluminava tão bem o ambiente. A pintura ornava muito bem com sua moldura, algo simples e bonito que apesar de não ser um quadro grande, chamava a atenção pelos contrastes de azuis do mar e céu na paisagem que pareciam amenizar toda a tonalidade clara que o cômodo possui.  

Caminhei para o conceito aberto entre a cozinha e o espaço mais casual propenso ao lazer. O local fora meu ambiente favorito para ajudar minha avó a idealizar cada material que estaria vivificando o ambiente. Me lembrava perfeitamente dos minutos debatidos a respeito de qual madeira escolheríamos para o chão e até mesmo qual textura seria ideal para contrastar com a pedra da ilha, com as luminárias penduradas estrategicamente ali em cima sem que pudesse atrapalhar a visão de quem fosse sentar nas banquetas. Foram tantos detalhes que eu não limitava palavras para expressar o quanto a obra havia sido bem planejada e sucedida graças ao bom orçamento investido por Cole. Andei até a área reservada onde estava a sala de jantar abrindo a porta veneziana que delimitava o lugar para examinar tudo, era um pouco irritante ver as coisas através dos vidros, por mais limpo que ele possa estar. Fechei a porta e dei meia volta, caminhando para a cozinha novamente desconsiderando a opção de ver como estava a dispensa ouvindo os passos de Cole descer os degraus da escada e entrar em seu escritório. Mantive meus passos até parar de frente a porta da geladeira, abrindo-a e pegando uma garrafa de vidro cheia d’água. Deixei a garrafa sobre a pia e peguei um copo dentro de uma das prateleiras dos armários. Enchi meu estômago com dois copos de água, a baixa temperatura do líquido possuía a capacidade de causar um refrigério momentâneo na ardência da minha garganta, me avisando que eu teria que caçar dali a poucos dias. Continuei por ali mesmo, com o olhar vago com meus braços encostados sobre a pedra de granito, pensando no momento em que Cole me chamaria. 

 

Talvez eu tenha ficado na mesma posição por uns oito minutos ou mais ouvindo cada movimento que Cole fazia num cômodo próximo. Movi meus olhos para a garrafa de vidro transpirando ao meu lado e resolvi guardá-la de volta na geladeira. Enxaguei o copo e o deixei sobre a calha húmida e sequei minhas mãos no tecido da minha roupa mesmo. Nos segundos seguintes, ouvi a porta do escritório ser aberta e os passos de Cole tornaram-se cada vez mais próximos. Ergui meu olhar para as luminárias acima da ilha, indecisa em perguntá-lo mais uma vez sobre o que estava atormentando-o. 

 

— Você está com medo? — o som da minha voz reverberou entre nós quando eu o encarei ainda da sala. 

 

O ritmo dos seus passos não se desacelerou e apenas parou quando assentou suas mãos tensionadas sobre a ilha. Suas pálpebras piscaram com calma enquanto continuávamos a nos encarar. 

 

— Está temendo pela vida dela? — insisti em saber franzindo a sobrancelha em confusão. 

 

— E você não está? — jogou a pergunta de volta. Ergui minha sobrancelha de modo inquiridor. — Não tem como ela sobreviver a isso Renesmee. — pontuou firme. Não rude ou estúpido, mas firme. Suas mãos tensas deram sinais de que logo começariam a tremer, dando leves espasmos — Sua mãe é a única existente e isso só foi possível por causa do veneno. Veneno. Transformação. Ela só está viva porque foi transformada em vampira nos últimos segundos possíveis, nada mais do que isso. Nada milagroso. — sua respiração saiu forte e ruidosa pelas narinas. Parecia transtornado apenas por pensar nisso. 

 

— Ela vai sobreviver. — o respondi torcendo para que minhas palavras soassem como um mantra. — Minha família sabe como proceder, sabem do que o bebê mais necessita. Velaremos pela vida dela até onde a medicina for possível. — elaborei rapidamente uma explicação — A saúde da minha mãe ficava cada vez pior porque eu precisava ser suprida com sangue e ninguém sabia, então o corpo dela priorizava meu desenvolvimento, e isso gerava uma escassez para a minha mãe pois não conseguiam repor. Agora vivemos em outro tempo, meu avô sabe o que precisa administrar no funcionamento do corpo dela para que não aconteça nenhuma desestabilização durante os dias gestacionais. — o informei certa das minhas palavras. — Você precisa confiar na competência da minha família da mesma maneira que ela está confiando. — continuamos a nos encarar por alguns segundos.  

 

Suspirei e saí da posição em que estive, desviando meus olhos dos seus movendo meu corpo pela sua cozinha deixando-o livre para absorver o que eu havia falado e torcendo para que isso fosse o suficiente. Parei de frente aos nichos que havia na lateral da ilha e peguei um pote onde havia uma vasta diversidade de coockies. Abri o recipiente, verificando se as guloseimas estavam válidas para consumo e enfiei a mão dentro do pote para pegar alguns. Eu brinquei com o alimento enquanto esperava algum manifesto de Cole, me entretive em jogar os coockies dentro da minha boca, não errando nem uma vez e só parei de comê-los quando percebi que já não havia mais nenhum dentro do pote. Levei meus olhos para o homem que continuava imerso em seus pensamentos e fechei o pote colocando-o de volta ao nicho. 

 

— Se pretendia me convencer com isso, sinto te deixar decepcionada mais uma vez. —  foi ríspido ao me responder. Olhei-o com cuidado, medindo seu temperamento oscilante — Não estou convencido, na verdade não consigo nem acreditar que essa mulher esteja convencida disso. Ela sabe o que aconteceu com sua mãe? — insistiu com aquilo. 

 

— Cole... — arrastei seu nome por meus lábios sem entender sua teimosia em apenas aceitar — Ela vai sobreviver, minha família fará o possível para isso... 

 

— Não é o suficiente para mim! — me cortou movendo suas mãos exasperadamente. Nem pareceu perceber que havia se movido — Me convença de outra maneira! — teria parecido um pedido se ele não tivesse soado tão grosseiro. 

 

—  Não preciso te convencer. — apertei minhas pálpebras tentando não me irritar com tudo aquilo. Ele não precisava da minha irritação, apenas compreender que eu conseguia entendê-lo — Só precisa aceitar. Apenas tivemos aquela reunião para que soubessem a finalidade dessa humana na cidade, quem decide sobre manter a gravidez ou não é ela. Se ela não quis interromper, nenhum de nós temos o direito de intervir, da mesma maneira que continuaríamos sem esse direito se ela mudasse de ideia e preferisse interromper a gravidez. Não podemos nos impor, apenas apoiá-la. Sei que está preocupado com ela. — respeitei sua condição — Estou surpresa por você estar assim, mas nós também nos preocupamos com Amberli. — referi à minha família.  

 

Cole me olhou como se eu fosse um alienígena, cético de minhas palavras e compreensões. Parecia incerto com seus próprios pensamentos, e vendo-o assim, eu entendi o que ele quis dizer em ter o lobo tomando controle de suas ações; mas eu não sabia qual deles estavam ali. Quem era o preocupado? Quem era o cético? Me afastei do balcão da ilha com receio, tudo era tão rápido e caótico quando um metamorfo vai ao seu limite, que num piscar de olhos lá está o imenso corpo de um lobo irrompendo em cólera e frustração. Movi meus lábios de um lado para o outro num beicinho pensando na melhor maneira de acalmá-lo. Me arrisquei em verbalizar a primeira ideia que surgiu em meus pensamentos: 

 

 — Meu avô evitará a chance de vê-la padecer por causa da filha. Minha avó jamais se perdoaria. —  isso pareceu ser o suficiente para trazê-lo para um ambiente mais lúcido. Seus olhos claros voaram na direção dos meus e não vacilei em manter meus olhos sóbrios sobre os dele, Cole parecia atribulado de uma forma esquisita, eu não conseguia compreender sua cabeça dura — Os Cullen não medirão esforços para que tudo termine bem. Sei que esteve pensando nisso desde o dia em que a viu no hospital, deve estar exausto em busca de solução... Mas tente não se preocupar, sua avó mesmo nos apresentou a opção de estarem conhecendo-a e acredito que minha família entenderá... Meus avós não fecharão as portas para vocês se isso os deixarão mais tranquilos... — não medi minhas palavras, apenas deixei que elas saíssem pelos meus lábios. 

 

 — Preocupação? Desde quando eu me preocupo com alguém que nem conheço, Renesmee? — Cole saiu de trás do balcão parando a um passo de mim — Eu não tenho a mínima vontade de saber a respeito daquela mulher. — contradisse. Ergui uma sobrancelha não entendendo mais nada — Meu pensamento é simples: se ela não faz parte da tribo, se não tem nenhum laço quileute, não faz parte da minha vida. — moveu os braços querendo encerrar o assunto. 

 

 — Eu faço parte da tribo, sou um imprinting... E a vida de Amberli agora está atada com a minha família, nós querendo ou não. — respondi o mais suave possível. Aproximei-me dele — Nem a conhecemos! Não podemos julgá-la como estiveram fazendo! Eu te conheço desde que nasceu, estive pisando nesta terra, nestas areias antes mesmo de sua mãe ser concebida. Por favor Cole, não torne tudo mais difícil, eu sei que não é assim. — mantive meus olhos nos seus. Eu sempre achei curioso a tonalidade de seus olhos. O único quileute que possui a junção da cor castanho e verde nos olhos. O único. 

 

 — Não é isso... — recuou sua postura soltando um riso entredente, soando angustiado — Você não sentiu o cheiro dela na mente do Embry mesmo com a diferença entre o ambiente do hospital e a mansão da sua família. Eu senti, eu me mantive longe da mansão dos seus avós apenas pelo receio do que poderia encontrar. — olhou-me de cima — Eu te admiro muito baixinha, não force a barra. — encerramos o assunto mesmo que eu tivesse muitas perguntas causando uma comichão na garganta por não as fazer. — Vamos, minha mãe ainda precisa de você para alguma coisa. — afastou-se de mim e deu meia volta caminhando na direção da entrada. Segurei um cacho entre meus dedos, soltei o ar que antes parecia estar preso em meus pulmões e segui para o mesmo caminho. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sempre ao seu Lado" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.