Nós escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 2
Monitoria


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de clichê nesse capítulo, porque é sempre bom.



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Não seria difícil encontrar Kakashi. Ela sabia para onde ele ia aos intervalos: para a parte norte do campus. E foi para lá que se dirigiu. Estava quase chegando ao prédio do primeiro laboratório quando deu de cara com Asuma, o treinador do time de natação, enquanto o mesmo fumava um cigarro.

Aproximou-se silenciosamente enquanto ensaiava mentalmente o que diria para convencer o professor de matemática a não reprová-la. O treinador assustou-se com a presença da aluna e jogou o cigarro no chão e pisou nele fazendo questão de mantê-lo escondido em baixo do pé, deus duas tossidas e abanou o ar antes de cumprimentá-la. Sakura fingiu não ver o cigarro.

A verdade é que todo mundo sabia que Asuma era fumante compulsivo, o que ninguém sabia era como ele conseguia ser treinador de um time de natação tendo os pulmões tão malcuidados.

— Sakura, olá. O que faz por estas bandas? — o Sarutobi perguntou. De fato, ela não costumava circular por aquela parte do campus, as quadras de esporte e a pista de corrida ficavam para o sul. Ali era onde ficavam os laboratórios e, claro, os nerds.

Sakura o olhou como se fizesse a mesma pergunta, mesmo já sabendo que ele ia ali para fumar escondido.

— Oi, treinador. Eu só vim conversar com o professor Hatake sobre a última aula dele.

— Ah, sim. Ele com certeza está enfurnado em uma daquelas salas. Bem, eu já estava indo. Só vim aqui para... Você sabe, relaxar.

— Claro — ela concordou segurando o riso diante do embaraço do mais velho — Então, até mais. — Acenou e foi em direção ao prédio. Sabia que ele não sairia primeiro por estar pisando no cigarro. Soltou uma risada quando, pelo canto do olho, viu que ele se abaixou, pegou a guimba e, olhando para todos os lados, saiu desconfiado.

Seu sorriso logo se desfez quando entrou no prédio. Pois se deu conta de que não fazia a mínima ideia de para onde ir. Desde seu segundo semestre no primeiro ano de faculdade (quando riscara toda e qualquer matéria de Humanas de seu horário) que ela não ia àquele laboratório e não lembrava onde era a sala de Kakashi ali. Avançou o corredor comprido e decidiu que o melhor a fazer seria ir olhando de porta em porta até acertar a do professor.

A primeira da direita estava vazia, a da esquerda além de vazia estava trancada, a segunda da direita também estava vazia assim como a segunda da esquerda, e ambas as terceiras e quartas de ambos os lados. Acabara de olhar a decepcionante falta de gente na quinta da direita quando ouviu um barulhinho. Vinha da quinta da esquerda. Sakura se aproximou da porta rezando para encontrar Kakashi comendo seu atum.

Olhou pela janelinha de vidro e viu uma pessoa. Mas não era seu professor e tampouco comia atum.

Com certeza era um aluno, ele estava escrevendo algo no quadro alternando entre pincéis pretos e vermelhos. Seus ombros mexiam sob o jaleco que usava, conforme ele ia escrevendo rapidamente com jeito de quem já sabia a resposta na cabeça e só estava a passando para o quadro. Era igual à garota da aula de matemática. Outro nerd.

Sakura cogitou seguir em frente e continuar com sua busca. Se o cara fosse mesmo um dos que sentavam nas primeiras fileiras, ele com certeza não a ajudaria. Mas quando olhou para o corredor e viu que ainda havia uma dezena de portas e corredores resolveu arriscar. Girou a maçaneta e entrou hesitante, não duvidaria que ele jogasse ácido em sua cara por atrapalhar seu cálculo.

Fechou a porta e manteve-se encostada na mesma, pronta para sair correndo e desviar de provetas cheias até a boca de soluções, que ela nem saberia falar o nome, ao perceber que ele estava fazendo experimentos.

No entanto, o garoto continuou escrevendo como se sequer a tivesse notado. E Sakura soube que era exatamente isso quando viu o olhar de surpresa dele quando terminou o cálculo e se virou para folhear um caderno que estava na mesa mais próxima.

De início ele a olhou de olhos ligeiramente arregalados, depois os mudou para um cenho franzido. Seus olhos negros transbordavam extrema confusão.

— Oi — ela se viu obrigada a falar — Eu estou meio perdida aqui, sabe. Queria encontrar o Kakashi. Tenho um assunto urgente e de extrema importância para resolver com ele, mas eu não faço ideia de onde ele está. Você sabe onde é a sala dele? Poderia pelo menos apontar a direção ou algo do tipo? — Falou de forma rápida. Se iria mesmo receber uma negativa de ajuda teria que ser logo. Ela queria encontrar Kakashi antes que o horário do almoço terminasse.

Ele continuou a encarando e ela se sentiu uma idiota. 'Será que ele é lesado, ou sei lá o que?' pensou consigo, deu uma olhadela para o quadro atrás dele e percebeu que algumas expressões eram bem parecidas com as da aula de Kakashi, só que bem menores. 'Não mesmo. Se ele é um lesado eu sou uma nadadora profissional. Certo, vou tentar novamente.'

— Então? A sala do Kakashi. Você pode me ajudar? Por favor. — Pediu com mais calma. Ele acenou rapidamente e fechou o caderno. Quando ela estava prestes a abrir a porta e sair esperando que ele a acompanhasse, tudo o que ele fez foi sentar na carteira onde estavam os objetos com soluções e começar a mexer neles.

A Haruno estava estupefata. 'Ai meu Deus, ele vai mesmo jogar coisas em mim!' girou a maçaneta ainda de costas para a porta e já ia sair de fininho quando a porta foi empurrada contra ela que se afastou da mesma e reprimiu um grito de susto. Soltou um grande suspiro, era o Hatake entrando no laboratório.

— Sakura? O que faz aqui? — Perguntou seguindo para perto do outro aluno. Sakura havia esquecido completamente o que havia ensaiado. Partiu para o plano B. Iria implorar.

— Eu... Eu...— Começou incerta, aproximando-se dos dois. Ainda não confiava no estranho. Será que ele espalharia para o seus outros amigos inteligentes a cena dela implorando para não reprovar?

Kakashi estava meio abaixado verificando o que parecia ser o experimento do estranho, mas logo levantou a cabeça para encará-la com uma sobrancelha arqueada.

— Você?

Ela venceu a distância entre eles e ficou ao lado do professor de frente para a mesa onde o cara estava sentado. Não se importava em implorar para não ser reprovada ne frente de outra pessoa. Ele não a conhecia mesmo.

— Professor. Me desculpe. Me desculpe. Me desculpe. Eu não devia ter dito aquilo na sua aula. Eu... Eu nem sei porque você me escolheu, sabe que sou péssima em matemática. Mas não me reprove, por favor, por favor. Juro que vou prestar mais atenção nas alas e participar e perguntar e... E posso até sentar lá na frente se for preciso... — A última frase saíra sem muita convicção. Sakura estava apelando. Percebeu que o garoto estranho estava a olhando de cenho franzido e olhos apertados como se estivesse concentrado em algo, mas ao ver-se sendo observado desviou os olhos para Kakashi.

O professor inspirou duas vezes. Sentou-se na beirada da mesa e apontou para que ela sentasse na cadeira ao lado do outro aluno.

— Aceito suas desculpas, Sakura. E sim, eu sei do grau de dificuldade de cada aluno meu, e do potencial também. E é por isso que escolhi você. A intenção era explorar essa dificuldade e transformá-la em curiosidade. — Levantou-se e ficou de pé de frente para os dois, alternando o olhar entre um e outro. Apontou para o quadro atrás dele, sem se virar e continuou.

— Sabe o que é isso, Sakura? — Ela olhou novamente para os números e letras dispostas no quadro. Eram, de fato, muito parecidas com as de mais cedo, mas não saberia dizer com certeza, aqueles números eram todos iguais para ela. No entanto, quando chegou à parte de baixo e viu o resultado resolveu arriscar uma resposta.

— Acho que é a mesma questão que você passou pra gente. Ou pelo menos metade dela. — Disse. Kakashi sorriu.

— E como chegou a essa conclusão?

— Bem, foi o resultado, sabe. É o mesmo resultado do cálculo da aula.

Kakashi bateu palmas. Sakura sorriu, ela havia acertado.

— Muito bem, senhorita Haruno. Você está certa e errada.

Seu sorriso murchou. Iria passar pelo mesmo constrangimento duas vezes em um só dia?

— Estou?

— Você está certa quanto a questão, é a mesma. E está errada ao pensar que está incompleta.

— Mas você usou quatro quadros!

— Exatamente! Sua mão cansou? — Sakura apenas assentiu — E não teve a curiosidade de saber por que aquela questão era tão absurdamente grande? — ela negou, e olhou de esguelha para o outro aluno, ele a observava. — Aí é que está! Em vez de tentar descobrir se era possível diminuir a questão, ficou reclamando com a colega do lado.

Sakura novamente apenas concordou. Se ela precisava ouvir aquele sermão para não ser reprovada, então ela ouviria.

— O seu problema está na falta de atenção, Sakura. É por isso que a matemática é rotulada como sendo difícil pela maioria dos jovens. Falando em jovens, deixe-me apresentá-la: este é Sasuke Uchiha, meu novo assistente de laboratório.

Sakura olhou para o cara que agora tinha nome. Ele apenas acenou e sorriu um pouco.

— Acredito que vocês não se conheçam. Ele está na turma de matemática avançada. Sabe, depois de sair da sua aula, vim para cá me encontrar com Sasuke e comer meu atum em paz. Enquanto eu saboreava a deliciosa culinária da Sra. Dogers contei toda a decepcionante aula da qual estava vindo naquele momento. Ele prestou atenção pacientemente na minha história...

A cabeça de Sakura estava uma bagunça: o Sasuke era um gênio que ela nem sabia que existia e Kakashi havia contado a ele do ocorrido. Ela nunca se sentira tão burra quanto naquele momento ao ver-se na presença de um professor de matemática e um aluno de cálculos avançado.

Sentiu uma beliscada na testa. Era o professor a cutucando com a ponta do lápis. Ele tinha um negócio com aquele lápis!

— Está prestando atenção no que estou falando, Sakura?

Ãn, sim. Sim. Estou.

— Certo. Então eu pedi educadamente para Sasuke vir a esse laboratório fazer isso — apontou novamente para o quadro — E quando chego me deparo com isso — apontou agora para a mesa com o experimento — O Sr. Uchiha não só reduziu a equação para apenas um quadro como também conseguiu aplicá-la na prática. Sabe o que é isso? — Sakura não fazia ideia, e Kakashi sabia disso e não esperou por sua resposta — Isso é resultado de atenção e curiosidade.

— Tá mais pra inteligência. — Ela resmungou.

— Também. Mas todos nós somos dotados de inteligência. Por isso não vou reprová-la. Sei que pode evoluir e se dar bem em minha matéria.

A Haruno quase deu um pulo da cadeira. Ela não ia ser reprovada, não iria ter que fechar a matricula e ainda participaria das estaduais com a equipe de torcida.

— Obrigada, professor.

— Mas, para isso vou lhe agendar uma monitoria.

— Com quem?

— Está bem ao seu lado, querida. Seu monitor de matemática será o Sasuke.

— Mas eu nem conheço ele.

— Melhor ainda, além de aprender ainda vai ganhar um amigo.

Sakura duvidava que eles se tornassem amigos.

— Além do mais não terá a mínima chance de vocês perderem tempo com conversas banais.

A Haruno estava prestes a protestar quando algo muito, muito curioso aconteceu e a deixou de boca aberta. Sasuke começou a fazer sinais frenéticos com as mãos, direcionando-as para o Hatake. O professor apenas assentiu e depois que Sasuke baixou as mãos ambos olharam para ela.

Kakashi, percebendo a confusão da aluna tratou de explicar.

— Ah sim, esqueci de falar esse pequeno detalhe: Sasuke é surdo e se comunica através da fascinante linguagem de sinais.

A garota estava sem palavras, mas não pelo fato de ele ser surdo. O problema era que ela não fazia ideia de como se comunicar através de sinais. Como iria aprender matemática se nem poderiam se comunicar?

— Mas... Mas professor, como ele vai conseguir me ajudar se não entenderemos nada do que um fala para o outro?

De repente Sasuke começou a sinalizar novamente. Sakura o olhava, fascinada, ele movia as mãos de forma tão rápida. Kakashi soltou uma risadinha quando ele terminou.

— Ele consegue ler os lábios das pessoas às vezes, mas disse que você fala tanto e tão rápido que o deixa tonto.

— Como? — Ela questionou olhando-o de cara feia. O Uchiha apenas deu de ombros.

— Bem, vejo que já estão interagindo. — Kakashi disse tanto em palavras quanto por sinais.

— Você sabe! Poderia me ensinar? Para melhorar a comunicação.

— Ora, pra quê professor melhor que um expert? Peça a ele.

O sinal tocou no meio de um protesto de Sakura.

O professor bateu no ombro de Sasuke e levou o dedo indicador ao ouvido depois falou com a Haruno:

— O horário do almoço terminou. Vá antes que se atrase para sua próxima aula. Passe aqui amanhã depois do seu último horário para eu distribuir os assuntos a serem estudados. Adeus.

E depois desta dispensa, Sakura saiu imaginando se realmente havia escapado de uma reprovação.


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