Nós escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 18
Detalhes


Notas iniciais do capítulo

Eu não sou muito ativa nesse site, por isso dificilmente respondo os comentários...

Mas saibam que são graças a eles que mesmo não sendo ativa, eu continuo vindo atualizar a história sempre que tem capítulo novo.

Muito obrigada, eu posso não responder, mas leio todos e fico muito feliz ❤



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Quem via uma Sakura empolgada se preparando no camarim do teatro para sua apresentação, não imaginaria o quão corrido foram os últimos dias dela.

Infelizmente não conseguira um dia sequer de monitoria com Sasuke, pois ele continuava empenhado em seu projeto, afinal o Uchiha também era um estudante e tinha seus afazeres. A única comunicação que tiveram foi por meio de mensagem onde ela o convidou para aquela noite.

Não sabia se ele realmente iria, mas o mesmo garantiu que estaria lá.

Sua confirmação foi uma mensagem dele avisando que havia chegado, Sakura estava tão nervosa que apenas respondeu com um emoji da mão dando joinha. Depois  desligou o aparelho e o jogou na bolsa.

A Haruno se encarou no espelho e respirou fundo. Aquele dia não era importante apenas por ser sua última apresentação de grande público em longos trinta dias. A questão era que Sasuke não havia sido a única pessoa que ela convidara...

— Você está maravilhosa! — Kurenai exclamou atrás da Haruno, e a mesma a encarou pelo reflexo do espelho.

— Obrigada. — Sakura sorriu e focou nela mesma.

De fato, a maquiagem que a professora fizera estava impecável, as pérolas e purpurina davam um ar angelical no rosto da moça, e seu cabelo combinara perfeitamente com o todo o contexto, tornando o figurino harmonioso.

Ela não tinha problemas de autoestima, mas também não se via como uma pessoa maravilhosa esteticamente. No entanto, naquele momento, sentia-se deslumbrante.

Parecia até que Sakura havia nascido para ser uma sereia.

— Já tem muita gente? — Indagou virando-se para a professora.

— Estão começando a chegar, logo via estar cheio. — Ela pegou as mãos de Sakura nas suas. — Você vai se sair bem, todos vão, tenho certeza!

Então uma Kurenai empolgada saiu pegando as mãos de todos do camarim, que literalmente se transformara em um mar de sereias e tritões, e lhes dando palavras de incentivo.

Ao se ver livre, Sakura saiu do compartimento e foi dar uma espiada pela cortina lateral do palco.

Logo que seus olhos bateram em Sasuke sentadinho em seu lugar, Tayuya apareceu ao lado da Haruno, e tentou olhar para onde a amiga tanto encarava, foi então que a ruiva também avistou o Uchiha e de pronto o reconheceu.

A garota, que tinha a produção igual a sua, exceto que sua cor era vermelha, cutucou Sakura com o cotovelo, um sorrisinho sacana no rosto.

— Então, seu “quase-amigo-gay” veio?! —  A forma que falara deixava claro que não acreditou no que Sakura disse na outra noite. — Interessante... Não sabia que você era tão territorialista. — E saiu, mas ainda sorrindo.

Sakura franziu o cenho, era não era terriorialista com seus amigos, apenas fora naquela ocasião em específico, ao dizer para Tayuya que Sasuke era gay.

Afinal. como pensara naquela noite, Tayuya e Sasuke juntos estava fora de questão. Eles não combinavam em absolutamente nada e qualquer um podia ver isso.

[...]

Sasuke chegou e foi direto para seu lugar que Sakura havia reservado para ele, era na terceira fileira, bem de frente para o palco.

Achou muito amável o gesto dela escolher a cadeira do corredor, pois caso ele precisasse sair por qualquer motivo, não precisaria incomodar ninguém.

Como as pessoas ainda estavam chegando e tomando seus assentos, e os artistas se preparavam no camarim, as luzes permaneciam acessas, então ele sacou o celular para avisar a ela que já havia chegado. Após respondê-lo com um joinha ela ficou offline e Sasuke resolveu deixa-la se preparar em paz.

Mais minutos se passavam e mais pessoas iam chegando e o local ficando lotado, a cadeira do seu lado esquerdo continuava vazia.

Mas isso não durou por muito tempo.

Seria difícil dizer quem ficara mais surpreso quando o ocupante da cadeira vazia chegou. Naruto sempre fora o mais expressivo dos dois, então foi o primeiro a demonstrar a surpresa ao procurar seu assento que Sakura reservara e dar de cara com Sasuke.

O Uchiha não o notou de imediato, pois olhava para uma área do palco, no entanto o Uzumaki teve que se fazer presente, afinal tinha que passar pelo moreno para poder sentar-se, uma vez que a cadeira de Sasuke era a primeira do corredor.

Maldita Sakura!

Ele nem sabia que a Haruno e o Uchiha eram tão próximos assim.

Quando ela o convidou, toda serelepe, para sua apresentação, Naruto não imaginara que a mesma tentaria reaproxima-lo do antigo amigo.

É certo que contou o passado deles para que ela não cometesse seus mesmos erros, no entanto...

Mesmo que tenha se passado tantos anos, Naruto ainda não sabia como agir com Sasuke. Ele sempre fora difícil de decifrar, mas podia apostar que a última coisa que o Uchiha queria era sua presença em sua vida novamente.

O Uzumaki estava tendo uma discussão interna consigo mesmo que nem notara que Sasuke levantou de seu assento e lhe dado espaço para ir para o dele. O Uchiha estava no corredor em pé ao seu lado, ele levantou que Naruto nem viu! Nem pôde ver qual fora a reação do Uchiha ao vê-lo ali.

O loiro tomou seu lugar e não desgrudou os olhos do palco até que a apresentação começou.

...

O elenco mal entrou em cena e Naruto sentia que poderia explodir tamanha tensão que sentia.

Algumas luzes já estavam sendo apagadas e ele podia apenas ver o rosto de Sasuke parcialmente. Imaginara se o Uchiha estava desconfortável tanto quanto ele. A última coisa que queria era deixa-lo desta forma.

Desculpa, Sakura, mas não dá! Pensou o Uzumaki consigo e então fez menção de levantar.

Sasuke segurou seu braço, fazendo-o olhá-lo.

Como estavam na terceira fileira, a luz azulada que vinha do palco causava claridade o suficiente para que Naruto enxergasse o que Sasuke sinalizava:

— Ela se preparou muito para hoje, apenas seja um bom amigo e assista a apresentação.

Seja um bom amigo como você não foi para mim. Naruto pensou, mas, observando a expressão de Sasuke, não notou nenhuma segunda intenção em seu olhar enquanto gesticulara.

Aquilo não surpreendeu Naruto, afinal Sasuke era melhor que ele até nesse sentido. Não havia maldade no Uchiha, nunca houve.

Naruto queria dizer que sentia muito, que era imaturo e que jamais faria aquilo se tivesse outra chance. Queria voltar no tempo, para aquele dia na casa da árvore, pegar seu eu do passado e sacudir-lhe os ombros até fazer-se entender o quão errado era aquilo.

Que o que chamavam de brincadeirinha tinha o poder de destruir a infância de uma pessoa. Queria dizer para seu eu do passado esquecer o orgulho e ficar ao lado do seu melhor amigo quando ele mais precisou ao perder os pais.

Queria pedir desculpas.

Coisa que a covardia fizera-o adiar todo esse tempo.

Mas aquele era mesmo o momento? Sentia que teria tanto a gesticular que talvez ali Sasuke sequer fosse conseguir acompanhar.

Bem, ele tinha que tentar. Estava se preparando para começar os gestos quando o próprio Sasuke o surpreendeu, virando-se para ele e gesticulando:

— Eu só precisava de amigos lá.

Precisava de você.

— Eu pensei que você me odiasse.

Sasuke negou, um olhar triste. Era uma tristeza antiga, que não mais o afetava tanto, mas que ainda estava lá.

Tanta coisa acontecera depois daquela noite, tudo desabara sobre sua cabeça de uma vez, e até àquele momento ainda havia escombros daquele desabamento sobre si.

— Você era meu melhor amigo. Éramos crianças, nem sabia o que era ódio.

— Eu sinto muito. — Naruto gesticulou vagarosamente ainda olhando para o palco, mas então virou o rosto para o Uchiha e o olhou nos olhos. —  Eu sinto muito por tudo.

Continuaram se olhando por um breve segundo, porém enquanto gesticulava, Sasuke virou o rosto para o palco, seus olhos buscando a sereia cor de rosa.

— Eu também.

Depois nenhum dos dois fez menção de tentarem se comunicar.

Apesar disso, Naruto sentia-se mais leve e não como se fosse explodir.

[...]

Sasuke não se deu conta quando os expectadores começaram a bater palmas.

Só percebeu que a peça havia terminado quando os atores deram as mãos fazendo uma fileira na beira do palco e curvaram-se, então as pessoas ficaram de pé e bateram palmas.

Foi puramente intuitivo, o Uchiha ergueu os braços com as mãos abertas e girou as palmas para frente apara trás, quase como fazemos quando estamos na pia e secamos a mãos sem o auxílio de um pano.

Ele não sabia se Sakura estava vendo ou se entenderia, mas quela era sua forma de aplaudir, sempre fora assim.

A cortina se fechou, as luzes do teatro se acederam, e então começou a movimentação intensa das pessoas saindo de seus assentos e indo em direção as quatro portas de saída.

O Uchiha decidiu manter-se em seu lugar, até receber um sinal de vida de Sakura.

Ele recebeu, tão logo a multidão se movia no corredor ao seu lado, seu celular vibrou com a chegada de uma mensagem:

“Você pode me esperar? Já estou quase saindo.”

Enquanto lia, sentiu um aperto leve e familiar em seu ombro, mas quando ergueu a cabeça, Naruto já estava no outro corredor, junto das demais pessoas, indo em direção à saída.

O loiro não olhou para trás.

Sasuke Voltou sua atenção para o celular, digitou um rápido “OK” e ficou no aguardo.

...

O teatro já estava quase vazio quando Sasuke sentiu uma mão em seu ombro, um aperto mais leve e menos familiar. Olhou para cima, avistando uma Sakura sorridente. Seu olhos brilhavam tanto quanto a purpurina em seu rosto.

Ela ainda estava com aquelas pedrinhas grudadas no rosto como da outra vez, só que de uma forma bem mais elaborada. Havia despido da caracterização da apresentação e agora estava com uma blusa grossa de mangas longas e calça legging. Seu cabelo estava solto, mas ainda havia brilho nele. A maquiagem continuava intacta.

A Haruno não era a personagem principal, a da garota que fazia o papel era muito mais cheia de adereços, no entanto, mesmo assim Sakura estava parecendo uma criatura mítica e hipnotizante.

Seus olhos pareciam ainda mais verdes e vacilantes.

Ela estava nervosa, mas dessa vez era por um motivo diferente; da primeira vez foi porque eles ficaram sozinhos e ela não sabia absolutamente nada na Língua de Sinais, desta vez era o contrário, queria mostrar para ele tudo o que havia aprendido com Naruto.

Sasuke já ia pescar o caderninho que trazia consigo, mas Sakura parou sua mão e começou a gesticular, fazendo os sinais bem devagar.

— Naruto me ensinou... Mas você gesticula rápido, então por favor você pode gesticular mais devagar, pra eu não me perder...?

— Você está me entendo? Estou gesticulando certo...?

Sakura estava começando a gesticular com a expressão incerta. Ele continuava a olhando.

— Podemos voltar a escrever se você....

Sasuke a cutucou na testa como da outra vez no parque. Não foi só para desfazer as ruguinhas que surgiram ali, mas também porque sentiu o ímpeto de tocar naquelas pedrinhas como da outra vez.

Como podia aquilo? Ela tinha tanto a aprender sobre expressão corporal ao gesticular, mas ao mesmo tempo era tão expressiva enquanto gesticulava.

O Uchiha conseguia perceber sua excitação, nervosismo e hesitação, tudo enquanto ela gesticulava vagarosamente para ele.

Seu cérebro o mandava agarrar suas bochechas e apertá-las, como uma forma de transmitir o quanto ela estava adorável aos seus olhos.

— Você entende isso? — Ele gesticulou, ela assentiu um pouco afobada.

Parecia uma criança quando se tratava de Língua de Sinais.

Sasuke sorriu.

— Obrigado pelo seu esforço, eu estou feliz.

Ela o olhou e por um momento o imaginou como ele era quando criança. Uma criança sorridente e feliz.

Para Sakura aquele sorriso de Sasuke agora tinha outro significado.

Era um sorriso resiliente.

Quando praticamente obrigou Naruto e ensiná-la a Língua de Sinais, fora porque ela simplesmente era fascinada no ato de gesticular, ficava realmente encantada em como havia tantas formas de se comunicar com outra pessoa além da fala. Como atriz de teatro, Sakura sabia o quanto o corpo era capaz de transmitir sentimentos.

Mas agora, se vendo ali de frente para um Sasuke sorridente e feliz pelo simples fato de vê-la gesticular para ele, fazia tudo valer a pena.

Afinal não fora só por fascinação à Língua em si que ela se dispusera a aprender a gesticular...

Queria conversar com Sasuke, contar que sabia sobre seu passado... Não conseguiria se segurar mais, pois sentia que depois disso ficaria mais próxima dele do que jamais esteve.

O pensamento causava borbulhas em seu estômago, como uma onda crescente em seu âmago que vinha subindo e subindo até não poder mais ser contida.

Parecia que ia transbordar.

Na verdade, Sakura estava eufórica por muitos motivos. Sua vida estava dando uma reviravolta e ela estava gostando daquilo. A apresentação apenas a deixara mais animada!

Era uma excitação que a mesma ainda não havia experimentado, a ideia de que seu futuro era um caderno repleto de páginas em branco, esperando para serem preenchidas da forma que ela desejasse.

Com quem desejasse.

Enquanto estava no camarim, que se transformara em uma bagunça, e tirava suas roupas e soltava o cabelo, ela ficou com pena de tirar a maquiagem que ficara tão bonita. Queria mostra-las para Sasuke de perto, uma vez que ele gostara tanto de tocá-las da outra vez.

Decidira que a tiraria em casa.

No entanto... Não queria ir para casa.

Não queria que aquela noite terminasse ainda.

Não queria abrir mão da presença de Sasuke, depois da rotina que criaram ao se verem praticamente todos os dias, ela havia se acostumado com sua presença. Não vê-lo durante aquele semana a deixou com saudade dele sem nem perceber.

Teve uma ideia a caminho da plateia onde o avistou sentado, esperando pacientemente. Mesmo que ele não estivesse ciente de que ela sabia sobre seu passado, queria da mesma forma que ele soubesse mais sobre ela; deixaria que ele a conhecesse mais.

Não havia forma melhor de começar do que o levando para conhecer seu lugar favorito.

— Eu quero mostrar um lugar a você...

...

A melhor parte do dia de Sakura, depois de um ensaio no teatro, era ir para a loja de músicas onde trabalhava meio período.

A loja era composta por dois pisos (sendo o chão comum e acima o mezanino). Embaixo podia-se encontrar praticamente tudo relacionado à música, já a parte de cima era menor e direcionada exclusivamente para os discos de vinil novos e usados. Alguns deles eram caríssimos itens de coleção.

Havia não apenas um grande sofá em uma das paredes, como mesas espalhadas por toda a loja, essas mesas eram alternadas de acompanhamentos, como tocador de fitas e de CDs para que o cliente pudesse ter uma palinha do que gostaria de comprar. Na parte de cima, havia um tocador de discos para a mesma função e também uma mesa vazia em que alguns clientes passavam horas sentados, com dois discos diferentes dispostos diante de si, como se tivessem em uma dúvida eterna sobre qual levar.

Ela gostava do lugar no geral, mas seu local preferido era no mezanino, por tratar de algo mais antigo, aquela área dos discos era a menos movimentada.

Depois de um ano trabalhando ali, Sakura conseguira o direito de ter uma cópia das chaves, e desde então sempre que podia ia a noite a fim de ter o espaço só para si.

Nunca levara ninguém lá.

Lembrava vagamente de ter imaginado Gaara e ela ali, ouvindo música de bobeira e curtindo a noite, mas parecia uma memória gasta e desbotada.

A Haruno repassava tudo em sua mente enquanto guiava Sasuke pela calçada em direção a fachada da loja.

Ela olhou para ele mais uma vez enquanto colocava a chave no trinco e a girava. Fez uma cara de suspense quando abriu a porta, mas manteve-se na frente da mesma.

Sorriu para o Uchiha ao abrir os braços e apontar para a porta, como se estivesse de frente para um portal mítico e instigando-o a adentrá-lo.

Ele o fez sem hesitar.

No terceiro passo de Sasuke para dentro do local, Sakura já estava dentro e trancando a porta novamente. No quarto passo dele, o alarme do local começou a disparar tão alto que a Haruno se atrapalhou toda com o susto e quase deixa as chaves caírem de suas mãos.

Ela rapidamente segurou o controle e desativou o barulho incessante. Guardou as chaves no bolso de sua bolsa e pôs a mão no coração. Não conseguiu segurar o riso, pois a cena era muito parecida com a primeira noite que fora ali e também esquecera da existência do alarme barulhento.

Por sorte, era necessário que ele ficasse apitando por pelo menos 3 minutos antes do sistema automaticamente apitar no celular do dono da loja, avisando que o alarme havia disparado.

— Que susto! — Falou consigo mesma.

Sasuke, obviamente estava totalmente alheio à pequena comoção da Haruno atrás de si. Ele parecia fascinado com a decoração do lugar. Só olhou para trás quando se deu conta da ausência de Sakura perto de si.

Ela já vinha em seu encalço, parando ao seu lado.

— Eu trabalho aqui meio período. — Ela ainda gesticulava de forma lenta, mas era o suficiente para entender.

O Uchiha decidiu seguir seu ritmo, e sinalizara lentamente:

— É bonito.

— Fique à vontade.

Ele deu mais alguns passos, olhando tudo ao redor. Nunca havia ido àquele lugar em horário comercial, afinal não tinha realmente motivos para frequentar uma loja de música. Mas lamentava-se de não tê-lo conhecido antes, pois a decoração era realmente incrível.

Sua atenção se voltou para Sakura quando ela passou por ele, andando de costas para poder olhá-lo.

Ela tinha um sorriso no rosto, como que aprovando a reação do Uchiha.

Ele parou de frente para ela e finalmente fez o que queria fazer desde que a vira naquele palco: tocou no rosto dela, passando os dedos nas pedrinhas grudadas ali, como se contasse uma por uma. Um pouco mais ousado, ele traçou sua sobrancelha esquerda, deixado um rastro de glitter na ponta de seu dedo.

Ficou alguns segundos olhando para seus dedos brilhantes, então se afastou um pouco e olhou ao redor e depois novamente para ela.

Ela nunca tinha visto aquele olhar...

As luzes davam um ar etéreo ao local, e a visão de Sakura ali, com aquela maquiagem a fazia parecer ainda mais com uma criatura mítica.

Parecia surreal.

— É lindx.

Sasuke gesticulou vagarosamente, a olhando no fundo dos olhos.

Sakura piscou, aturdida e surpresa, não só pela ação repentina que a deixara totalmente estática, mas também pelo que implicava aquele gesto.

O sinal para dizer que algo era lindo em Língua de Sinais servia tanto para o masculino quanto para o feminino. Sakura agora sabia disso.

Sendo assim, quando gesticulou... Ele estava falando do local... ou dela?

Deveria agradecer? Pelo quê? E se ele estivesse falando do lugar?

Mais atordoada do que imaginou ser capaz de ficar, ela virou-se de costa e começou a se afastar.

— Venha. — Ela o chamou para segui-la enquanto ia em direção a escada que levava ao mezanino.

Quando ele conseguiu alcança-la a mesma já estava acedendo as luzes, deixando o local bem iluminado. Até mais que a parte de baixo.

— Meu lugar favorito.

Como era menor, Sasuke terminou sua inspeção rapidamente.

Sakura havia sentado à mesa que havia ali, ele sentou na cadeira de frente para ela.

Percebeu que ele parecia bem mais à vontade do que da primeira vez que pediu para tocar suas pedrinhas no teatro. Afinal o objetivo ali era exatamente fazê-lo ficar a vontade com ela certo? Não havia motivo para tanto alarde com um simples ato de ele tocar nela.

Ela também sabia, bem no fundo, que as deixara porque esperava que ele fizesse aquilo.

Sentindo-se mais calma, outro pensamento voltou a aflingi-la.

Desde que decidira leva-lo ali, Sakura avaliava se deveria comentar sobre a presença de Naruto no teatro. Ele não havia tido a oportunidade de observar a interação dos dois enquanto apresentava.

Por fim, a Haruno achou certo falar sobre sua participação no encontro Uchiha-Uzumaki. Se Sasuke ficara chateado, não demonstrou, mas ela precisava falar. Afinal, ele parecia saber esconder muito bem suas emoções.

Enquanto pensava ela o olhava seriamente, de repente Sasuke voltara a seu jeito tímido, seus olhos desviando-se dos dela, nem lembrando a pessoa que lhe lançara aquele olhar penetrante poucos minutos atrás.

Ela precisou tocar-lhe a mão para chamar sua atenção.

— Me desculpe por estar me metendo na sua amizade com Naruto. Se você se sentiu ofendido sinto muito não era essa minha intenção.

Sakura não queria se meter, ela sabia que ele havia errado. Mas Naruto também era seu amigo, ele era uma boa pessoa e merecia uma chance.

Naruto não falara diretamente, e nem mesmo insinuara, mas a Haruno percebeu que ele ainda queria amizade de Sasuke, tanto que o mesmo a ajudou bastante quando ela pediu o seu auxílio no aprendizado da Língua de Sinais. Até usara o seu tempo livre quando não tinha aulas pra poder ir até a faculdade apenas para ensiná-la.

O Uzumaki estava se esforçando e ela queria que Sasuke soubesse disso. No entanto, a única coisa que poderia fazer era providenciar um encontro dos dois. A apresentação viera a calhar.

Sasuke não era idiota, havia percebido o intuito da Haruno. De início estranhou que a amiga loira dela também não tivesse ido, mas logo quando ela comentou sobre o fato de o Uzumaki tê-la ajudado com a Língua de Sinais ele ligou os pontos.

Naruto e ela eram próximos, e o fato de o loiro chegar ao ponto de ensiná-la a gesticular implicava que o mesmo havia comentado sobre a origem de seu conhecimento na Língua, ou seja, ele contara da época em que Sasuke e ele eram amigos.

O Uchiha não sabia o que sentir exatamente com a tentativa de reaproximação de Naruto. Muitas coisas aconteceram depois daquele fatídico dia, e muitas coisas aconteciam no momento presente.

Ele nunca realmente parar para pensar no que diria à Naruto se um dia o mesmo resolvesse tentar voltar a falar com ele, mas perceber a tensão que o loiro exalava ao sentar ao seu lado, o compeliu a dizer algo a ele naquele momento.

Sakura não estava tentando só reaproximá-lo de Naruto. Também estava tentando cada vez mais se aproximar dele.

— Está tudo bem. — Ele gesticulou, a expressão leve.

Enquanto ponderava sobre o que ela dissera, Sakura percebeu que Sasuke havia colocado uma das mãos sobre a mesa, como se fosse batucar os dedos sobre a madeira, mas em vez disso ele começou a arrastá-los pelo tampo meio abrindo e fechando a mão.

Seria um gesto de impaciência? Ou apenas uma mania como outra qualquer?

Era estranho como, com tanto que havia aprendido sobre ele, ainda assim parecia saber tão pouco.

Ela queria saber o que Naruto não contara.

— Sasuke... — Ela começou, incerta o encarando. Por um breve segundo, um vislumbre daquele olhar dele de mais cedo riscou seu olhos.

Ela quase desistiu de continuar, mas ele assentiu, como se a pedisse para ela continuar o que estava gesticulando.

Enquanto aguardava, o Uchiha imaginou que se ela gesticulasse seu nome novamente, ele responderia qualquer coisa que ela quisesse.

— Você nasceu sem poder ouvir?

Sasuke concordou.

— Você nunca ouviu nada?

Para a surpresa de Sakura ele novamente concordou.

— Você... ouvia? — Isso Naruto não dissera.

— Sim. — ele gesticulou. — Usei alguns aparelhos que me permitiram ouvir, mesmo que bem pouco e por um curto período de tempo.

Havia consternação em sua expressão ao terminar de gesticular.

Ele fora tão receptivo em sanar sua curiosidade que Sakura desejara  perguntar mais e mais, principalmente sobre sua falta de audição. No entanto não queria ver aquela tristeza nos olhos dele novamente.

Apesar disso, ele continuou aguardando como antes, mas ela não perguntou, parecia na verdade muito pensativa. A deixaria completar seus pensamentos. Levantou-se novamente e voltou a olhar o lugar.

Itachi gostava muito de discos e era quase um colecionador, então quanto mais olhava, mais a ideia de ir ali comprar o próximo presente de aniversário do irmão fixava em sua mente. Se aproximou de uma das estantes e começou a folear alguns discos, a fim de encontrar o da banda favorita do irmão.

Até esse ponto Sakura voltara a observá-lo. Sasuke parecia tão alheio e sério como de costume, para ela, ele ainda era intimidante apesar de tudo.

Ele largou a estante e colocou a atenção no nicho na parede próximo à mesa, dirigiu-se para a mesma, seus olhos focados em um disco em especial.

O nicho estava acoplado um pouco mais acima da cabeça do Uchiha, e ele precisou esticar-se um pouco para alcançar seu objetivo. Como Sakura estava sentada e o olhando, seus olhos foram diretamente para o pescoço dele.

E lá estava.

Sakura nunca havia notado aquela cicatriz no pescoço de Sasuke. Não era tão chamativa, mas também não era invisível; uma espécie de corte em meia lua fazia-se presente um pouco acima do pomo de adão dele.

Era até engraçado como uma coisa estava ali o tempo todo sem você perceber, então depois que nota você não consegue mais parar de dar atenção àquilo. Era como a tatuagem no pulso dele, ela ainda pegava-se olhando para a figura vez ou outra, como se houvesse um ímã atraindo seus olhos para lá.

O que dificultara a descoberta de Sakura fora o fato de a cicatriz ficar quase embaixo do queixo do Uchiha e ele ter mania de manter a cabeça abaixada (principalmente para olhá-la). Era por isso que Sakura nunca havia a notado ali.

Afinal a atenção dela sempre estava ou nãos mãos dele ou em seu rosto.

Apesar de acha-lo muito bonito, a Haruno não conseguia olhá-lo com malícia, ela o apreciava mais com curiosidade, como quem vai a uma galeria de artes e fica observando a obra enquanto tenta entender o que o autor queira transmitir com aquilo.

Para alguém que vivia fugindo de olhares especulativos, a Haruno até que os lançava bastante na direção do Uchiha.

Sakura piscou com sua própria constatação. Será que Sasuke se sentia desconfortável com seus olhares de avaliação? Era possível que ela tivesse confundido desconforto com apenas timidez?

Um Uchiha totalmente alheio as especulações da garota, sentou-se novamente na cadeira de frente para ela, trazia um disco consigo.

— Essa é a banda favorita do meu irmão. — Gesticulou depois de colocar o disco em cima da mesa entre eles.

Sakura apenas olhou brevemente para o objeto, mas logo seus olhos cravaram em Sasuke. Ela estava tentando ver novamente a cicatriz, mas realmente percebeu não ser possível vê-la quando ele não estava olhando para cima.

Queria perguntar sobre a cicatriz, queria saber da origem. Compreendia que estava ligada à morte de seus pais, no entanto nem mesmo Naruto sabia os detalhes de como exatamente aconteceu.

Mas logo constatou que seria um assunto pesado demais, talvez até estragasse aquele clima gostoso que se formara entre eles.

Percebeu que desde que se conheceram, aquele estava sendo o dia em que Sasuke agia mais abertamente com ela. Claro que o fato de ela agora saber Língua de Sinais ajudara e muito na fluidez da comunicação.

Mas àquela noite... Aquela noite parecia especial, quase mágica. Onde ela estava conhecendo um Sasuke espontâneo e aberto...

Ou pelo menos quase, pois naquele momento ele parecia bem inquieto se vendo sob o olhara profundo que ela lhe lançava.

— Incomoda que eu fique olhando para você?

— Não sei, na verdade. Não é que incomode, eu só não estou acostumado.

 Ele continuou desviando os olhos. Pousou as mãos no tampo da mesa, e ficou alguns segundos olhando fixamente para o disco entre eles.

Por fim, ergueu a cabeça e a encarou.

— Você me olha com se eu fosse interessante.

Havia um vinco entre suas sobrancelhas negras ao sinalizar.

Sem pensar duas vezes, Sakura repetiu a mesma coisa que ele fazia quando ela ficava daquele jeito.

Ela afastou o disco para o lado e debruçou-se sobre a mesa para poder alcançar o rosto dele, então, com o dedo médio e indicador tocou o espaço em sua testa.

Ainda debruçada sobre mesa, perto o suficiente para sentir sua respiração, Sakura sorriu e gesticulou para ele:

— Sasuke, você é interessante! Você é a pessoa mais interessante que já conheci.


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