Mais uma sexta-feira comum na vida de Marlene, como na maioria dos dias da semana ela estava na escola vagando pelos corredores com fones de ouvido abafando o barulho irritante ao redor enquanto ia em direção ao seu armário.

Enquanto caminhava ela cantava a música que estava tocando, e constantemente precisando tocar a reagião da sua garganta para saber se estava cantando muito alto. Seus shows no banheiro podiam até ser ótimos, mas ninguém iria ter a honra de ouvi-la performar de graça.

Logo ela estaria se formando e não poderia estar mais feliz, ainda mais depois do e-mail que recebeu ontem que dizia que  tinha sido aceita na faculdade dos sonhos. Fotografia e desenho sempre foi algo que Marlene adorava desde pequena e agora tinha acabado de ser aceita numa renomada faculdade de artes, agora restava contar isso para suas amigas.

Marlene tinha pegado os livros necessários e caminhou em direção a sala onde teria sua primeira aula, porém algo estava estranho naquele dia.

Quase todos os alunos nos corredores estão com seus celulares em mãos assistindo alguma coisa, com certeza algum video viral ou algum outro aluno tinha passado um vexame e tinha sido gravado. Parece interessante de qualquer forma.

— Hey! O que estão assistindo? - Perguntou para um grupo de rapazes que estavam olhando para um mesmo celular bastante concentrados.

Ok, agora foi incluído talvez a opção "jogo de futebol".

— Crie uma conta e observe. – Disse o mais alto, que tinha o celular na mão, com um sorriso de malvado no rosto. Babaca...

A garota revirou os olhos e continuou o seu caminho para a sala de aula. "Crie uma conta e observe"? O que aquilo queria dizer? Ela algumas vezes falava algumas coisas enigmáticas para irritar suas amigas, mas só havia graça quando era ela que fazia.

Não deve ser nada realmente importante de qualqualquer jeito.

Ela entrou na sala de aula onde tinham apenas 10 alunos e 3 deles também estavam vidrados em um celular enquanto a professora não chegava. Marlene andou animada na direção de suas melhores amigas, Lily e Alice, que estavam sentadas e conversando num lugar no fundo da sala.

Marlene pôs os seus livros sobre sua carteira que ficava a frente da carteira de Lily e se virou sorridente para as duas. — Tenho algo incrível para contar para vocês!

— Nós também! – Responderam elas em uníssono demonstrando o mesmo entusiasmo.

— Alice primeiro. – Lene apontou para a garota que hoje decidiu usar seus cabelos trançados.

— Ok, bem, o Frank e eu vamos dividir um apartamento depois que nos formamos já que nós dois passamos para universidades próximas. – Frank e Lice eram talvez um dos casais mais grudados e apaixonados que Lene viu em toda a sua vida, ela ficava feliz por eles embora de vez em quando pudesse jurar que eles são gêmeos. — Agora você, Lily.

— Eu consegui a bolsa em veterinária! – Ela bateu palminhas de felicidade. — Bem, eu ainda vou precisar morar com meus pais um tempinho mas pelo menos não vou precisar aturar a Tuney agora. – Ela deu de ombros, ainda com o mesmo sorriso alegre e sonhador.

Lily passou anos se dedicando para uma bolsa em qualquer que seja a carreira que ela quisesse seguir. A loira tinha até perdido as contas de quantas vezes  Lily disse a frase "não posso, preciso estudar" quando Lene ligava para ela...e as vezes ela ligava sem querer...

— Ok, agora eu. – Se ajeitou na lugar como se estivesse prestes a fazer o maior anúncio de todos os tempos. — Eu passei para a faculdade de artes!

Lice e Lily se mostraram felizes pela conquista da amiga, mas não surpresas, até porque já era óbvio que ela iria conseguir. Marlene tinha talento, seria uma injustiça ela não passar.

O grupinho de alunos que estavam ao celular soltaram exclamações de nojo ainda sem tirar o foco do celular. Agora não tinha mais como ignorar. — O que eu está acontecendo e ninguém quer me contar? – Falou com uma sutil irritação na sua voz.

Alice olhou para Lene como se ela fosse a pessoa mais desatualizada do mundo e que esteve os últimos dias trancada em uma caverna. — Como assim você não sabe?

— Eu até perguntei, mas só responderam "crie uma conta e observe" – A loira revirou os olhos.
— Serviu de muita ajuda.

— Eles estão falando do Nerve. - Lily deu de ombros enquanto abria um de seus cadernos. - É um jogo.

—  Não é um jogo, é o jogo, talvez o mais divertido agora. – Retorquiu Lice.

— Divertido para você, é um jogo de idiotas e ainda tão dinheiro para eles. Ridículo. – Lily riu ironicamente.

A loira continuava sem entender direito. Meu Deus, será que apenas os professores sabem explicar as coisas por aqui?

Alice percebendo a confusão de Lene chegou um pouco mais para frente em seu lugar. —  É um jogo, as pessoas escolhem serem observadores ou jogadores. Os observadores mandam dinheiro e desafios para os jogadores e eles cumprem.

Lene arqueou as sobrancelhas, era apenas por isso que todos estavam tão vidrados nos celulares? — Ok, mas são que tipos de desafios?

— Comer comida de cachorro, pular num lago, essas coisas. – Alice deu de ombros. — No entanto tem uns que são mais ousados, esses são divertidos. O meu favorito é o @padfootStar, é um dos que realmente vale a pena pagar para observar.

— E isso é legal? Digo, dentro da lei?

— Bom...é, parece que sim, se não eu acho que o jogo nem mesmo existiria. Não com todo esse reconhecimento, ele começou há dois anos, contudo, foi nesse ano que a bomba realmente explodiu.

A ruiva suspirou chamando a atenção das duas amigas. — É nada demais, as pessoas estão jogando dinheiro fora com isso.

— Se acha tão idiota então porque não joga? Poderia conseguir dinheiro fácil com isso e sair da casa de seus pais. – Alice sugeriu.

— Me falaram que pessoas morreram jogando Nerve. – A ruiva estremeceu.

—  Deve ser lenda urbana de pais e velhos chatos que gostam de destruir a imagem de tudo que tem de legal na nossa geração. – Alice retorquiu. A loira não podia dizer que não concordava com essa hipótese.

Quantos jogos, por mais inocentes que fossem, já não foram tão criticados a ponto de hoje em dia ninguém mais jogar por causas de fofocas que jovens morreram jogando ele ou até mesmo que era algo satanista...

Entretanto mesmo que a suposta pessoa morta por causa do Nerve não fosse real, ainda parecia um grande desperdício de dinheiro.

Depois das três se organizarem e a sala estar quase cheia mais uma aluna entrou na sala, era Dorcas, e estava com o cabelo praticamente tosado.

O cabelo da garota que até o dia anterior ia abaixo de seus ombros agora estava cortado logo abaixo das suas orelhas.

A menina se sentou ao lado de Marlene e olhou para as três garotas com um sorriso simpático diante da expressão boquiabertas delas, que era exatamente a reação que ela esperava. — Bom dia.

— O que você fez com seu cabelo?! – Lily foi a primeira a se manifestar.

— Cortei. Duh. – Dorcas revirou os olhos divertida. – Foi um desafio do Nerve. Eu já queria mudar meu visual de qualquer forma então agora eu além de mudar recebi por isso.

— Não acredito que você está jogando isso. Quantos observadores você tem? – Alice pegou o celular do bolso.

— Apenas 1,8K ainda, comecei ontem, mas sinto que vou conseguir mais. – Ela deixou sua bolsa na mesa. — Sou a @dORCAS_

Lily, sem a mãe do grupo, continuou encarando a Dorcas com uma expressão seria enquanto Lene apenas a olhava espantada. — Ah, não me olhem assim, estamos terminando o ensino médio, precisamos correr riscos! – Ela se virou para a Lene. — O que a vovó Marlene irá contar para seus netinhos no futuro? Quantas fotos ela tirou de Aiden Mitchell e guardou para si mesma com desculpa de ser para o anuário?

A loira sentiu suas bochechas esquentarem com a menção em sua pequenininha paixão sobre o jovem atleta da escola. — Você nem fala com ele. Vamos Lene, é sua última chance.

— Alunos, quietos! – O professor entrou na sala e no mesmo momento os alunos que tinham celularem em mãos os guardaram o mais rápido possível nos bolsos. Aquele professor era muito bem conhecido pela sua ótima visão e nenhum êxito em confiscar aparelhos de seus alunos durante as aulas.

— Depois falamos sobre isso. – Marlene murmurou para Dorcas, aquilo iria atrasar o resto da conversa por umas horas.

O Nerve parecia atraente, mas arriscado demais, e se desafiassem ela a fazer algo ilegal ou perigoso? Marlene aprendeu a confiar na intuição de Lily apartir de um tempo atrás. Nunca correr riscos sempre a manteve fora de grandes perigos.

Talvez Nerve seja realmente mais um jogo idiota.