Obcecado escrita por EdB


Capítulo 1
Capítulo 1




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Sábado a noite, Alex estava no seu quarto usando o computador. Era uma noite comum para ele. O rapaz tinha pouco mais de 20 anos e não costumava sair muito de casa. Seus hobbies favoritos eram a leitura e o cinema, local que não se importava de ir sozinho.  Não que ele não tivesse amigos, muito pelo contrário. Alex tinha muitos amigos, porém nenhum podia acompanhá-lo, pois eles estavam apenas ao alcance de uma tela.

E era justamente isto que ele fazia naquela noite. Ele acessava uma rede social comum, onde fazia parte de um grupo de discussões onde se debatia assuntos diversos. Um grupo formado por pessoas de todo o país, com opiniões diversas, mas gostos semelhantes. Um grupo que se solidificou com o passar dos anos e atualmente os membros não se tratavam mais como simples colegas. Eram amigos, ou até mesmo uma família. Alex se sentia completo ali.

Na sua infância, Alex sempre se sentiu deslocado dos demais. Sempre sentado no fundo da sala, era uma pessoa de poucas palavras. Não entendia porque as outras crianças não gostavam dele. Ele era esquisito? Tinha algum defeito? Não sabia. Mas sempre era hostilizado de forma verbal e, em alguns casos, de forma física. Não falava para seus pais o que acontecia, não falava para ninguém. Afinal, ele era um homem, e como qualquer homem seria um sinal de fraqueza fazer queixas de seus colegas para um adulto.

Nunca foi bom em esportes e não se importava quando não era chamado para as brincadeiras. As tarefas escolares sempre que possível ele fazia por conta própria, trabalhando em grupos apenas quando não tinha escolha. Como qualquer outra criança, ele criou um amigo imaginário que o ajudava a não se sentir sozinho. Este amigo o acompanhou por sua adolescência e até pouco tempo atrás. Ele não se lembra exatamente quando este amigo deixou de acompanhá-lo, mas foi repentino.

No seu quarto ele estava seguro, não haviam xingamentos nem violência, ele estava livre para ser ele mesmo, com pessoas que o entendiam e o apoiavam. Ele estava feliz.

Seu celular estava jogado sobre a cama e vibra ao receber uma mensagem. Rapidamente, Alex verifica, era como se estivesse esperando algo importante. E sua expectativa foi atendida. Era uma mensagem de Aline, aquela que ele considerava sua melhor amiga. Ele se joga na cama e responde entusiasmado.  Um sorriso bobo tomava conta do seu rosto.

— Alex? - uma voz feminina falava ao bater na porta. Era Joana, sua irmã mais velha - Você não vai comer?

— Já estou indo

— Está conversando com a Aline? - perguntou ao adentrar o quarto

— Sim. - seu sorriso se alargou - Ela viu a foto que publiquei de nós dois juntos e ela adorou o seu novo penteado.

— É mesmo? Diz pra ela que fiquei feliz em saber disso.

— Pode deixar!

— Não demore muito para descer.  A comida vai esfriar.

Alex e Aline se conheceram virtualmente. Faziam parte do mesmo grupo na rede social, porém a amizade entre eles se tornou mais forte do que com os outros membros.  Também foi algo repentino, quando notou, Aline já era uma pessoa especial. Conversavam sobre tudo, trocavam confidências e aconselhavam um ao outro.  Moravam em Estados diferentes, mas tinham planos para um dia se conhecerem pessoalmente. Conversaram por muito tempo, atravessando a madrugada. Alex não desceu para comer.

Terça-feira após um cansativo dia de trabalho, Alex chega em casa e vai direto para o quarto. Largando suas coisas sobre a cama, ele liga o computador. Enquanto espera, manda uma mensagem de boa noite para Aline.

“Ela não visualiza há 15 minutos” - pensou - “deve estar ocupada”.

A cada minuto ele verifica o celular a procura pela resposta de Aline, mas ela não respondia. Haviam se passado quarenta minutos

“Estranho, ela nunca demorou tanto para responder” - seu telefone vibra, era a resposta que esperava. - “Ainda bem” - ele sorri e dá um suspiro de alívio.

Alguns dias se passaram e Alex continuou com sua rotina. Trabalhava num emprego estressante (como a maioria dos casos), chegava em casa tarde da noite e ligava o computador para conversar com seus amigos, e conversava com Aline por mensagens de celular.

Mas um dia algo estava estranho.

Aline era a única pessoa com quem ele conversava durante todo o dia. Sempre que tinha uma brecha, trocavam mensagens. Nem que fosse um simples “bom dia”. Era quase um ritual para ele. Mas naquele dia ela não havia mandado uma mensagem sequer.

“Ela não visualiza há três horas” - Alex estava em sua sala no trabalho, aproveitando que seu chefe tinha saído - “Será que aconteceu alguma coisa?”

Ao sair do trabalho, ele checa novamente o celular. Estava apreensivo.

“Ela esteve online há dois minutos. Por que não viu minha mensagem? Será que não foi entregue? Será que eu falei algo que ela não gostou?” - durante todo o percurso dentro do ônibus até em casa, ele não tirou os olhos do celular - “O que está acontecendo? Ela viu a mensagem, por que não me responde?”

Ao chegar em casa, Alex passou em silêncio pela sala em direção ao seu quarto. Nem notou que seus pais estavam sentados assistindo televisão.

— Meu filho, aconteceu alguma coisa? - perguntou sua mãe ao ver sua expressão triste.

— Nada… - seu celular vibra e imediatamente um sorriso se formou em seu rosto - Não foi nada, estou bem.

— É a Aline?

— Sim

— Diga que mandei um beijo para ela.

— Claro, só um minuto… Pronto. Ela mandou um para a senhora também.

Alex vai rapidamente para seu quarto. Para seu mundo particular.

Semanas se passaram e sua rotina não se modificou muito, com exceção de Aline. Ela passou a responder cada vez menos as suas mensagens. Talvez para outras pessoas isso seria algo banal, mas para Alex era como perder uma parte importante do seu mundo. Ele passou a acessar diariamente os perfis de Aline nas redes sociais.

“Ela publicou novas fotos há 5 minutos, mas por que não visualiza minhas mensagens? Será que o celular dela ficou ruim? Não, não é possível, aqui diz que ela esteve online agora a pouco. Mas por que não me responde? Por quê? Espera… Quem é esse nessa foto nova?”

Deitado na cama ouvindo música, sua canção favorita é interrompida por uma mensagem. Alex pega o celular de maneira desanimada, mas logo é surpreendido. Ele não acreditava no que estava lendo. Aline estaria no seu Estado a partir da próxima semana para passar as férias.

Ele sentiu uma palpitação e suas mãos ficaram trêmulas, depois de alguns minutos apenas encarando a tela do celular, ele teve coragem de responder. Perguntou se ela gostaria de acompanhá-lo ao cinema, seria uma ótima forma de se conhecerem pessoalmente pela primeira vez. Ela aceita o convite.

No decorrer da semana, Alex foi tomado por uma felicidade que nunca tinha demonstrado, trazendo uma certa estranheza entre seus pais e irmã.

— O que aconteceu com ele? - questionou o seu pai

— Parece que a Aline está vindo para cá passar as férias e eles finalmente se conhecerão pessoalmente  - respondeu sua irmã.

— Que ótimo! - seu pai se entusiasmou - É bom vê-lo sair de casa finalmente.   

Sábado a noite, Alex estava na porta do cinema. Em suas mãos, os dois ingressos comprados com quase uma semana de antecedência, para aqueles que ele julgava serem os melhores lugares. Era uma noite fria, mas mesmo assim ele estava com as mãos suadas. Ele estava nervoso, e olhava para o celular a cada segundo. Aline estava dois minutos atrasada, não era nada de mais, mas ele estava pensando em mandar alguma mensagem. Mais alguns minutos se passaram e a mensagem foi enviada. Sem resposta.

Todas as outras pessoas já haviam entrado na sessão, apenas ele estava do lado de fora. Pensou em ligar e então notou que nesses anos de amizade, nunca tinha ouvido a sua voz. Essa era uma boa oportunidade. Discou seu número, começou a chamar. Caiu na caixa de mensagem. Passaram-se algumas horas.

Aline não apareceu.

De volta pra casa, Alex não ligou o computador. Ele apenas se deitou encolhido na cama.

— Alex? Você está bem? - perguntou Joana entrando no seu quarto

— Estou…

— Tem certeza? - ela se sentou ao seu lado e começou a acariciar sua cabeça

— Ela não apareceu.

— Não acredito que ela tenha feito isso. Deve ter acontecido alguma coisa.

— Ela não me responde. Também não me atendeu.

— Quer que eu tente ligar para ela do meu número?

— A vontade. O celular está na escrivaninha...   

Joana se levanta e vai até a sala pegar seu celular, voltando poucos segundos depois. Ela pega o celular de Alex e procura seus contatos. Ela olha uma, duas, três vezes.

Não havia nenhuma Aline.


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