‘Obrigado’ disse Jude depois de cantar mais uma canção naquele show. ‘Esta é uma excelente noite, tocar diante de vocês, afinal, será o último show dos Lonely Hearts que vocês verão. E para encerrar, nada melhor que uma canção de amor, dessa vez ela é muito especial para o nosso baterista Maxwell’ uma salva de palmas.

‘Pois bem’ disse o dito cujo. ‘Há algum tempo que estou namorando com certa garota, mas acreditem ou não esse amor existe desde a infância. Eu não sou bom em escrever canções, pedi ajuda ao Jude. Ele pegou papel e caneta, sentamos e ele me ouviu descrever essa garota maravilhosa e aqui está. Senhoras e senhores, essa canção é para a minha querida Prudence McCartney’

Lucy, irmã de Prudence, mexeu no holofote e o focou nela, o rosto dela estava vermelho de tão corada que estava. Os primeiros acordes de guitarra e baixo já lhe derretiam o coração, para ela que se danem os outros presentes no auditório, só havia apenas ela mesma e Maxwell que ainda não começou a tocar a bateria, mas a olhava com muito amor e ternura, ambos deixando que as primeiras palavras da canção cantada por Jude falasse por ele. ‘Dear Prudence, won't you come out to play? Dear Prudence greet the brand new day. The sun is up, the sky is blue’ e as seguintes palavras fizeram o coração da garota se derreter de vez: ‘It's beautiful and so are you Dear Prudence won't you come out and play?’ E foi nesse momento que o baterista assumiu sua deixa. Os olhos dela não pararam de derramar lágrimas nem por um segundo, e nesse momento ela fazia uma viagem ao passado.

Prudence se lembrava muito bem dos felizes dias, apesar de ter que tolerar os abusos do pai, em que Maxwell batia na porta de sua casa, sendo recebido pela mãe de dela.

‘Olá, Maxwell’

‘Oi, Tia Linda!’ dizia girando sua bola amarela. ‘A Prudence pode sair pra brincar?’

‘Claro, espere aqui que vou chamá-la’ Linda subiu as escadas para ver sua filha estudando, como de costume. ‘Querida, há alguém que quer brincar com você’

‘Maxie!’ exclamou com muita alegria, descendo e pulando em seu querido amigo dando-lhe um apertado abraço.

‘Volte antes do jantar, está bem, querida?’

‘Sim, mamãe!’

Dear Prudence, open up your eyes

Dear Prudence, see the sunny skies

The wind is low, the birds will sing

That you are part of everything

Dear Prudence won't you open up your eyes?

            Os dias dos abusos vindos de seu pai eram os piores da vida da família McCartney (sim, a mãe de Prudence, manteve o sobrenome do primeiro marido, dizendo tê-lo amado mais do que ninguém, mesmo depois de ele ter morrido num acidente de carro. Bungalow Bill é o verdadeiro pai de Prudence e Lucy), envolvendo cortes, machucados e até mesmo uma tentativa de estupro com Linda. Então, farta disso, certa vez revidou dando um soco no nariz do marido, nocauteando-o. Foi ao quarto de suas filhas, mandou-as arrumarem as coisas, pois nunca mais voltariam; Prudence e Lucy fizeram o que lhes foram ordenadas, saíram da casa, entrando no carro e indo para outra cidade. Por sorte, nessa outra cidade morava o irmão de Linda, que as acolheu de bom grado, e assim por diante, foram educadas em casa; esse tempo seria considerado pela garotinha de cabelos castanhos como “morte temporária”. E essa “morte” durou por anos até o tio dela dizer ‘Basta!’ e convencer Linda a matricularem as garotas numa escola. Lucy caiu de joelhos, implorando que essa ideia não fosse à frente, assim como Prudence, mas a mãe deu de ombros e as matriculou.

            Com medo de que alguém perguntasse sobre suas cicatrizes nos braços e outras em seus rostos levemente geradas por Bill, as duas irmãs usaram maquiagem para esconder as dos rostos e usaram roupa de frio para esconder as dos braços. Pobre Lucy chegou a chorar quando entrou na escola e pediu que não estudasse lá, preferia estudar em casa, mas Prudence ralhou com ela antes que mais gente visse a cena.

            As aulas seguiram muito bem, apesar de haver alguns olhares mirando nelas por serem muito bonitas; a hora do lanche no recreio também foi tranquila, conseguiram comer em paz num lugar afastado, como o jardim da escola. Lucy tagarelava tanto que sua irmã sentia uma enorme vontade de socá-la, mas a perdeu quando avistou um grupo de rapazes absurdamente familiar há alguns metros longe delas, em especial um deles que fazia umas caretas muito esquisitas e engraçadas, enquanto ficava girando um martelo prateado de brinquedo, também muito familiar. ‘Maxwell!’ disse um dos rapazes. ‘O que eu falei de trazer essa porra de martelo?’

            ‘Me deixa em paz, Jude!’ disse ele perdendo a paciência.

            ‘Sei que você sente saudade dela, mas já faz anos que ela sumiu. Você, assim como o resto da turma, se mudou pra cá querendo mudanças’

            ‘Prudence não teria sumido sem me contar!’

            ‘Éramos crianças!’

            ‘Foda-se!’

            ‘Vai se foder você!’ levou uma martelada na cabeça, mesmo que o objeto fosse de brinquedo, doía muito.

            ‘Ei!’ Prudence interveio.

            ‘Hã?’ o tal Jude, que dava uma tragada no cigarro, olhou a garota de cima pra baixo. ‘Com certeza mais uma fã. Olhe, fale logo o que deseja e dê o fora. Queremos sossego’ mas foi ignorado quando percebeu que ela se atirara nos braços do garoto do martelo de prata. ‘Eh, mas que porra...’

            ‘Eu gosto de abraços’ disse o rapaz abraçado. ‘, mas isso foi de repente’

            ‘Você é Maxwell Edison!’ disse Prudence.

            ‘É... sou eu. O que deseja, moça?’

            ‘Eu que te dei esse martelo quando criança’

            ‘Acho que está enganada, nem a conheço’

            ‘Maxwell, sou eu! Prudence! Posso provar muito bem, conheci você quando criança, e te chamava de Maxie’

            Depois de matarem saudades de ver Jude Lennon, Billy Shears, Rocky Harrison, Maxwell Edison e alguns outros do ciclo de amigos desde a infância, Lucy e Prudence nunca se sentiram tão bem antes. Se antes o mundo para ela era um lugar apenas de dias de chuva agora era, agora tudo se iluminara. A alegria aparecera, agora podia sorrir.

            As festas do pijama foram trocadas por típicas festas adolescentes.

Look around round (Round, round, round...)

Look around round (Round, round, round...)

Look around

            Em uma dessas festas, Prudence perdeu sua virgindade com o garoto que amou desde pequena e continuava a amar com a mesma intensidade. ‘A felicidade é uma arma quente’ disse de si para si aninhando-se nos braços de Maxwell na cama. ‘Oh, Max! É maravilhoso estar com você, depois de tantos anos separados!’

            ‘Foi um horror quando soube que você e sua irmã sumiram com sua mãe. Achei que estava tendo um pesadelo do qual não era capaz de acordar. Por que foram embora? Ainda mais sem dizer adeus ou um bilhete?’ Prudence suspirou, sabia que podia confiar em Maxwell, mas tinha medo do que aconteceria se mostrasse a ele. Teve dificuldade de conter as lágrimas e de se livrar da maquiagem, mostrando as marcas que abominava. Logo então explicou, deixando lágrimas descerem por seu rosto, tudo que andou acontecendo. ‘Seu pai... mas todos pensavam... vocês não falaram nada!’

            ‘Não queríamos preocupá-los’

            ‘Mas ele batia em vocês! Como não puderam contar!’

            ‘Não grita, Max!’ implorou cedendo mais ao choro, como se fosse bater nela.

            ‘Desculpa, Pru, não quis fazer isso. Vem aqui’ acolheu-a novamente em seus braços. ‘Eu juro, se alguém a machucar, acabo com o infeliz!’

            ‘Maxwell!’ sorriu Linda ao ver o rapaz arrumado para o baile parado à sua porta. ‘Está aqui para buscar Prudence, acredito, pode entrar e espere na sala. Vou chamá-la’ a senhora entrou no quarto da filha, vendo-a pentear os cabelos com um olhar nervoso plantado em seu rosto.

            ‘Você entrando agora só quer dizer que ele chegou’ gemeu. ‘Céus, tô um horror!’

            ‘Que nada’ riu Linda.

            ‘Querida Prudence!’ a voz de Maxwell se ergueu. ‘A lua se ergueu, o céu está escuro, é tudo lindo como você!’

Look around round (Round, round, round...)

Look around round (Round, round, round...)

Look around

Dear Prudence, let me see you smile

Dear Prudence, like a little child

The clouds will be a daisy chain

So let me see you smile again

Dear Prudence won't you let me see you smile?

            A linda Prudence não controlava suas lágrimas de emoção enquanto a plateia ia a loucura. Quando os Lonely Hearts terminaram, curvaram-se; Maxwell se levantou, foi até a namorada e a puxou para o palco recebendo abraços e longos beijinhos. Entre os beijos, o rapaz pôs a mão no bolso e de lá tirou um objeto cúbico. Quando terminou de beijar a amada, dirigiu seu olhar ao objeto, assim Prudence pôde fazer o mesmo e quase desmaiou ao ver o que era. O público aumentou ainda mais os gritos quando o rapaz ajoelhou-se, abrindo a caixa revelando um anel dourado, Jude lhe passou o microfone para todos ouvirem. ‘Prudence McCartney,’ começou. ‘quer fazer de mim, este sujeito diante de você, a imensa alegria de casar comigo?’

            Prudence chorou mais e mais, atirando-se aos braços de Maxwell, berrando a plenos pulmões a resposta ‘SIM! SIM!’