Los Angeles,

April 12, 2017

 

Ginny observava os adolescentes brincando por entre as ondas da costa, bem de longe. O dia estava muito bonito e quente, em contraste a temperatura gelada das águas do pacífico.

A ruiva erguia o pescoço em direção ao mar de cinco em cinco minutos, ainda que de forma disfarçada. Apesar de achar que não, ela possuía exatamente o mesmo instinto protetor da mãe, uma clara característica dos Weasleys.

— Eles já estão lá há muito tempo... – Ron sussurrou ao seu lado.

Ele era outro que estava de olho nas águas. Porém, não pelos mesmos motivos.

— Não existem praias em Londres, Ron. – ela respondeu ao irmão, calmamente. – Mas, Scorpius Malfoy continua existindo por lá. Não adianta você ficar vigiando a Rose.

O ruivo mais velho semicerrou os olhos para irmã. Ginny apenas bebericou o seu mojito de manga com maracujá, ignorando o alarde. Com um longo suspiro de insatisfação, Ron se deu por vencido. Era difícil entender que a sua princesinha não era mais uma criança. E, principalmente, que agora ela namorava bem debaixo dos seus olhos.

Se bem que era melhor que eles estivessem as suas vistas do que fora delas, pensou.

Na direção oposta aos irmãos, do lado de fora, três pessoas se aproximavam. Hermione vinha um pouco mais a frente, andando com certa pressa. Harry e uma mulher loira de vestes engraçadas e berrantes conversavam logo atrás, distraídos. Eles atravessaram a sinaleira quando a luz vermelha deu as caras, brilhante.

Assim que Mione adentrou o restaurante, veio em direção aos outros dois. Ela sentou-se na cadeira entre Ron e Ginny.  A mulher sorriu para a amiga, simpática. A ruiva retribuiu o sorriso. Harry e a loira chegaram até eles logo depois e se instalaram na mesa, nos assentos de frente para a janela.

— Acho que podemos pedir o almoço agora, o que acham? – Hermione perguntou. – Os garotos não vão comer conosco.

— Por mim tudo bem. – a ruiva respondeu.

— Por mim também. – Harry disse.

A mulher loira acenou com a cabeça, em afirmação. Ronald permaneceu em silêncio.

— Ron...? – Mione estalou os dedos na frente dele. – Eu fiz uma pergunta.

— Ahn..? O almoço...? – o ruivo resmungou. – É, pode pedir...

Hermione franziu o cenho.

— O que houve com você?

— Rose e Scorpius. – fora Ginny que respondera, de imediato.

Aquela questão já se tornara velha durante a viagem.

— Ah, me poupe, Ronald! – Mione rolou os olhos. – Outra vez esse assunto?!

— Te poupar?! – ele exclamou inconformado. – Há quanto tempo será que eles estão juntos?!

— Isso não é da nossa conta.

— Claro que é! Você sabe quantas vezes eu deixei aqueles quatro dormirem sozinhos durante os últimos meses?!

— Não, não sei. – Hermione cruzou os braços em negação. – E a pergunta certa é: porque você estava dando escapadinhas noturnas e deixando quatro adolescentes sozinhos em casa?!

Ron calou-se de súbito. Era o mais sensato a se fazer. Hermione não iria gostar da resposta, se a escutasse. Um clima pesado estava prestes a se instaurar se não fosse à risada gostosa dada pela mulher loira ao lado do Harry.

— Vocês não mudam nunca. – ela disse, com um sorriso lindo nos lábios.

— É ele não muda, Luna! – Hermione reclamou, ainda de braços cruzado. – Ele que não muda nunca!

— Eu?! – Ron arregalou os olhos azuis.

— É, você!

— Desculpa se você não se importa com a proteção da nossa filha.

— Você quer mesmo falar sobre isso, Ron?

Hermione o encarou e, mais uma vez, Ron voltou atrás no seu argumento. Era como se no olhar da mulher existissem algumas convicções que ele não tinha muita vontade de ter certeza se eram reais ou não.

— Ok... – o ruivo ergueu os braços em rendição. – Não tocarei mais no assunto...

— Ótimo! – Mione exclamou.

— Ah, graças os céus! – Harry riu. – Eu não aguentava mais vocês dois brigando por causa disso no meu ouvido.

— Espere só até a Lily arranjar um namorado na Inglaterra, Potter. – Ron disse, ácido. – Com você aqui, do outro lado do atlântico.

Um frio estranho percorreu pela espinha de Harry. Por que as pessoas precisavam tocar nesses assuntos desagradáveis em plena hora do almoço?

— Não vai acontecer nada. – Ginny respondeu, plácida. Ela fitou o marido. – Não é mesmo, querido?

— Se você tá dizendo.

A resposta de Harry fez todos os outros rirem. Inclusive, até ele mesmo riu, porém de desespero com a possibilidade.

Os adultos conversaram por mais algum tempo, sobre coisas aleatórias, até que o pedido foi feito. Assim que o almoço chegou cada um passou a se servir a sua maneira. Em um dado momento Hermione se esticou para pegar a última enchilada, exatamente no mesmo instante que Ron mirava a panqueca, desejoso.

Ao ver o olhar pedinte do ruivo, Mione encheu os pulmões de ar. Ela sabia o que viria em seguida.

— Você quer? – perguntou.

— Quero. – Ron confirmou, sincero.

Hermione pôs as enchiladas no prato do seu quase ex-marido. Quando ela voltou a se recostar na acolchoada, Ron a puxou para mais perto de si.

— Tem o suficiente aqui para nós dois. – ele disse.

De maneira inevitável, Mione sorriu e, automaticamente, Ron se sentiu um pedacinho mais feliz. Apesar de ter algum tempo que aquilo não despertava daquela forma no ruivo, o homem percebera que nas últimas semanas estava gostando cada vez mais de fazê-la sorrir com frequência.

 Os dois compartilharam da última parte da refeição juntos. Da outra ponta da mesa, Luna os observava, curiosa.

— Achei que vocês não estavam mais juntos.

Luna era conhecida – e amada – pela sua inconveniência desmedida. Harry engasgou e Ginny prendeu o riso. Sem jeito, Hermione se acomodou melhor no assento. A afirmação, no entanto, não pareceu pegar Ron de surpresa.

— Não estamos. – ele respondeu de maneira relaxada.

— Não é o que parece. – Luna rebateu.

— Então que parece?

— Que vocês nunca estiveram separados.

— Só porque estamos dividindo uma enchilada, Lu?

— Não. – a loira negou. – Só porque vocês continuam compartilhando as suas vidas um com o outro.

Dessa vez fora Ronald que se ajeitou no assento, desconfortável. Harry e Ginny se encaravam, sem nem ao menos terminar de mastigar, ao mesmo tempo em que observavam a dinâmica do resto da mesa.

Um silêncio estranho tomou conta do espaço. Era mais que claro que os pais de Rose não estavam sabendo como lidar com aquela situação. Fora acordado, há alguns dias atrás, que não haveria cobranças entre os dois no momento. Dar nomes ao que estava se desenrolando também não era algo que estava nos planos do casal. Até porque, parecia que nenhum dos dois sabia de fato o que estava acontecendo.

O questionamento de Luna abrira margem para algumas questões. Questões estas que ninguém queria tocar, por enquanto. Ron e Hermione se encararam por alguns segundos. Não precisou de muito. Já havia se passado mais de vinte anos desde o primeiro contato entre o casal, mas, se existia alguma coisa que Ronald ainda sabia ler sem dificuldades, essa coisa era o olhar de Hermione.

Ele sabia o que a mulher ia fazer. Mione suspirou profundamente e se virou na direção de Luna, decidida.

— É, você tá certa, Lu. – assumiu. – Estamos nos pegando.

— E bastante. – Ron completou, enfático.

O modo como a confissão foi feita acarretou em risadas automáticas de todos. A crise de risos durou alguns minutos.

— E aí? – Luna indagou, se recuperando. – Se sentem melhor agora?

— Acho que sim. – Mione assentiu, com um sorriso de canto.

— É, eu também. – Ron concordou.

De fato, para os dois, falar aquilo em voz alta no meio de outras pessoas era um peso a menos nos ombros. Aproveitando o clima de descontração, Mione continuou, brincalhona.

— Então, Weasley... algum problema em compartilhar sua vida comigo durante o resto dessa viagem? – perguntou a Ron. – Ou você prefere comer a enchilada?

— Pergunta difícil, Granger... – ele falou, com o mesmo tom zombeteiro. – Acho que eu tenho que provar mais um pouquinho dos dois para escolher...

Hermione soltou uma gargalhada, acompanhada pelo ruivo.