Era um corredor longo, havia tantas portas, tantas saídas.

Não era um labirinto, era apenas difícil de localizar a saída.

Eu sabia que era quando entrei pela porta que indicava ser o banheiro feminino. Assim que entrei encarei minha imagem embaçada no espelho, já havia bebido tantas doses, era hora de parar?

− Isso está ficando louco. – Retruco para mim mesma.

Saio pela porta e o celular dispara. Demoro longos segundos para atender a chamada, o nome na tela me anima e causa arrepios, antecipando a culpa e o arrependimento pelo que virá a seguir.

− Por que você só me liga quando tá chapado? – Pergunto sem rodeios, não tenho tempo a perder.

Ele ri do outro lado, maldito riso.

Eu não preciso de respostas, pois já as sei. Sempre o mesmo cara do outro lado da linha. E eu, incapaz de encerrar essa ligação.

Encaro o corredor outra vez, tantas portas, me pergunto onde elas dariam, estariam trancadas?

Sinto vontade de testar suas fechaduras, quão bem elas estariam trancadas?

Mais uma das ideias que surgem quando você não está sob controle de si mesmo. Não estou bêbada, mas deixei a sobriedade de lado há algumas doses de distância.

Não são necessárias muitas palavras. O tempo não para, mas ele passa despercebido.

Ele surge no início do corredor, alto, decidido e perigoso. Seu olhar é vago, e ele cheira uma mistura de uísque com menta, é bom.

Eu receio não ouvir suas palavras roucas, pois as batidas em meu coração são altas demais, quase desesperador. Ele rouba todo meu ar com seus lábios finos e macios.

Eu penso nas portas. São três da manhã e ele está ao meu lado, mas as portas naquele corredor não saem da minha cabeça. Dessa vez não sinto culpa.

Aqui estou eu, vazia, usada e dispensada, na minha mente ainda estou naquele corredor, e decido desesperadamente que preciso fechar essas portas. Não posso mais aceitá-lo. Feche todas as malditas portas, eu ordeno a mim mesma.