Crônicas Mitológicas escrita por Elias Franco de Souza


Capítulo 12
Quíron


Notas iniciais do capítulo

Pirítoo concede uma trégua ao seu combate com Quíron, para que ambos os Cavaleiros de Prata possam cuidar de seus feridos. O ancião tira todas as dúvidas de Jasão sobre os últimos acontecimentos.



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Quíron encontrou Jasão inconsciente, na beira de uma cratera recém-aberta no solo. Ele estava com vários ferimentos, mas nenhum grave. O garoto havia desmaiado de exaustão. A alguns metros dali, a Plêiade com quem ele havia lutado, estava recostada em uma árvore, com o ombro esquerdo bastante ferido. Ela havia perdido muito sangue, e apresentava queimaduras de segundo grau por todo o quadrante superior esquerdo do corpo, desde o pescoço até as últimas costelas. Sua túnica estava em retalhos, e ela cobria o seio esquerdo com os braços. Sua expressão era de muita dor, e Pirítoo, que estava agachado ao seu lado, denunciava a preocupação no olhar. De suas mãos, o cavaleiro emitia uma luz prateada, com a qual tentava regenerar os tecidos lesados da amazona. As demais Plêiades, agora todas recuperadas da luta contra Quíron, aguardavam ansiosas ao redor de Electra.

— Pirítoo — chamou Quíron, trazendo Jasão em seus braços. — Eu sou especialista em curar queimaduras. Deixe-me ajudar.

— Não — respondeu secamente. — Apesar de nossa trégua, ainda não confio em você. Vou levá-la para Orfeu. Ele saberá o que fazer — decidiu-se, tomando a amazona ferida nos braços. — Taigete, vá atrás dos meus pertences — ordenou para outra amazona, que se retirou para recuperar as armas, urna e túnica de Pirítoo. — Vou poupar a vida de vocês por ora. Mas não tentem nos seguir, ou vai se arrepender — disse ao se despedir.

O Cavaleiro de Órion, acompanhado das Plêiades, desapareceu bosque adentro, deixando Quíron e Jasão a sós. Com Jasão nos braços, o ancião deu meia-volta e subiu até a caverna que haviam deixado para trás. Lá, recostou o garoto em uma rocha, e deixou que as peças da armadura de prata saíssem de seu corpo e assumissem a forma de um centauro, repousando no interior da urna sagrada.

— Tio... O que foi que eu fiz? — sussurrou Jasão, com os olhos semicerrados.

— Você, seu tolo, despertou o seu cosmo. E quase se matou ao tentar usá-lo.

— E aquela amazona? Ela está bem? — perguntou preocupado. A empatia de Jasão por sua inimiga não surpreendeu Quíron. Esse tipo de atitude era do feitio do garoto.

— Está muito ferida, mas vai se recuperar. Agora descanse. Você gastou muita energia — advertiu.

Jasão fechou os olhos e dormiu de novo. Enquanto isso, Quíron começou a arrumar duas trouxas de viagem, juntando a pouca comida que tinha armazenada em sua caverna. Alguns pães, cebolas, azeitonas verdes e carne seca. Após preparar a bagagem, amassou um pouco de nabo que havia assado na hora do almoço e misturou com mel em uma tigela de madeira

— Vamos, acorde... O seu corpo precisa de alimento para se recuperar — ordenou, dando a mistura para Jasão comer.

— Não tinha nada pior, não? — ironizou, após mastigar alguns punhados.

— Seu humor voltando já é um bom sinal — disse com satisfação.

— Tio. Eu achei que eu não tivesse cosmo. Como eu fiz aquilo?

— Você sempre teve esse cosmo, Jasão. Um cosmo muito poderoso e, ao contrário de Atena que ainda não havia despertado no corpo de Hele, desde que você era apenas um bebê. Mas quando o seu pai morreu, o Santuário não podia ser capaz de rastrear Atena. Por isso eu precisava controlar o meu cosmo e mantê-lo oculto, para não me encontrarem, e você, tendo um cosmo que poderia ser facilmente associado ao do seu pai, também precisava deixá-lo oculto. Mas sendo apenas um bebê, você ainda não possuía esse controle. É por isso que eu conjurei quatro selos, um em cada um dos seus pontos estelares, que suprimiram completamente a manifestação da sua cosmo-energia.

— Pontos estelares?

— Todo ser humano que possui um cosmo maior do que a média possui também um certo número de pontos estelares, ou pontos cósmicos, no interior do corpo, correspondentes às estrelas da respectiva constelação guardiã. É como se você já nascesse destinado a trajar a armadura daquela constelação. Esses pontos são responsáveis pela geração e pelo controle de sua cosmo-energia. Ao conjurar selos cósmicos nesses pontos, eu pude ocultar completamente a manifestação do seu cosmo. Em realidade, eu me dediquei a criar selos tão elaborados em você, que somente eu poderia perceber a existência deles e desfazê-los.

— Então foi por isso que Orfeu não percebeu que eu era o filho de Esão.

— Exato. E isso deveria ser o suficiente para manter você e Hele a salvos. Mas a intuição cósmica de Orfeu é grande demais, e de alguma maneira ele deve ter suspeitado que Hele é Atena apesar dos selos que eu coloquei em você.

— Mas como foi que eu usei o meu cosmo se você não tirou esses selos? — Quíron franziu a testa.

— Não sei como, mas de alguma forma você conseguiu rompê-los sozinho — afirmou, colocando uma mão sobre o peito de Jasão. — Agora mesmo, eu posso sentir que um deles foi completamente destruído e que os outros três ainda estão aí, mas muito danificados. O que você fez foi não apenas muito perigoso, como deveria ser virtualmente impossível. Ninguém deveria ser capaz de identificar e quebrar esse selo sem conhecer a criptografia cósmica necessária. Só consigo imaginar uma força de vontade quase divina para realizar isso.

— Tá... E agora? — perguntou Jasão, parecendo despreocupado. Quíron riu com a leviandade do garoto.

— Agora... Eu vou cuidar dos seus ferimentos, e depois vou reparar esses três selos que sobraram no seu corpo. É muito perigoso deixá-los instáveis dessa maneira.

— Mas com três dos meus quatro pontos selados, como ficará o meu cosmo?

— Você poderá usar o seu cosmo, mas com apenas um quarto do seu poder. Por hora, é melhor assim. Eu começarei a ensiná-lo a controlar o cosmo a partir de níveis seguros.

— Não! Quíron, por favor, remova todos os meus selos de uma vez. Se eu quiser resgatar Hele, eu preciso de toda a minha força!

— Toda a sua força... Você quase morreu usando toda a sua força. Você não poderá ajudar Hele se estiver morto. — Jasão pareceu concordar quanto a isso. — Escute, o cosmo não é algo fácil de dominar. É algo em que você deveria ter sido ensinado desde criança. Leva-se anos para controlá-lo totalmente. Se eu te der acesso a todo o seu poder de uma só vez, você poderá acabar se matando, ou pior, ferindo aqueles a quem você quer proteger. Você já está com um selo aberto, e isto é o suficiente por hora. Vou treiná-lo aos poucos, e abrir os demais selos conforme você progredir. Além disso, eu levaria no mínimo três horas para abrir os três selos, muito mais tempo do que se leva para repará-los. Devemos aproveitar as últimas horas do dia para iniciar a nossa viagem atrás de Atena. Não podemos perder tempo se quisermos resgatá-la.

Jasão acabou aceitando a decisão de Quíron e desistiu de discutir. Assim, o ancião pode reparar os ferimentos de Jasão em silêncio. Com as mãos, emitia uma luz prateada sobre as escoriações, acelerando a regeneração e cicatrização dos tecidos.

— Esta cura que eu estou usando não é perfeita. Ao invés de seus tecidos voltarem a ser como eram antes, você ficará com cicatrizes. Mas é a cura mais rápida que eu posso te dar agora, já que estamos com pressa.

Após reparar os principais ferimentos externos, Quíron se concentrou em procurar por lesões ocultas. Com sua mente, vasculhou a integridade dos principais ossos, vasos e órgãos internos. Encontrou rachaduras em inúmeras costelas, as quais levou alguns minutos para calcificar. Mas então percebeu que o fígado estava sangrando lentamente, e que ele estava bastante danificado. Suspirou em desapontamento, sabendo que isso tomaria bastante tempo.

— O que foi?

— Seu fígado vai começar a falhar em poucas horas se eu não repará-lo, mas não posso simplesmente cicatrizá-lo inadvertidamente. Isso o tornaria cirrótico e te daria apenas alguns meses de sobrevida, além de torná-lo mais difícil de reparar mais tarde. Preciso regenerá-lo por completo, mas isso vai levar uns 40 minutos.

A ideia não parecia agradar Jasão. Quanto mais o tempo passava, para mais longe Hele seria levada. Mas o garoto percebeu que não havia alternativa, e deixou que Quíron começasse a demorada regeneração. Enquanto se focava na difícil tarefa, o velho percebeu que o garoto parecia estar emburrado com algo, mas não questionou. Lá por mais 20 minutos de trabalho, o rapaz desembuchou.

— Por que você não me deixa para trás, e vai salvar Hele?

— O quê?

— Mesmo eu sendo filho de um cavaleiro de ouro, ainda não posso e nem sei usar o meu poder. Eu sou apenas um peso para você, que é um verdadeiro cavaleiro de Zeus. Você deveria me deixar e ir salvar ela. Você mesmo disse, ela é quem realmente importa.

— Isso é verdade. É apenas Atena, e mais ninguém, que deve ser salva. Mas eu não posso fazer isso sozinho. Se fossem apenas Pirítoo e aquelas amazonas, eu poderia resgatar Hele facilmente. Mas desde o momento em que Orfeu botou as mãos nela, isso ficou completamente fora do meu alcance. No passado eu já fui tão forte quanto um cavaleiro de ouro, mas isso já faz muitos anos... Estou velho, e Orfeu é um dos cavaleiros de ouro mais poderosos que já existiram. Você é o único que pode vencê-lo.

— Mas... Como?

—De Iolco até Olímpia, são pelo menos dez dias de caminhada; doze se assumirmos que eles podem desviar o caminho para reinos importantes onde residem cavaleiros de ouro. Então podemos assumir que em até dez dias eles vão estar exatamente na metade do caminho entre o Reino de Argos e Olímpia, o melhor ponto para abordarmos Orfeu e resgatarmos Atena. São dois dias de distância para Olímpia, onde residem o Grande Mestre do Santuário e o cavaleiro de ouro Héracles de Sagitário, e dois dias de distância para Argos e Micenas, onde residem respectivamente os cavaleiros de ouro Diomedes de Câncer e Perseu de Aquário. São oponentes poderosos que queremos evitar enfrentar. Então, se Orfeu não tiver interrupções na viagem, esse é o tempo que eu tenho para treinar você, Jasão, antes de confrontá-lo: dez dias.

Jasão permaneceu calado depois disso. Parecia estar compenetrado em seu novo objetivo: salvar Atena, que por acaso era a sua querida irmã de criação. Não demorou muito, Quíron completou a regeneração do fígado de Jasão. Isso deu por concluída a varredura dos órgãos internos. Então, o ancião passou para a próxima tarefa: encontrar e reparar os selos ocultos em cada um dos pontos estelares. Primeiro encontrou um ponto estelar completamente exposto no coração de Jasão. Esse era aquele cujo selo se rompeu totalmente. A seguir, encontrou dois selos mais abaixo e a esquerda do coração; um no estômago e outro no baço. Estes dois estavam bastante danificados. O cavaleiro precisou conjurar uma grande quantidade de cosmo-energia na região, e levou quinze minutos para reparar apenas um deles. Concluiu que levaria outros quinze para reparar o segundo, e continuou canalizando grande quantidade de cosmo-energia no local. Enquanto isso Jasão observava curioso a urna sagrada que abrigava a armadura de prata de Órion, que desde que Jasão havia acordado emitia um brilho de seu interior, através das frestas de abertura.

— Todos esses anos, eu nunca suspeitei que você escondia uma armadura aqui nas montanhas. A urna sagrada é exatamente como você descreveu.

— Bonita, não é?

— Sim... Mas existe alguma razão para ela estar brilhando assim?

— Certamente. A razão é a mesma pela qual você está aqui deitado. A armadura está se regenerando.

— Ela se feriu na sua luta?

 

— Sim, a ombreira esquerda foi destruída, mas logo estará intacta novamente. Esta é a última vez, no entanto, que ela pode se regenerar — lamentou.

— Por quê?

— Lembra-se do que eu te ensinei sobre o pó estelar? O pó das estrelas é um dos elementos que Hefesto usou para dar vida às armaduras. E é também necessário para regenerá-las. Uma das funções das urnas sagradas é abrigar pó estelar, para as armaduras se recuperarem quando são guardadas. Mas o pó estelar da minha urna já está acabando. E eu não sou capaz de criar esse elemento.

— Quem é capaz de criá-lo? — Quíron percebia o quanto ainda não havia ensinado para Jasão sobre os Cavaleiros.

— O seu pai. Como representante da escola de Áries, o seu pai era um dos poucos capazes de conjurar esse elemento para reparar as armaduras e reabastecer as urnas sagradas. E não apenas isso, mas também utilizar o pó das estrelas como arma. Com o domínio sobre esse elemento, Esão podia criar obstáculos no campo de batalha feitos de um cristal celestial indestrutível, que existe somente na morada dos deuses, ou então queimar o pó estelar para produzir a mesma chama incandescente das estrelas.

— Esses poderes parecem incríveis demais para acreditar — comentou admirado.

— Com o tempo, você também aprenderá a usá-los — afirmou, acreditando no potencial de Jasão.

Durante a reparação dos selos, Quíron se perguntava como o garoto havia conseguido ter tanta força de vontade para estraçalhar os selos daquela maneira. Não havia dúvidas de que o cosmo explosivo que ele havia sentido naquele momento era tão forte quanto o de um cavaleiro de ouro. A sorte de Electra foi Jasão não ter controle sobre tamanho poder, ao ponto dele provavelmente ter errado o ataque e acertado o chão ao invés da amazona, que foi atingida apenas indiretamente pelo golpe.

— Falando no meu pai... — começou, interrompendo o silêncio novamente. — Como foi que Atena veio parar aqui, junto com a gente? E do que exatamente o meu pai a salvou? Mais cedo você me disse que meu pai raptou Atena do Santuário para salvá-la do Grande Mestre, que iria traí-la, e que ele a enviou para você. Mas quando eu ainda era criança, você me ensinou que Atena foi enviada para o oriente em uma estrela cadente, por um traidor do Santuário, e que ela caiu no mar e se afogou antes de chegar ao outro lado do Egeu, onde espiões atlânticos aguardavam por ela.

— Eu só repeti o que todo cidadão comum, inclusive boa parte do Santuário, acha que aconteceu... Mas essa história não faz sentido algum. Se o traidor quisesse mandar Atena para os atlânticos, a teria enviado para o ocidente, para as terras deles, e não para o lado completamente oposto. Apesar dos rumores, não havia nenhum espião atlântico do outro lado do Egeu.

— Então o traidor, no caso o meu pai, mandou Atena para o oriente para protegê-la, certo? Você estava no oriente, e por isso ele a mandou para lá.

— Não... É um pouco mais complicado do que isso. Realmente, o seu pai fez todos pensarem que Atena foi enviada para o oriente, voando em um objeto que parecia uma estrela cadente cortando o céu. No caso, tal objeto era a armadura de ouro de Áries, que está no oriente até hoje. Porém, o bebê em que Atena reencarnou jamais esteve dentro da armadura. Foi apenas uma distração para manter ocupados os atlânticos que a queriam roubar de nós, e que haviam feito um acordo com o Grande Mestre para recebê-la diretamente dos braços dele.

— Então foi isso o que o meu pai descobriu...

— A distração funcionou. Todos os atlânticos se mobilizaram para o oriente, e foi lá que a guerra começou. Porém, eles levaram tanto tempo para conquistá-lo, que quando Troia finalmente caiu e ele conseguiram chegar na Cólquida, onde encontraram a armadura de Áries sem nenhuma pista de Atena, eles pensaram que a haviam perdido para sempre. Interrogaram e até torturaram todos os habitantes do Reino de Cólquida, mas não descobriram nada a respeito de um bebê que teria viajado dentro da armadura. Foi aí que surgiu o rumor que ela teria caído no mar antes de atravessá-lo.

— O que realmente aconteceu?

— No mesmo instante em que seu pai enviou a armadura de ouro para o oriente, ele utilizou uma técnica lendária, divina, tão avançada que nenhum cavaleiro jamais utilizou antes na história; somente os deuses. É uma técnica com a qual você pode desmaterializar qualquer coisa, objeto ou ser vivo, em um ponto do universo, e imediatamente rematerializá-lo em qualquer outro ponto, não importa a distância. É uma técnica de mobilidade instantânea, que supera qualquer obstáculo, conhecida como teletransporte. Ninguém sabia que seu pai podia utilizá-la, nem mesmo eu, e por isso ele não levantou suspeitas.

— Incrível... Eu não sabia que o Esão era tão impressionante assim.

— Ele era. Somente um mestre absoluto em telecinese como ele foi capaz de desenvolver tal técnica. Ele a utilizou somente uma vez, mas foi essencial para salvar Atena e mudar o curso da história. Foi assim que eu a recebi naquela noite, junto com uma mensagem telepática de seu pai, me mostrando tudo o que ele havia presenciado. Junto, também, com a mensagem de despedida que ele mandou para você, que ainda era um bebê e estava comigo naquela noite.

— E a minha mãe? — Quíron havia se esquecido completamente. Ele nunca explicou o que aconteceu com a mãe de Jasão. A quanto tempo o garoto deveria estar pensando em perguntar por ela, temendo ouvir a resposta?

— Ela também morreu. Eu sinto muito. Ela morreu no parto. O nome dela era Alcimede. Seu pai não estava com ela quando aconteceu. Estava em uma missão do Santuário; a missão em que encontrou a reencarnação de Atena em um vilarejo no interior da Tessália. Ele jamais se perdoou por não estar em Iolco naquela noite, quando poderia tê-la salvo. Frustrado, abandonou o trono para o irmão, e decidiu levar você para viverem no Santuário em Olímpia. Eu estava cuidando de você na noite que seu pai enviou Atena para mim, não muito longe de onde seu pai morreu. Na mesma noite eu deixei o Santuário em segredo para fugir com vocês. Apenas quando deram por minha falta é que perceberam que eu estava envolvido com a traição do seu pai, embora ainda acreditassem que Atena tivesse sido enviada para o oriente. Eles achavam que eu só tinha fugido para evitar que você, filho do meu amigo, fosse executado como punição do Santuário.

— Mas matar apenas uma criança...

— Infelizmente, alguns homens acreditam que o filho de um criminoso só pode se tornar, também, um criminoso.

Jasão não disse mais nada. Saber que ambos os pais biológicos estavam mortos devia ser um fardo nesse momento, concluiu Quíron. Após terminar a reparação em torno do ponto estelar no baço, passou para o último, localizado no ombro direito de Jasão. Esse selo, apesar de danificado, estava mais íntegro, e Quíron levou apenas 5 minutos para repará-lo.

— Pronto, isso deve dar conta. É apenas um remendo, então ainda há o risco deles se quebrarem se você elevar demais o cosmo. Mas por hora é o que podemos fazer se não quisermos adiar demais a viagem.

— Ótimo! Já estou me sentindo melhor — exclamou, levantando-se com disposição e fazendo uns alongamentos. A animação pareceu meio forçada para Quíron. Jasão estava com certeza escondendo algum ressentimento.

— Escute... Todo esse trabalho levou mais tempo e energia do que eu esperava. Vamos dormir algumas horas na caverna, e amanhã partimos antes do sol nascer.

— O quê? Eu esperei tudo isso para agora irmos dormir? Se não formos logo atrás deles, podemos perder Hele de vista.

— Não diga bobagens. Já te falei: sei exatamente para onde estão levando ela. Além disso, você não foi o único a receber meus feitiços. Eu também conjurei um rastreador cósmico em Hele, tão bem escondido que somente eu posso notar sua existência. Contanto que ele não seja desarmado, eu sei exatamente em que direção e distância ela está, a qualquer momento que eu quiser. E nesse instante, eu posso sentir... Eles também estão parados, a apenas duas horas de caminhada daqui.


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, o Rei de Atenas Teseu fala sobre o seu passado.



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