Naruto não sabia ao certo o que esperar; apenas continuou em silêncio, sentado no sofá da sala, observando a figura feminina andar de um lado a outro, visivelmente ansiosa.

Há semanas ele vinha reparando o comportamento nada habitual da esposa. Fome excessiva, dores abdominais e oscilações no humor — ah, essa última ele chegou a sentir na pele. Hinata, antes um livro aberto, tornou-se uma incógnita que ele não conseguia desvendar de maneira alguma. Chegou a alvejar a garota com perguntas, embora nem ela soubesse o porquê de tudo aquilo.

Todas essas dúvidas sem respostas o enlouquecia. 

Há algumas horas, enquanto faziam compras no supermercado, a morena revelou que precisavam ter uma conversa séria. Para a infelicidade do Uzumaki, ela permaneceu quieta durante todo o trajeto até o pequeno apartamento que residiam, os olhos perolados fixos em um ponto no horizonte. Estava tão absorta nos próprios pensamentos que Naruto teve que puxá-la para que não batesse com a cara em um poste.

Os devaneios se esvaíram quando a ex-Hyuuga parou, de súbito, e sentou-se ao seu lado, tomando coragem para encará-lo. Ela o tocou, entrelaçando os dedos nos seus e soltou um suspiro. As mãos femininas estavam molhadas pelo suor e, Naruto percebeu, ela respirava com dificuldade.

O nervosismo de Hinata só fez com que ficasse ainda mais inquieto.

— Estou grávida. — anunciou, abrindo um pequeno sorriso como se retirasse um peso das próprias costas.

Naruto estancou no lugar, imóvel, parecendo uma estátua de sal. O cérebro do rapaz quase pifou, não conseguindo assimilar mais nada. Ele já não sabia o que fazer. Queria dizer alguma coisa, qualquer coisa; abriu a boca, mas o som não atravessou seus lábios. 

— Comecei a suspeitar há pouco tempo, quando senti alguns enjoos. — continuou, as mãos levemente trêmulas. Ela parecia tão radiante quanto uma manhã ensolarada, o olhar sonhador e um sorriso bobo enfeitava os lábios levemente avermelhados — Encontrei a Sakura-san anteontem, contei a ela o que vinha acontecendo e fizemos o exame sanguíneo e o tradicional.

De repente ele parou de escutar tudo. Hinata movia os lábios, porém era como se nada dissesse. O loiro engoliu o seco duas vezes, e, sem que percebesse, as safiras azuladas desceram até o ventre da esposa.

E as palavras dela ecoaram novamente em seu consciente, o preenchendo com um calor que jamais sentira em toda sua vida. 

Eu estou grávida.

Grávida.

Teve os pensamentos tomados por imagens de uma criança correndo pela casa, pulando em seu colo, brincando e lhe abraçando. Imagens dele, Naruto Uzumaki, ninando um bebê e observando Hinata preparar a mamadeira.

— Naruto-kun? — a voz da jovem o trouxe de volta a realidade. Ela o tocou no ombro com a mão esquerda, visivelmente preocupada.

 Ele cresceu sem uma família e agora seria pai.

Pai.

E então, Naruto esboçou sua primeira reação após as escutar as boas novas: envolveu a esposa em um abraço apertado, as lágrimas caindo e molhando os ombros da moça. Hinata, surpresa, o abraçou de volta, sentindo as costas do marido subir e descer por conta dos soluços.

Ela também se permitiu chorar naquele momento, o coração envolvido pelo júbilo. 

— Eu vou ter um filho. — Naruto sussurrou, ainda sem acreditar nas próprias palavras.    

A morena sentiu o toque hesitante da mão masculina em seu ventre. Ele acariciava a região com carinho enquanto se desvencilhava do abraço apertado. Aproximando o rosto da barriga feminina e com a face banhada pelas lágrimas, falou:

— Ei, mesmo que a gente ainda não se conheça, eu e sua mãe... — parou de falar, as lágrimas voltando a descer — Nós já te amamos muito.

E sentiu-se completo, verdadeiramente completo.