Superando o passado escrita por HungerGames


Capítulo 24
Capítulo 24




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Acordar e encontrar ele ainda dormindo, com a cabeça apoiada no meu travesseiro, o braço na minha cintura e a perna encaixada na minha tem sido a melhor parte em acordar nos últimos dias, claro que eu ainda fico mal humorada quando preciso me levantar, por isso depois de observar ele por alguns segundos me levanto da cama e vou direto pro banheiro quase de olhos fechados, praguejando que eu tenha que acordar tão cedo, entro debaixo do chuveiro e levo pelo menos 10 minutos só pra me despertar, saio e a cama está vazia, mas a camiseta dele ainda está jogada entre os lençóis, isso me faz sorrir, me visto e saio do quarto pronta.
Ele e Vinny estão rindo de algo no celular de um deles, mas quando Rafa me vê logo pega minha caneca, despeja café e me entrega, me dá um beijo rápido e se afasta.
— Até que o moleque aprende rápido - Vinny faz uma cara de impressionado enquanto eu deixo o café me despertar.
— Você não tinha que tá na aula não?
— Hoje eu tô de folga - ele sorri todo feliz.
— Sorte a sua - faço uma meia careta, Rafa me estica uma maçã, mesmo sabendo que eu odeio comer fruta de manhã, então mostro o dedo do meio, ele ri e eu espeto um peito de peru e enfio na boca.
— Vocês dois estão me irritando - Vinny fala fazendo careta.
— A gente não fez nada.
— Vocês são estranhamente fofos e ao mesmo tempo parece que nada mudou, não entendo isso...
— É que nós somos alma gêmeas - Rafa dá de ombros numa explicação ridícula que me faz rir.
— Tô atrasada – me levanto e Rafa vem até a mim, me dá um beijo razoavelmente longo e sorri me dando uma piscada.
— Acabei de me lembrar que tenho uma reclamação - Vinny fala nos interrompendo, eu olho pra ele por cima do ombro do Rafa.
— Coloca na caixa de reclamação...
— Nós não temos caixa de reclamação
— Então talvez seja por que eu não me importo com a sua reclamação - mando um beijo no ar e ele mostra o dedo do meio de cada mão.
— Por que você não coloca dinheiro na caixinha quando o Rafa dorme com você?
— Por que ele mora aqui!
— Sim, mas no quarto dele e não no seu - reviro os olhos.
— Você não vai conseguir arrancar dinheiro meu assim - aviso, abro a porta e saio.
— VEREMOS! - a voz dele me alcança no corredor, eu acabo rindo mas sigo meu caminho.
O trabalho é bem puxado, tive que preparar a sala de reunião três vezes mas pelo menos tudo deu certo e não tive nenhum problema durante o dia todo e quando pego o caminho pra casa sinto aquela ansiedade que costuma aparecer agora, mesmo sabendo que essa hora ele está na academia.
Entro no apartamento e como eu desconfiava está vazio, aproveito pra tomar um banho, saio enrolada na toalha e escuto as risadas na sala, visto uma roupa e saio, Vinny e Rafa estão jogados no sofá conversando animadamente.
— Vocês estão suados e no meu sofá
— Nosso! - os dois falam juntos, se olham e batem as mãos em vitória.
— Maravilha, usem essa união na hora de lavar as almofadas - passo pra ir pra cozinha, mas a campainha me faz desviar do caminho, abro a porta e Bianca está sorridente.
— Adivinha quem ganhou a vaga de estágio no maior jornal da cidade? – ela já está dando saltinhos e antes que eu consiga parabenizar ela, Vinny quase me atropela enquanto a pega no colo e comemora, ela faz faculdade de jornalismo e estava atrás dessa vaga a algum tempo então entendo a alegria, quando ele finalmente a coloca no chão eu a abraço realmente feliz por ela.
— Temos que comemorar – Rafa fala já abraçando-a também, então ela abre a bolsa e levanta uma garrafa de vodca.
— Eu trabalho amanhã – tento parecer reprovar, mas já estou sorrindo e fechando a porta animada.
— Eu preparo alguma coisa pra gente comer – Rafa logo se anima.
— Eu te ajudo!
— Eu começo as preliminares – Vinny fala já puxando Bianca pela cintura e a fazendo gargalhar, eu também acabo rindo e decido deixar eles continuarem nas pegações dele no sofá.
— Mês que vem é sua vez – Rafa fala enquanto eu estou ao seu lado na pia.
— Eu vou COMEÇAR a faculdade mês que vem – ele dá de ombros.
— E já pode estagiar desde o primeiro semestre, eu tenho certeza que o Dr. Leones não seria tão burro de perder essa oportunidade – eu acabo sorrindo, mesmo achando exagerado.
— Acho que seu comentário fica meio distorcido por que você meio que é apaixonado por mim e tals – ele ri, me dá um selinho e abre a geladeira.
— O fato de que eu sou apaixonado por você... E eu sou e MUITO – ele destaca e quando fecha a geladeira me dá outro beijo – Não muda o fato que eu realmente te acho muito competente e tenho certeza que você vai brilhar advogando...
— Eu sei lá, é só que... – sinto aquele frio no estômago que sempre aparece quando me sinto insegura com algo, ele me olha curioso, para o que estava fazendo e me encara.
— Você tá com medo, isso é normal...
— Não é medo, quer dizer, não da faculdade, é só que... Eu não quero decepcionar ninguém... Não quero decepcionar você – ele ri, segura meu rosto com as duas mãos e abre um sorriso confiante.
— Você nunca vai me decepcionar...
— Mas eu posso ser uma bosta como advogada – ele ri de novo.
— Você não vai ser uma bosta!
— Mas posso ser...
— Não vai ser – ele fala firme e eu o encaro – E mesmo que você seja, mesmo que no final de tudo você seja muito ruim, mesmo assim não vai me decepcionar, sabe por que? Por que eu te amo... Eu amo você com um diploma ou sem um diploma, nada disso importa pra mim, mas se importa pra você então estamos juntos nessa, só não enche sua cabeça com esse tipo de pensamento, por que eu não vou me decepcionar, pode ter certeza disso – eu acabo liberando um sorriso – Além do mais caso você seja mesmo uma bosta como advogada, eu tô vendo hambúrguer suficiente por nós dois – eu acabo rindo e quando ele me beija eu esqueço qualquer insegurança.
— E caso dê errado, você tem uma bela carreira como motivador – ele ri.
— Mas isso só funciona com você... Você libera meu melhor lado – ele dá de ombros e me dá uma piscada, eu sorrio e fico na ponta do pé pra beijar sua bochecha, ele sorri daquele jeito fofo e meu coração perde uma batida sempre que isso acontece.
Nós preparamos sanduiches e batata frita, arrumamos tudo na mesa do centro na sala e só então Bianca e Vinny param de se agarrar, nós comemos e bebemos enquanto ouvimos música, a noite se estendeu até a metade da garrafa e até Vinny agarrar Bianca e a levar pro quarto, deixando a louça pra mim e pro Rafa. Nós lavamos e guardamos entre beijos e risos abafados, então assim que guardo o ultimo copo ele também me arrasta pro quarto, beijando meu pescoço e me fazendo esquecer de qualquer outra coisa.
No dia seguinte eu acordo na cama sozinha, tomo um banho e saio arrumada, dessa vez não encontro Rafa no apartamento, nem o Vinny ou a Bianca, mas acho o post-it pregado na minha caneca.
“Bom dia, meu amor, tive que sair cedo, é uma surpresa, não fica brava. TE AMO”
Mesmo curiosa, acabo sorrindo, guardo o post-it na bolsa bebo minha caneca de café, pego um iogurte e saio do apartamento, assim que chego no escritório Dr. Leones também chega e me arrasta pra sala dele, ele terá uma reunião muito importante com um cliente grande e me pede ajuda para adiantar alguns documentos, quando termino e vou entregar a ele quase tenho um ataque de nervos quando ele me pede pra acompanhar a reunião do lado dele.
— Mas eu já deixei tudo pronto, ainda precisa de mais alguma coisa? – ele me dá um sorriso.
— Acho que você poderia começar a participar mais, afinal, daqui uns anos esse pode ser o seu lugar, certo? – mesmo nervosa, com vontade de sair correndo e gritar, eu sorrio e agradeço a oportunidade. Eu mesma termino de arrumar a sala de reuniões, mas dessa vez quando os clientes chegam eu não saio da sala, apenas me sento na cadeira do lado da dele e tento não surtar.
— O que você acha, Daniela? – ele me pergunta no meio da reunião, logo depois que o cliente fala sobre o andamento do processo, sinto um zumbido no ouvido, uma tontura como se o mundo chacoalhasse e minha voz parece sumir, ele percebe minha surpresa então sorri para os dois homens que me encaram – Daniela, está começando a graduação, tem uma dinâmica muito compatível com o escritório e tenho certeza que logo se juntará a equipe... – sorrio ganhando coragem, então resolvo não desapontá-lo, puxo da mente toda informação que tenho sobre esse caso e mal sinto as palavra saindo da minha boca, mas quando termino os dois homens abrem um sorriso satisfeito.
— Se metade do seu pessoal for tão bom quanto ela, tenho certeza que não temos com que nos preocupar...
— Não terão – Dr. Leones garante com um sorriso confiante.
Quando a reunião acaba eu os acompanho até a porta e só então solto o ar que parecia preso.
— Daniela – ele fala meu nome enquanto anda na minha direção com um sorriso animado, ele toca meu ombro e dá um leve aperto – Eu fico feliz que você finalmente tenha se decidido, foi realmente torturante ver seu potencial esses anos e não poder usar ele todo, mas algo me diz que vamos poder mudar isso, certo? – abro um sorriso orgulhoso.
— Estou a disposição – ele sorri e balança a cabeça satisfeito enquanto também sai da sala de reunião, assim que ele sai fecho a porta e faço uma comemoração meio ridícula enquanto finjo socar o ar, depois de me recompor, saio da sala e volto pra minha mesa já olhando pro relógio e contando os segundos pro final do expediente.
Quando o relógio marca seis horas eu saio animada pra contar tudo pro Rafa assim que chegar no apartamento, torcendo pra que ele não tenha ido pra academia, já estava saindo do elevador quando meu celular toca, olho o visor e é ele.
— Eu tava pensando em você agora mesmo – revelo sorrindo animada.
— Espero que seja algo sexy e nada respeitoso – eu acabo rindo.
— Tá na academia?
— Na verdade não...
— No apê?
— Também não!
— Tá onde então? – começo a me irritar por que quero logo contar tudo pra ele.
— Tô olhando uma mulher muito sexy, toda poderosa em cima de um salto preto, saia risca de giz, camisa azul clara... – paro na calçada e olho para os lados, mas não o vejo – Nossa! Ela é muito gata, mô, não fica bolada, mas que mulherão da porra – eu acabo rindo – Caralho, que sorriso!
— Fala logo onde você tá – tento parecer irritada, mas estou sorrindo toda boba, então uma buzina me chama atenção, do outro lado da rua um civic preto, novo, praticamente brilhando, com vidros escurecidos pisca os faróis, eu já ia desviar os olhos.
— Vai me fazer ficar buzinando a noite inteira? – eu arregalo os olhos e volto a encarar o carro, então a porta do motorista abre, ele sai, apoia os braços no teto do carro e com o celular ainda na orelha me olha rindo – Surpresa! Espero que goste de preto – eu dou uma risada, desligo o celular e corro pra atravessar a rua, ele desencosta do carro e abre os braços, eu me jogo nele e o abraço apertado, ele nos gira na calçada rindo.
— É seu? – olho pro carro novo e maravilhoso e depois volto a olhar pra ele.
— É nosso! – ele dá de ombros.
— Você comprou?
— Não, roubei. Deram mole e eu tô meio cansado de andar de metrô – ele fala com ironia, eu acerto um tapa nele, mas acabo rindo e passando a mão pelo carro que brilha.
— É lindo! Perfeito!
— Para de bobeira, eu nem penteei o cabelo – eu acabo rindo, então ele coloca a mão na minha cintura e me olha sorrindo – Gostou?
— Eu adorei, é lindo, meus parabéns...
— Agora você pode ficar na cama pelo menos uns 15 minutos a mais – ele sorri de um jeito malicioso e aproxima a boca do meu pescoço, seus lábios me fazendo cócegas de um jeito maravilhosamente desconcertante.
— Então você vai virar meu motorista? – sinto o sorriso dele.
— Será uma honra – sua boca sobe pelo meu queixo e encontra a minha, nossos olhares também se encontram e nos beijamos – Agora anda, temos que comemorar – ele avisa e corre pro outro lado abrindo a porta pra mim, eu entro e coloco o cinto, enquanto ele também se senta e se acomoda.
— Bom, eu também tenho novidades – ele me olha com as sobrancelhas erguidas em curiosidade e eu conto tudo sobre a reunião, o Dr. Leones ter me feito participar e do que ele me falou depois, Rafa sorri de um jeito que faz tudo parecer ainda mais importante.
— Você é foda! Isso é incrível, mas não é novidade pra mim – ele se inclina e me dá um beijo rápido quando o sinal fecha e eu me sinto a pessoa mais foda do mundo mesmo.
— Onde nós vamos?
— Naquele italiano que eu falei outro dia, eu tô louco por um prato de massa, talvez dois, três, uns quatro com certeza – ele suspira exagerado e isso me faz rir. Cerca de 10 minutos depois ele está entregando a chave do carro com todo cuidado do mundo para o moço que recebe achando graça, nós entramos no restaurante e somos acompanhados até uma mesa que fica quase no meio do restaurante, está razoavelmente cheio, o lugar é aconchegante, lembrando muito uma dessas clássicas cantinas italianas, com direito a toalha xadrez na mesa e tudo, o cheiro das massas e molhos invadem o lugar e fazem meu estomago roncar.
— Eu tô morrendo de fome – falo já puxando o cardápio e tentando me decidir, Rafa também está com os olhos grudados ao cardápio dele e demoramos apenas cinco minutos pra nos decidirmos. Para entrada pedimos duas porções de bruschettas, uma de provolone e bacon e a outra de tomate e manjericão, para o prato principal eu pedi um nhoque com molho de quatro queijos e ele uma lasanha clássica bolonhesa.
— A cartela de vinhos – Rafa pede e eu nego.
— Não precisa, nós vamos querer suco de uva – eu falo e olho pra ele – Você tá dirigindo – ele faz uma careta, mas olha pro garçom.
— É isso! – ele concorda e eu sorrio orgulhosa, quando o homem se afasta me inclino na mesa e lhe beijo rapidamente, ele sorri satisfeito e coloca a mão por cima da minha, seu polegar alisando minha pele – E você achando que poderia me decepcionar – ele fala como se isso fosse uma coisa impossível de acontecer.
— Eu amo você, sabia? – ele abre um sorriso grande, então sem se importar com as pessoas em volta, ele arrasta a cadeira dele que estava a minha frente até ficar do meu lado, eu acabo rindo e olho em volta, apenas alguns olhares nos percebem, mas quando volto a olhar pra ele esqueço dos outros também, seus dedos tocam meu queixo e ele me beija sem se importar com mais nada.
— Acho que vou pedir pra viagem – ele fala quando nossas bocas se separam e eu acabo rindo.
— Você é um idiota – ele sorri satisfeito e me dá um selinho que me faz sorrir, mas quando olho pra frente meu sorriso se fecha, parada a alguns metros de distância mas com os olhos fixos em nós dois está Nathy, ela está linda como sempre, em um vestido vermelho curto e de mangas longas, ela não desvia os olhos de nós dois e quando Rafa olha pra ela fica meio tenso também, mas ela dá um sorriso meio irônico, e se junta a uma outra moça morena que a aguardava numa mesa de canto – Isso é um saco – eu falo tentando evitar olhar pra ela.
— Você quer ir embora? – ele parece meio decepcionado, então eu nego, ele coloca uns fios de cabelo atrás da minha orelha e mantem o toque no meu rosto – Nós não estamos fazendo nada de errado, ok? – forço um sorriso e lhe dou um selinho para tranquiliza-lo, ele percebe que ainda estou meio incomodada, então volta com a cadeira dele pro lugar de antes mas mantem a mão por cima da minha na mesa – Me conta mais sobre seu dia no escritório... – ele pede obviamente tentando me distrair, então eu acabo voltando a atenção pra ele e começo a contar sobre as outras coisas que aconteceram hoje, ele também me conta sobre a receita de molho nova que ele testou e que vai lançar no próximo fim de semana e então nosso pedido chega e eu estou com tanta fome que mal os pratos com as bruschettas tocam na mesa e eu já estou pegando uma.
— Ai meu Deus, essa é a melhor coisa que eu já comi na minha vida – não me importo de parecer exagerada, ainda mais quando ele ri de um jeito tão leve como agora.
— Ficaria perfeita com um vinho... – eu o encaro e ele levanta as mãos em inocência – SE eu não estivesse dirigindo...
— Mas está!
— Eu sei, mas é que eu adoro você brava – ele me dá uma piscada.
— Por que você é maluco
— Por você? Com certeza – reviro os olhos, mas acabo rindo e volto a devorar as bruschettas, quando nosso prato principal chega já não tem mais nenhuma nas travessas e eu ainda sorrio animada quando olho meu prato fundo cheio de nhoque, ele ri da minha expressão, mas quando o sabor atinge minha boca eu fecho os olhos e jogo a cabeça pra trás.
— Eu juro que te trocaria por um prato desse sem nem pensar duas vezes – ele faz uma cara de ofendido e prova sua lasanha.
— Bom, eu te entendo perfeitamente, tô quase te chutando da mesa – eu acabo rindo e levo meu garfo até seu prato, ele me encara reprovando.
— É só um pedaço, deixa de ser chato – ele dá um tapa na minha mão e então ele mesmo pega um pedaço e me serve na boca, o molho da carne está perfeito – Eu mesma vou me chutar – ele ri e nós continuamos o jantar entre risos, implicâncias e boa comida, ele acabou aprovando o suco de uva e não reclamou mais.
— Eu quero sobremesa – reclamo quando ele começa a falar sobre pedir a conta.
— Você comeu seu nhoque e metade da minha lasanha – eu abro a boca fingindo horror.
— Isso não foi nada cavalheiro – finjo estar magoada e ele ri dando de ombros.
— Mas foi bem realista...
— Nossa, você é um idiota – o sorriso dele aumenta – Estou falando no sentindo ruim mesmo... Não se fala desse jeito com sua namorada
— Mas não falei com a minha namorada, falei com a minha melhor amiga – mesmo tentando manter o teatro de ficar magoada eu sorrio orgulhosa, mas o sorriso diminui quando eu vejo Nathy andando na nossa direção, já tinha até me esquecido que ela estava aqui, mas agora ela anda olhando fixamente pra mim, Rafa percebe minha reação e olha pra trás, depois logo volta a me olhar.
— Relaxa, ok? – ele pede segurando minha mão com tranquilidade, antes que eu possa responder ela alcança nossa mesa, para sem olhar pra ele, apenas pra mim.
— Oi! – eu falo sem saber direito o que fazer ou falar, puxo minha mão que estava embaixo da dele e me sinto estranha, ela balança a cabeça rindo de um jeito meio irritado, então tudo acontece rápido demais, em um segundo ela está rindo e no outro jogando o suco de uva da taça do Rafa na minha cara, o liquido está gelado, entra um pouco no meu nariz e na minha boca, eu dou um pequeno grito com o susto e minha cadeira escorrega um pouco pra trás.
— VOCÊ TÁ MALUCA?! – escuto a voz do Rafa e mesmo sem conseguir abrir os olhos já que eles ardem com o liquido, sei que ele está realmente irritado – Merda! Você tá bem? – ele esfrega meu rosto com o lenço e eu consigo abrir os olhos, ele está com o rosto assustado, irritado e preocupado, olho pra onde Nathy estava e ela já virou as costas e anda na direção da porta, dessa vez praticamente todo o restaurante está me olhando, eu puxo o lenço da mão do Rafa me levanto e me afasto da mesa indo na direção do banheiro – Você tá bem?
— Eu só vou no banheiro – aviso e não espero ele responder, apenas volto a andar e abro a porta de madeira que indica banheiro feminino, vou até a pia, o espelho gigante mostra meu rosto ainda molhado, a camisa azul clara com a mancha que se espalha cada vez mais e alguns fios do meu cabelo também estão molhados, agradeço por não ter ninguém no banheiro e fecho os olhos respirando fundo algumas vezes, então molho o lenço e esfrego no meu rosto, agradeço mais uma vez por não passar muita maquiagem se não o estrago seria muito maior, depois de limpar meu rosto e prender meu cabelo num coque meio desajeitado, tento limpar minha camisa, mas não disfarça em quase nada a mancha, porém como não tem mais o que fazer respiro fundo e saio do banheiro, antes que eu me aproxime da mesa Rafa se levanta e vem até a mim.
— Como que você tá? – eu dou o melhor sorriso que consigo.
— Com gosto de suco de uva – ele me dá um sorriso divertido.
— Ainda mais gostosa – eu reviro os olhos mas acabo rindo.
— Será que a gente pode ir embora? Tá todo mundo olhando pra nossa cara...
— Eu já pedi a conta – eu sorrio agradecida, então o garçom volta com a conta, ele abre a carteira, pega o dinheiro, coloca na pastinha e entrega ao garçom, então pega na minha mão, eu pego minha bolsa e saímos do restaurante, o mesmo moço traz o carro e ele já estava pegando a chave da mão do cara quando ela reaparece.
— Droga, Nathy, para com isso, sério... Seu problema é comigo, resolve comigo – ele fala meio que entrando na minha frente, ela o olha fixamente.
— Alguma vez você foi sincero comigo? – ela pergunta e ele parece soltar o ar devagar.
— Eu nunca menti pra você... Você não pode dizer isso – ela solta uma risada.
— Mas também nunca me disse a verdade né? Nunca me disse que era apaixonado por ela – seu olhar de desprezo me afeta mais do que deveria e eu me sinto meio culpada por ela estar magoada.
— Olha, você quer me odiar, ok. Quer gritar comigo, ok. Você pode fazer isso, mas não faz isso com ela... Ela não tem nada a ver com isso
— Ela tem TUDO a ver com isso, Rafael – ela parece meio irritada.
— Nathy! Por favor...
— Você tá feliz, eu já entendi. Não vou estragar as coisas pra você – ela força um sorriso e então volta a me olhar.
— Só queria saber como vocês conseguem estar tão felizes sabendo que pra isso tiveram que deixar duas pessoas passarem pelo inferno só por que vocês ainda não tinham se decidido? Como você pode ter enrolado o Vítor por tanto tempo e não ter perdido uma única noite de sono até estar nos braços de outro? Foi tão fácil quanto parece ou você é só uma boa atriz?
— OK! CHEGA! – Rafa a encara sério, ela parece ainda mais irritada e magoada.
— Eu não acredito que me apaixonei por você – ela dá um sorriso, vira as costas e sai, ele respira fundo, abre a porta do carro pra mim e eu apenas entro, ele fecha a porta, dá a volta e entra no carro.
— Desculpa! Eu... Ela me odeia, não é nada com você, ela só quer me atingir – ele fala e eu apenas balanço a cabeça enquanto coloco meu cinto.
O caminho até o apartamento é feito em silêncio, as palavras dela se repetem na minha cabeça mesmo que uma parte minha diga que não posso ser culpada por tudo isso, ainda assim isso me deixa mal, por isso mal percebo quando chegamos, até que Rafa toca minha perna.
— Eu sinto muito por isso, eu devia ter te tirado de lá assim que ela chegou... – a culpa e a preocupação nos olhos dele me despertam para aquela vontade que eu sempre tenho de fazer ele se sentir melhor, então me inclino e beijo sua boca.
— Não foi sua culpa!
— Nem sua – ele afirma e eu lhe dou outro beijo.
— Então problema resolvido – forço um sorriso, tiro meu cinto e não espero por ele, apenas saio do carro, ele logo sai também, se apressa pra me alcançar e segura minha mão, entramos no elevador em silêncio mas de mãos dadas.
— O quê que aconteceu com você? – Vinny pergunta quando vê minha roupa manchada.
— Nada! – tranco a porta e passo por ele.
— O que aconteceu com ela? E não se atreva a me ignorar – paro no caminho e me viro pra ver ele com a mão no peito do Rafa impedindo-o de passar.
— A gente encontrou a Nathy e ela me deu um banho de suco de uva, só isso... Já pode largar a pose de machão – eu aviso, volto o caminho e puxo Rafa pela mão, mas ele o segura pelo ombro.
— Você deixou ela chegar perto da Dani? Que porra você tem na cabeça?
— VINNY! – ele me olha e mesmo sabendo que ele ainda está explodindo de raiva, ele também me conhece o suficiente pra saber que não é uma boa hora, então solta o Rafa, eu o puxo junto comigo e dessa vez alcançamos o quarto, jogo minha bolsa na cama, tiro meus saltos largando em qualquer lugar e abro os botões da camisa – Eu vou tomar um banho! Evita chegar perto do Vinny agora, a culpa não é sua, mas ele é muito esquentado as vezes – aviso e entro no banheiro, termino de tirar a roupa e entro debaixo do chuveiro, a agua cai na minha cabeça enquanto eu me pergunto por que as palavras da Nathy continuam se repetindo na minha cabeça e me deixam me sentindo mal, eu não tenho culpa se o Rafa terminou com ela, eu não pedi por isso, nem sabia que ele iria fazer isso, eu estava disposta a ser só a amiga, era isso que eu ia fazer, eu até terminei com o Vítor pra isso... Então eu entendo. É isso que está me deixando mal, ela ter falado dele e ter falado algo que de certa forma é verdade. Eu terminei com o Vítor e logo em seguida estava me declarando para o Rafa, passando o melhor fim de semana que eu tive nos últimos 4 anos e agora que voltei de lá estou tendo os melhores dias possíveis, eu simplesmente continuei minha vida como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse passado cinco meses prendendo o Vítor a mim pra depois simplesmente terminar e nunca mais pensar em como ele estaria, isso provavelmente faz de mim uma megera sem coração e talvez Nathy tenha razão, eu não deveria estar tão feliz assim.
— Posso? – a voz me desperta, tiro a cabeça debaixo da agua rápido demais e Rafa já está entrando no box, ele está de cueca e fecha a porta do box devagar como se esperasse que eu o expulsasse, mas eu não expulso, por mais culpada que eu possa me sentir não consigo me negar estar perto dele, ele se aproxima de mim, suas mãos vão até meu cabelo que ainda estava preso em um coque, tira o elástico e os fios caem pelos meus ombros, ele me coloca debaixo da agua morna novamente e massageia minha cabeça com a ponta dos dedos, para apenas pra pegar um pouco do shampoo, espalha nas mãos e volta a massagear, a espuma desce pelo meu corpo e se desfaz no chão a caminho do ralo, depois ele espalha o condicionador pelos fios, tudo em silencio, apenas suas mãos trabalham atentamente, evitando que a espuma caia nos meus olhos, me fazendo inclinar ou virar a cabeça e massageando com tanta dedicação que fecho os olhos pra me aproveitar do seu toque, quando ele termina dou um passo pra fora da agua e nós ficamos nos olhando enquanto a agua cai entre nós dois, até que ele fecha o registro e a agua para.
— O Vinny tá certo. Eu não devia ter deixado ela chegar perto de você...
— Não tinha como você adivinhar
— Mas deveria!
— Não! – eu nego e quebro nosso espaço, passando minhas mãos ao redor da sua cintura, eu respiro fundo e forço um sorriso – Foi só um pouco de suco.
— Você sabe que não foi só isso. Eu sei que não foi só isso...
— Você tá certo – admito e ele passa os dedos pelo meu rosto.
— O que tá passando na sua cabeça? – eu penso em não falar sobre isso, em dizer qualquer coisa, mas me lembro que antes de namorados somos amigos, não quero que isso mude.
— O Vítor! – ele não parece surpreso e isso me deixa mais a vontade pra falar – Ela tá certa...
— Dani...
— Eu tô feliz, Rafa! – isso o faz parar e mesmo com esse clima horrível, ele libera a sombra de um sorriso – Eu tô mesmo muito feliz e meu Deus, eu nem lembrava que eu podia ser tão feliz assim, mas eu tô... É só que... Eu meio que me sinto culpada agora por estar vivendo os melhores dias da minha vida, enquanto eu não sei nem como ele tá...
— Ele tá bem!
— Não tenta me fazer me sentir melhor, só... Me escuta, ok?
— Eu não tô tentando fazer isso... Quer dizer, eu quero que você se sinta melhor, eu só não disse isso apenas com esse objetivo – eu o olho confusa e ele dá de ombros – Eu fui falar com ele no dia seguinte que chegamos – isso me pega de surpresa – Eu não te contei por que era entre eu e ele... Nós eramos amigos, eu realmente adoro ele, eu só não ia conseguir não contar pra ele...
— O que ele disse? – ele dá de ombros.
— Lembra quando eu disse que ele era foda? Que era o cara perfeito pra você? Eu não menti – ele levanta os ombros – Eu achei que ele fosse quebrar minha cara, mas não... Ele só me mandou criar juízo e que um dia, talvez, a gente saia pra tomar umas cervejas, mas eu que vou ter que pagar – isso me arranca um sorriso, eu posso realmente ver o Vítor falando algo assim, é bem a cara dele – Ele é um cara incrível – eu confirmo.
— Ele é. Ele é incrível, ele é foda, ele é mais um milhão de coisas, ele só não é perfeito pra mim – dessa vez sou eu quem libero a sombra de um sorriso – Por que o cara perfeito pra mim é a mistura de um idiota completo com o ex mauricinho mais babaca que eu já conheci – ele ri.
— Ainda tô esperando a parte do elogio...
— Ah ele sabe cozinhar razoavelmente bem – ele faz uma cara de ofendido.
— Só isso? – dou de ombros.
— E ele é o único cara que consegue transformar um momento horrível em algo que me faz agradecer por ter ele na minha vida – o sorriso no rosto dele é sincero, ele encaixa as mãos no meu rosto e me olha com atenção.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu hoje, de verdade, eu deveria saber que não estava na hora de encontrarmos ela...
— Ela tá magoada – ele balança a cabeça confirmando.
— Mas eu realmente nunca menti pra ela... Eu nunca prometi nada além do que eu estava dando a ela no momento, eu tentei, tentei de verdade me apaixonar por ela, eu só... Não consegui... – eu entendo, por que foi o mesmo que aconteceu comigo, eu tentei me convencer que poderia me apaixonar pelo Vítor mesmo já estando completamente a apaixonada por ele – Eu acho que você devia conversar com ele – eu o olho achando que ouvi errado, mas ele dá de ombros – Você pode ir até o restaurante, ele disse que tem ficado lá direto – espero pra ver um sorriso forçado, uma testa enrugada ou qualquer outra coisa que indique o quanto ele está odiando dizer isso, mas tudo que encontro são os olhos dele sérios e preocupados – Eu não quero que você fique se sentindo mal por causa de nós dois...
— Não é isso! Eu não me sinto mal por nada em relação a nós dois, eu só... Queria saber como ele tá, não queria que ele me odiasse – ele dá uma pequena risada.
— Ele com certeza não te odeia, na verdade eu não acho que alguém consiga realmente te odiar – ele passa os dedos pelo meu rosto – Conversa com ele, se isso vai fazer você se sentir melhor...
— E tudo bem pra você? Quer dizer, você não vai ficar chateado? – ele sorri e beija minha testa de um jeito demorado demais.
— Se você precisa disso, eu também preciso disso, simples assim...
— Eu não quero que isso acabe, sei lá, deixando algo entre nós dois...
— EI! – ele segura meu queixo e abre um sorriso – Eu amo você e tenho certeza absoluta que você me ama, isso é suficiente pra mim – eu também abro um sorriso, por que também tenho essa certeza em relação a nós dois, mesmo assim resolvo implicar com ele.
— Como você sabe que eu te amo? Eu posso ser uma boa atriz – ele ri de um jeito realmente divertido.
— Primeiro que você é péssima fingindo qualquer coisa – eu finjo estar magoada e ele ri – Segundo que eu vi você toda cheia de marra, parecendo um daqueles mafiosos de filme, ameaçando me avô – mesmo odiando lembrar disso eu acabo sorrindo.
— É só por que eu odeio ele...
— Claro, nada a ver comigo né?
— Nenhum pouquinho – faço uma cara de desprezo, ele me aperta nele e abre o chuveiro me deixando debaixo da agua, eu acabo rindo e então ele me beija, deixando qualquer coisa que esteja fora desse box sem importância alguma.
No dia seguinte, eu saio do escritório direto pro apartamento, Rafa tinha me mandado uma mensagem avisando que ia passar no mercado depois do treino por que como hoje é sexta ele precisou comprar algumas coisas de ultima hora para o food truck, então quando chego no apê está vazio, vou pro meu quarto, sorrio quando vejo a cama perfeitamente arrumada, as roupas que eu tinha deixado jogadas pelo chão de manhã já não estão mais a vista e na mesinha do lado da minha cama tem um porta retrato novo com uma foto do Rafa fazendo bico e eu ao lado dele revirando os olhos dentro da casinha de madeira do resort, eu acabo sorrindo, mas logo vou pro banheiro, tomo um banho e me arrumo, coloco uma calça jeans e uma camiseta branca, jogo a jaqueta jeans por cima, prendo meu cabelo com um laço, pego minha bolsa e saio do apartamento.
Chego no restaurante em um pouco mais do que 15 minutos, o homem na recepção de terno preto, camisa branca aberta em dois botões e um sorriso simpático é novo para mim, mas ele vem até a mim e eu sorrio de volta.
— Boa noite, bem vinda... Já tem reserva?
— Ah não, na verdade eu não vim jantar, eu gostaria de falar com o Vítor...
— Ele ainda não chegou, mas já avisou que está a caminho... A senhora gostaria de esperar?
— Senhora não – faço uma careta e ele sorri se desculpando – Mas eu gostaria sim, realmente preciso falar com ele...
— Claro, me acompanhe – ele faz sinal e eu o sigo até uma mesa mais reservada – Assim que ele chegar eu aviso que a senhorita está esperando – acabo rindo pelo “senhorita”, ele sai e eu fico sentada observando a movimentação do restaurante e tentando imaginar se ele vai odiar que eu tenha vindo, sendo o Vitor provavelmente ele vai disfarçar, mas não vou me espantar se ele mal quiser olhar na minha cara.
— Dani? - dez minutos depois a voz me faz virar rápido demais, me levanto e paro virada pra ele, um sorriso surpreso está no seu rosto e eu fico um pouco aliviada por ele parecer tão bem, ele está com uma camisa preta com umas bolinhas pequenas vermelhas, calça escura, a barba desenhada e um pouco mais alta do que da última vez, o cabelo igualmente baixo, mas a diferença mesmo está na sua sobrancelha direita onde um piercing metálico a atravessa.
— Ficou bem descolado - aponto para o piercing, leva o dedo até a sobrancelha como se só tivesse se lembrado agora.
— Eu provavelmente estava mais bêbado do que deveria - ele ri dando de ombros.
— Mas ficou legal, gostei...
— Tem feito sucesso então não posso reclamar - ele me dá um sorriso divertido - Mas e você? Como que você tá? - ele se aproxima e beija minha bochecha.
— Eu tô bem! Só queria saber se você tem dois minutinhos...
— Até 10! - ele sorri e me aponta a mesa, puxa a cadeira e eu me sento, então faz um sinal para o mesmo homem que me acompanhou aqui, ele logo se apressa - Cris, faz um favor, quando o pessoal da revista chegar você leva eles pra reserva e me avisa, ok?
— Claro!
— E traz... suco? agua? - ele me olha esperando resposta.
— Pode ser um suco - nem sei por que eu disse isso, nem tô com sede, mas ele sorri satisfeito.
— Um suco de melancia e uma água - o homem se afasta e ele se senta na minha frente - Pronto!
— As coisas estão indo bem por aqui ne? - olho ao redor e mesmo ainda sendo cedo o restaurante já está bem movimentado.
— Não posso reclamar - ele sorri orgulhoso.
— Fico feliz por você... Você merece - ele me dá outro sorriso e então um garçom aparece trazendo duas taças, uma com suco e outra com água, ele agradece e ficamos a sós de novo, eu dou um gole no suco e mal consigo sentir o sabor, por que agora que eu estou aqui não sei o que dizer.
— E como foi o Festival? - ele pergunta e eu acabo sorrindo.
— Eles arrasaram! O Vinny ficou todo bobo, o pessoal sabia até as músicas originais dele, foi incrível, você tinha que ver... - assim que as palavras saem eu me arrependo, ele iria mesmo ver, só não foo por minha culpa.
— Tenho certeza que eles vão fazer muitos shows por aqui ainda - ele fala parecendo perceber minha reação, então resolvo ir logo direto ao ponto.
— Eu tinha que te ver e falar com você, pra você ouvir de mim... Eu sei que o Rafa te procurou, mas... Eu precisava fazer isso - ele me dá um sorriso.
— Isso é pela Nathy? - eu acabo não conseguindo disfarçar meu espanto, mas ele me dá um sorriso encorajador - Ela me disse que encontrou vocês e que acabou surtando...
— Ela tem os motivos dela pra isso
— Não acho que tenha - ele fala e dá de ombros - Nem ela acha isso. Ela só... Tá na fase de aceitação ainda, altos e baixos, essas coisas...
— E você? - decido deixar ela de lado, seja lá o que for eu vim aqui pra saber dele.
— Tive uns baixos, mas acho que tô me mantendo equilibrado... Tenho até um piercing - ele aponta fazendo uma cara animada engraçada.
— Não sei bem se isso é um equilíbrio - ele ri e depois faz uma cara magoada.
— Agora falando sério... Eu tô bem! Você não tem que se preocupar comigo...
— Mas eu me preocupo! Eu... Eu gosto muito de você, Vitor, de verdade, talvez seja horrível pra você ouvir isso e talvez não acredite, mas é verdade - ele coloca a mão em cima da minha e sorri.
— Não é nada horrível ouvir isso. Obrigado!
— Não tem que agradecer... Só quero que você fique bem e se for possível... Não me odeie? - ele ri.
— Eu não te odeio, Dani! Não mesmo... Você realmente nunca me prometeu nada, não mentiu pra mim, nós estávamos tentando e não deu certo, simples assim - ele levanta os ombros e sorri - Bom, se isso vai fazer você se sentir melhor, saiba que eu troquei a passagem de avião, eu fui pra Trancoso. Passei aquele fim de semana lá, não teve nenhuma banda foda mas foi um bom fim de semana - ele sorri e eu também sorrio.
— Foi onde você conseguiu essa belezinha? - ele ri, mas nega.
— Isso é culpa do Lucas! Nós bebemos, fizemos uma aposta idiota e como você pode ver... Eu perdi!
— Ah sei lá, eu acho que você deve tá fazendo muito sucesso - ele dá um sorriso meio sem graça.
— Você parece ótima também - ele fala e eu não consigo evitar um sorriso.
— Também não posso reclamar...
— Licença, Vitor, eles chegaram!
— Leva eles, eu vou em dois minutos - ele sai e Vitor volta a me olhar.
— Não quero atrapalhar...
— Ótimo, por que não está atrapalhando - eu sorrio - É só uma tentativa de parceria, estreitando os laços... Mas eu realmente não posso demorar...
— Claro, eu entendo, tomara que consiga a parceria - eu falo já me levantando, ele também se levanta e se aproxima de mim, segura minhas mãos e olha nos meus olhos.
— Foi muito bom ver você, de verdade, eu sei que disse que precisava de um tempo e tudo aquilo, mas... Eu tô bem, é só que as coisas estão mais corridas, mas eu não estou com raiva, nem magoado, nem chorando pelos cantos...
— Então acho que não sou tão encantadora assim - ele solta uma risada tão leve que me faz rir satisfeita.
— Acho que você ta perdendo seu charme - faço uma cara triste e ele ri de novo - Eu tô feliz por você! Tô feliz pelo Rafa também, ele parece... Exatamente a pessoa que eu sempre pensei que ele fosse... Você fez isso com ele e eu só desejo toda felicidade do mundo pra vocês...
— Obrigada - eu o abraço e ele me recebe ainda mais apertado, ficamos assim alguns longos segundos, quando acaba o abraço ele segura o rosto com as duas mãos e me olha nos olhos.
— Eu não me arrependo de ter conhecido você - ele fala e isso supera todas as minhas expectativas, eu abro um sorriso grande e o abraço de novo - Avisa o Rafa que ele ainda vai pagar a cerveja - eu acabo rindo, ele segura minha mão, leva até a boca e dá um beijo - Eu tenho que ir...
— Fica bem! - ele sorri concordando e então eu me afasto.
Saio do restaurante sentindo um alívio no peito tão grande que sinto até meus passos mais leves e parece que chego ao apartamento mais rápido. Entro e vejo Rafa todo concentrado enquanto verifica todas as vasilhas que estão empilhadas no balcão, ando até ele e só então ele me percebe, um sorriso alcança seu rosto e eu sorrio apertando meus passos até ele.
— Como foi lá?
— Ele não me odeia - sorrio animada e satisfeita, ele ri, passa os braços pela minha cintura e afunda o rosto no meu pescoço.
— Mais tranquila?
— Muito!
— Que bom - ele sorri e me dá um selinho rápido.
— E você? Precisa de ajuda? - olho pra trás e mal dá pra ver o balcão de tanta coisa em cima.
— Vou levar as coisas pro food já...
— Eu te ajudo - então começamos a carregar as vasilhas.
Cerca de 10 minutos depois tudo está em seus lugares, Vinny chega da academia e corre pra tomar banho, ele avisa que vai buscar a Bianca e depois vão direto pra lá, eu vou com Rafa na frente.
Assim como tem acontecido desde a inauguração não sobra nada e conseguimos uma quantia muito boa.
— Acho que pode ser uma boa hora pra você pensar em expandir - Bianca fala enquanto estamos entrando no apartamento as 2 e meia da manhã.
— Como assim? - Rafa parece confuso, mas e vira pra ela bastante interessado.
— Você já pensou em abrir uma hamburgueria? Tipo, um lugar fixo mesmo, acho que algo no centro seria perfeito - ele me olha e eu realmente gosto dessa ideia e faço uma cara de incentivo.
— Isso parece promissor – Vinny sorri todo orgulhoso da ideia da namorada.
— Vou pensar nisso – Rafa fala e passa um braço ao redor do meu corpo – Mas agora eu realmente tô quebrado – ele faz uma cara meio exagerada.
— Então vai pro seu quarto – Vinny implica quando ele começa a me levar pro meu quarto.
— Boa noite! – Rafa responde já fechando a porta, ainda ouço a voz do Vinny o chamando de abusado e nós dois rimos.
— Eu espero que você esteja quebrado mesmo, por que eu tô – me jogo na cama sentindo meus músculos quase pedindo socorro, as mãos alcançam meus pés e tiram meu tênis e depois as meias, solto um som aliviado e me arrasto para mais perto dos travesseiros, ouço o barulho de algo sendo jogado no chão, quando olho ele está sem camisa, se joga na cama, tira os tênis meio sem jeito e apressado e se gruda em mim, afundando o rosto no meu pescoço – Depois reclama da bagunça – ele dá uma risada.
— Não se atreva a dizer que eu faço bagunça aqui, eu arrumo esse quarto quase todo dia...
— Bom você dorme nele quase todo dia – ele ri, levanta o rosto do meu pescoço e para olhando direto pra mim.
— As melhores noites de sono da minha vida – um sorriso bobo e orgulhoso escorrega e ele beija meu queixo, depois passa os dedos pelo meu rosto – Eu tinha certeza que era imune a isso – ele fala parecendo pensativo.
— A isso o quê?
— Estar tão apaixonado por alguém a ponto de só querer ela, mesmo que seja só pra dormir agarrado – eu acabo sorrindo de novo – Eu nem sei mais dormir longe de você, isso deve ser algum tipo de vicio, sei lá... Eu nunca senti nem nada parecido com isso com ninguém, e eu tinha certeza que nunca ia sentir...
— Acho que eu sou a sua kriptonita então – ele dá uma risada tão gostosa que me faz rir também.
— Com certeza você é – ele me dá um beijo rápido e me puxa para os braços dele, minha cabeça se encaixando no seu peito – Minha kriptonita...
— Você não vai ficar me chamando assim, agora né?
— Ahhhhh com certeza, Krip! – eu acabo rindo.
— Eu me odeio por isso...
— Azar o seu, por que eu te amo – levanto o rosto pra olhar pra ele e quando ele sorri eu não resisto e o beijo, dessa vez um beijo de verdade.
— Cara, eu disse que tô quebrado não tenta me seduzir – eu acerto um tapa nele, mas acabo rindo, volto com minha cabeça pro seu peito e sinto aquela paz que parece me fazer transbordar.
Eu acordo com os dedos passando pelo meu braço, abro os olhos e ele está me olhando com um sorriso meio largo demais.
— Que horas são?
— Bom dia pra você também – ele me dá um beijo rápido.
— Se for antes das dez é melhor você correr antes que eu te alcance – ele ri daquele jeito que me faz sorrir como boba.
— São dez horas agora, mas você tem que levantar
— Não tenho não...
— Tem sim! – puxo meu travesseiro pro rosto e o ignoro – Nós vamos pra casa dos seus pais – isso rouba minha atenção e eu afasto o travesseiro do rosto.
— Por que?
— Por que hoje tem jogo e eu combinei com seu pai de assistirmos lá...
— É sábado, Rafa! – faço uma careta batendo minhas mãos na cama.
— Eu sei, meu amor, mas é o jogo da semi final, e eu não vou ver sozinho com você por que com certeza você vai em distrair...
— Eu fico dormindo aqui e você pode assistir...
— Não quero ver sozinho – reviro os olhos – E seu pai ficou todo contente quando eu liguei – eu o olho curiosa.
— Quando você ligou?
— Ontem, você tava conversando com o Vítor, eu esqueci de falar – ele faz uma careta de quem fez besteira e eu afundo meu rosto no travesseiro.
— Por favor, vamos... Eles estão todo bobo, sua mãe fez até supermercado – eu acabo rindo – MÔ! – ele me cutuca – MÔ! – eu levanto a cara do travesseiro – O jogo começa as 11! – ele faz uma carinha tão fofa que eu reviro os olhos e me sento na cama, ele abre um sorrisão – Eu te amo! – ele me dá um selinho e já fica em pé, anda até a cadeira e pega uma roupa que estava lá – É só se vestir, já tá tudo no carro, o Vinny foi pra Bianca... – mesmo querendo dormir mais umas duas horas, fico sorrindo com a ansiedade dele, então corro pro banheiro, escovo dente, me visto e quando chego na sala ele já está com a chaves na mão.
— Eu não mereço nem um cafezinho?
— Sua mãe fez bolo de fubá e biscoito amanteigado
— Quando você virou tão amigo dela? – ele ri.
— Eu disse que ela ia querer me roubar de você – ele me dá um selinho, abre a porta e espera que eu passe.
Quando chegamos a casa dos meus pais, eu quase tenho que concordar com ele, por que eu pareço quase invisível pra minha mãe, assim que entramos no quaintal, depois que o táxi nos deixou na porta, ela vem toda cheia de sorriso e abraços pra ele, diz que fez um café reforçado e pra ele se sentir a vontade.
— Nossa, achei que a filha fosse eu – eu finjo estar ofendida, papai vem até a mim e abre os braços, sorrio e nos abraçamos demoradamente enquanto ele beija minha bochecha de um jeito que me faz rir, mas logo me solta e se vira pro Rafa.
— As cervejas já estão no freezer – Rafa comemora dando um soco no ar e os dois vão direto pra cozinha pegar as cervejas.
— Eu preparei seus biscoitos preferidos – mamãe fala meio que puxando meu saco.
— Você não vai me comprar com meia dúzia de biscoitos...
— Nem com bolinho de chuva?
— Você fez bolinho de chuva? – ela dá um sorriso orgulhoso – Droga! – finjo uma careta e ela me abraça, nós também vamos pra cozinha. A mesa está arrumada mas meu pai e Rafa pegam as garrafas de cerveja e vão pra sala, aumentando a tv quase no ultimo volume.
— Ele é um bom rapaz – mamãe fala olhando pro Rafa que ri escandalosamente junto com papai e eu sorrio como uma idiota olhando eles.
Nós passamos o dia inteiro com eles, o jogo terminou e mesmo que o time deles tenha perdido eles riam e conversavam animadamente como se tivessem ganhado, por isso quando anunciamos que vamos embora papai e mamãe parecem meio tristes, mas prometemos voltar e como Rafa ainda vai abrir o food, eles entendem.
Nós voltamos de táxi, Rafa já tinha deixado as coisas prontas por que provavelmente deve ter acordado muito mais cedo, então só colocamos tudo no food e dessa vez quem dirige é o Vinny, já que Rafa ultrapassou o numero de cervejas que deveria, mesmo assim na cozinha do food ele pilota maravilhosamente como sempre e as 3 horas em ponto, estamos nos jogando na cama e apagando antes mesmo de pensarmos em qualquer outra opção.
O domingo passamos dormindo até a hora do almoço, até Rafa tá com preguiça então acabamos pedindo um lanche de almoço e comemos vendo tv, depois voltamos a dormir e a noite abrimos o food.
Na segunda eu saio pro trabalho sentindo um pouco do peso dessa vida noturna do food, mas completamente satisfeita e orgulhosa do sucesso que ele anda fazendo, além do mais, mesmo com sono e um pouco mau humorada eu sinto que nunca estive tão bem na minha vida, como estou agora então não tenho do que reclamar.
O dia no escritório foi bem tranquilo, nada de grave aconteceu e quando chego no apartamento Rafa e Vinny estão cochichando, já ia mandar eles pararem de cochichar quando outra coisa chama minha atenção, o cabelo do Rafa, ele cortou os lados bem baixo e tem dois riscos finos e bem estilosos meio que dividindo a parte mais curta da mais alta, sendo que essa está bagunçada, porém de um jeito mais espetado que o normal.
— UAU! Alguém deu dinheiro pro barbeiro – eu falo rindo e indo até ele que sorri.
— Gostou?
— Adorei! Bem a sua cara – já estava sorrindo e pronta pra outro elogio quando o curativo abaixo da orelha esquerda dele me chama atenção – Você foi num barbeiro ou num açougueiro? – ele dá de ombros e toca o curativo.
— Isso não foi ele... É outra coisa – ele me olha meio ansioso e depois olha pro Vinny que ri.
— Ela vai pirar – ele avisa e Rafa joga um pano de prato na cara dele que ri – Não diz que eu não avisei – ele joga o pano de volta e sai da sala.
— Ok, agora eu tô curiosa... – ele sorri.
— Foi uma coisa que eu fiz...
— Tentativa de suicídio? – ele ri e nega.
— Não, só... Um coisa!
— Que coisa? – ele sorri todo orgulhoso e vira o pescoço pra que eu mesma veja, me aproximo e toco o curativo meio sem saber o que esperar, ele está sorrindo todo bobo e isso me deixa mais curiosa, então eu puxo a gaze, meus dedos param no ar quando eu vejo o desenho, é uma tatuagem, logo abaixo da orelha dele, não é muito grande mas é perfeitamente bem desenhada, é uma pedra verde toda craquelada, como se fosse um vidro rachado e os riscos que tem nela formam a letra D.
— Ai meu Deus!— minha voz sai quase como um sussurro, eu desvio os olhos da tatuagem pra ele.
— Minha kriptonita – ele levanta os ombros como se eu não tivesse entendido.
— Não acredito que você fez isso – ele parece confuso.
— Por que não?
— Isso é uma tatuagem? No seu corpo, pra sempre...
— Bom, você tá no meu corpo pra sempre – ele me olha nos olhos e mesmo achando uma loucura tudo que consigo fazer é sorrir e beijá-lo.
— Você é maluco – ele abre um sorriso satisfeito e me dá um selinho rápido.
— Completamente – ele me pega no colo e começa a andar para o quarto – Agora você precisa me compensar... Essa porra doeu pra caralho...
— Eu não mandei você fazer nada – ele ri.
— Só cala a boca e sorria – ele pede e quando alcançamos o quarto ele me bota na cama e eu não preciso fingir um sorriso, ele é grande e verdadeiro e só aumenta quando eu o puxo pra mais perto e nós nos beijamos como se nada mais importasse e realmente não importa.


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