O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 7
Altruísmo




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AAYRINE

 

 

— Bom dia, Grillby!

O monstro teve que inclinar a cabela flamejante balcão abaixo para me enxergar, e soltou um murmúrio rouco, que eu sabia ser uma risadinha de boas-vindas.

Fiquei na ponta dos pés, tentando alcançar o balcão do bar.

— Mamãe mandou te trazer esses biscoitos – empurrei-lhe um pacote pela superfície do balcão - tostadinhos, do jeito que você gosta – sorri – e aí? Alguma novidade?

Grillby balançou a cabeça negativamente.

— Ah, entendi – suspirei, tamborilando os cascos de meus dedinhos na madeira – ela pediu para eu vir antes que o bar abrisse – revirei os olhos – ela tem medo de eu arranjar confusão.

Ele cruzou os braços, então sabia que ele concordava plenamente com a deliberada precaução de minha mãe.

— Eu sei me cuidar – repliquei pacientemente, sentando-me desengonçadamente no banco do balcão – ela que não entende – assenti quando Grillby apontou para a bancada de bebidas – sim… por favor.

Parecendo humorado, o monstro colocou dois copos sobre o balcão, enchendo-os de refrigerante. Esperei um pouco para que o recipiente esfriasse, e Grillby me encarou como quem pedia desculpas.

— Nah, não se preocupe – disse, tranquilizando-o, acrescentando em tom de brincadeira – eu gosto de refrigerante fervendo – apanhei o corpo, lançando um olhar confuso para o segundo – mas por que o…?

Enrijeci, estreitando os olhos, quando ouvi o sino da porta do bar tilintar atrás de mim.

— Ei, Rine.

Olhei por cima do ombro, bufando, enquanto Grillby saia sorrateiramente da minha frente, risonho, sumindo atrás da porta corta-fogo.

— Ai – fechei a cara para a cachorrinha que sentou-se ao meu lado, esvaziando o corpo num gole só – sai da minha vida, Dogaressa.

Ela riu, expondo os afiados dentinhos de seu focinho.

— Também adoro você, Aayrine – deu uma piscadela, apanhando seu refrigerante – Sans me contou que você estava se escondendo aqui.

— Eu não estava me escondendo! - disse, zangada, batendo o copo vazio no balcão – só vim trazer os biscoitos do Grillby! - vinquei a sobrancelha, acrescentando zombeteiramente – quem está se escondendo é você, né?

— Eu? - desdenhou -de quem?

— Do Dogamy – respondi, gracejando – tá namorando!

Dogaressa resfolegou, constrangida.

— Não tô não!

Deixando-a com seu chilique envergonhado, desci da banqueta, saindo bar afora, e ouvindo-a resmungar alto sobre carneiras folgadas.





Quando dei a volta no bar, ouvi gritinhos vindos nos fundos da casa de madeira.

Intrigada, aproximei-me da direção de onde haviam saído, fechando minhas mãozinhas em punhos, e apurando os ouvidos.

Ao longe, por fim, focalizei uma pequena silhueta trêmula, que recuava contra a parte de trás do bar. Avançando sobre ela, uma sombra grande e ameaçadora se aproximava.

Acelerei o passo, esgueirando-me na quina da cabana, espreitando ao longe.

— Devolve meu cachecol, Gabe! - choramingou Papyrus.

Encarei o garoto que o acuava. Era Gabe, um jovem monstro novilho, conhecido por usar seu tamanho avantajado para intimidar os monstrinhos mais novos.

— Ou o que, esqueletinho nanico? - Gabe riu maldosamente, sacudindo o cachecol de Papyrus no alto, longe do alcance dele – você é só um fracote! Onde está seu irmão boboca?

— Na cidade – fungou – por favor, Gabe!

Havia visto o bastante.

Incendiada de raiva, me adiantei, colocando-me entre Gabe e Papyrus.

— Devolva o cachecol dele, Gabe. Agora.

O rapaz limitou-se a rir, baixando a cabeça em minha direção.

— E o que outra tampinha como você vai fazer, hein? - avançou dois passos, expondo suas presas – você é só uma garotinha idiota!

Distraída pela zombaria dele, não percebi seus braços impulsionando-se contra mim.

A força do baque me jogou para trás, afundando meu corpo na neve. Minha espada de madeira escapou do cinto, indo parar a alguns metros de distância de onde eu estava.

— Aayrine! - Papyrus guinchou.

Gabe me segurou contra o chão, gargalhando odiosamente. Ainda atordoada, não refreei um tremor de entorpecimento.

— Ah, olha só pra ela. Tá com medo agora? - sibilou – chore, sua carneirinha frouxa… chore como a bebezona que é!

Surgiu um laivo azulado entre nós dois.

Papyrus gritou, assistindo Gabe desabar de costas no chão, segurando o ombro. Vi-o desviar o olhar de volta para mim.

As pupilas dele se arregalaram para o espadim mágico, de um intenso azul brilhante, que agora encontrava-se em minha mão.

Gabe resfolegou, perplexo, vendo o pequeno corte que eu havia feito em sua pele.

— Sua… sua…

— Caia fora – ameacei-o.

Ele pareceu considerar algum tipo de retaliação, mas aparentava demasiado temor de minha magia recém-adquirida para se vingar no momento. Lançando-me um último olhar fuzilante, Gabe levantou-se, dando a volta da cabana e sumindo de vista.

Também me ergui, sentindo, tarde demais, os vergões que as garras de Gabe haviam provocado em minha barriga.

Virei-me para Papyrus, que veio correndo até mim.

— Sua magia, Rine! - exclamou, admirado – você já pode criar magia!

— Sim – sorri torto, velando minha expressão de dor, inclinando o braço – aqui. Seu cachecol.

— Obrigado! - ele algaraviou alegremente – você é a maior, Aayrine! - ele repentinamente murchou – queria ser tão incrível como você.

Fiz um esforço para me ajoelhar, ficando na altura de Papyrus.

— Você é incrível, Pap – completei, abrindo um largo sorriso – mais que isso… você será grande. O Grande Papyrus!

— É… - ele hesitou por um momento, recuperando o entusiasmo – é! Eu vou ser sim! Você vai ver, Aayrine! Vou ser um grande Guarda Real… e defender os outros… e |Gabe nunca mais vai maltratar ninguém! - Papyrus me abraçou – obrigado, Rine!

Ele me soltou logo em seguida, acenando ao longe. Vi, na estrada de Snowdin, a sombra de Sans gesticular de volta.

— Vou falar o que aconteceu pra ele – sussurrou, correndo em direção ao irmão – até mais!

Acompanhei-o desaparecer no horizonte, dando uma risadinha, apoiando meu espadim incorpóreo no ombro.

Aquela não seria a última vez em que eu defenderia alguém. Se havia algo que aquela experiência havia feito era reforçar a certeza de minha decisão. Era aquilo que eu queria me dedicar a fazer pelo resto de minha vida.

Porém, minha batalha por justiça estava só começando.

E um dia, ela se depararia com uma prova de fogo fatal.
























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