O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 31
A Ponte




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AAYRINE



Fiquei um longo tempo entocada nas proximidades da ponte, aguardando qualquer sinal de vida fora do comum naquela área.

Por fim, algumas horas depois, minha paciência finalmente foi recompensada.

Ao longe, ouvi passos afundando-se em pegadas sobre a neve. Um som baixo e discreto, quase imperceptível - como se algo muito pequeno se esgueirasse pelo longo chão nevado, em direção à ponte de Snowdin.

Aproximei-me na direção do barulho, o espadim já em riste, erguendo a cabeça para focalizar a origem do ruído.

Ofeguei, ligeiramente surpresa, assim que o identifiquei.

Era um pequeno humano. Jovem… talvez quase uma criança. Tinha cabelos curtos e castanhos, vestia uma blusa listrada em tons de roxo e azul, uma bermuda azul-clara e sapatos marrons.

Estava assustado. Nitidamente apavorado.

E eu sabia que ele sentia minha presença ali.

Por um momento, fiquei receosa. Nunca havia sido treinada para matar filhotes humanos. Lutar com um espécime adulto havia sido uma coisa.

No entanto, a sensação desapareceu logo em seguida. Não ia deixar que isso me impedisse. Minha consciência há muito havia calejado.

Afinal, já havia sangue suficiente em minhas mãos para que não me importasse em sujá-las com mais algumas gotas.

Vi o olhar do garotinho se arregalar de tensão, conforme me aproximei lentamente, ainda oculta nas sombras.

— Q-quem está aí? - sussurrou consigo mesmo.

Tendo como resposta apenas a brisa suave ao redor, o pequeno humano decidiu arriscar mais uma curta caminhada, baixando momentaneamente a pose defensiva.

Era a minha deixa.

Antes que pudesse prosseguir, um lampejo azul cortou o ar à sua frente. Subitamente cegado pelo brilho, a criança sacudiu a cabeça, por fim começando a identificar o facão curvo, feito de pura energia, que fincara-se alguns metros adiante.

A criança caiu no chão, confusa, finalmente apercebendo-se de minha presença à sua frente.

Aninhou a faquinha de brinquedo contra o peito, perceptivelmente desconfortável em encarar os olhos vermelhos que o observavam.

Girei meu espadim na mão direita, postando-me no caminho entre o humano e a ponte. Sorri ferozmente, certificando-me que minhas presas ficassem expostas e ameaçadoras.

O garotinho guinchou. Estava absolutamente atordoado.

— Vamos lá, humano. Me deixe terminar isso – sibilei, baixo como um sussurro, mas ouvindo minha voz ressoar como um trovão – e prometo que sua morte será rápida e indolor.

O garoto recuou um pouco, apertando a faquinha nas pequenas mãos. Repentinamente decidido, soltou-a, fazendo o objeto afundar na neve aos seus pés.

— Eu não quero lutar! - exclamou, erguendo levemente as mãos.

Ergui a sobrancelha, sentindo meu sorriso anterior desaparecer, percebendo meu rosto se contrair numa expressão dura e irritada.

— Tolice! Não batalharei com uma criaturinha desarmada como você! - protelei, gesticulando com a mão, conjurando uma versão menor de meu espadim. A arma brilhante voou pelo ar até a criança, que, sem alternativa, o apanhou na queda – agora sim… vamos ver se sua espécie é mesmo tão durona quanto as lendas fazem parecer!

Sem lhe dar qualquer tempo de recuar, joguei-me em sua direção, brandindo meu facão contra o dele em vários golpes consecutivos. O tilintar dos metais se chocando ecoou pelas árvores, fazendo o embate parecer ainda mais violento do que realmente era.

Para minha perplexidade, o garoto apenas manteve sua posição defensiva, simplesmente desviando meus ataques, como se estivesse determinado a não revidar de forma alguma.

Comecei a me encolerizar com a inércia daquele pequeno oponente, erguendo e baixando minha arma várias vezes, sempre a meros centímetros de fatiar sua pele.

— Não quer lutar, é? - ri ferozmente, investindo contra ele novamente – depois que eu pegar sua alma, provarei de uma vez por todas que mereci meu lugar na Guarda Real – proferi, conjurando espadins de energia ao seu redor – deixarei Undyne orgulhosa… e vingarei a morte de meu pai!

A criança saltou para trás, no exato momento em que um gigantesco espadim de energia mergulhou onde estivera minutos antes, deixando uma cratera fervente na neve.

Arquejei, frustrada. Embora meus golpes fossem eficientes, eu era relativamente menos ágil do que aquela criança. Isso abria uma brecha para que o garoto conseguisse desviar facilmente de cada um de meus ataques massacrantes.

— Para… por favor! - insistia a criança, ainda recusando-se a revidar.

Suspirei, resfolegando e parando por um momento, mantendo vários facões azulados flutuando ao seu redor.

Ele realmente estava decidido a não me enfrentar. E, por alguma razão, aquilo estava tornando tudo ainda mais difícil.

Sacudi a cabeça, ainda levitando os espadins.

— Mesmo se você fosse diferente… - murmurei, contraindo o focinho – mesmo se não fosse traiçoeiro… precisamos de sua alma. É o único modo de libertar meu povo, que está preso aqui há tanto tempo – minha expressão tornou-se feroz outra vez – e não vou deixar essa chance de liberdade me escapar!

Os facões dispararam na direção dele. O garoto esgueirou-se entre eles, fugindo das lâminas incorpóreas que tentavam lhe ferir. Deu meia-volta por um grande monte de neve, mantendo sua retaguarda segura. Fincou a arma brilhante que eu lhe dera no chão, evidentemente trêmulo de adrenalina.

Sabia que estava considerando suas opções.

E eu, enfurecida, não percebi que havia se aberto uma enorme brecha para que ele escapasse.

Vi-o respirar fundo.

E, jogando seu corpo adiante, num galope desesperado, o garoto disparou em direção à ponte.

— NÃO!

Um dos espadins esbarrou-lhe o braço, causando um corte fundo em sua pele. Guinchando de dor, a criança prosseguiu, sem diminuir a corrida, esquivando-se de minha perseguição.

Senti as toras da ponte gemerem com o peso de minha armadura. Sentia as cordas estremecendo, guinchando alto conforme me locomovia atrás do humano.

— Não adianta fugir, humano! - deslizei pelas tábuas, tentando atingi-lo com os facões voadores.

Porém, a poucos centímetros de alcançar a criança, acabei pisando em falso, deslizando para o lado.

O fardo da armadura não colaborou para que eu recuperasse o equilíbrio.

E então escorreguei, desequilibrando-se para fora da ponte.

— Ahhhhhh!

Ao longe, vi o garoto parar de correr, virando-se para trás, e arregalando completamente o olhar.

Segurando-me na borda, tentei em vão guinchar meu corpo de volta a ponte. Porém, para meu desespero, as luvas de aço começavam a resvalar-se da madeira.

Desesperada, lancei meu espadim corpóreo para cima, numa tentativa de aliviar o peso que me puxava para baixo.

No entanto, o fardo ainda era grande o bastante para que eu não conseguisse subir.

Aflita, sentia-me derrapando cada vez mais, em direção ao fundo do gigantesco penhasco.

Seria uma queda fatal.

Fechei os olhos, choramingando, sem acreditar que meu fim ocorreria de maneira tão patética.

Antes que eu terminasse de despencar pela beirada, no entanto, senti duas mãozinhas segurarem-me o pulso.

— O que… - arfei, sentindo a ponte tremer..

Houve uma pressão para cima, como se, por alguma razão, aquele pequeno humano estivesse tentando guinchar-me de volta.

Embora não fosse o bastante para içar-me para cima da ponte, foi o suficiente para que eu conseguisse voltar a me pendurar nas cordas.

Com o apoio adicional, por fim, consegui me reerguer sobre as toras, ofegante.

A criança deu alguns passos para trás, enquanto eu me levantava, com o olhar sobressaltado e as narinas dilatadas de tensão.

Sacudi a cabeça, atordoada.

O pequeno humano que eu havia acabado de tentar matar estava ali, a poucos centímetros de mim. Finalmente vulnerável.

Mas todo o meu ímpeto havia se esvaído… por completo.

Aquele garoto havia acabado de cometer um crime pior do que se tivesse me deixado para morrer.

Havia salvo minha vida.

 

 

 


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