O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 19
Justiça




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AAYRINE




— VOLTE AQUI, HUMANO!

O berro veio do lado de fora do centro de treinamento, a poucos metros de onde eu e Dogaressa estávamos.

— Ah! - num salto ágil, a monstra equilibrou-se no cercado, empunhando seu machado, cujo laivo de luz atraiu a atenção dos demais guardas.

Em poucos segundos, todos eles estavam virados na direção do grito, assistindo a correria próxima ao castelo.

Impulsionei meu corpo para fora da cerca, aproximando-me das silhuetas que avançavam em alta velocidade para fora dos corredores do Núcleo.

Conjurando um de meus espadins, esgueirei-me silenciosamente, diminuindo a distância entre mim e as sombras difusas no horizonte. Depois de avançar alguns metros, finalmente pude focalizar os indivíduos que haviam causado tanto rebuliço.

O perseguidor, para minha surpresa, era um Froggit absolutamente exaltado, que se esforçava em pular no mesmo passo da corrida de sua presa.

Foi quando notei a quem ele perseguia.

Deixei meu queixo cair, assombrada.

Era um humano.

Nunca havia visto nenhum pessoalmente, mas era evidente que aquele definitivamente era um espécime adulto. Trajava estranhas roupas, compostas por botas, echarpe, camiseta e colete. Trazia nas mãos algo que se assemelhava à um cano com gatilho, e tinha, pendurado nas costas, um chapéu curioso, de abas realmente desproporcionais.

Sacudi a cabeça, desviando minha mente de tais detalhes irrelevantes.

Eu finalmente estava tendo a chance que eu sempre havia desejado. Enfim, teria a oportunidade de vingar a morte de minha mãe, e a de centenas de outros monstros, que haviam perecido sobre as mãos daquela raça miserável.

Havia sido treinada a vida inteira para aquele momento.

O sapo interrompeu seu assalto, vendo-me lançar o corpo na direção do humano fugitivo. Afastou-se quando gritei, girando meu espadim, mirando-o na nuca do jovem rapaz.

Surpreendendo-me, o humano virou-se a tempo, bloqueando meu ataque com aquele estranho cano de ferro. O choque me jogou para trás, fazendo com que eu pousasse no chão de joelhos retraídos, sibilando ameaçadoramente.

— Ah, mais uma – ele vincou a testa, dando um sorriso enraivecido – então foram vocês que mataram os que caíram aqui…

— Tome cuidado! - a vozinha esganiçada de Froggit me alertou – ele já matou gente no caminho para cá!

Senti meu peito gelar.

Um assassino.

Não queria pensar em quantos rastros de poeira aquele maldito havia deixado para trás, durante aquela sua terrível jornada homicida.

Se ainda havia alguma hesitação em mim, ela se dissipou naquele exato instante.

O humano pareceu esboçar uma mínima exclamação de surpresa quando investi contra ele, agora golpeando-o ininterruptamente com ambos os cascos armados.

Os espadins estalaram de encontro à sua arma, que parecia também ser seu principal mecanismo de defesa. Ele resistia de modo espantosamente natural, como se a luta já fosse algo com o qual estivesse acostumado.

— O que? - eles resmungou esforçadamente, como se contivesse um gemido de exasperação – achou que ia simplesmente me matar, monstra? - ele inclinou-se, imobilizando minha magia por um momento – estou aqui para fazer justiça.

Desprevenida – enquanto dava um olhar de relance, para garantir que Froggit ainda estava seguro – senti minhas pernas serem golpeadas por uma violenta rasteira do humano.

Desequilibrei-me por um segundo, o que bastou para que ele reerguesse sua arma, mirando-a em minha direção.

Houve um clarão e o som de uma explosão. Arquejei alto, fechando os olhos, sentindo uma dor lancinante no ombro direito.

Apalpei o local, sentindo o sangue escorrer em minha pelagem.

Aquilo era totalmente diferente do efeito de qualquer armamento que eu já tivesse lidado em batalha.

— Dói, não é mesmo? - ainda apontando aquele pequeno canhão para mim, ele virou o pescoço, olhando ameaçadoramente para os guardas reais que finalmente haviam tentado se aproximar – deem mais um passo, e eu mato a amiga de vocês!

Alguns recuaram, receando receber o golpe daquela horrível arma cuspidora de fogo. Porém, a maioria estacou, contraindo os punhos, fitando-me com angustiada preocupação.

Dogaressa ofegou, apertando o machado em suas mãos.

— Rine…

O rapaz assentiu consigo mesmo, estreitando o olhar.

— Excelente – aproveitando-se de minha momentânea vertigem, aproximou-se de mim, ainda me ameaçando com o cano, pousando-a contra minha cabeça – agora me levem até o rei de vocês. Vou acertas as contas com ele, e fazer o que ninguém teve a decência de fazer há cinquenta anos.

Todos se entreolharam em pânico.

Sabiam o que isso significaria. Aquele humano estava ali para matar Asgore.

Enrijeci, impedindo-o de me empurrar adiante.

Não… eu não deixaria.

Ele se arrependeria por ter vindo com tal objetivo hediondo.

Num movimento rápido, girei meu pulso para baixo, puxando o espadim físico que ainda estava embainhado em minha cintura, e rodando-o brutalmente atrás de minha nuca.

Percebi ter acertado em cheio, quando o humano emitiu um gorgolejo sufocado, capengando sobre minhas costas. Seu aperto afrouxou, e senti sua arma cair no chão com um baque surdo.

Virei o corpo, a tempo de vê-lo agarrar a própria garganta dilacerada, caindo de joelhos diante de mim.

— Aí está você, humano – Dogaressa disse impiedosamente – no lugar onde lhe cabe… aos pés da Guarda Real.

Assisti, inexpressiva, o rapaz se contorcer no chão, convulsionando fracamente, definhando aos poucos.

Por fim, após algum tempo, ele parou de se mover.

Baixei meu espadim, sentindo gotas de sangue gotejarem de sua lâmina para o chão.

Eu havia feito.

Havia finalmente conseguido. Havia matado um humano.

Devia estar me sentindo vitoriosa. Realizada.

Porém…. eu não sentia nada;

Assombrados, os demais guardas observaram a alma do humano emergir de seu corpo. Amarela e brilhante, o pequeno foco de luz flutuou diante de nós.

Ergui a mão, recolhendo-a nas mãos.

— Minha nossa… a sétima alma humana – arquejou Dogamy – você conseguiu, Aayrine!

Cuidadosamente, aninhei a alma ainda pulsante nos braços de Dogaressa, que encobriu-a com as mangas de sua capa, disparando rapidamente na direção do castelo.

Enquanto todos iam em direção ao castelo, acompanhando minha marcha silenciosa – Dogão trazendo o corpo do humano em seus imensos braços – baixei a cabeça, afagando o ombro ferido.

A sétima alma.

Só faltava uma.

Nossa liberdade estava mais perto do que nunca.

Então… por que eu sentia que havia cometido um erro terrível? Por que - apesar de saber que havia impedido um humano de matar mais monstros – eu tinha a impressão de ter cometido um crime igualmente hediondo?

Aayrine… por favor… seja piedosa.

Fechei os olhos, desolada.

Era uma promessa que eu havia acabado de quebrar.

Só mais uma vez, mãe. Apenas mais uma vez. PrometiE nosso povo finalmente será livre.

Eu só não sabia o quanto teria que esperar…























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