O Espadim e a Manopla - Uma História de Undertale escrita por FireboltVioleta


Capítulo 17
A Barreira




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— Undyne?

Undyne tirou o pirulito que tinha na boca, erguendo-se e me sondando curiosa.

— Sim? - indagou, ainda sentada no cume da colina.

— Por que papai mandou prender todos os humanos que caem aqui? - indaguei – o que acontece com eles… depois que os capturamos?

Já fazia quase três meses que eu mantinha Alekey em segurança dentro de meu quarto. E eu ainda tentava entender por que ainda não havia vistos os outros humanos que haviam chegado em Underground.

Era certo que eram capturados, mas nunca havia ouvido falar do local onde se encontravam encarcerados. O que lhes acontecia, afinal?

— Humanos? - ela titubeou – oras, Nitch. Achei que Asgore já tivesse te contado várias vezes – cutucou uma das presas com o palito – o rei os mata, é claro.

Me ergui repentinamente, saltando o olhar, deixando que a torta em minha mão caísse no solo seco de Waterfall.

— O que?

A capitã me encarou.

— Ele as mata – repetiu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Sacudi a cabeça, atordoado.

Meu pai, o amável Rei Asgore… o monstro que fazia de tudo para manter a paz e a união entre o nosso povo… o pai adotivo bobo e brincalhão, que gostava tando de chá…

Era um assassino de humanos?

— O que… - gaguejei, impactado – por quê, Undyne?

Ela pareceu espantada com minha reação.

— Além de vingar nosso cárcere aqui embaixo? - sibilou – precisamos deles, Nitch. Eu jurava que o rei já havia lhe contado isso.

Me pus de pé num pulo.

— Tenho que ir, Undyne! - declarei, afoito, dando as costas para ela e correndo em direção ao Núcleo.

— Mas Nitch…!

Não ouvi o restante de suas palavras,

Eu não conseguia acreditar. Todo aquele tempo, os poucos casos – aqueles que havia tido conhecimento - de humanos mortos havia parecido uma infeliz coincidência de eventos na mão de outros monstros.

Imaginar Asgore, o rei que havia me criado, meu maior modelo de justiça e sabedoria, ceifando a vida dos humanos caídos... era errado.

Era impossível.

Afivelei meu elmo, correndo o mais rápido que podia de volta para casa.

Eu teria que tirar aquela história a limpo.






Asgore pareceu surpreso quando adentrei sem me anunciar no jardim das flores douradas.

— Nitch?

Eu estava ofegante e trêmulo. Mesmo assim, avancei alguns passos na direção do rei, retirando o capacete e encarando-o, sentindo minha garganta se fechar num nó.

— Pai… - falei devagar, sentindo cada palavra custar a sair de minha boca – é verdade..? È verdade que o senhor… mata os humanos que caem aqui..?

Sua expressão passou de surpresa para profundo pesar.

— Ah, Nitch – sussurrou, fechando os olhos – por favor… me acompanhe.

Bambeando de ansiedade, o segui para os fundos do jardim, passando pelo longo corredor que levava à barreira.

Havia sempre ouvido falar da barreira mágica, com a qual os humanos haviam nos selado abaixo da superfície. Porém, nunca havia a visto com meus próprios olhos.

Pelo menos, até agora.

Chegamos de frente para um grande recinto, que rutilava sombras pulsantes sobre sua abóboda. À frente, cegando momentaneamente minha visão, se encontrava um longo horizonte opaco, cuja luz se estendida ao longo de toda a extensão da caverna.

Meu pai fitou-me, suspirante.

— Esta é a barreira – declarou, erguendo a mão adiante – é a única coisa que nos prende aqui. Nenhum monstro pode atravessá-la… mas se unirmos o poder de almas… almas humanas… poderemos finalmente destruí-la, e libertar a todos os monstros.

Senti que o ar me faltava.

Então era para isso que a caçada aos humanos havia se tornado tão intensiva ultimamente… para que Asgore pudesse completar aquele plano.

— Pai… isso é… loucura!

Ele gesticulou com a mão, fazendo o chão sobre nossos pés se abrir em sete círculos.

— Precisamos de sete para quebrar a barreira – disse sombriamente, cabisbaixo – e estas são as que já coletamos até agora.

Estupefato, observei sete redomas de viro emergirem dos dutos abertos, posicionando-se diante de nós dois.

Quatro deles brilhavam, preenchidos por algum tipo de artefato, de forma bastante familiar.

Almas humanas.

— Quatro… - guinchei, contraindo as mãos – faltam… três…

— Sim – meu pai concordou, condoído – entende, Nitch? Estamos tão perto…

Balancei a cabeça.

— Mas pai… não há outra… outra maneira?

Ele colocou a mão sobre meu ombro.

— Me dói fazer isto, Nitch. Também queria que houvesse outra forma de nos libertar. Infelizmente, sou forçado a fazer de tudo para ajudar nosso povo… por mais alto que seja o preço a pagar. Temos que fazer isso…. pelos sonhos e esperanças de todos os monstros.

Meu peito começou a doer.

Era verdade então.

Precisávamos das almas humanas, se quiséssemos sair do subsolo de uma vez por todas. Por isso tínhamos que entregá-los nas mãos do rei.

Enregelei-me.

Por isso Alekey havia pedido para esperar. Nunca havia lhe passado pela cabeça me contar o que havia descoberto sobre o destino dos humanos em Underground – pelo menos, não depois de virarmos amigos tão achegados.

Sabia que isso acabaria comigo, e decidiu esperar que eu descobrisse por mim mesmo.

Eu não podia mais esconder aquilo. Não quando eu via, agora, a importância de encerrar aquele impasse de uma vez por todas.

Alekey sabia o que eu faria. Ainda assim, enquanto tomava aquela decisão, senti o peso de minha traição dilacerar minhas entranhas.

E, então, fiz o impensável: lhe contei tudo.





Alekey virou-se na direção da porta quando adentrei no quarto.

Seu sorriso bondoso murchou rapidamente ao ver minha expressão pesarosa.

— Alekey… - choraminguei, baixando a cabeça - eu sinto muito…

A dor me consumia como uma chama, fazendo com que eu me retraísse de angústia.

O garoto aproximou-se de mim, abraçando minha cintura.

De alguma forma, havia lido meu olhar, e sabia o que aconteceria a seguir. Porém, Alekey estava totalmente calmo… em paz.

E isso só tornou as coisas ainda mais difíceis.

—Está tudo bem, Nitch – sussurrou afetuosamente – não é culpa sua.

Ele me soltou, erguendo o olhar amigável em minha direção. No entanto, embora sorrisse, podia sentir seus pequenos dedos tremerem contra minha pelagem.

— Vamos…? - falei, com a voz embargada.

O rapazinho apenas assentiu, segurando minha mão.

— Vamos, Nitch – sua voz não podia estar mais serena – o meu momento finalmente chegou… está na hora de eu conhecer o rei.





















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