Magnólia, minha cidade do interior escrita por Khatleen Zampieri


Capítulo 4
Amizade




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Olhei em volta procurando por alguém, ou meu pai, mas não havia sinal de vida naquela pequena e abandonada estação, então para minha sorte trovejou e logo em seguida a chuva caiu, e é claro que não tinha nenhum teto para me esconder.
—Uhhhh, haha. – uma voz extremamente animada soou de repente, procurei pelo dono, mas a chuva estava forte e não consegui localizar. – Parece que precisa de um desses.
Então um guarda-chuva aparece de repente sobre mim fazendo parar de chover na minha cabeça e um rapaz entra junto de baixo dele, ficando extremamente próximo a mim.
—Tudo bem moça? – ele pergunta sorrindo, um sorriso lindo se assim posso dizer, alegre, espontâneo e não era só o isso, ele tinha belos olhos verdes e cabelos rosas, sim rosas, estranho, mas combinava com seu jeito. Ele usava uma camiseta com um pequeno gato azul na frente, já queria uma igual, pra quem não sabe, amo gatos. E pra fazer conjunto, um calção jeans e uma bota de borracha assim como a minha, sim, eu já sabia que ia ser uma estrada difícil e não me importo nem um pouco de usar botas assim.
—Sim.. obrigada... ahm como é o seu nome? – perguntei um pouco sem jeito, pois ele estava muito próximo a mim, meu rosto estava quase encostando em seu peito, afinal ele era um rapaz alto.
—Ah, desculpe... – ele ficou corado e se afastou, então saiu debaixo do guarda chuva que ele mesmo segurava, eu o puxei para baixo dele novamente. Seu rosto estava rosa como o seu cabelo, achei engraçado e fofo. – Meu nome é Natsu e o seu?
—Lucy, é um prazer. – falei sorrindo.
Ele arregalou os olhos.
—Quer dizer que você é a Lucy que vinha de trem? – ele perguntou assustado.
—Não sei... quer dizer.. acho que sim... – respondi. – tem outra Lucy que venha pra cá?
—Não sei... ahm você é mesmo a filha de Jude? – ele perguntou analisando-me.
—Sim. – respondi um pouco a contra gosto.
—Bem então é você que eu tenho que vir buscar. – ele falou sorrindo.
—Trabalha para meu pai? – perguntei estranhando, afinal meu pai nunca teve ninguém que o ajuda-se, lembro-me de algumas coisas.
—Está mais pra ajudo seu pai, pois ele não me paga em dinheiro. – Natsu responde simplesmente.
—Então é escravo? – perguntei sem entender. Isso ainda existia?
—Não... – ele respondeu um pouco chateado, percebi que ele não queria falar sobre isso.
—Bem, deixe pra lá, isso não é da minha conta não é? – falei sorrindo.
—Obrigado. – ele falou e sorriu de lado, estranhamente me senti segura e confiante com esse pequeno gesto.
—Você veio me buscar a pé? – perguntei inocentemente.
—Haha, não, é claro que não. – ele riu e apontou para uma pequena carrocinha. – é a mais elegante da fazenda, seu pai mesmo escolheu para vir buscar você.
—Fico lisonjeada. – sorri e levantei uma sobrancelha para a elegância de Jude.
E para nossa sorte parou de chover, então Natsu baixou o guarda chuva e correu até a carrocinha para guarda-lo, com a mesma pressa veio até mim e carregou em seus ombros fortes toda minha bagagem.
—Espere, eu posso ajudar... – tentei pegar algo para carregar, mas era tarde, ele já estava a caminho da carroça.
—Seu pai me mataria se soubesse que fez algum esforço e além do mais, é um prazer ajudar. – ele disse sorrindo e estendendo a mão para me ajudar a subir e sentar ao lado dele. – Tudo pronto?
—Acho que sim. – respondi e ele agitou as cordas que estavam presas aos cavalos, e assim a carroça começou a andar no ritmo dos quadrúpedes.
Minha bagagem estava toda a bordo, porém meus pensamentos estavam vagando em busca de memórias sobre meu pai, como ele era? Será que continua a mesma pessoa? Como devo agir? Por que sinto tanta raiva ao pensar nele? Por que fomos embora? Eram tantas perguntas que mamãe nunca me respondeu, será que essa tarefa caberia a ele?
—No oque está pensando Lucy? – Natsu perguntou reparando em meu silêncio.
—Bem... é que... – eu não sabia se podia simplesmente contar a Natsu como me sentia, afinal mal o conhecia e se ele fosse uma pessoa má índole? – deixa pra lá...
—Ok, eu entendo. – ele disse e virou para frente sorrindo humildemente.
Minha intuição dizia que eu e ele íamos nos dar bem, pois ambos respeitávamos quando o outro queria ficar quieto no seu canto. Ele parecia alguém legal, mas preciso conhecer melhor antes de me abrir com uma pessoa.
—O bom é que você chegou em uma ótima hora. – ele exclamou.
—Por quê? – perguntei achando graça o jeito como ele sorria para tudo.
—Está quase na hora da janta e seu pai vai assar um belo porco hoje em sua homenagem. – ele olhou pra mim com os olhos famintos. – É uma bela refeição.
—Você parece ser uma pessoa que gosta de comer bastante. – ri do seu comentário.
—É uma das poucas coisas que amo. – ele respondeu ao meu comentário rindo também.
Poucas coisas que amo, então ele era de dar valor às coisas, pois pessoas que amam coisas demais, acaba não sendo amor de verdade.
—Tem namorada Natsu? – perguntei somando ao seu comentário de amor.
—Éh.. não.. – ele respondeu e virou pra frente aborrecido, percebi que era um assunto delicado.
—Desculpe, eu não quis... – falei a ele.
—Tudo bem... – ele sorriu pra mim. – Ela não era a garota certa.
Pisquei devagar, então ele gosta de alguém, mas essa pessoa o magoou ou terminou com ele.
Fiquei em silêncio, pois não queria causar desconforto a Natsu, ele possivelmente será meu único companheiro aqui nessa cidade, tenho que respeitá-lo.
—Estamos quase chegando. – ele disse apontando para uma pequena vilazinha. – Aqui é a rua principal de Magnólia, não sei se lembra.
—Não... – olhei em volta, havia no máximo cinco casinhas muito pequenas e parecia não ter ninguém morando nelas.
—Bem, é aqui que viemos quando precisamos de um saco de açúcar ou feijão, essas coisas. – Natsu explicou. – Sei que não parece muito com a sua cidade, mas é boa também.
—Natsu, não estou reclamando. – eu falei olhando seriamente em seus olhos e me lembrei de meus amigos e de tudo em Era. – É que eu acabei de perder tudo o que tinha.
Ele arregalou os olhos e parou a carroça, então fez algo que nunca esperei que fizesse, com suas mãos pegou as minhas e encostou sua testa na minha.
—Sei que não me conhece direito, mas prometo, que será feliz aqui. – ele disse sem desviar seu olhar do meu. – Prometo que não vai querer sair nunca mais.
Isso foi ousado, mas bonito da parte dele, meus olhos começaram a arder e eu queria chorar, as controlei pois não queria fazer isso na frente dos outros, não mais.
—Se precisar conversar sobre qualquer coisa, pode contar comigo, eu te ouvirei, te aconselharei e te ajudarei em qualquer momento. – ele prosseguiu com suas promessas. – Serei seu amigo ok?
—Ok. – uma lágrima teimosa e rebelde escorreu pelo meu rosto, ele soltou uma de suas mãos e a secou, seu toque me causou arrepios e sua pele era quente e macia, não pude me controlar, e fiquei hipnotizada por seu olhar. Eu sei, não devia me apegar a alguém tão fácil, mas como posso explicar, ele me passava uma boa impressão, era alegre, sorridente, carinhoso e fazia o possível para que eu me sentisse em casa, me sentisse bem, não tinha como não gostar de alguém assim.
—Huhrum... – uma pigarreada nos atrapalhou, digo, fez com que nos distanciássemos.- Natsu? Quem é essa?
Uma garota de cabelos brancos curtos e olhos extremamente azuis estava com os braços cruzados olhando brava para Natsu. Ela vestia uma blusa baby look branca com decotes mais amostra do que a blusa permitia e uma saia jeans tão curta quanto, tudo isso combinando com as sandálias vermelhas de salto quinze. A grande pergunta é: como alguém consegue andar de salto quinze? E o mais importante, no meio desse lamaçal?
—Lisanna! – ele diz um pouco nervoso, descendo da carroça para ir ao encontro dela. – Essa é Lucy, filha de Jude, vim busca-la na estação.
—Ahm... – ela olhou para mim com desdém, já não gostei dela, ninguém me olhava assim. – Vai passar muito tempo com ela?
—Ahm...
—Sim! – respondi de imediato descendo da carroça. Natsu arregalou os olhos pra mim. – Quem seria você? Já que não teve a educação de se apresentar, sei que mora em uma cidade pequena, mas modos aprendemos em todos os lugares.
Ela ficou sem palavras, apenas encarando-me como se fosse sua pior inimiga.
—Vejo que é espertinha. – ela sorriu de canto. – Mas isso só vai lhe prejudicar aqui donzela.
—Você é surda? – perguntei. – Acho que sim, vou precisar desenhar para que entenda?
—Como ousa loira? – ela deu um paço na minha direção.
—Oh, você sabe ouvir. – ri baixinho. – então vou perguntar novamente, quem é você?
—Sou filha do prefeito da cidade. – ela respondeu colocando suas mãos na cintura. – Está bom pra você?
—Obrigada, agora sei que não tem identidade própria. – respondi. – quem usa o nome do pai pra ser alguém, não é ninguém.
—Escuta aqui.. – ela apontou o dedo indicador pra mim. – Não venha querer ser a gostosona de Magnólia ou querendo por suas garras no meu namorado, pois não vai...
—Nem quero. – respondi sem paciência, olhei seriamente para ela e depois para Natsu que me olhava espantado. – Só quero que ele perceba que merece mais.
Virei-me dando as costas à patricinha albina e subi de volta a carroça.
—Nunca fui tão humilhada em toda minha vida. – ela gritou com Natsu, ele deu um passo para trás.
—Torça pra que não nos encontremos novamente então. – avisei a ela. – Da próxima pode ser pior.
Ela franziu o cenho e mostrou o dedo do meio pra mim e para Natsu.
—Obrigada por me defender idiota. – Ela o xingou e depois saiu pisando fundo, então ele suspirou e subiu ao meu lado.
—Não sei o que dizer... – ele olhou pra mim.
—Como assim? – perguntei um pouco brava.
—Por que está brava? – ele pediu mostrando nervosismo.
—Por você achar que ela serviria pra você. – expliquei indignada. – Você é um rapaz super legal, pelo que ouvi é trabalhador, e ainda por cima é gentil e humilde. Totalmente o oposto daquela pessoa, como pode considerar ficar com alguém que lhe trata tão mal e ainda por cima tem a educação pior do que uma criança mimada.
—Ahm... obrigada! – ele disse rindo e seu olhar era de admiração. – Você é mais parecida com o seu pai do que imagina.
—O que? – exclamei indignada.
—Ele foi o único fora você que já me defendeu. – seus olhos lacrimejaram por um instante, mas ele deu um jeito de esconder.
—Natsu... – admito, fiquei um pouco nervosa pois tenho receio de ser como meu pai, mas cada vez que Natsu o mencionava ele parecia ser um bom homem, e fez com que meu novo amigo se emocionasse. Então coloquei minha mão sob a sua e sorri pra ele. – Não precisa agradecer, é o que os amigos fazem!


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