Coração de Pai escrita por Giiz


Capítulo 1
Coração de Pai


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Como vocês estão? Estava escutando uma música do Kid abelha e me veio a idéia de escrever essa história. Ela está ficada no relacionamento pai e filha e espero que gostem muito. Beijos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/733488/chapter/1

Pilhas e pilhas de trabalho era o que encarava Naruto naquela tarde de trabalho. Quando estava para assumir este cargo, anos e anos atrás, Naruto não fazia idéia do quão burocrático e longe da ação seria a função de Hokage da vila da Folha. Inclusive, se não fosse a amizade e a presença de Shikamaru como seu conselheiro, possivelmente teria desistido do mesmo nos primeiros anos.

Mas, atualmente, nada mais era tão enfadonho quanto era nos anos de juventude. Quem o visse agora, mal lembraria do ninja explosivo e hiperativo que era durante a infância e juventude. Atualmente era conhecido como o Hokage centrado e justo, exemplo para os mais jovens e objeto de adoração para os mais antigos.

Suspirando, Naruto desviou o olhar do pergaminho que tentava ler pela enesima vez para o calendário que estava pregado na parede. Tinha a imagem de um gatinho se segurando num fio com dizeres de "segure firme". Era um presente de Hinata para ele não desistir em dias turbulentos. No calendário, uma data estava circulada várias vezes de vermelho e o loiro, que agora já ostentava alguns poucos fios grisalhos, deixou escapar um muxoxo mais alto, apoiando a cabeça numa mão.

Amanhã seria dia 23. Pelas contas, exatos oito dias para o mês findar. Seria mais um mês sem a presença dela em casa.

— As coisas eram bem mais fáceis quando você era apenas um grãozinho de arroz, Himawari. - disse ele, pegando a foto da sua filha caçula que estava na mesa de trabalho. Na imagem, Himawari era uma garotinha feliz de cinco anos, com os olhos brilhantes e cabelos curtos. Luz da família Uzumaki-Hyuuga.

— Como as coisas podem mudar tanto? - se perguntou Naruto, novamente. Hoje, com seus 20 anos, Himawari em nada se parecia com a pequena da foto. Os cabelos estavam compridos, igualmente os da mãe quando tinha a mesma idade, mas as comparações com Hinata acabavam por aí.

Quando seu pequeno grão de arroz entrou na famosa puberdade, desenvolveu uma personalidade totalmente fora do seu comum. Se a conhecessem naquela época, nunca acreditariam que era filha de Naruto e Hinata, estando muito mais para um Sasuke ou até mesmo um Neji do passado. Se tornara explosiva, mas não da forma que Naruto era na adolescência. Estava mais para uma rebelde.

Os pais, que tinham passado por um comportamento semelhante com Boruto, entenderam que era apenas coisa da idade e não colocaram muita fé na situação, pensando que, quando as mudanças hormonais se aquietassem, Himawari também voltaria a ser como era.

Ledo engano. A pequena cresceu, de certo, mas com os anos adquiriu um ar de tristeza e orgulho, sempre tão visto e criticado por Naruto. Além disso, colaborava para uma crescente dor no coração do loiro, que já não mais sabia lidar com a situação. Himawari já não era mais uma criança que o perdoava por ter esquecido seu aniversário ou ter atrasado em algum evento que lhe dizia respeito por estar assoberbado no trabalho.

Depois de um tempo, ela simplesmente desistiu de esperar. Foi se fechando cada vez mais, gerando rusgas entre o progenitor que antes eram apenas vistas com o primogênito.

Um belo dia, no meio de uma discussão qualquer, Himawari participou a mãe - pois ela já não mais falava com o pai por outra confusão qualquer - que estaria se mudando para o clã Hyuuga.

E esse tratamento silencioso estava durando até agora.

Naruto já não mais sabia como agir. Ele sentia falta dos anos de infância dos seus dois filhos, anos esses que ele tentou de qualquer forma usufruir da melhor maneira possível. Muitas vezes julgava suas escolhas no passado, mas sabia que sempre foram feitas pensando no bem coletivo, tanto da vila quando da sua família.

Hinata sempre o apoiou. Até mesmo quando ele não sabia que era apoiado por ela. Ela sempre esteve lá para ele e com os anos, desenvolveram um vínculo muito forte. Por isso, sabia o quanto a esposa estava sofrendo com a separação.

As brigas começaram quando Himawari passou a ostentar uma pose de princesa que nunca havia ostentado antes. Talvez tenha sido o orgulho Hyuuga aflorando junto com a puberdade, Naruto não sabia, mas tinha saído do controle.

Por um segundo, Naruto se permitiu rememorar o tempo em que sua pequena invadia seu escritório e fazia desenhos nas paredes. Alguns ele ainda conservara, como uma lembrança de um tempo bom. Ele queria saber o que tinha acontecido para que sua doce menina se transformasse naquela pedra de gelo ambulante.

— Entre - disse ele, ao ser desperto dos seus pensamentos pelas batidas na porta. Logo viu a cabeça loira de Inojin na porta, pedindo permissão para entrar. - boa tarde, Inojin.

— Boa tarde, Hokage. Vim lhe informar o relatório da missão. - disse ele, passando então a discorrer sobre ela, assim que recebeu a autorização de Naruto.

— Isso é tudo? - perguntou ele, assim que o ninja deu por encerrado o relatório.

— Sim. Mas se o senhor me permite, gostaria de ter mais uma palavra com senhor. Dessa vez como pai de Himawari e não Hokage da minha vila.

— Pois não, pode falar. - disse Naruto, se acertando melhor na cadeira. Tinha ficado aliviado por saber que nada de errado havia acontecido com sua filha na missão que havia feito juntamente do filho de seus amigos Sai e Ino, mas se preocupou com o tom do loiro.

— Creio que está sabendo que eu e sua filha estamos num relacionamento. - Aquilo era novidade para o Uzumaki. Desde quando Himawari tinha um namorado? O que mais ele havia perdido da sua filha?

— Continue - disse ele, ao perceber que o mais jovem havia se calado.

— Pois bem. - disse o rapaz e Naruto percebeu que ele estava nervoso. Aquilo não era bom, pensou Naruto. Inojin estava parecendo ele quando havia ido pedir a mão de Hinata à Hiashi.

— Não me diga que você quer casar com minha filha. - disse Naruto, atônito.

— Sim, foi isso que ele veio fazer aqui, por mais que eu tenha insistido para que ele não viesse! - disse Himawari, entrando pela janela sempre aberta, com seu uniforme de ANBU e retirando a mascara de raposa.

Naruto não pode deixar de suspirar alto ao vê-la. Parecia que tinha mudado tanto nesses seis meses que não se falavam pessoalmente. Basicamente, tinha notícias da filha por bushins e por Boruto, quando ele se sentia apto a ajudar o pai. Tirando isso, apenas informes técnicos de missões.

— Hima... Ele é seu pai. Ele precisa saber que vamos nos casar. Além disso, ele é o Hokage. Uma hora ou outra ele ficaria sabendo.

— Não me importo. - Disse ela, se assemelhando e muito com Neji nos tempos áureos.

— Isso já passou dos limites, mocinha! - bradou Naruto, cansado da forma que era tratado pela filha. Ele sentia uma dor forte no peito todas as vezes que discutia com ela, desde pequena. Himawari sempre seria sua bonequinha e ele queria ser para sempre seu herói, mas as coisas saíram dos trilhos em algum lugar no tempo.

— Eu não tenho mais idade para ser tratada como criança! - bradou ela, em resposta. - nem você tem mais idade para me tratar como uma filha pequena!

— Quando se tem atitudes de criança, deve sim ser tratada como uma! - gritou Naruto também, levantando da sua cadeira e batendo as mãos na mesa de trabalho. A essa altura, todos no prédio já sabiam se tratar de mais uma das discussões entre pai e filha. Mas algo dessa vez era diferente. A dor emocional do distanciamento de sua amada filha se transformou em física, fazendo com que o Uzumaki apertasse o peito como se aquela ação diminuísse a dor que sentia. Seria possível morrer de coração partido?

— Pai! - e essa fora a última palavra que escutara antes de cair no chão.

— Bip. Bip. Bip. - este era o barulho que o loiro escutara assim que abriu os olhos. Estava no hospital, era um fato, mas não conseguia lembrar o porque. Se mexeu na cama, mas sentiu que tivesse sido atravessado por um chidori, tamanha era a dor que sentia no corpo, principalmente no peito.

— Vejo que finalmente acordou. - disse Sakura, entrando no quarto. - Você deu um baita susto na gente, Naruto.

— O que houve? - perguntou o loiro, tentando novamente se sentar na cama. Sakura continuava a checar seus sinais vitais e os medicamentos aplicados em seu organismo.

— Parece que a idade começou a se instalar em você, meu amigo. Você teve um pequeno enfarto. Um pedacinho do seu coração morreu. - Disse ela e ele, finalmente, se lembrou do ocorrido. A discussão acalorada com Himawari, as palavras ditas por ela e a dor alucinante em seu peito

— Se está me chamando de velho saiba que você também está se chamando de velha. Temos a mesma idade, Sakura. Ou se esqueceu disso?

— Idiota. Você tem visitas. - disse a médica, saindo do quarto e dando passagem a Himawari.

— Hey. - disse ela, suave. Por um período curto de tempo, parecia aquele grãozinho de arroz que aparecia na porta do quarto do casal no meio da noite depois de ter algum pesadelo, que geralmente estava diretamente ligado as histórias de terror que o irmão lhe contava.

— Hey. - e só precisou de um sorriso para que ela voasse para seu colo enquanto chorava copiosamente. Naruto simplesmente absorveu o abraço e a segurou com os braços, acariciando os longos cabelos idênticos aos da mãe. - Ta tudo bem agora.

E eles passaram grande parte do tempo assim, abraçados, como se o contato perdido com os anos precisasse ser refeito de forma abrupta.

— Eu sinto muito - disse ela, entre soluços, enquanto ainda era abraçada pelo pai.

— Eu também sinto muito. - disse ele, sem desfazer o contato e ainda acariciando os cabelos dela, dando-lhe um beijo carinhoso no topo da cabeça dela.

Logo Himawari acabou dormindo por exaustão e Naruto se permitiu curtir novamente ter a filha em seus braços. A porta fora novamente aberta e por ela passaram Boruto e Hinata, ambos com feições preocupadas, mas felizes por verem Naruto bem e com Himawari no colo.

— Está ficando velho, pai. Vou te chamar de velhote agora - brincou Boruto, encostado na parede. - Aí, mãe. Não precisa me bater! - reclamou o loiro, ao receber um tapa de Hinata pelo comentário. Naruto riu de leve, mas ainda com dor. O peso de Himawari adormecida pelas lágrimas o atrapalhava, mas ele nunca a moveria depois de tanto tempo sem contato com a filha.

— Não chore, Hina. Está tudo bem agora. - disse Naruto à esposa.

— Eu pensei que dessa vez você iria me abandonar de vez. - disse ela, fazendo um carinho no cabelo dele.

— O velhote não quebra fácil, mãe. - disse Boruto. Ainda permanecia encostado na parede, perto da porta.

— Oras, filho ingrato. Vem cá, moleque! - disse Naruto. - Tem espaço para você também. - disse ele, repetindo uma frase que sempre dizia na infância dele, quando Boruto aparecia na porta do quarto dos pais logo após Himawari se aconchegar entre eles.

Boruto corou de leve, mas aceitou o pedido do pai. Eles já tinham resolvido seus problemas no passado e o convívio com Sarada e Sasuke também colaborava para que eles se dessem bem novamente.

Por fazer parte também do esquadrão ANBU, viu o desespero da irmã ao ver o pai desmaiado no chão do escritório. Ela havia começado a massagem cardíaca enquanto Inojin aguardava a ajuda. Himawari teve que ser retirada de cima de Naruto quando o atendimento de socorro chegou e fora amparada pelo noivo e pelo irmão, que estava igualmente preocupado.

Depois de se certificar que ela estava bem com Inojin, seguiu para a casa dos pais para avisar a mãe, de onde saíram em direção ao hospital.

Depois de uma série de exames e de dois dias de internamento, Naruto fora liberado para terminar de se recuperar no conforto de sua casa. A vila estava em festa por ele estar recuperado e bem, mas Himawari ainda se sentia terrivelmente culpada pelo acontecimento.

— Quando você nasceu era tão pequenina que eu tinha medo de te pegar no colo. - Disse Naruto para a filha, que estava no quarto que ainda tinha na casa dos pais, por mais que não o usasse mais. Estava segurando um bichinho de pelúcia surrado nos braços. - Com Boruto as coisas eram diferentes. Ele nasceu grande e barulhento, pronto para enlouquecer qualquer um. Já você, sempre foi delicadinha. Era uma bonequinha. Igualzinho sua mãe e eu me vi mais perdido que nunca. E você cresceu rápido demais, eu não conseguia acompanhar as mudanças e me recusava a aceitar que minha bonequinha não era mais um grãozinho de arroz. Já era uma mulher. Como se tudo tivesse mudado da noite pro dia.

— Papai....- disse ela, já chorosa.

— Eu errei. Mas eu queria você pra mim como aquela menininha para sempre. Você era tão falante, alegre, amorosa. E eu não sei exatamente aonde eu errei para perdermos nossa relação assim.

— Eu percebi que eu nunca seria tão boa como você é, papai. E isso mexeu comigo. Eu não era digna de ser filha do herói de Konoha. - disse a morena, secando as lágrimas.

— Eu só queria ser para sempre seu herói, filha. - disse ele, a abraçando novamente enquanto enxugava as lágrimas dela. - Céus, como eu estava sentindo falta dos seus abraços.

— Você sempre será meu herói, papai.

— E você sempre será minha pequena. Mas agora você vai se casar e eu nem sabia que você estava namorando. - Disse ele, rindo. - Acho que a idade está chegando mesmo. E você está furando a fila. Tecnicamente seu irmão teria que desencalhar antes.

— Papai, você tem mil qualidades, mas quando se trata do Boruto, você é um completo tapado. Ele e Sarada estão se vendo já tem um tempo.

— Ah, mas eu sei que eles estão treinando com o Sasuke. E isso já tem bastante tempo.

— Não, pai. Tio Sasuke já deixou de acompanha-los a muuuuuuito tempo. Acorda, pai. Você se tornou parente dos Uchiha e nem percebeu ainda. - Brincou ela.

— BORUTO! - Gritou Naruto, chamando o filho que estava na cozinha com a mãe, tomando um chá.

— Bem, esse é o meu sinal para partir. Tchau mãe! - Disse ele, beijando o rosto risonho da mãe. Fazia tempo que a casa não era assim, tão movimentada e cheia de alegria, apesar dos pesares.

— Dê lembranças à Sarada por mim. - disse ela, vendo o filho corar. Seu bebê estava apaixonado.

— Mãe!

Três meses depois, um Naruto todo orgulhoso acompanhava a filha no kimono mais bonito que poderia existir em toda a vila, para o altar. Inojin estava nervoso assim como ele próprio estava quando fora se casar com Hinata.

A cerimônia ocorreu tranqüila e alegre, assim como a festa. Himawari pediu para incluir nos festejos uma dança para os pais com suas filhas, numa forma de agradecer mais uma vez por tudo que seu pai representava na vida dela.

Naruto, mesmo tendo nascido com os dois pés esquerdos para a dança, repetiu o pedido que faZia à pequena Himawari na infância.

— Suba em meus pés, querida. - E a filha, sorrindo, aceitou. Estava mais do que feliz por ter voltado ao normal com seu pai. Ainda se sentia culpada pelos anos de atrito desnecessários e os seis meses que passaram a não mais se falar, mas algo lhe dizia que, mesmo casada, Naruto não sairia de perto dela nem por um decreto.

— Sabe, papai... Acho que tia Sakura estava certa numa coisa aquele dia.

— Hm?

— A idade realmente está chegando para você. - Brincou ela, passando as mãos nos fios loiros com uns parcos brancos no meio.

— Palhacinha. - resmungou ele, rindo.

— Mas vai ser o avô mais gato de toda Konoha. - Disse ela, olhando ele nos olhos.

Naruto congelou no lugar por alguns segundos. Os olhos se arregalaram levemente e logo encheram de lágrimas de felicidade. Naquele momento, Naruto entendeu que ser avô era ser pai duas vezes da mesma pessoa.

— Hey, pai... Assim eu vou chorar também. - comentou Himawari.

— Somente se for lágrimas de felicidade. Eu sempre fui orgulhoso de ser seu pai e de Boruto. Serei mais orgulhoso ainda de ser avô. Embora eu ache que ainda estou novo para isso. - brincou ele. - Eu te amo, minha filha.

— Eu também te amo, papai.

—------

— Hina?

— Hm? - perguntou Hinata, se levantando da cama. Olhou o relógio e viu que eram quatro da manhã. Haviam chegado tarde do casamento de Himawari, mas pelo visto, Naruto não havia dormido nada, se assemelhando muito às primeiras noites que passaram juntos. Nunca imaginaria que alguém como Naruto pudesse sofrer de insônia. Ou melhor, sabendo exatamente como ele era hiperativo, era totalmente provável que ele não conseguiria dormir numa noite como essa.

— Vamos ter mais um bebê? - disse ele, com um sorriso enorme, em cima de Hinata. - outra menininha?


FIM.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Como foi?
Comentem, por favor!
Beijos!

Ah, fica o convite para conhecerem a minha fic "Seis Nós". É só entrar no meu perfil.
Beijos mil!