Do Outro Lado do Véu escrita por Miahwe


Capítulo 6
Koji Watanabe


Notas iniciais do capítulo

Hello,vamos conversar um pouquinho antes da história, preciso contar alguns referências e etc....?
Bem, desculpem meu atraso, sofri de um bloqueio terrivelmente irritante, mas estou de volta, antes tarde do que nunca, certo?
Continuando eu queria deixar umas curiosidades sobre a história:
ela foi inspirada no anime Natsume Yuujinchou, recomendo muito, talvez vocês possam ver algumas referências como por exemplo o sobrenome do Mugi: Takashi. Takashi é o primeiro nome de Natsume no anime. E o personagem Mugi, ele foi inspirado e criado em homenagem ao anime Kuzu no Honkai.
Já a Misaki, eu diria que é a junção de duas amigas minhas, uma muito inquieta e direta e a outra que não tem muito tato na língua (risos). O sobrenome da Misaki é em homenagem ao pianista que compôs várias músicas para o filme A Viagem de Chihiro - Joe Hisaishi.
O titulo da fanfic: Do Outro Lado do Véu é em homenagem a um livro chamado Do Outra Lado do espelho da série O Lado mais Sombrio de A.G Howard.
É isso. Obrigada pela atenção e por estarem acompanhando a história, obrigada a todos que deixaram comentário, me ajuda a saber que a história está boa o bastante, me instigam a continuar.
Agora sem mais delongas, boa leitura, hora de tratar de um personagem - não achei justo de não falar dele na fic :p.



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            Logo pela manhã Kohakunushi entrou no Mundo Espiritual, voou até a estação e lá pousou, assustando alguns outros youkais que ali estavam antes de voltar a forma mundana para poder esperar o trem. Ir voando até o Fim do Pântano não era uma boa opção quando se estava cansado da viagem feita até aquela estação.

            O trem não demorou para chegar e Haku logo se viu observando o azul esverdeado das águas pela janela de vidro.

            Havia quase uma semana que não ia falar pessoalmente com Zeniba, andou totalmente ocupado cuidando de Chihiro e procurando por pistas do paradeiro da joia Nordri que mal teve tempo ou cabeça para ir conversar com a bruxa.

            Nos últimos dias não havia reparado em quaisquer mudanças na quebra do Véu, como se ela tivesse parado e estabilizado, talvez porque apenas uma das quatro joias tenha sido roubada. Apenas crianças e alguns poucos jovens conseguiam ver youkais no estado em que os Véu se encontrava e isso era menos pior do que se os adultos pudessem ver também. Suspirou pesadamente e fechou os olhos, o único ponto positivo naquele desastre infeliz, para Haku, era poder falar com Chihiro.

            Sorriu. Rin tinha dito que quando uma pessoa tinha a outra em todos os pensamentos podia ser sinal de amor.

            É um sentimento estranho.

                                               ***

            O castigo de arrumar a casa havia duplicado, quando Chihiro viu o pai em casa depois da escola. Estava terminando de limpar o fogão quando o senhor Ogino deu a declaração da escravatura de Chihiro: dois dias, ou seja, o fim de semana de faxina e jardinagem, além de ter que lavar o carro do pai. Bom, era isso ou ficar uma semana sem o celular e o notebook.

            Passou a mão enluvada na testa para tirar o suor e abaixou-se ajoelhando-se no chão. Já tinha tirado os matos inconvenientes que deixavam os canteiros do jardim feios e agora começaria a plantar mudas de peónias e lírio da paz. Cavou um buraco no canteiro e virando-se para o carrinho de mão pegou uma muda e a colocou no buraco, o fechou e logo começou a fazer outro um pouco mais para o lado.

            Depois de plantar todas as mudas, as regou com a mangueira e guardou os instrumentos de jardinagem no quartinho de serviços do pai.

            —O jardim está pronto, o quintal também e a casa — falou vitoriosa e suspirou ao notar o carro do lado de fora da garagem esperando para ser lavado. Encheu um balde com água e adicionou sabão, juntamente de uma escovinha começou a limpar os pneus.

            Iria ser um péssimo fim de semana.

            Durante a semana, Kohakunushi à tinha levado para casa depois das aulas, nos três primeiros dias Mugi e Misaki sempre iam na frente, deixando-a a sós com Kohakunushi. No primeiro dia não conversaram muito depois que ele a entregou a rosa. No segundo dia, ela comprou um sorvete de menta no caminho para casa – ele não quis –, acabaram conversando sobre o fardamento estranho do sorveteiro e depois disso iniciaram um diálogo até chegarem na casa de Chihiro onde se despediram. No quarto e quinto dia percorram metade do trajeto junto com Misaki e Mugi, foi divertido, apesar de que Kohakunushi não falara muito, Chihiro achou que ele estava se sentindo um pouco deslocado, mas isso passa com o tempo, afinal, se ele estava tão decidido a protege-la tinha que se acostumar com os melhores amigos dela.

            Sempre que pensava em Kohakunushi, Chihiro escutava em sua mente: “Comece tentando lembrar o que a fez esquecer”, ele havia dito durante a conversa no Grande Parque depois que ela acordou, desde então Chihiro se pegava tentando lembrar o que tinha a feito esquecer, mas parece que foi tudo a tanto tempo.

                                               ***

            20 anos atrás.

            Koji Watanabe tinha nove anos quando seres estranhos começaram a aparecer.

            Naquela época, naquele dia, meses depois que completara seus noves anos, quando estava brincando sozinho no escorregador do parque viu uma menina, parecia de sua idade, talvez um pouco mais velha; ela estava sentada em um banco abaixo de uma árvore o observando.

            Depois de escorregar uma última vez, foi saltitante até a menina, apenas para dizer “oi” e chama-la para brincar. Ela se apresentou como Yasu, apenas Yasu, alegando não ter sobrenome, mas Koji não se importou. Brincaram até que os pais do garoto o vissem buscar no parquinho. Semanas se passaram assim e os dois se tornaram bons amigos.

            No dia 20 de novembro enquanto descansavam, resfolegantes do pega-pega, Koji perguntou a Yasu onde ela estudava.

            —Não estudo em lugar nenhum — Yasu falou ajeitando o cabelo em tranças.

            —Ah, e onde você mora?

            —Aqui.

            —No parquinho?

            —Sim.

            —Que legal! Você pode brincar a hora que quiser e correr a hora que quiser, deve ser bem divertido — foi o que Koji falou na época com sua inocência e desconhecimento de mundo. Quando contou para os pais, eles o encaram estranho, falaram algo em cochicho e então a mãe disse à Koji que não podia mais brincar com a Yasu.

            Com onze anos, Koji começou a ver figuras estranhas passando pela rua, as vezes entre as nuvens, nas rachaduras da calçada ou jardim de tulipas da mãe. Não eram insetos, ele sabia que não, eram diferentes. Alguns pareciam com humanos e usavam máscaras, outros eram do tamanho de seu polegar e possuíam três dedos nas mãos e nos pés descalços, alguns pareciam animais ou eram animais, mas Koji os escutava falar. Os pais não acreditavam nele quando contava sobre monstros que via voando no céu, ou quando dizia ter visto uma mini pessoa morando nas tulipas da mãe e quando mostrava, apontava ou tirava fotos, ninguém via, era sempre a mesmo resposta: “Não estou vendo nada, Koji”. Na escola, quando mostrava os amigos pensavam que ele estava brincando, mas... por que apenas ele conseguia ver? Ou escutar? Por que?

            Lembrava-se certa vez do dia em que voltava da escola, não muito longe de casa, quando passara por uma praça escutara duas pessoas com máscaras – uma no rosto e a outra com uma ao lado da cabeça – conversando, logo mais à frente um monstro com um olho só apareceu pendurado em uma árvore e Koji caiu no chão assustado, depois disso deu meia volta correndo e pegou outro caminho para casa.

            Parecia que estavam em todo lugar, o esperando para pegá-lo e ninguém acreditava em si.

            Quando fez doze anos aprendeu a ignorá-los, apesar de que lá no fundo ainda tinha medo, muito medo deles. No entanto, seria melhor que eles não soubessem que ele podia vê-los, era melhor assim. Pois, quando se assustava ou fazia algo do tipo, os monstros falavam com ele e o seguiam.

            Com o tempo descobriu que esses monstros se tratavam do que, no folclore japonês, podiam ser chamados de youkais, mas nunca Koji descobriu porque que ele os via. Aos treze anos, quase não tinha amigos, em parte porque ele tinha medo de algum colega dele ser um youkai como acontecia as vezes quando ia em praças ou como aconteceu com Yasu aos seus nove anos, nunca esquecera dela, em outra parte os colegas de sala o achavam louco e diziam que Koji vivia rodeado de fantasmas.

            Durante uma aula de história, Koji olhava atentamente para a professora, absorvendo cada palavra sobre a história do Japão, até que uma sombra se materializou no teto a cima da professora em uma forma estranha com três olhos e dois braços apenas de um lado do corpo preto. Koji gritou e afastou a mesa, as pernas tremendo de medo.

            —O que foi, senhor Watanabe? — a professora perguntara pousando o livro na mesa. 

            Koji não conseguia falar, o medo, o susto o impediam de fazer qualquer coisa, o youkai o encarava mostrando os dentes pontiagudos, Koji queria correr, o desespero correndo pela corpo.

            —Koji Watanabe? Tudo bem? O senhor está pálido.

            —Deve ter visto um fantasma — uma garota falou e os demais colegas da sala riram, mas Koji não prestava atenção. Quando o youkai se mexeu um pouco mais, correu para a porta da sala, aos gritos, percorreu o corredor, sentindo as lágrimas de medo no rosto e se trancou no banheiro, abraçando os joelhos até o final das aulas.

            Por que ninguém viu? Ninguém nunca vê. Mas eu vejo, eu não estou mentindo, por que ninguém acredita em mim? Por que ninguém confia em mim? Por que riem dos meus medos ao invés de tentarem me ajudar?  

            Com tempo, Koji Watanabe, passou a se sentir paranoico, não conseguia mais interagir normalmente com as pessoas, parecia que todos estavam rindo dele, chamando-o de mentiroso e louco, faziam bullying com ele e o julgavam em todos os momentos, a solidão parecia persegui-lo junto das brincadeiras que ele nunca achava graça.

            Tinha medo de ir para a escola e ver um youkai, tinha medo de ser perseguido por um, de ser comido pelos maiores, tinha receio de chegar na escolar e ser julgado como em todos os dois e tinha medo ir para casa. Se sentia perdido, sem saber o que fazer, sozinho, perseguido pela própria sombra, sem conseguir nenhum apoio sequer, seja dos pais ou de qualquer pessoa.

            Com dezesseis anos, pediu aos pais para ir morar com a avó, na esperança de seus medos acalentarem, de que conseguisse respirar novamente, de recomeçar uma nova vida.

            Todavia os youkais também estavam lá.

            Certo dia, quando Koji voltava da escola, junto de um amigo que tinha feito, ele avistou um youkai vindo na direção deles, sentira os pelos da nuca se arrepiarem e o estômago apertar.

            —Eu... eu esqueci uma coisa, pode ir na frente, Hideki, até amanhã — foi o que Koji falou antes de dar meia volta e desatar a correr. Não se surpreendeu com o fato do youkai ter ido atrás de si. Odiava aquilo!

            Acabou entrando em uma trilha no bosque que tinha na região, mal conhecia o local, mas parecia ser um caminho bom para despistar aquele mostro.

            Em certo ponto, derrapou em uma pequena ladeira e acabou chegando em um tipo de templo onde entrou com um homem sentado de pernas cruzadas, este que o olhou enquanto se aproximava. Koji escondeu-se atrás do templo, torcendo para que tivesse conseguido despistar o monstro enquanto tentava recuperar o folego.

            Depois de quase três minutos ali atrás o homem apareceu sorrindo e disse:

            —Ele já foi embora, pode sair daí.

            Fora quase inacreditável, mas depois daquele dia, sempre, depois da escola, Koji ia até aquele templo conversar com aquele homem ao qual se chamava Susumo Nakayama. Ele, para o felicidade de Koji, também conseguia ver os youkais.

            —Que livro é este, Susumo? — Koji perguntou certa vez, enquanto dividiam uma banda de melancia.

            — Ah, é onde guardo os nomes que ganhei dos youkais.

            —Como assim?

            —Se você tem o nome de um youkai, você pode controla-lo — ele respondeu cuspindo os caroços. — Mas só tenho alguns, o bastante para me ajudarem quando eu precisar.

            —Não sabia que podia fazer isto. Como você conseguiu pegar o nome deles?

            —Eu os desafio, se eu ganhar eu fico com o nome deles.

            —Huumm... acho que entendi.

            Aos dezoito anos, Koji tinha decido que era louco.

            Susumo morreu dez dias depois que Koji completou dezenove anos e o mundo pareceu ficar completamente vazio novamente, não existia mais ninguém a quem Koji podia desabafar sobre os youkais, parecia que tudo tinha evaporado ou sido enterrada junto de Susumo que tanto o ensinou.

            Quando fez vinte e três anos, durante a faculdade, Koji tinha descoberto que tinha câncer e fora um dia inundado por lágrimas, principalmente as da avó. Câncer. Quando o médico lhe falou, um desespero e medo cresceram dentro de si, fora como se tivessem lhe dito que iria morrer só que de uma forma sutil.

            Depois que se recuperou do choque, decidiu que não deixaria o mundo vivo sem mostrar a todos que desacreditam dele, que o chamaram de mentiroso, que o inferiorizaram, que youkais realmente existiam.

            Koji Watanabe não queria morrer sendo chamado de mentiroso e louco.

            Koji Watanabe não queria morrer sendo desprezado por todos.

            Koji Watanabe não queria morrer se sentindo uma aberração.

            Um lunático.

            Uma escoria da sociedade.

            Não queria morrer sendo um mentiroso, porque ser mentiroso significava que ninguém gostava dele.

            Koji Watanabe não queria morrer se sentindo sozinho no mundo.

            Não queria fechar os olhos sabendo que ninguém o manteria nas memórias como ele mantinha Susumo, porque seria como se não tivesse existido, se ninguém lembrasse dele, porque motivo estava vivo?

            E ele não queria ser lembrado como um mentiroso

Da mesma forma como não queria não ser lembrado.


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Notas finais do capítulo

Até a próxima.



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