Cantos da Montanha escrita por Mayhem Noyer
Por vezes, quando me distraio
Inicia-se em mim um confronto silencioso
Uma guerra fria contra o mundo
E disputam no meu interior, dois seres
Dois fetos, gêmeos natimortos
Gerados ao longo dos anos no meu coração juvenil.
O ódio e o desprezo duelam pela razão
E sem querer, por puro descaso e desatenção
Acabo por culpar os culpados por crimes cotidianos.
Ora, nasce em mim o desprezo profundo por tudo
Tudo aquilo que inventei e que no vento se desfez.
A verdade é que sonho demais
Sonho que as pessoas são boas demais
Ou pessoas demais, ou minhas demais
De forma que, quando agem não como num sonho
Onde os pecados são meras confusões poéticas e pura psicologia
Eu sinto ódio
Ódio por não aceitar o mundo e sua imperfeição
E quem sabe por pretensiosamente supor o modo dos anjos
Por entender que entendo tudo aquilo que não se entende
E por acreditar que os versos carregam grandes verdades
Confesso que sou um mentiroso
Minto para mim diversas vezes por semana
Minto sobre os outros numa tentativa vã de me redimir de mim mesmo
Numa tentativa vã de amar ao mundo
E a cada mentira alimento o ego
E os primos.
Nesta gestação vitalícia eu me encontro aprisionado
O ódio e o desprezo revezam para devorar a minha carne
Enquanto choro a saudade de um mundo que nunca vi
Enquanto coleciono os erros que cometi
Doses diárias de erro que me ajudam a viver
Nas multidões e nos sorrisos, eu me escondo
Me escondo dos outros para que não sejam notados os meus filhos
Os inominados, os indesejados, os odiosos primos
A minha mais profunda solidão.
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