À todas as mães, pais e vizinhos

Eu suplico a todos para que atendam meu pedido

As crianças, salvem as crianças

Não deixem que sigam a minha trilha

Nas deixem que descubram o mundo

Apenas para descobrir que elas não são nada

Nada perto do mundo, que é tão grande

Tão cheio de gente tão grande, tão gente

Não deixem que elas se transformem

Não deixem que virem gente como a gente

Protejam as crianças, contem mentiras

Contem lendas fantásticas e canções de ninar

Façam com que adormeçam com os épicos

E que em suas cabeças pipoquem histórias de cavaleiros

Não permitam que elas descubram que no final

Os heróis morreram em seus berços

Nas reflexões vespertinas

Nos campos de concentração

Nas rodovias, nas vielas

No povo

Não deixem que elas percebam

Mas os dragões não morreram

Não habitam a lua nem os vales sombrios 

Aterrorizam os homens, as mulheres e os bichos

Devoram moinhos e maços de cigarro

Cospem pragas e acusações

Cospem ódio

Devoram papel moeda

E no seu âmago, o seu mais antigo tesouro

Guardado a sete chaves na memória

Existem centenas, talvez milhares

De pequenos pedaços enegrecidos

De cacos antigos

De um coração infantil