Aquela sala era exatamente como Deep Blue. Sem nenhum tipo de corpo ou forma, obscura e vazia além de gélida, realmente não é à toa que seu próprio nome significa Azul Profundo. E ali naquele local tão peculiar e incomum, estavam seus três subordinados, que mais uma vez obtiveram total fracasso na missão de pegar um dos fragmentos da Mew Aqua. Pai se prontificou a dar mais uma desculpa.

— Deep Blue-sama, só mais um pouco e logo chegará o momento de seu despertar.

— Por quanto tempo? — Deep Blue indaga numa voz impaciente. Foi possível detectar as expressões ligeiramente tensas nos três aliens em sua frente, apesar de estarem curvados. — Vocês somente têm me dado justificativas inúteis para suas falhas. — Pai novamente se pôs a defender os erros, mas é cortado severamente.

— Basta! Não quero ouvir mais nada. Apenas voltem aqui quando tiveram a Mew Aqua.

Não houve tempo de se teletransportarem, os três acabaram expulsos pelo futuro líder. Deep Blue grunhiu de frustração, não suportava aguardar mais para o dia de seu renascimento, ansiava poder descontar sua sede de vingança naqueles humanos egoístas, almejava tomar posse do planeta azul.

Todavia, infelizmente necessitava dos três aliens para concluir seu objetivo. No começo a situação estava favorável o suficiente para que tudo ocorresse da forma mais rápida. Para piorar, seus servos antes tão fiéis e competentes começaram a demonstrar fraquezas, não cumprir as ordens como combinado. Isso é suficiente para causar muitas dúvidas em Deep Blue. Algo anormal estava os distraindo da missão, algo que Kisshu, Pai e Taruto se recusavam a revelar. Portanto, Deep Blue com certeza iria descobrir o que é.

Para isto ele não se importou em sacrificar seu descanso, e usando a pouca energia que tem, se pôs a deixar aquela dimensão vazia e observar o que acontecia no mundo dos humanos. Na forma de um simples ponto azul brilhante, o alien atravessou Tokyo, a metrópole cheia de arranha-céus.

— Patético. — Deep Blue insulta a cena que acabara de presenciar.

Numa tentativa infame de chamar atenção de Aoyama, a tal Ichigo acabara tropeçando em seus próprios pés, causando uma queda ridícula. No entanto, foi suficiente para o rapaz lhe estender a mão e sorrir carinhosamente, indagando a ela se estava ferida.

O alien resmunga em desgosto, aquilo é o que distraía Kisshu? Uma criatura tão simples e idiota? Incompreensível, na visão de Deep Blue. Ichigo é somente mais uma humana, então como conseguiu desviar seu subordinado da missão principal? Beleza, determinação e força pode ser a explicação, visto que ela também atraiu a atenção Masaya; o líder das Mews, Shirogane Ryou e inacreditavelmente seu outro alter ego; o Blue Knight caiu nas graças da Momomiya.

Por mais que tentasse, o futuro líder alienígena sentia-se incapaz de decifrar a súbita atração que a garota despertava em todos eles.

Já com Lettuce, Deep Blue pensou um pouco. O tipo dela é de se combinar com a personalidade de Pai mesmo ambos se contrastassem demais. Foi inesperado ver que até seu servo mais fiel se deixou ser enganado pela humana extremamente recatada. Deep Blue novamente praguejou em desgosto por ainda não compreender.

E quando confirmou que Taruto fora cativado pela Mew amarela, sua reação foi um misto de espanto, surpresa e dúvida.

— Que tipo de magia essas humanas têm?!

Isso, a resposta deve ser magia. Taruto é uma criança, que interesse ele teria em humanos? Com esses pensamentos, Deep Blue foi atrás de Zakuro Fujiwara.

Ela, por sua vez não conquistara ninguém especificamente além de seus milhares de fãs lunáticos. Porém, diferente dos outros casos, não aparentavam sentir o mesmo que Kissu, Pai e Taruto sentiam pelas garotas, disto Deep Blue tem certeza.

Pronto. A única conclusão que tirou, foi... Nada. Tanto tempo gasto à toa quando podia estar descansando para seu despertar.

Agora só restava voltar àquela dimensão solitária. Todavia, num baque, Deep Blue se lembrou. Havia mais uma garota a investigar, a Mew Azul.  Mesmo que as chances de acabar desperdiçando mais tempo fossem altas, o ponto de luz azul partiu para a casa Mint.

Ela morava numa mansão e desfrutava do luxo que qualquer um deseja, mas o preço disso é a solidão. Ao parecer, seus pais vivem fora da residência. Amigos não é algo que um esnobe tem de sobra, portanto é natural que Mint só tem a companhia de seu cachorro e da senhora responsável por ela. De alguma forma a azulada é diferente das outras Mews, não é tão hiperativa como Ichigo nem infantil ou introvertida como Pudding e Lettuce, e menos indiferente que Zakuro. Na visão do alien, Mint era alguém mutável, a qual Deep Blue não é capaz de prever. Aquela humana o deixou confuso e desconcertado, sendo assim ele achou melhor estudá-la no dia seguinte.

O tempo foi a única testemunha, discreta por sinal, que teve a proeza de ver que se passou não só o dia seguinte, mas outro e mais outro seguido de semanas, até se completar um mês. Deep Blue ainda na forma de esfera luminosa, continuava a visitar Mint diariamente. O que acontecia? Basicamente, ao invés de sanar suas dúvidas, ele sempre retornava com outra a mais.

Seus limites de aproximação excediam a cada ida, agora o alien sentia a liberdade de entrar na mansão e ficar bem próximo da garota, examinando-a melhor. Havia vários pontos em Minto que o chamavam atenção. Ela é calma, mas esnobe quando queria provocar, sabe ser carinhosa com aqueles que ama e se importa, todavia é fraca mentalmente e tem muito medo de se machucar.

Mesmo assim foi capaz de se erguer e continuar a lutar para proteger o mundo. Na verdade, todas as Mews parecem ter esse ponto em comum. Então... Por que Minto?

— Entendo, é porque ela me lembra um pássaro.

Deep Blue ama os pássaros, para ele são criaturas que tem o dom de lhe trazer serenidade e Minto se encaixa nesse fato, pois estranhamente o alien se sentia em paz na presença dela. Ao parecer, Minto havia o cativado.

— Cativar?

Ele se espanta com os próprios pensamentos. Desde quando deixou-se levar por coisas fúteis assim? Apenas se sentia em paz ao lado da Aizawa, é algum crime? Até mesmo Deep Blue tem o direito disso. Minto o fazia relaxar e esquecer um pouco toda o ódio pelos humanos, preocupações, somente isso.

— Então, ela não me cativou?

Espanto novamente, por que pergunta se deveria ser afirmação? O futuro líder não sabia o que pensar de si mesmo. A resposta provável é de que tinha sido pego na magia das humanas. Há! Quem diria que até o grandioso Deep Blue sucumbiu a ela? Se bem recordava, o tal feitiço tem nome... Acho que é chamado amor. Pelo menos foi como Kisshu dissera.

— O que significa?

Ele não faz ideia.

...

O dia que ele tanto aguardava chegou, Deep Blue despertou totalmente, as Mews tremiam à sua frente num misto de medo e determinação para pará-lo, mas curiosamente ele só estava com os olhos em Minto. Agora, ele podia toca-la, interagir melhor. Elas o atacam com todas as forças, ele revida da mesma maneira as machucando fatalmente, enquanto Deep Blue se concentrava na Mew Azul tentando desesperadamente encontrar uma resposta para a maior de todas as suas dúvidas pessoais.

— Acabou...

No fim de sua jornada de vingança, o alien se lamenta. Não por falhar na missão e sim por morrer sem descobrir o que queria. Seus olhos azuis se fecham à medida que sua existência é dizimada por Ichigo e Masaya.

...

Mas o destino lhe deu uma piedosa segunda chance...

— C-como?! Você...

Sentando na beira da cama de Minto, ele observou sua expressão atordoada com a visão do alien ali. Por precaução, ele pegou o pingente de transformação dela, uma luta seria perda de tempo.

— Eu não vim para lutar, nem dominar a Terra, acredite em mim.

Minto, mais chocada que antes, suaviza sua tensão. Deep Blue notou que ela estava disposta a acreditar, mas pronta para lutar ao mesmo tempo que queria ouvi-lo. Não dava pra adivinhar exatamente.

— Por que eu te amo? Me ajuda a descobrir?

Dessa vez foi o cúmulo. Espanto, surpresa, curiosidade, timidez e vários sentimentos e expressões diferentes que se podia ver em Minto Aizawa. Deep Blue deu uma leve risada do fato.

— Indecifrável como sempre.

E sem perceber, ele já provava os lábios da garota. Contudo se separou por questão de respeitar seu espaço. Nem sabia quando tinha o feito nem de onde presenciou o gesto para reproduzi-lo neste momento, mas com certeza foi algo relacionado à impulsos.

— Desculpe.

Porém Deep Blue definitivamente não esperava as próximas palavras de Minto.

— Eu... Eu vou te ajudar.