Entre Ela&Eles: Um segredo. escrita por BeaFonseca


Capítulo 3
Capítulo 02 - Lembranças e segredos




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Primeiro dia de aula.

            Como meu pai costumava dizer mesmo? Ah, sim. “Primeiro dia sempre é exaustivo.” Mas ele sabe que essa frase já não me surtia efeito algum. Todo ano era a mesma coisa. Mudanças e transferências. Eu vivia em uma constante exaustão.

            Meu pai é dono de uma das maiores empresas de tecnologia do país, e sócio do colégio Bangtan High School, do qual tinha um enorme prestígio social. Por outro lado, minha mãe é uma atriz famosa, que viaja mundo a fora. Por muitos anos, acompanhei minha mãe em suas viagens, e por esse motivo, eu estava sempre me mudando. Com um tempo, já que meus pais são separados, papai resolveu, este ano, que o melhor seria eu me estabilizar. Claro que , no inicio, mamãe resistiu muito, mas aceitou que era o melhor pra minha sanidade mental, tendo em vista as muitas polêmicas que Omma vinha se envolvendo, onde poderia afetar, também, a minha imagem social. Esta última polêmica, nos EUA, foi, enfim, a gota d´agua para meu pai e de certa forma, para mim.

            Faz duas semanas que moro, “definitivamente”, com meu pai, e não posso reclamar. Amava os dois igualmente, independente de qualquer coisa. Independente de qualquer acordo que tenho feito para evitar que as pessoas soubessem que eu era filha de uma famosa, a partir de agora. Porque não seria nada confortável para a minha nova vida.

 

—  Já cuidei de todos os documentos para sua recepção aqui, meu bem. – Papai explicava. – A levarei até a secretaria para que possam finalizar a burocracia e entregar seus horários. – Concordei, ciente de que era algo importante.

 

— Espero que eu consiga me adaptar. – Comentei, caminhando ao seu lado.

 

            Era uma preocupação. Afinal, passei muitos anos da minha vida sem me estabilizar em um lugar. Jamais fiz amizade, por “Ns” motivos em relação as polêmicas da minha mãe, e com um tempo, passei a não me importar mais com isso. Era mais fácil não ter que me despedir ou me decepcionar por ser só ser reconhecida como a filha da atriz Kennya Barcellos(Nome de solteira). Contudo, agora as coisas seriam diferentes... Pelo menos era o que eu acreditava. Ou queria acreditar.

            Appa sorriu, amável.

 

— Estarei sempre aqui no que precisar. – Orientou. – Apesar do pouco tempo livre na empresa, isso não vai me impedir de tomar conta de você. – Tocou em meu ombro. – Também vou garantir que ninguém saiba sobre a sua mãe, para que não afete nos seus anos escolares. Não seria nada bom para a nossa imagem essa ligação.

 

            Concordei com a cabeça. Apesar de sentir muita falta da mamãe, eu não poderia ignorar toda a irresponsabilidade dela. Talvez fosse, realmente, o melhor para mim.

 

— Espere aqui. Vou falar com Bang para saber se esta tudo okay. – Pediu, antes de ir rumo a um corredor dentro da própria secretaria.

 

            Naquele espaço pequeno, só havia a recepcionista e um rapaz de cabelos castanhos claros, quase loiros. Era alto e tinha o semblante tedioso.

            A recepcionista parecia simpática, e era quase uma idosa. Ofereceu-me água e alguns biscoitos. Aceitei, pelo simples fato de ser falta de educação recusar. Era um costume em nosso país.

 

— Você nunca me ofereceu água e biscoito, Noona! – O rapaz pareceu reclamar, fazendo-a quase revirar os olhos. Eu até poderia imaginar que essa mesma cena se repetia por muitas e muitas vezes.

 

— Você não é um aluno especial. – Ela rebateu. O quase loiro me encarou confuso, ao passo que olhava também para a senhora idosa. Eu realmente não queria saber o que se passava pela cabeça dele neste momento, afinal, a palavra “especial”, tem variações na interpretação.

 

            Percebendo que ele ficaria confuso e chateado por se sentir excluído, decidi oferecer o meu biscoito. De qualquer forma, eu não comeria tudo aquilo.

 

— Quer um pouco? – Perguntei, tentando ser indiferente. Ele deu um sorriso tão grande, que eu me senti como se estivesse lidando com uma criança. Seus olhos estavam atentos a tigelinha com variedades de biscoito a minha frente. 

 

 - Obrigado! – Disse por fim, pegando a tigela inteira para si. Eu poderia reclamar pelo gesto pouco educado, mas não o faria. Como eu disse, eu não comeria tudo aquilo. Talvez ele fizesse bem mais proveito.

 

            Appa finalmente retornou. E com o reitor ao seu lado. 

 

— Senhora, Abby. – O reitor chamou a recepcionista, que estava distraída ralhando com o rapaz ao meu lado. – Preciso que remarque a reunião com os professores para a próxima segunda. Hoje tenho que fazer uma visita avaliativa nas sala dos segundos B e D.  – Ela concordou, já anotando em seu bloco.

 

            Appa postou-se ao meu lado, e a minha frente, o Reitor Bang me encarava com um largo sorriso. Se apresentou, e desejando as melhores boas vindas.

 

— Vou garantir o completo sigilo, senhorita Miller. – Disse, e em seguida entregou-me os meus horários e explicou a rotina rapidamente. Logo depois que finalizou apertando a mão do meu Appa, olhou para as poltronas no canto da sala, percebendo o quase loiro empolgado com o biscoito. Quase havíamos nos esquecidos dele. Temi que interpretasse algo errado com aquela afirmação do reitor.

            Ultimamente, eu andava bastante preocupada com a opinião alheia.

 

— Kim Taehyung? Algum problema? – Perguntou, e o rapaz o fitou, parecendo finalmente se lembrar o motivo de está ali.

 

— Sim senhor... quer dizer, não senhor! – Se levantou, empolgado. – Eu preciso conversar com o senhor... sabe... – Não terminou de falar, porque parecia incomodado com o fato de estarmos em um ambiente com ouvidos alheios.

 

— Está certo, me espero na minha sala, por favor. – Bang sorriu gentilmente para o tal do Kim TaeHyung, antes de voltar-se para mim e meu Appa. Foi interrompido por um grito.

 

— Obrigado, aluna especial! – O quase loiro disse, antes de sumir de nossas vistas. Appa me encarou curioso, e eu dei de ombros. Não era necessário explicações agora, ainda mais quando o próprio reitor recriminava com os olhos a atitude do mais novo.

 

            Logo depois de sair da secretaria e me despedi do meu appa, fui em busca da minha primeira sala. Aula de Comunicação social. Bem sugestivo para o meu primeiro dia. Contive a vontade de rir, enquanto caminhava distraída olhando para o pequeno mapa das salas.

 

Alguém esbarrou em mim.

 

— Me perdoe! – O rapaz era alto, e extremamente bonito. Parecia igualmente distraído com pensamentos, aparentemente, divertidos, já que tinha um enorme sorriso em seu rosto.

 

— Tudo bem. – Apenas sorri, fazendo uma leve referência e continuei minha caminhada.

 

— Quer ajuda? Eu me chamo Kim Namjoo, e sou o aluno do terceiro ano A e chefe dos monitores. – Estendeu a mão, parecendo orgulhoso com a própria apresentação. Retribuí.

 

— Oh.. Muito obrigada. Meu nome é Jiwoo Miller, e sou aluna nova – Agradeci, percebendo que ele era muito educado. – Mas eu não quero atrapalhar. Acho que estou bem perto da minha sala. – Apontei para o papel a minha frente. Ele se aproximou.

 

— É próximo a minha. – Disse, empolgado. – Vamos, eu te ajudo. – Não pude recusar. Pelo menos era bom saber que as pessoas aqui pareciam gentis.

 

“Pobre ilusão...”

 

            No caminho, ele tagarelava coisas sobre os eventos da escola e sobre as relações interpessoais entre os alunos. Era um ambiente bem discreto e sociável, aparentemente. Eu quase me senti dentro de uma conto de fadas, ou presa em uma realidade controlada por uma mente altamente brilhante.

 

“Eu precisava parar de ver filmes de ficção científica.”  - Pensei.

 

— Aqui está. – Apontou para a segunda sala daquele corredor. Estávamos no terceiro andar.  – Seja bem vinda a escola, Jiwoo. – Sorriu novamente, antes de me deixar sozinha na entrada daquela sala.

 

Suspirei.

Estava tudo indo bem, até então.

Bati na porta, certa de que a aula já iniciara.

 

— Ah, deve ser a senhorita Jiwoo. – O professor veio até mim, acenando para que eu entrasse.

 

            A classe parecia curiosa com a minha repentina chegada. Mas não pareciam surpresos. Talvez já soubessem que teriam um novo aluno.

 

— Quero que sejam gentis com a nossa nova aluna, classe. – O professor disse, antes de me direcionar a uma das cadeiras vazias.

 

— Obrigada. – Agradeci, alheia a atenção que recebia naquele momento. Não era novidade ser o centro da atenção nas escolas. Eu sempre era aquela aluna novata, até chegar um dia em que eu nem mais frequentava uma escola.

 

            Retirei o meu material, pronta para começar meu ano letivo. Suspirei, discretamente.

 

— Se precisar de ajuda, pode falar comigo. – Ouvi alguém sussurrar ao meu lado. Lentamente, encarei o dono daquela voz.

 

            Ele tinha cabelos platinados. Era bastante bonito e sua voz era muito agradável. Seu olhos eram tão apertados quando sorria, que eu quase não conseguia enxergar a cor que tinham. Apesar da gentileza, senti que seu sorriso não era nada inocente.

 

— Lembrarei disso. – Falei, me limitando a um meio sorriso e retomando a atenção a aula. Eu não fui mal educada, mas também cortei qualquer liberdade que ele viesse a ter mais tarde.  Ouvi uma riso abafado logo atrás, mas não quis saber de quem se tratava.

 

            Depois de longos minutos, eu comecei a perceber que o professor me tratava tão maravilhosamente bem, que cheguei a cogitar a possibilidade dele está fazendo isso pelo simples fato de eu ser a filha de um importante sócio, talvez o mais importante deles, do colégio.

            Quanto tempo demoraria para os resto da classe começar a me olhar com outros olhos. Afinal, eu realmente não gostaria de ser a aluna preferida por motivos errados.

            Uma batida na porta chamou a atenção de todos. Era Kim Taehyung. Parecia ter corrido uma maratona ao entrar na sala.

 

— Me desculpe a demora, Professor. – Ele se desculpou, fazendo referência para o mesmo.

 

— Tudo bem, Senhor Kim. Já fui avisado da sua ida a secretaria. – O professor disse, sem expressão alguma. Taehyung atravessou a sala, sentando ao meu lado.Quando me notou, deu um largo sorriso.

 

— Aluna especial, vamos estudar juntos! – Disse, empolgado, atraído a atenção da maioria.

           

“Quem visse, claramente estaria curioso com o fato dele ter me chamado assim, e não evitei suspirar. Porque esse garoto poderia ser um verdadeiro problema pela falta de discrição.”

 

            Sorri apenas para disfarçar, mas por dentro, eu sabia que um apelido desse só pioraria a situação. Ótimo. Eu realmente estava começando com o pé esquerdo. E sabe qual é a pior parte? É que eu as pessoas só começaram a se aproximar pelo fato de saberem que sou a filha de um importante sócio.

            Em um pequeno murmúrio logo ao meu lado, pude ouvir, claramente, duas garotas cochichando algo.

 

“Ela é uma vergonha para nosso país(...)” – Uma dizia. Comecei a ficar curiosa sobre o que falavam. Já que estavam entretidas em uma tela de celular.

 

“Omma disse que ela estava sofrendo um processo por abuso sexual e consumo de drogas. Mas não achei que fose verdade.” – Outra disse. Neste momento, meu coração gelou. Não evitei olhar para as garotas e fazer um gesto para pegar o celular. Sem hesitar e surpresas com meu comportamento, me entregaram.

 

            “Atriz Kennya Barcellos acaba de receber intimação em acusação de abuso sexual com menor de idade. Mais um processo em sua ficha de depravações sociais. Além de acusações como, uso de drogas ilícitas, a atriz pode ter seu contrato com o produtor John Rayser, cancelado(...)

            A atriz se pronunciou em defesa, informando que não havia prova alguma contra ela, e que estaria esclarecendo todas as acusações em frente aos tribunais(...)”

 

            Devolvendo o celular, sem trocar nenhuma palavra com aquelas garotas, pensei em como minha mãe conseguia se envolver em tantas polêmicas em tão pouco tempo. Já era de se esperar que fosse acusada de algo assim, dada ao último ocorrido. Obviamente, eu estava lá quando esse boato surgiu, e pra ser honesta, eu me envergonhava do que tinha presenciado. Os rapazes não eram, exatamente, menores de idade, mas estavam lá, e estavam fazendo coisas... e minha mãe estava completamente bêbada. Eu estava ficando completamente bêbada... e eu me lembro que as coisas aconteceram muito rápido. Um deles, com certeza, não estava se contentando apenas com a minha mãe...

 

            Sem cerimônias, me levantei da cadeira em um salto. Peguei minha bolsa e saí a passos largos para fora da sala. Não liguei para quem quer que estivesse me chamando. Não liguei para o fato da aula ter acabado de começar, praticamente. Eu só queria sair dali e me acalmar. As lembranças eram falhas, mas eram doloridas  assustadores. Eu não sabia lidar com isso... Não sabia o que tinha acontecido, exatamente, naquele dia. E não tinha falado pra ninguém. Já era alívio o bastante saber que a mídia não sabia quem eu era. Porque se acaso isso viesse a tona, eu não teria uma vergonha dupla.  

 

            No intervalo, logo depois que saí do banheiro – onde levou um longo tempo para achar-, eu realmente não estava interessada em me misturar. Ainda me recuperava de toda a situação daquela sala.

            Se eu iria permanecer com aquelas pessoas por quatro anos, eu teria que arrumar um jeito menos chamativo de me adaptar. Talvez eu devesse, simplesmente, me afastar de todos. Seria bem mais fácil.

            Comecei a imaginar se por uma acaso, descobrissem os reais motivos da minha transferência de país. Se soubessem, talvez as coisas realmente mudassem, de uma forma trágica.

            Caminhei lentamente pelo corredor, encontrando a biblioteca quase tão fazia quanto um deserto. Talvez não fosse costume dos alunos entrarem ali. De qualquer forma, eu não poderia julgar, afinal, estávamos em horário de refeição.

            Quem estuda durante a refeição?

            Passei os seis meses mais longos de toda a minha vida. Evitando o máximo de contato com os alunos, e me escondendo como uma verdadeira rata de biblioteca.

            Com o passar do tempo, a minha reclusão social, dentro do colégio, só piorou. E por “Ns” motivos. Seja pelo fato de odiar ser conhecida, entre os professores, por ser a filha de um importante sócio, seja por perceber que a maioria dos alunos já me odiavam pelos simples fato de eu parecer metida por ser a preferida dos professores. Por escolha minha, era o melhor a se fazer. E eu jamais quis mudar essa impressão. Era mais fácil. Era mais fácil do que enfrentar a realidade e a vergonha que me consumia por ser filha de quem era.

            E foi exatamente assim, que tudo começou a desandar, e eu passar de “A filha do sócio rico, para a esquisita reclusa”...


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Notas finais do capítulo

E então? O que estão achando?? Por favor, comentem!!!! o/ Bjsssssssss



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