Me sentia quebrada por dentro e por fora. Felizmente, a noite de ontem, Appa estava em casa e passamos longas horas conversando bobagens. As vezes eu conseguia me sentia culpada por não ter dito toda a verdade para ele. Até então, Appa só sabia que mamãe estava bêbada no apartamento, e que eu acabei bebendo um pouco, a ponto de cair na piscina da área de lazer. Para ele, aquela tinha sido o meu primeiro contato com a bebida.

            Tentando não me lembrar desse desastre psicológico que me acometia. Tentei focar na aula que se seguia. Era um novo dia, e surpreendentemente, eu não liguei quando Hoseok já me esperava em frente aos portões, levando minha bolsa e tagarelando por todo o caminho até a sala, onde eu estava, neste momento, distraída. Não troquei nenhuma palavra ou olhar com Jimin, Jungkook ou Tae. Este último, na verdade, nem mesmo tinha comparecido para a aula, e por alguma razão, aquilo me deixou curiosa.

— (...)Devem saber que logo após o almoço, todos vocês serão liberados das aulas. Portanto, quero lembrar-lhes que amanhã, as oficinas estarão promovendo e panfletando seus cursos. Todos devem participar, porque como devem saber, esta é a última semana para se cadastrar em uma atividade extra(...) – Ouvi quando o professor disse, e também ouvi todos os alunos animados com a promoção das oficinas.

            De repente, senti que alguém cutucava meu ombro, delicadamente. Não fiquei surpresa por ser Jimin, com um lindo sorriso.

— Você está melhor, Jiwoo? – Perguntou. Assenti, tentando parecer realmente bem. – Fico feliz que esteja melhor. – Fez ares pensativo. – Hum... Eu estive pensando em me inscrever na oficina de Matemática. O que acha?

— Oh... – Fiquei surpresa com a ideia. Realmente surpresa.

— Eu sei que parece bobagem, mas eu estou gostando das aulas que me dá e tomando gosto pelos cálculos. Gostaria de tentar algo diferente desta vez. – Sorria, animado. – E você ainda está inscrita na oficina de Matemática, não é?

            Analisei sua pergunta. Será possível que ele teria a capacidade de se inscrever em uma oficina de matemática apenas para me impressionar? Seria bobagem pensar algo assim? Porque Jimin não era nada discreto quando sugeria coisas assim.

— Não... – Disse, percebendo sua expressão de decepção. – Para ser honesta, já havia decidido, desde o inicio da semana me inscrever em outra oficina neste semestre. Por que? - Perguntei, esperando alguma revelação em suas expressões.

— Por nada. Só achei que poderia ser legal se fizéssemos juntos. – Soltou, de forma direta. – Mas não se preocupe, farei a oficina estando ou não nela. – Sorriu ainda mais. E por um breve momento, fiquei aliviada. Jimin estava agindo de forma bastante diferente do que imaginei que fosse.

— Fiquei feliz que tenha tomado gosto pela matemática. – Falei, simples. Ele parecia orgulhoso de si.

— Mesmo?! – Seus olhos brilhavam e pensei ter dito algo que poderia mudar muita coisa daqui pra frente. Jimin era o tipo de pessoa que se empolgava muito fácil com qualquer elogio.

— Deixe a Jiwoo em paz, Jimin-ah! – Jungkook sacudiu de leve o ombro do amigo. Olhou para mim. – Já decidiu a oficina?

            Observei aqueles dois, vagando os olhos de um para o outro. Quando exatamente criamos intimidades como esta? Eu não estava sabendo lidar com isso. Sentia que deveria me manter afastada, mas dada as circunstâncias, era impossível voltar atrás. E eu não conseguiria tratar-los mal. Ignorar, antes, era muito fácil... Mas agora não mais. E me perguntei, novamente, como deixei que as coisas chegassem a este ponto.

            Por fim, suspirei. Não adiantaria nada ficar lamentando, ou tentando evitar o inevitável. Já era, e não tinha nada que eu pudesse fazer. Não existia uma justificativa plausível para me manter afastada agora. Pelo menos não uma que eu pudesse contar.

— Clube de leitura. – Falei, arrancando expressões sorridente dos dois.

            Pra ser honesta, nunca pensei do porque jamais me interessei no clube da leitura antes. Eu amava ler, e passava horas a fios socada em uma biblioteca nas horas vagas, desde que entrei para este colégio. Talvez porque, o clube da leitura exigia interação social. Coisa que eu não tinha como possibilidade, até o momento.

— Então ainda vamos nos ver bastante. – Jimin sorria. – O clube de matemática fica ao lado do clube de Leitura, a biblioteca. – Afirmou.

            Não falei nada. Apenas assenti. Jungkook entrou em uma brincadeira boba com o loiro, até que o sinal, finalmente, tocou. Desta vez, não houve, se quer, uma oportunidade de pensar sobre como seria passar algumas horas com Hoseok, porque ele já estava a minha esperava na porta. Esperei que todos saíssem, antes de caminhar até ele. Contudo, percebi que cochichos eram direcionados a mim, por um número considerável de alunos que saiam da sala, justamente com seus olhares entre mim e Hoseok. Senti que alguma coisa estava errada.

— Dessa vez não tem como escapar. – Jimin provocou, quase em um sussurro. Conti a vontade de revirar os olhos. Não queria dar a impressão de desgosto pela situação, ainda que fosse esse o meu sentimento atual.

— Eu não ia escapar... – Respondi, igualmente no tom. – Prometi que iria, e vou. – Joguei a bolsa em meus ombros. – Eu cumpro minhas promessas. – Provoquei, e ele riu, sabendo do que eu me referia.

            Ao contrário do que pensei, ele não pareceu chateado com o que eu disse. Nem mesmo pensei nas consequências... Só falei. Segui rumo a porta, percebendo um Hoseok um tanto quanto nervoso. Pensei em perguntar o motivo, mas isso só aumentaria o nível de intimidade entre a gente.

— Podemos ir? – Perguntou, com seu largo sorriso “cativante”.

— Como quiser. – Dei de ombros, apenas acompanhando seus passos, até que ele decide levar minha bolsa também, tal como fazia todas as vezes que eu chegava ao colégio. Isso me fez lembrar dos cochichos. – Percebeu os cochichos direcionados a nós dois agora pouco? – Perguntei, sem fitá-lo.

— Co-cochichos? – Dessa vez, tive a certeza de que algo estava errado.

— Hoseok... – Falei seu nome, parando no segundo seguinte e encarando sua face nitidamente nervosa.

— Não dê ouvidos a cochichos. Sabe como as pessoas podem ser maldosas ou fofoqueiras... – Tagarelou. Fiz sinal para que parasse um pouco.

— Olha, eu lidei com cochichos todo esse tempo em que estive neste colégio. Mais um a meu respeito, não fará diferença alguma. – Expliquei. – Sabe do que estão falando, desta vez? – Fui direta.

— Já houve cochichos a seu respeito? – Ele estava, claramente, mudando de assunto.

— Hoseok. – Repeti seu nome. Ele suspirou dando-se por vencido.

— Estão dizendo por aí que estamos em uma espécie de relacinamento. – Soltou.

            Levei um pouco mais de um minuto para processar aquela informação. Por incrível que pareça, eu não estava surpresa por isso. Era de se esperar que se iniciasse boatos deste tipo. Suspirei.

— Desmentiu pra eles? – Perguntei, simples. Ele parecia confuso com minha reação tranquila.

— Bem... – Parecia pensar antes de falar. – Eu desmenti, mas ninguém acredita. – Olhava diretamente em meus olhos. Parecia querer dizer mais alguma coisa. – Então pensei que poderíamos, simplesmente, deixar para lá.

            Nesse meio tempo, pensei que eu tinha em mãos, a solução perfeita para me livrar de Hoseok.

— Eu não acho isso. – Falei, deixando-o curioso. – Se parássemos de nos ver assim.. ou melhor, de você me “ajudar”, as pessoas parariam de criar esses boatos. – Ele pareceu inquieto.

— Mas é que eu gosto de te ajudar... – Pós uma das mãos na nuca, massageando-as.

            Eu tinha uma solução obvia para ele. Mas parecia que ele não queria isso. Porque será que eu estava me sentindo desconfortável? Sabia que alguma coisa viria para me atormentar em seguida. Mas talvez não tivesse como piorar. Era simples e prático de resolver toda essa situação.

— Hoseok, se você tem alguma coisa para me contar, diga logo. – Pedi, ainda tentando manter o controle.

            Sem dizer nada ainda me puxou levemente para um banco mais próximo do pátio. A maioria dos alunos já estavam de saída, portanto, a essa altura do campeonato, eu já não me importava mais com o que diriam desta nossa aproximação.

— Não sei se você soube, mas eu terminei o meu namoro recentemente com a Chong-Lee. Ela estava me traindo e isso me deixou muito... humilhado, entende?... – Não sei por quantos minutos a mais ele seguiu com as lamentações. Me surpreendi pela paciência que tive neste momento. De qualquer forma, seria insensível da minha parte cortar seu desabafo, mesmo que eu não estivesse interessada nessa trágica história de amor. - ... e eu pensei que você poderia ser minha solução para recuperar minha auto-estima..

— C-como? – Perguntei, finalmente me dando conta da parte que, claramente, me interessava. Mas não de uma forma boa. – O que quer dizer com isso?!

            “Bom... se eu achava que não tinha como piorar, eu estava redondamente enganada.” E desta vez, eu não evitei me sentir realmente irritada com Hoseok.