MAX

— Max, acorda! Droga, Max! – Sinto as mãos de Chloe me chacoalhando, a voz dela ainda longe.

Mesmo depois de dois anos, eu ainda sofro com pesadelos. Meu poder de voltar no tempo é cheio de limites, mas queria que um deles fosse esquecer aos poucos as realidades alternativas pelas quais passei, já que não fiquei em nenhuma delas por definitivo. Mas acho que, mesmo que eu conseguisse esquecer, as cenas em que estou amarrada no quarto escuro continuariam no meu inconsciente. Ninguém deveria ter que passar por uma experiência assim.

Nesses dois anos desde que Arcadia Bay foi destruída, me questionei muito de onde vem meu poder. Mesmos as respostas que me pareceram as melhores, tinham pontas soltas. Chegou um ponto em que parei de me questionar, mas cheguei em duas conclusões: Meu poder veio para que eu conseguisse descobrir o que estava acontecendo na Blackwell; e gosto de pensar que também para que eu passasse mais tempo com a Chloe. Eu fui muito egoísta salvando ela em vez de todas as pessoas de Arcadia Bay, eu sei. E me culpo muito por isso. Todos os dias acordo e continuo esperando que o universo se revolte contra mim. Mas eu não me arrependo, não aguentaria ver a Chloe morrer pelo que me parece ser a décima vez.

— Max! Droga, Max! Acorda! – Chloe continua me chacoalhando. Acordo me sentando rapidamente. Meu coração desacelera assim que o alívio toma conta de mim. Estou segura, Chloe está viva e está aqui comigo.

Passo a mão na minha testa úmida de suor e dou um sorriso fraco para ela.

— Obrigada – Respondo com a voz rouca e Chloe respira fundo.

— Max, não sei mais o que fazer para te convencer de que você não é a vilã, e sim a heroína. Olha todas as coisas que você fez. Você é a SuperMax! Eu só estou viva aqui por causa de você...

Chloe desvia o olhar por um instante.

— Desculpa, Chloe... não quero que você pense que eu me arrependo, não é nada disso. Mas eu queria ter tido a escolha de salvar todo mundo, eu sinto que fracassei.

— Não foi culpa sua. E você sempre vai ser a SuperMax, usando seu poder ou não.

Eu nunca mais usei meu poder de voltar no tempo. Confesso que não sei se ainda consigo. Também não sei o que me assusta mais: a ideia de ainda ter o poder ou a de não ter mais. Me sinto segura com ele, e isso é fato. Até o Mr. Jefferson disse quando eu estava no quarto escuro que eu estava mais destemida. Mas ao mesmo tempo, pensar em tudo que eu causei... Me dá arrepios.

Perdi a conta de quantas noites já passamos assim. No início não conversávamos sobre isso, mas sinto que fica menos difícil para nós duas conforme o tempo passa. Sorrio para a Chloe e ela retribui o gesto com um abraço apertado. Ela me puxa para seu colo e faço o que ela me ensinou: fico pensando em meus momentos felizes com ela até adormecer novamente.