Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 20
O Pacto


Notas iniciais do capítulo

Então, estou pronta para receber os xingamentos do fãs e leitores que acompanham a muitos anos. Sim, eu voltei. Não, eu não vou abandonar essa história. E. . .bom, espero que vocês continuem gostando, espero continuar surpreendendo. Estou mais velha, com mais ideias e o melhor: A escrita melhorou muito! hahahaha. Queria agradecer a todos que não desistiram de mim. Pois a cada comentario meu coração pula de alegria ao ver que ainda existem pessoas que leem o que escrevo e gostam. Isso é mais para vocês do que para mim. Espero que seja um bom capitulo.
Fiz o possivel para mudar o visual da capa, gostaria se saber se gostam. Foi dificil achar. Essa história então é muito dificil, se tiver alguém que gostaria de desenhar uma capa para mim, que saiba desenhar, eu ficaria lisonjeada pelo belissimo presente, porque meu dom para desenho é o mesmo para matemática: nulo. hahahaha.
Bom, beijinhos e até as reviews!

Obs: Eu reviso os capitulos, porém, se tiver algum erro de português, concordância ou faltando alguma coisa na frase, gostaria muito que me contassem para poder arrumar e deixar perfeito! Criticas e elogios. Espero tudo



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– Você não sonha com a minha mãe Amélia. – ele falou mais calmo, suspirando e ainda não me olhando. – Você se comunica com o espírito dela.

Fiquei parada por um momento. Como? Pisquei varias vezes, com cara de quem queria ouvir a versão verdadeira, mas Sebastian não parecia estar brincando. Respirei fundo, fechando os olhos, lembrando quando Espirro comentou que era estranho eu ter esses sonhos e que eu poderia ter adquirido algum poder mágico, ou já tivesse um, mas tivemos que parar a discussão no meio, pois os felinos do refeitório já estavam de olho em nossa conversa e comentando sobre ela. Mas eu achava que era só uma piada.

– O gato comeu sua língua? – Ele brincou.

Fiz uma careta e voltei ao foco do assunto.

– Não, eu só estava pensando em umas coisas que falei com Espirro. Eu não entendo, ela me odeia. É ao menos o que eu sinto quando a vejo.

– Você é uma humana, acha mesmo que ela gostaria de você? Ou você já se esqueceu que foi uma humana que matou a minha mãe?

– Estou curiosa por ela usar alguém que ela odeia como recurso para mandar alguma mensagem ou se comunicar. – esbravejei.

– Não se ofenda. – ele respondeu meloso e irônico. – Eu só queria que você se lembrasse dos fatos, porém é curioso mesmo ela te usar. A não ser que você seja a única que ela consegue se comunicar, o que faria todo sentido.

– Então você não sabe mais do que isso Sebastian? – comentei frustrada.

– Sobre este assunto? É, admito que sei pouco. Achou o que? Que eu era um oráculo que saberia te responder tudo?

Novamente eu não o entendia. Suas palavras estavam ríspidas, como se a preocupação de antes, com o meu estado de saúde, tivesse sumido. Aquele jeito dele me dava um aperto no coração estranho, e eu não sabia se estava tremendo porque estava com frio, ou porque estava nervosa. Fiquei quieta nos minutos seguintes, voltando a olhar para a janela. O sol já havia sido engolido pelas nuvens novamente, e floquinhos de neve caiam.

– O que mais quer saber?

Sebastian quebrou o silencio, porém não o clima estranho que estava entre nós. Ele parecia gostar dessa distancia naquele momento, como se estivesse fazendo tudo de propósito. Ele estaria magoado comigo? Eu não sabia mais o que perguntar, aqueles pensamentos estavam perturbando minha mente e o meu foco já havia sumido, eu só conseguia pensar em uma forma de sair correndo dali e me jogar sobre a cama e chorar até não poder mais. O que era isso? Um sentimento de rejeição muito forte vinha dele até mim, só pelo olhar. Eu não conseguia encará-lo, mas sentia claramente seus olhos ardendo em cima de mim. Ele estava com raiva e magoado, eu sentia isso também, era estranho, mas eu sentia.

– Qual é o seu problema hein?

As palavras saíram no tom mais irritado que eu conhecia. Claro né Amélia, você não sabe perguntar de modo sutil e conversar, então você vai brigar. Parabéns.

– Já falei, só estou tentando agir da maneira correta. – ele continuou seco – E você fugiu da conversa, não estava me sondando para obter suas respostas? Pois bem, estou disposto a responder tudo o que estiver ao meu alcance, ai você pode ir e não precisa mais vir aqui.

– Está chateado comigo? – continuei.

– Isso não vem ao caso.

– Deixa de ser teimoso!

– Não vou te responder, pronto.

Aquelas foram as ultimas palavras do felino antes de se levantar e ir sair do quarto.

Fiquei encarando a porta, perplexa e irritada. Como ele e Serafim poderiam ser tão iguais quando se tratava de orgulho? O que eu tinha feito para que ele ficasse tão nervoso? Suspirei e voltei para debaixo das cobertas, não queria me levantar tão cedo desta vez, pois sabia que eu deveria ter voltado, mas minha covardia me mantinha naquele local seguro que era estar sozinha. E sem perceber, tudo tinha voltado à estaca zero dentro de mim. Eu não sabia mais o que pensar ou sentir. Estava tudo uma bagunça.

Afundei a cabeça no travesseiro e me cobri, pedindo desculpas a Espirro diversas vezes mentalmente até começar a chorar. Eu só queria respostas, era tão difícil assim entender que ninguém ali contava as coisas de bom grado e viviam dizendo que gostavam de mim?

Acabei adormecendo e outro sonho veio. Porém, desta vez não era nenhum sonho com aquele mundo, algo enigmático ou com Phie. Era algo que me incomodava a muito tempo e eu só queria tampar o sol com a peneira. Mais uma vez.

Acordei gritando e agarrando o travesseiro. Assustada, sentei na cama e olhei para todos os cantos, para ter certeza de onde eu estava. Sozinha. A palavra ecoava em minha mente, enquanto as lagrimas voltavam a rolar pelo meu rosto e eu tentava inutilmente controlar a minha respiração ofegante, de quem havia levado um baita susto. Escutei a porta se abrir rapidamente e logo aqueles olhos cor de mel estavam me encarando, me segurando pelos ombros, aflito.

– O que aconteceu? Porque estava gritando Amélia?

De frio e distante, Sebastian tinha passado para preocupado e meigo, mas meus medos estavam um pouco maiores do que a preocupação de entender o porquê ele estava indo e vindo o tempo todo, fazendo essa tremenda confusão. Não consegui responde-lo, as palavras estavam travadas em minha garganta e novamente eu não sabia como dizer meus medos e que tudo o que eu havia conseguido superar tinha sumido junto com...ele.

Ainda preocupado, Sebastian puxou meu queixo, levantando minha cabeça delicadamente, analisando minha expressão provavelmente opaca e distante. Seus toques estavam amenizando algumas dores, mas eu ainda não tinha a resposta para isso, era mais doloroso ainda, já que a mão no meu sonho me lembrava o calor de sua mão.

– Você teve um pesadelo? – ele continuou, tentando me fazer reagir. – Amélia, por favor, fale comigo.

Fiquei encarando aqueles olhos protetores sobre mim por um tempo, até voltar a reagir. Pisquei algumas vezes e peguei a mão dele com as minhas, a puxando para meu coloco, tentando me acalmar. O felino negro ficou calmo, ajoelhando ao lado da cama, deixando que eu tivesse meu espaço para voltar à realidade, mas ainda parecia muito preocupado.

– Estou melhor.

Respondi sem olhá-lo, brincando com seus dedos.

– Porque estava gritando? – ele tornou a perguntar.

– Não sei.

– Amélia. – ele replicou impaciente. – Não quer voltar?

Como não respondi, Sebastian começou a se levantar, afastando suas mãos de mim. Não. Por um instante, minha aflição aumentou drasticamente e antes que ele se afastasse por completo, envolvi seu braço esquerdo com as minhas mãos, o apertando. Eu estava em prantos, agoniada, e ainda respirava fundo. De fato, não estava claro o que estava acontecendo comigo, um ataque de pânico talvez? A única coisa que eu não queria, era voltar. Tudo menos voltar. O felino ficou parado, de costas para mim. Como seus cabelos negros cobriam o rosto, não conseguia saber sua expressão, ele provavelmente deveria estar voltando ao modo frio de antes.

– Não quero. – comentei baixinho, o puxando um pouco. – Não quero voltar.

– Está parecendo uma criança mimada.

A frase saiu calma, porém ríspida, enquanto ele se virava.

Seus olhos amarelos vivo ardiam em cima de mim novamente, por entre as mechas negras, mas eu podia jurar que aquele olhar não era para mim, talvez para algo que ele via em mim. Sua teimosia e súbita preocupação era um mistério para mim, que a essa altura da situação já não me continha de curiosidade. Sem querer continuar aquela coisa absurda que estava acontecendo entre nós, e para poupar meu coração fraco, o soltei.

– Você tem razão. – respondi voltando a realidade. – Estou parecendo uma criança mimada né? – continuei num tom infantil, colocando uma das mãos na testa. – Acho que é porque fiquei doente, ai fico falando besteira. Desculpe.

Acho que Sebastian engoliu minha desculpa esfarrapada, ou ao menos deixou de lado aquilo por enquanto, pois afastou-se e sentou no pé da cama, suspirando.

– Você está com medo de ser reprovada pelos outros, porque eles vão descobrir que você estava comigo.

As palavras dele saíram afirmando meu medo, e meio chateadas. Eu sabia que ele não gostava que os outros felinos o odiassem, por detrás dessa história, Sebastian também havia sido ferido, e muito. Talvez um dos mais prejudicados, e ainda era tido como traidor. Ele queria companhia, mostrar quem era, mas o tempo de solidão havia sido tão grande, que era quase impossível ele tentar se aproximar de alguém. Pude ver tudo isso através de suas expressões e falas. Ele era confuso, mas não porque sempre foi assim, e sim porque estava desacostumado com alguém em seu pé, pedindo para que ele se abrisse.

E sim, essa pessoa obstinada era eu.

– Talvez. – respondi sincera. – Mas me preocupo mais com você no momento.

Ele riu.

– Qual é a graça?

– Acho curioso uma menina como você ter tanto cuidado comigo.

– Eu não acho. – retruquei nervosa, cruzando os braços. – Eu realmente me preocupo com você Sebastian.

As palavras saiam calmas e muito naturais de mim. E naquele momento pude perceber que era verdade, eu me preocupava muito com ele, com cada olhar, eu só tinha medo de suas investidas e de quando ele parecia frio. Meu coração palpitava rapidamente sobre o peito que chegava a doer, mas resolvi deixar a sensação de lado, aquilo fazia parte de mim. Fugir das explicações obvias.

Não adiantava dizer que eu não queria nem saber. Eu sabia que algo em mim estava querendo se ligar ao felino negro, tão cheio de mistérios, o problema era saber se isso era carência ou algo pior, talvez...

– Não deveria.

– É natural.

– Você se preocupa demais com coisas inúteis.

– Está dizendo que não devo me preocupar com você? – perguntei confusa. – e automaticamente está se chamando de inútil seu estúpido. – continuei irritada.

– Não. – ele respondeu sem olhar para mim. – Estou dizendo que deveria se preocupar mais com você mesma, ao invés de dedicar seu tempo com pessoas que não pediram sua preocupação. Idiota.

– Eu só não quero voltar, quero ficar um pouco com você.

– E por quê?

Os olhos dele buscavam os meus, mas eu resolvera desviar no mesmo instante da pergunta. Tinha como responder, eu sabia que tinha. Mas minha garganta parecida travada, algo dentro do meu peito o comprimia e me xingava de estúpida por ter dito que queria ficar um pouco com ele. A quanto tempo eu não me repreendia dessa forma? Parecia mais uma criança com medo de errar do que uma menina preocupada com um. . .amigo. Amigo?

Foi então que entendi. A verdade era que eu não sabia como classificar Sebastian ainda. Queria ser amiga dele, mas ele mal deixava que me aproximasse e talvez passar um tempo com ele fosse bom. Eu já estava ferrada mesmo, o que perderia em ficar?

– Eu só queria que-

– Deixa. – ele me cortou. – Demorou demais para responder. Vai mentir.

Voltei a ficar quieta. Sim, eu iria mentir. Inventar desculpas idiotas eram a minha especialidade e em Paradise não estava sendo diferente. O mais fácil sempre fora mentir.

– Eu fui pesquisar para te dar uma resposta mais concreta. – Sebastian falou baixo, cortando o assunto.

Surpresa com o assunto, acabei me empolgado e respondendo na mesma hora.

– Encontrou alguma resposta útil?

Ele sorriu.

– Você me deve uma, mocinha.

E com aquela frase de abertura, colocou um livro pesado no meu colo, aberto na pagina de uma sessão de encantos e magias. Confusa, fiquei olhando aquela pagina por alguns minutos até voltar o olhar para ele e levantar os ombros, indicando que não sabia o que ele queria dizer.

– Você quer que eu explique. – comentou aborrecido.

– Ué, o que esperava de uma pessoa como eu? – rebati, brincalhona.

– Não começa. – ele avisou, porém, em tom brincalhão também. – Está bem. Você venceu, eu vou falar minha teoria e possível descoberta sobre esse mistério que você vem vivendo.

Ansiosa, ajeitei-me na cama, ignorando qualquer sinal de tontura.

– Você adquiriu um poder bem diferente dos demais ao vir para cá. É diferente para a nossa espécie, poucos nascem com esse dom. Mas acho que na sua espécie não deve ser tão difícil. A comunicação com almas. E não é só isso. Acho que se treinar e tentar, pode também formar barreiras o melhor. . .quebrar feitiços.

Um brilho especial passou pelos olhos mel do felino ao falar o ultimo. Era obvio o porque, mas eu ainda estava chocada demais para pensar nos planos sórdidos que o felino poderia ter para mim. Suspirei, aliviada. Talvez não fosse tão ruim assim me comunicar com Phie. Talvez eu finalmente pudesse ajudar em algo.

– E então, o que achou?

– Fantástico. Aqui tudo é muito confuso. – comecei, um pouco pensativa. – Achei que não serviria para muita coisa além do propósito que me disseram, mas acho que posso fazer mais coisas do que aquilo que o Destino me designou.

– Me parece animada, pequena princesa.

O tom me fez voltar a olhar para Sebastian. Novamente, um sorriso meigo e cheio de nostalgia tomou os lábios dele. Respirei fundo, abrindo o maior sorriso que podia naquele momento.

Sim, isso me deixa muito animada. Saber que posso fazer algo aqui, algo que só eu tenho, que eu tenho o controle.

– Fico feliz de ter a ajudado. Mas. . .

– Eu quero.

Confuso, Sebastian mexeu as orelhinhas, esperando minha explicação.

– Eu quero ajudar você.

Falei por fim.

E ele sabia o que aquilo significava. Que eu queria liberta-lo.

– Não sabe o que está falando. Você está aqui para ajuda-los, vai perder toda a credibilidade.

– Eu já perdi. – brinquei. – Além do mais, estou aqui para ajudar a todos vocês. Ainda não sei exatamente o porque fui escolhida, se meu mundo não tem nada a ver com essa guerra de poderes, mas. . .é uma das minhas escolhas Sebastian. E eu vou ajuda-lo. Quero provar que você não é um traidor.

– Não sabe o que está dizendo.

– Eu vejo nos seus olhos que não foi traído.

Arrisquei colocar uma das mãos sobre o rosto dele, que por sua vez deixou que ela repousasse ali, suavemente. Um pacto havia sido formado entre nós. Minha escolha estava feita. Serafim gostando ou não, eu precisava ajuda-lo. Sentia dentro de mim uma chama que ardia pela injustiça que ele havia passado a existência toda. Ele suspirou e se deu por vencido.

– Vai abraçar minha causa? E se eu estiver mentindo?

– Eu arrisco.

– E se não falarem mais com você?

– Vão falar quando eu provar sua inocência.

– Você quer me tirar daqui não é?

– Sim. Eu quero. Mas não se faça de sonso, você mesmo riu quando viu a ultima possibilidade do que posso fazer. Vamos trabalhar juntos nisso, vamos ao menos tentar, está bem?

– Está bem. – ele respondeu irônico. – Não posso me fazer de santinho, eu realmente pensei em te usar para me tirar daqui, mas já que quer cooperar, é mais fácil mesmo. – depois de uma breve risada, ele bateu com uma das mãos no meu ombro e se levantou. – Descanse o resto do dia. Lhe trarei comida e cuidarei de você, amanhã começamos o treinamento pesado.

Balancei a cabeça positivamente, enquanto Ele bagunçava meus cabelos e se dirigia até a porta do quarto.

– E eu sou um péssimo professor. – disse por fim, antes de sumir pela porta.

Ri com aquele comentário. O que me rendeu uma série de tosses barulhentas e chatas. Mas fiz o que ele pediu, ou melhor, mandou. Passei o dia todo deitada. Agora era o momento de me cuidar, depois eu pensaria melhor no que teria que enfrentar. Talvez fosse me doer mesmo ser rejeitada por aqueles que fiz laços ali, apenas por ajudar Sebastian, mas eu precisava arriscar. Espirro me entenderia. Não sabia se Missy e Serafim iriam, mas a essa altura eles faziam tantas coisas sem me avisar, porque eu deveria me preocupar?


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