Os olhos estavam pesados, mais uma vez. Sinal de que precisa de mais uma caneca grande de café. Por instinto, olhei para o relógio redondo sobre a porta do escritório, já havia perdido as contas de quanto tempo estava no hospital de plantão. 32 horas, talvez 40... Quem sabe? Suspirei e me levantei, arrastando-me até a porta em seguida, levando comigo a caneca preta para encher com o líquido viciante. Desde a guerra ninja, havia se ocupado e dedicado com os estudos médicos e as práticas, aperfeçoando-me cada vez mais. Mas eu sabia que essa era uma mera desculpa para não me sentir sozinha. Ri baixo, irônica comigo mesma. De todos meus amigos, era a única solteira - por minha própria voltade - esperaria por Sasuke, ele... Prometera. Dizia em pensamentos, e me lembrava disso, todos os dias. Era o que me fazia forte, mas sinceramente, a solidão era algo que machucava mais do que qualquer ferimento feito por alguma lâmina. Todos já haviam resolvido suas vidas. Naruto e Hinata, Ino e Sai, Shikamaru e Temari.

— Será que ficarei sozinha pra sempre?- Sussurrei para mim mesma, sendo pega de surpresa por Kakashi, que me olhava com pena.

— Sakura... Tudo bem? - Seu olhar, agora mesclava-se entre pena e preocupação. Ele se aproximou um passo, olhando fixamente para meu rosto, fazendo-me corar.

— Kakashi-sensei! Não deve me assustar assim... O que faz aqui? Está tudo bem? - A voz saíra um pouco mais trêmula do que havia calculado.

— Sim, tudo bem Sakura. Onde estava indo? - Ele se virou, ficando ao meu lado, dando a entender que iria me acompanhar, então, apenas continuei à andar, seguindo o meu caminho para o tão conhecido refeitório. Aquele que tem sido minha cozinha por dias.

— Refeitório, vou pegar um pouco de café. Mas o que devo a visita? Já tenho alguma missão?

Kakashi balançou a cabeça em negativo, suspirando e colocando as mãos nos bolsos da calça, como de costume. Eu podia sentir a tensão vindo de seu corpo. Com certeza aquele não era um sinal de que estava tudo bem.

— Sensei... Quer me contar alguma coisa? - A voz saíra praticamente como um sussurro, os lábios e a garganta ficara seca naquele momento. Kakashi permaneceu em silêncio até nos sentar em uma das mesas dali.

— Sakura, eu serei direto. Não quero esconder isso de você. Naruto queria vir, mas... Achamos melhor que eu fosse quem desse a notícia. Antes que pudesse... Ter um colapso nervoso.

— Está me assustando.

— Sasuke está de volta, Sakura. Ele está na vila.

Arregalei os olhos, sentindo o frio percorrer minha espinha e ir direto para meu estômago. Estava estática, não conseguia dizer nada, nem mesmo pensar. Kakashi estendeu a mão, segurando a minha. A visão embaçada por conta dos olhos cheios. O sensei dizia alguma coisa, mas não conseguia me concentrar. Sasuke estava na vila, ele voltara. Um sorriso involuntário surgiu nos lábios.

— E-ele está aqui? - Sussurrei, ainda sorria, de orelha à orelha. - Ele está na vila... - Kakashi assentiu, a expressão se aliviando. - Eu posso vê-lo?

— Creio que ainda não, Sakura. Sasuke está passando por uma burocracia, talvez demore um pouco. Por que não vai para a sua casa? Descanse um pouco e espere. - Eu gritava por dentro. Sabia que se estivesse fazendo isso de verdade, ficaria sem a voz. O sensei tinha razão. Para ver Sasuke, ela tinha que ir para casa. Talvez se arrumar um pouco, esconder as olheiras.
Nos levantamos, Kakashi-sensei tomando o seu rumo, fora do hospital, ao se despedir e eu, indo para minha sala. Peguei rapidamente as minhas coisas, o mais rápido que podia, como se minha vida dependesse daquilo, e eu sabia que dependia. Já faziam anos. Três, para ser mais expecífica. Três longos anos que não o via, que não tinha nem uma mensagem dele. A última, fora no casamento de Naruto. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos depressivos, e caminhei em direção a saída, iria para casa.

O percurso de volta não era tão longe. O pequeno apertamento que comprara era próximo ao hospital, cerca de dez minutos de caminhada. Que hoje, a fizera em menos que a metade, já que quase corria... Ou corria?

De volta à minha casa, tudo estava exatamente da mesma forma que havia deixado há alguns dias, menos pelo outro chakra presente ali. Conhecia aquele chakra.

— Impossível...

— O que é impossível? - Sua voz rouca invadiu todo o cômodo, fazendo meu corpo sobressaltar. Engoli em seco, sentindo os pelos se arrepiarem. Ele estava atrás de mim, podia sentir seu olhar em minhas costas.

— S-Sasuke-kun... - Entre todos os anos que o conhecera, nunca fora tão difícil pronunciar seu nome. Ele continuou em silêncio quando me virei para ele. Meus olhos estava cheios, mas não queria chorar em sua frente. Não queria parecer aquela menina boba na qual ele desprezava. Queria ser amada por Sasuke. Nos olhos estavam fixos nos meus, tão intensos, porém, menos sombrios do que me lembrava. Sasuke estava mais alto, mais corpulento. Seu cabelo também estava maior, a franja cobria seu olho esquerdo. Corri os olhos por ele, rapidamente. Queria me lembrar de cada detalhe.

O silêncio preencheu a sala, enquanto Sasuke se aproximava. Prendi a respiração, não me lembrava de como respirar, o rosto corado pela proximidade.

— K-Kakashi-sensei disse que... Di-disse que você demoraria...

— Não. Foi mais rápido do que eu esperava.

— Que bom, Sasuke-kun. Que bom que está aqui! - Disse com animação. Queria abraçá-lo, queria poder sentir seu cheiro novamente.

— Não tem dormido aqui? - Olhei ao redor, envergonhada e balancei a cabeça em negativo. - Por que? - Seu olhar era questionador, deixando claro que exigia a resposta.

— Eu... Não queria ficar sozinha, Sasuke-kun... - Mantive o tom baixo, e abaixei o olhar, seguido da cabeça, afim de esconder o rosto vermelho feito tomate.

— Hm... - Ele se aproximou mais um passo, fazendo-me erguer a cabeça em curiosidade. Sasuke ergueu a mão direita, o indicador e dedo maior eretos. Ele tocou em minha testa, em um gesto delicado, porém, valioso demais para nós dois. Sorri, largo, não contendo as lágrimas.

— Não vai mais ficar. - Seu tom era decidido enquanto abaixava lentamente a mão. Meu coração parecia que ia explodir de tanta felicidade. Enfim, Uchiha Sasuke estava aqui, e eu, jamais iria deixá-lo ir novamente.

— Eu amo você, Sasuke-kun... - Sussurrei, e sem me importar, avancei em sua direção, o abraçando pela cintura. Para minha surpresa, Sasuke o retribuiu, pressionando-me contra seu corpo. Agora, eu sabia que era para sempre. Agora, eu era forte novamente.