Éris escrita por daddysaidno


Capítulo 1
Disnomia


Notas iniciais do capítulo

NÃO VASILEI
DEUS ABENÇOE



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Embora não ouvisse som algum, o piso de gelo sob seus pés tremia tanto que parecia prestes a rachar. Sabia que não racharia, já que precisavam daquelas imensas perfuradoras para alcançar o subsolo líquido do pequeno planeta, mas a impressão ainda o deixava ansioso.

— A segunda broca alcançou o lençol líquido, capitão — a voz eletrônica soou em seu capacete. Suspirou aliviado, agradecido por conseguir mais uma perfuração sem danos colaterais.

— Pode coletar — autorizou.

Com as pernas dormentes de frio e cansaço, Liev voltou à Calisto, a nave principal, para deixar que a próxima equipe assumisse seu turno. Já estavam há dois dias estacionados em Éris, mas o capitão não conseguia afastar a sensação de estar sendo esmagado sob o peso de toda a população terráquea, esperançosa de que sua expedição trouxesse alguma perspectiva de manutenção da vida na Terra.

Enfiou-se no dormitório escuro sem acender nem uma luza, tirou as botas e o uniforme e entrou em silêncio debaixo do cobertor, fazendo o possível para não acordar o homem dormindo em sua cama. Mas Liev sabia que Rafael tinha o sono leve e, de qualquer forma, esperava que acordasse. Queria poder se arrastar para dentro dos braços dele, o único lugar naquele fim de mundo em que não sentia frio.

— Alcançamos mais um? — O sussurro surgiu repentino, mas era tudo do que Liev precisava para se aproximar mais. Grudou nas costas dele e enfiou o nariz sob seu pescoço.

— Uhum.

— Bem-sucedido?

— Perfeitamente.

— Hah. — Rafael suspirou e virou-se para cima. Embora não pudesse ver naquele escuro, Liev sabia que estava sorrindo, de uma forma que nem mesmo o próprio capitão conseguia fazer. Ele não sentia o peso.

— Teremos resultados em dois dias... em dois dias saberemos se a matéria orgânica desse planeta pode salvar o nosso, ou se poderemos começar a contar o nosso tempo.

— Vamos conseguir.

Liev já começava a acreditar que aquela frase era algum ritual, tantas vezes que Rafael a repetia. Como biólogo da expedição, ele fazia um ótimo papel de cheerleader.

— Se não conseguirmos, é melhor morrermos aqui.

— Parece uma cova bem fria.

— Parece bem digna.

— Eu morreria melhor em casa.

— Eu morreria melhor em qualquer lugar do espaço, do que nas ruínas de casa.

— Eu não. — Rafael pôs os dedos sobre o rosto dele, como se procurasse por conforto no meio do vazio em que pairavam naquela caixa de metal e plástico. — Não me deixe morrer aqui, ok? E quando eu morrer, quero acabar debaixo da terra. Não quero flutuar pelo vazio gelado como você.

— Ok.

— É para prometer.

— Eu prometo.

Finalmente ganhou um beijo. Mas foi só um, e Rafael voltou a dormir.

 

 

Quando Liev voltou para a superfície do pequeno Éris, faltava pouco mais que trinta horas para que o resultado das análises estivesse completo. Não podiam passar mais do que uma semana ali ou entrariam na rota de colisão com Disnomia, sua lua, então precisavam colher todo o material necessário antes disso, mesmo sem a certeza de que seria útil. Se o resultado desse negativo depois que os tanques estivessem cheios da água de Éris, apenas jogariam tudo fora e voltariam para casa.

— Quarta broca em posição — o técnico avisou.

— Pode perfurar.

— Capitão?

O tom incerto do técnico fez com que Liev olhasse ao redor. Bem ao leste Disnomia surgia, vagarosa e imponente, quase como um presságio, avisando-os de que estava contando o seu tempo, pronta para expulsá-los da superfície de sua mãe.

— Continue o trabalho.

Assim que a broca girando em alta velocidade encontrou o piso de gelo, a superfície tremeu como se estivesse se contraindo, balançando todos os pequenos astronautas presos ao chão por botas magnéticas. Um pouco depois do horizonte puderam ver um pequeno corpo subindo na direção do espaço, balançando os braços desesperadamente. Afastou-se poucos metros, até que o cabo em seu traje se esticasse, e foi puxado de volta. Liev sentiu a garganta seca e as mãos suadas.

— Deixem drones vigiando as perfuradoras estacionadas — ordenou —, quem não estiver de serviço, volte à nave.

— Você conhece Éris? — a voz familiar soou em seu capacete. Liev virou-se e encontrou Rafael se aproximando, embora não fosse seu turno.

— O que faz aqui?

— Queria ver Disnomia, disseram que estava saindo.

Ambos olharam para a lua, bem mais próxima do que estivera minutos antes.

— Claro que conheço Éris. E agora somos mais íntimos do que nunca. — O capitão checou o monitor em seu pulso, garantindo que nenhuma máquina havia sofrido danos.

— Ela é ardilosa e temperamental...

— Quem?

— Éris.

— Do que está falando?

— Você é bem burro às vezes. — Rafael deu uma risada, e riu ainda mais quando observou Liev lentamente erguendo a mão para lhe mostrar o dedo do meio, tão escondido nas vestes pesadas que dificilmente notaria que era o dedo do meio, se não o conhecesse. — Éris foi a deusa da discórdia, odiada por muitos outros deuses na Terra. É por isso que hoje ela mora tão distante e levou tanto tempo para ser notada.

— É só um planeta.

— Na minha cultura, os deuses mortos fazem morada nos planetas desabitados.

— E deuses morrem?

— Quando ninguém acredita mais neles, eles morrem para nós. E aí não podem mais viver na Terra, mas não faz mal... o universo é grande o suficiente para todas as nossas divindades mortas.

— São só histórias.

— Diz você. — Deu de ombros.

— Você acredita mesmo nisso?

— Ficou preocupado? — Riu ainda mais, depois voltou os olhos para o satélite com uma expressão mais séria do que queria demonstrar. — Eu fui contra a expedição.

— Você o quê?

— Eu votei para que esperássemos o apogeu de Disnomia.

— O voto contra foi SEU? — Liev sentiu suas mãos tremendo, tamanha a raiva que surgiu apertando sua garganta. — Eu não acredito que foi você!

— Não deveríamos correr esse risco...

— E esperar outros três anos para ter uma rota aberta até aqui?

— Eu fiz o que achei melhor. Assim como você faria.

— Você sabe que a Terra não tem mais três anos! E baseado em quê, um mito? Meu deus, Rafael, você podia ter impedido a expedição INTEIRA!

— Vai se foder, Liev.

Por trás dos capacetes, os dois se encaravam prontos para se agredir, embora soubessem que a gravidade e os trajes não deixariam que fizessem muito. E antes que pudessem dizer mais alguma coisa, o piso tremeu novamente, obrigando os homens na superfície a se agacharem para se manter no chão. A perfuradora que estava abrindo caminho para o mar de Éris entrou em pane, interrompendo seu funcionamento e piscando todas as suas luzes de alarme.

O técnico encarregado parecia assustado demais para tomar alguma providência e tentou se afastar devagar, mas não chegou muito longe antes que a broca fosse expelida do buraco por um jato de água, lançando a máquina com velocidade para o espaço. As presilhas que a seguravam no piso arrancaram lascas do gelo, mas nem a perfuradora rodopiando no espaço os assustou tanto quando a força da água proveniente do buraco no chão, lançando parte do seu oceano azulado na direção do vazio.

— QUE MERDA FOI ESSA? — Liev correu para socorrer o técnico, totalmente incrédulo.

— A pressão interna não foi conferida? — Rafael perguntou.

— Claro que foi! Todos os passos do protocolo foram executados. — Ainda tremendo, o técnico respondeu. Abriu o monitor do seu traje para acessar o histórico da perfuradora perdida no espaço. — A pressão se manteve estável todo o tempo, não faço ideia do que aconteceu.

Devagar, a água foi diminuindo até que a superfície do buraco voltou a congelar. Ninguém sabia quais medidas tomar daquele momento em diante, não havia protocolo que os preparasse para coisas daquele tipo, coisas que iam contra o próprio protocolo.

— Executaremos os passos duas vezes daqui pra frente, certo? — O capitão ordenou em linha aberta, para que todos ouvissem. Precisava mais parecer que tinha uma solução do que realmente ter uma naquele momento. — Só faltam duas perfuradoras, então vamos fazer isso rápido e com cuidado.

 

 

A cabine principal estava lotada, nunca antes tendo recebido toda a tripulação da nave de uma vez só. A tensão na sala era quase tangível, fosse no ar opressor que se instalou com tanta gente em um espaço apertado, ou nos rostos ansiosos dos exploradores desesperados ali. A estática surgiu de repente, primeiro veio o chiado do som, depois a imagem na tela.

O capitão estava pronto para vomitar na frente de toda a sua tripulação, tremendo por inteiro quando ouviu a voz do líder da Comissão de Restauração da Terra. Mas conseguiu manter-se no lugar quando os dedos quentes de Rafael discretamente se enrolaram nos seus, debaixo da mesa de comando, para apertar sua mão de forma carinhosa e encorajadora.

— Bom dia, cavalheiros. — A imagem de um militar sorridente surgiu para trazer esperança. — Prontos para boas notícias? O substrato é orgânico. É composto por microalgas que, sim, são capazes de filtrar a matéria radioativa.

Toda a tensão acumulada no cômodo pareceu escoar, mas não da forma explosiva que Liev imaginou. A maioria dos homens na sala suspirou, abaixou a cabeça e chorou. Alguns rezaram. A esperança surgiu de uma forma peculiar, muito mais como um alívio. Eles estavam contando os próprios dias há tanto tempo que talvez não houvesse muito mais ânimo para comemorar, embora todos estivessem cheios de uma felicidade contemplativa. Como se agora pudessem finalmente respirar.

Liev sentiu, na mão que primeiro trouxera encorajamento, uma tremedeira descontrolada. Quando olhou para Rafael, o biólogo chorava como uma criança, escondendo o rosto sob a outra mão. Então riu, o abraçou e chorou também.

 

 

Depois de encher todos os tanques, encerraram a extração e passaram a recolher as máquinas. Com cuidado e equipe dobrada para evitar outro acidente, a superfície do pequeno Éris parecia um formigueiro coberto de pequenos astronautas em trajes laranja caminhando de um lado para o outro.

— A segunda perfuradora já está no galpão. Permissão para soltar a terceira.

— Vá em frente.

— Você não acha que está perto demais? — Rafael apontou para Disnomia, exatamente acima deles.

Liev observou a lua. Realmente, ainda deveria estar vários metros a leste.

— Talvez seja a perspectiva? — O capitão deu de ombros.

— Quanto tempo deveríamos ter antes de entrar em colisão com o satélite? — Acessou as tabelas de rota pelo monitor em seu traje, coçou a nuca e observou a lua novamente. — Ainda deveríamos ter três dias.

— Então ainda temos três dias. Sairemos daqui em algumas horas.

— Ela está perto demais, Liev.

— É coisa da sua cabeça, ok? Esqueça essas crenças...

Não pôde terminar a sentença antes que um tremor os chacoalhasse novamente. Olharam imediatamente para as perfuradoras ainda presas ao chão, mas nenhuma delas parecia fora do normal. O piso sob seus pés, por outro lado, chiou e tensionou, cobrindo-se de riscos quando começou a rachar. E então parou.

Todos permaneceram quietos e em silêncio, com medo de que qualquer suspiro os afundasse no chão, embora estivessem sobre uma camada de quase 100m de gelo.

— De volta para a nave — Liev ordenou, tentando parecer calmo o suficiente para disfarçar o medo que sentia. — Todo mundo, deixem as perfuradoras e voltem para a nave.

— O que foi isso, capitão?

— Vamos voltar para a cabine e tentar descobrir o que está acontecendo.

Os riscos sob seus pés voltaram a se esticar, dessa vez bem mais depressa, como se o planeta estivesse sendo apertado dentro de uma palma e começasse a rachar por inteiro.

— DE VOLTA À NAVE, AGORA! — Liev gritou, sentindo o início do que se tornaria desespero. A primeira coisa que fez foi agarrar a mão de Rafael, soltar seus cabos de segurança que estavam presos ao chão e correr.

As maiores rachaduras começaram a se abrir em imensas valas, dividindo a superfície em ilhas de gelo. Os homens correram na direção do módulo de transporte, mas a presilha magnética não foi o suficiente para segurá-lo no chão quando o tremor voltou. Um dos técnicos soltou seu cabo de segurança e pulou na direção do módulo, mas não o alcançou, e flutuou para longe do planeta e do veículo.

— Calisto! Estamos com problemas! Mande módulos de transporte para nos tirar daqui imediatamente! Um dos homens perdeu contato, mande resgate...

Sentiu seu corpo sendo empurrado para a frente quando seus pés foram separados, sua mão não pôde segurar a de Rafael e uma fenda os separou. Virou-se a tempo de ver seu rosto aterrorizado por trás do capacete, antes que o biólogo afundasse com um bloco de gelo que desceu. Em desespero, Liev jogou-se atrás dele.

Do fundo do buraco onde pararam, Rafael e Liev podiam ver Disnomia no céu, encarando-os como se estivesse apenas cumprindo a ameaça que fizera antes. As paredes de gelo ao redor começaram a romper também, expondo estacas de gelo que os esmagariam.

— Ela está perto demais — Rafael repetiu.

— Está.

— Está desestabilizando a atmosfera.

— Anda. — Segurou a mão dele e desligou a função magnética das botas. — Vamos sair daqui.

— Éris não vai nos deixar levar a água, Liev.

— Não temos tempo para isso. Anda, vem!

Rafael estava assustado demais para insistir, então desligou as botas e segurou a mão dele. Pularam na direção do céu, deixando que a baixíssima gravidade os fizesse flutuar para fora da fenda, até chegar à superfície em caos. O terreno, antes brilhante e liso, estava todo recortado em valas e crateras. Metade dos homens não estava à vista, mas os módulos da Calisto já se aproximavam. Duas das perfuradoras haviam afundado, outra estava coberta por gelo que petrificara quando água vazou pela broca.

Quando o módulo chegou a alguns metros da superfície, foi abruptamente puxado e colidiu com o gelo. O corpo de Liev ficou pesado, ele se desequilibrou e caiu de costas com força suficiente para perder o ar, como se, minutos antes, não precisasse de botas para se manter no chão.

— A gravidade! — Ouviu Rafael gritando antes que seus corpos fossem soltos e flutuassem para longe da superfície sem nenhum apoio, em gravidade zero.

Os dois foram lançados contra destroços de gelo dispersos no céu. Um bloco tão grande quanto um meteoro desprendeu-se do solo e acertou o segundo veículo que se aproximava, perdendo-o no espaço. O biólogo se chocou contra o módulo danificado pela colisão, e Liev rodopiou para longe. Podiam ouvir os pedidos de socorro e lamentações dos outros homens em seus capacetes, podiam ouvir a superfície do planeta rachando, a estática que a interferência de Disnomia causava em seus rádios e, pior que isso, não ouviam resposta nenhuma de Calisto.

— Liev! Liev! — Rafael chamava, mas também não ouvia resposta do outro, que havia desmaiado ao colidir com os destroços suspensos. — Porra!

Agarrou-se ao módulo até alcançar a escotilha, entrou e encontrou o piloto desacordado e sangrando dentro do próprio capacete. Com dificuldade, tomou o controle, mas só conseguiu fazer com que os motores funcionassem na quarta tentativa. À sua frente, Disnomia parecia cada vez maior. Conseguiu girar a pequena nave e alcançou Liev, agarrou-o pela escotilha e o puxou para dentro. Estranhamente, Calisto também parecia bem maior. Rafael não conseguiu tirar os olhos da imensa nave que se aproximava de Éris, bem na sua direção.

— Ela foi puxada pela mudança de gravidade — Liev agarrou-o pelo pulso para conseguir sentar. — Temos que chegar lá agora.

— Se não resgatarmos os homens, vamos perder muitos.

— Se não chegarmos na Calisto, ela vai colidir. E aí perderemos todo mundo.

— Onde está a merda da tripulação?

— Eu não sei! Mas claramente não está tripulando!

O capitão tomou a navegação do módulo e os pôs a caminho da nave principal o mais rápido que pôde. Mas, às suas costas, o planeta voltou a se mover. Sua superfície se abriu como se o seu interior estivesse procurando passagem, e a água de seu oceano subterrâneo começou a transbordar com mais velocidade do que conseguia se congelar. As perfuradoras que ainda podiam ser vistas foram cobertas, os homens sobre o planeta foram engolidos e os gritos, que aterrorizaram os dois por vários minutos, de repente cessaram.

Chegaram à Calisto tremendo por inteiro, incapazes até de chorar, enquanto assistiam todos os seus colegas congelando sob a camada de água que petrificava para restaurar Éris. E quando cessou, estava tudo coberto e liso como quando chegaram, como se o pequeno planeta nunca houvesse sido tocado por mãos humanas.

Não trocaram sequer uma palavra enquanto entravam na nave. Liev atravessou os corredores como se não estivesse no controle do próprio corpo, os olhos fixos no caminho à sua frente e a cabeça em transe. 

Chegaram à sala de controle e encontraram os três homens restantes da tripulação desolados, sentados no chão de frente para a imensa janela como crianças, assistindo à metamorfose do pequeno Éris — a esperança da Terra.

— O que houve?

— Não estamos no controle, capitão — o técnico respondeu, incapaz até de mover a cabeça para longe da janela. — A nave não é nossa.

Liev se aproximou da sua mesa, iniciou a navegação e teve resposta dos controles. Sentou-se na cadeira e calculou a mudança de rota, para longe da colisão à sua frente, para longe de Éris.

— Estamos no controle — avisou.

— O quê?

— Eu disse que podemos pilotar.

— Mas até pouco...

— Tudo bem. Preciso que levantem e naveguem para longe agora mesmo. — Os homens no chão o encaravam incrédulos. — Antes que Éris decida que nós também não vamos sair daqui.

Quando Calisto entrou na nova rota e deu as costas ao pequeno planeta, Disnomia já estava bem distante de onde estivera quando seu astro rachou.

Rafael sentou-se ao lado do capitão com um crucifixo entre as mãos, o único consolo que poderia conseguir contra uma deusa morta.


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Notas finais do capítulo

Mesmo que tenha sido escrito em cima da hora e mto mal revisado, espero que tenham gostado ♥