Quirofilia escrita por Sarah


Capítulo 1
Quirofilia




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Quirofilia

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Dedos longos, juntas salientes, unhas levemente manchadas de graxa e uma cicatriz fina no dorso direito — Ronan sempre estivera um pouco encantado com as mãos de Adam, mas só soube que estava realmente perdido quando o outro garoto levou a palma à boca e lambeu a pele ressacada, meio distraído, numa tentativa fútil de alivio.

O gesto foi simples e delicado, mas Ronan o sentiu vibrar em seus ossos. O ar pareceu rarefeito ao seu redor, e seu sangue pulsou muito quente nas veias. De repente, tornou-se muito consciênte do calor de Adam e de que o joelho dele encostava no seu ocasionalmente, os dois sentados lado a lado, compartilhando uma mesa da sorveteria local com Gansey e Noah.

Ronan precisou se levantar, batendo na mesa em querer e fazendo as taças de sorvete balançarem. Gansey notou o rubor em seu rosto, porém não disse nada, limitando-se a erguer uma sobrancelha enquanto Ronan dava às costas para eles e seguia para o banheiro.   

Nas três noites que se seguiram ele teve o prazer de sonhar como qualquer outro garoto da sua idade sonhava, nenhuma Garota Orfã, nenhum objeto de sonho ou terror noturno, apenas Adam e suas mãos ressecadas e a ponta da língua dele.

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O olhar de Ronan pinicava sobre sua pele, mas, então, o garoto fingia que não estava olhando, e Adam mantinha seus olhos fixos à frente, fingindo que o outro era um bom fingidor.  

Toda aquela atuação era bastante supérflua, na verdade. Mesmo se o olhar de Ronan não estivesse constantemente sobre si, Adam ainda poderia intuir os sentimentos dele pela forma como Chainsaw revoava sobre sua cabeça e se aninhava contra seu braço. Não era a mesma maneira como o pássaro estava sempre em volta de Ronan, um orbitando o outro, era algo mais deliberado, menos um fenômeno natural e mais uma demonstração de carinho.  E Chainsaw era uma parte de Ronan.

Dentre todas as coisas impossíveis que vinham acontecendo com Adam, Ronan gostar dele estava entre as mais estranhas. Uma parte de Adam se sentia regalada com o fato, de uma forma prepotente — Ronan tinha se voltado para ele, não para Gansey ou para outro garoto rico da Aglionby. Mas também existiam camadas e camadas para além disso, que Adam tinha medo de considerar, e que às vezes vinham à tona quando Chainsaw batia as asas, roçando as penas em seu ouvido bom, ou bicava gentilmente a dobra do seu cotovelo para que ele abrisse espaço e deixasse ela repousar a cabeça ali. 

Ronan era uma bagunça, Ronan nunca deixaria Henrietta, e era um garoto. A sua imagem mental de um apartamento com bancadas de aço inox e enormes janelas de vidro jamais combinaria com Ronan.

No entanto, era difícil acreditar que isso importava quando ele franzia o cenho e mordiscava as pulseiras de couro que levava no braço. O gesto sempre parecia um pouco selvagem, mas também era um sinal de fragilidade, porque Ronan só fazia aquilo quando estava nervoso. A combinação eriçava os pelos de Adam e fazia seu baixo ventre pulsar.

Ao mesmo tempo, os braceletes haviam sido dados a Ronan por Kavinsky — será que era assim que Ronan tinha se sentido durante todo o tempo que ele estivera com Blue? Blue estava com Gansey agora, porém as pulseiras no braço de Ronan vinham tomando um lugar maior na sua mente do que o ocupado pelo relacionamento dos dois.

Em algumas noites, Adam apenas desejava que tudo pudesse ser simples, em outras ele se imaginava tocando o pulso de Ronan, sentindo o cheiro de couro dos braceletes e contornando as marcas de dentes sobre eles, reinvindicando aquela parte de Ronan para si.

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Adam entrelaçou os dedos nos dedos de Ronan. Os braceletes que ele usava arranharam seu pulso diante do aperto, mas Adam não se importou. A sensação era familiar, como chegar em casa ou abrir um livro velho que você já leu mil vezes. Com a mão livre, Adam buscou as pulseiras, girando-as no braço alheio, brincando com elas. Ronan deixou que ele fizesse aquilo por um longo tempo, mas, então, puxou seus dedos para cima, levando-os até os lábios e beijando a palma da sua mão, a língua tocando a pele.

Quando Ronan sorriu, não havia nenhuma ironia no gesto, nenhum traço de agressividade, apenas uma ligeira covinha em sua bochecha esquerda e felicidade.


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