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Vestes de Princesa

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Benjamim sentiu suas mãos tremerem, apertadas contra a borda da pia do banheiro. Era estúpido, considerando que ele não tinha bebido nada e que o tremor era fruto de puro nervosismo. Encarou o batom que a irmã de Leon esquecera sobre a pia, depois de ter passado a noite no apartamento que os dois dividiam. Saber que o batom estava ali havia atormentado seus pensamentos durante todo o dia. Lentamente, tomando coragem, estendeu a mão e pegou o objeto.

Vermelho-sangue. A marca não devia ser muito boa, pois quando Benjamim o cheirou não sentiu nada além do odor indistinto de cera. Mesmo assim, era vermelho, e a cor parecia pulsar. Não foi uma decisão exatamente consciente levá-lo aos lábios.

Traçou o desenho da boca, fitando seu reflexo. A palidez do seu rosto ficou mais acentuada em contraste com o vermelho. Comprimiu os lábios, sentindo a textura do batom sobre eles. A sensação era agradável, mas também fez seu estômago revirar. Aquilo era loucura. Oh, ele estava tão fodido.

Parecia bonito, de qualquer modo. O contorno da sua boca destacava-se, o lábio superior formando um arco perfeito. Benjamim tocou aquela curva de leve, com a ponta dos dedos. Porém não teve tempo de apreciar aquilo por muito tempo.

A porta do banheiro abriu sem aviso, fazendo seu coração deixar de bater por um segundo e o mundo tornar-se branco.

— Hey, Benjamim, viu meu desodorante...? — A voz de Leon ecoou pelos azulejos.

Tinha girado a chave, mas, como tudo naquele apartamento, a fechadura era velha e abria se você colocasse um pouco mais de força. Leon nem se dera conta de que porta estivera trancada.

Morrer deve ser mais ou menos assim — considerou, a sensação de vertigem nublando seus olhos enquanto sua pressão caia a números negativos pela surpresa e pelo medo. Encolheu-se e levou as costas da mão aos lábios, tentando remover o batom, porém isso só espalhou o vermelho e o tornou ainda mais evidente. Sentiu a aspereza de um rastro de barba por fazer sob sua palma e tremeu. Céus, quão ridículo não parecia?

Levou todo um instante, mas, finalmente, Leon notou sua consternação.

— Você está bem? — ele questionou, preocupado. Benjamim não respondeu, curvando-se sobre si mesmo, de costas para o outro, porém logo percebeu que era uma atitude idiota, pois fez Leon se aproximar. — Benjamim? — Leon tornou a chamar, pousando a mão em seu ombro.

— Estou bem, só saia daqui!

— Está machucado? — ele perguntou diante do vermelho no seu rosto, então viu o batom aberto sobre a pia e compreendeu. — Não tem problema.

Benjamim sentiu a boca dele em seu ombro, beijando a pele exposta. Permaneceu em silêncio, os músculos rígidos, enquanto o outro se curvava para pegar um bolo de papel higiênico.

Leon umedeceu o papel; em seguida, aproximou-se, limpando o borrão de batom do seu rosto. Não demorou até que suas lágrimas se juntassem à mancha vermelha.

— Você fez uma bagunça aqui, mas acho que com prática vai conseguir passar isso direito — Leon disse, e o carinho que pesou em sua voz fez o resto do autocontrole de Benjamim ruir.

Um soluço abafado escapou de sua garganta, e ele balançou a cabeça.

— Eu sinto muito, Leon! Sinto muito!

Leon crispou os lábios em uma mistura de tristeza e exasperação.

— Por que está se desculpando comigo? Eu não me importo, e não há nada de errado com um pouco de maquiagem.

Benjamim tentou escapar do toque dele, mas o banheiro pequeno não permitiu uma fuga adequada.

—Como pode não se importar? Se gostasse desse tipo de coisa, estaria com uma garota...

Da última vez que alguém o pegara usando coisas femininas, fora um par de brincos de pérola que surrupiara de sua avó. Eram tão pequenos, mas o mundo convertera-se em tempestade por causa deles. Seu pai arrancara os brincos de suas orelhas, e Benjamim apanhara tanto que algumas cicatrizes ainda permaneciam: talhos profundos em suas costas.

Dissera a Leon que tinha sofrido um acidente, no entanto ele nunca se convencera muito, e agora parecia compreender completamente o que acontecera. Devagar, Leon infiltrou a mão sob sua camisa, contornando a pele retorcida daquelas cicatrizes em um gesto muito mais carinhoso do que sensual.

— Meu personagem preferido em Game of Thrones é a Cersei. Acho sorvete de morango melhor do que de chocolate. Li livros do Foucault sem ser por obrigação da faculdade... Gostar de você não é a coisa mais estranha sobre mim. E eu também posso aceitar os seus gostos, Benjamim — disse, abraçando-o.

Benjamim deixou-se acalentar por um instante, mas então se afastou um pouco, encarando o outro.

— Você não está surpreso — constatou, e Leon corou ao ouvir aquelas palavras.

Mesmo que Leon pudesse compreendê-lo, seria natural ao menos alguma estranheza.

— Eu meio que já sabia — ele disse, e Benjamim franziu o cenho. — Escutei algumas histórias da sua irmã e encontrei o vestido que você guarda no fundo do armário há um tempo... Perdão por não ter falado nada. Se eu imaginasse que isso deixaria você tão transtornado, teria tentado conversar.

Aquilo deveria ser confortador, mas fez o choro de anos engolfá-lo.

— Céus, eu achava que tinha sido tão bom em esconder tudo isso — declarou através de uma meia risada, que soou com gosto de desespero. — Eu não quero ser uma garota, Leon — disse, a urgência de esclarecer isso apertando seu coração.

— Eu sei — Leon concedeu, afagando suas costas. — Você pode ser você mesmo e ainda usar um vestido, Benjamim. — Ele suspirou, para então sorrir de canto, maliciosamente. — É algo que eu apreciaria ver.

Havia muita segurança na voz de Leon, além de uma ponta de desejo, e, pela primeira vez, Benjamim considerou vestir saias para ele... A ideia o arrepiou, ao mesmo tempo que o encheu de medo e insegurança.

No entanto, quando Leon se inclinou, apertando os lábios contra a junção da sua mandíbula com o pescoço, achou que poderia chegar o momento em que seria capaz de lidar com aquilo.