Quietude escrita por Sarah


Capítulo 11
Capítulo 11




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Mesmo fora do laboratório, o Capitão ainda sentia o cheiro de antisséptico. O odor tinha impregnado em seus dedos e enchia suas narinas. Do outro lado do vidro, Bucky permanecia anestesiado enquanto Tony ajustava os sensores do seu braço de metal e o médico de Wakanda fazia a ligação com os nervos.

Silenciosamente, Natasha parou ao seu lado, estendendo-lhe uma caneca de café. Steve apreciou o fato de ela não dizer para ele sair dali e descansar um pouco.

— O que você fez para convencê-lo a colocar o braço de volta? — ela perguntou, fazendo um gesto em direção ao interior do laboratório.

— Envolveu algum dano físico, cobrei uma aposta de oitenta anos atrás, lembrei de quando ele quebrou toda minha caixa de giz para desenho porque se atrapalhou sem o braço esquerdo, e prometi dar a ele todos os meus brindes do McDonnalds para o resto da vida.

Natasha assobiou.

— Terrivelmente difícil, então.

O Capitão tomou um gole do café, mais amargo do que estava acostumado.

— Ele não pode a vida se sacrificando por mim, Nat. Já vimos onde isso levou da primeira vez.

— Tenho certeza que ele não se importaria de fazer tudo de novo — ela disse, e Steve tirou os olhos do que acontecia além do vidro para encará-la.

— Provavelmente, mas eu não suportaria algo assim.

— Para ser sincera, achei que seria você a implicar com a ideia de deixar o Stark se aproximar do Bucky depois de tudo.

Steve fitou Tony enquanto ele torcia um dos dedos de Bucky para que se ajustasse. Vinham se tratando em termos formais, mas civilizados. O Capitão apostava que não levaria muito tempo até as piadinhas e provocações ressurgirem.

— Confio em você e no Clint, e confio no T’Challa. E sobre o Tony... Nós éramos amigos. Acho que, afinal, ainda somos. — No laboratório, o médico pressionou algum nervo que fez o corpo de Bucky ter um espasmo. Steve rangeu os dentes com um ganido lamuriento. — De qualquer forma, você e Clint ainda me devem por terem se intrometido.

Natasha fez sua melhor expressão de inocência.

— Não tenho ideia do que você está me acusando, Cap.

Steve revirou os olhos.

— É obvio que o Clint só me fez ajudá-la naquela missão para poder dizer ao T’Challa que eu estava de volta à ativa e precisava do escudo novamente — declarou, fazendo Natasha sorrir e erguer as mãos com as palmas viradas para fora, como quem se rende.

— Para ser justa, o plano foi do Clint e do Sam, eu teria sido mais sutil. Só entrei depois, para convencer o T’Challa e o Tony; realmente me surpreendi quando você se meteu no meio do que eu estava fazendo.

O médico puxou o braço de Bucky em um ângulo estranho, e as mãos de Steve tremeram tanto que ele quase deixou cair a caneca com café quente. Natasha se adiantou para tirar o objeto de seus dedos. Quando um rastro de sangue escorreu pelo braço metálico, o Capitão admitiu que era demasiado. Virou-se de costas para o vidro, cobrindo os olhos para se dar a chance de respirar por alguns instantes.

— Será que falta muito?

Em vez de responder, Natasha lhe deu um empurrão amigável e devolveu-lhe outra pergunta:

— Quando você vai contar para ele o que sente?

Steve tomou fôlego, mas não se sentia com energia o suficiente para negar aquilo e travar uma discussão com a Viúva.

— Talvez quando eu entender o que sinto. E quando tiver uma ideia do que ele acha sobre o assunto... Ele não tem mais ninguém, Natasha, não posso arriscar essa amizade — falou, porém Natasha fungou e balançou a cabeça, sacudindo os cabelos ruivos.

— Ele gosta de você também, Capitão.

— Como você pode saber disso?

Natasha deu um sorriso maldoso.

— Você sabe que nós conversamos antes de ele decidir colocar o braço de volta, não é? — ela perguntou. Steve aquiesceu. — Bucky pediu para ver a cicatriz de quando ele atirou em mim — a Viúva falou, tocando a barriga onde o tiro do Soldado Invernal tinha transpassado para acertar o alvo que ela protegia, anos antes. O Capitão franziu o cenho, incerto sobre onde Natasha queria chegar com aquilo. — Nem mesmo você me encarou com tanta inocência e desinteresse, Steve.

Oh. Steve sentiu-se corar, suas bochechas e orelhas esquentando.

— Isso ainda não quer dizer nada — rebateu mesmo assim. — Era diferente na nossa época, Nat. Gostar de outro homem era perigoso, terrível. Bucky não... — disse, mas ela o interrompeu com um estalar de línguas.

— Talvez por isso Bucky tenha mantido as coisas para si mesmo. Você não tem essa desculpa, está nesse mundo há mais tempo que ele.

No lugar de responder, Steve voltou a encarar o laboratório. O braço metálico ainda estava manchado de vermelho, mas Tony e o médico haviam contido o fluxo de sangue. Mesmo assim, Bucky parecia terrivelmente branco.

O contorno da amizade entre os dois sempre tinha sido um tanto largo demais, repleto de toques desnecessários e olhares que se demoravam por muito tempo. Steve pensou no calor de Bucky enquanto o barbeava, na forma como o outro sempre ficara ao seu lado quando eram crianças e ele passava mais tempo doente do que saudável e na sensação de acordar e vê-lo ao seu lado. O Soldado nunca tinha se esquivado daquelas coisas.

Algo quente invadiu seus pulmões ao considerar que, céus, talvez Natasha tivesse razão.


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