Quietude escrita por Sarah


Capítulo 1
Capítulo 01


Notas iniciais do capítulo

Deixo aqui o poema que me calhou de tema. ^^

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/732878/chapter/1

Steve acordou com o telefone tocando às três horas da manhã, e, se ele aprendera bem, na vida que levava telefones soando de madrugada eram sempre um mau presságio. Quando viu o código de área na tela — muitos números, obviamente uma ligação do exterior — o ar congelou em seus pulmões.

.

.

.

— Com que rapidez você pode conseguir um voo para Wakanda?

Ainda não eram nem seis horas, Natasha não tinha penteados os cabelos e sequer havia conseguido um pouco de café, assim, teve que piscar duas vezes para a pergunta.

— Será que alguma vez, quando você bater na minha porta antes mesmo do meu despetador soar, vai ser para pedir algo normal? Remédios para ressaca, dicas para consquistar uma garota, ou para que eu mate alguém silenciosamente? Não existem voos para Wakanda.

— Não, nenhum voo comercial — Steve concordou. — Mas nós dois sabemos que T'Challa tem trocado tecnologia com o Stark e que manda suprimentos regulares para pesquisa e aprimoramento, me coloque no voo de carga.

— Porque não pede diretamente para o Tony?

Steve trocou o peso de um pé para o outro.

— Nós quase nos matamos da última vez, acho que estamos dando um tempo.

— Eu o traí quando ajudei você, porque acha que eu teria mais sorte infiltrando você junto com os brinquedos dele?

— Você sempre consegue o que quer.

Natasha revirou os olhos, exasperada.

— Você teria muito mais sorte do que eu se pedisse certo; duvido que ele te negaria qualquer coisa — ela comentou em um tom sarcástico, que Steve não se esforçou para entender, mas pegou o celular e começou a digitar mensagens com uma rapidez que o Capitão jamais teria.

— Então, qual o problema em Wakanda? — Natasha perguntou sem tirar os olhos da tela do celular.

Steve achava que ela tinha uma ideia do que se tratava, porque quando Nat não soubera das coisas primeiro do que todos eles?

— Bucky.

— E o que mais faria você invadir meu apartamento às cinco horas da manhã com demandas absurdas? Eu perguntei qual o problema, não quem.

Steve sentiu as bochechas arderem, mas, ao mesmo tempo, sabia que a provocação era merecida.

— Ele acordou. Bucky nunca tinha passado tanto tempo consciente enquanto estava nas mãos da HYDRA, T'Challa acha que o período que ele passou acordado desde que escapou o tornou mais resistênte à hibernação. Ele quase morreu ao despertar, Nat, eu preciso ir até lá, e o voo de carga vai ser mais rápido do que esperar que o transporte mandado pelo T'Challa  passe pela burocracia americana

Em meio ao seu desespero, o Capitão não percebera que Nat tinha deixado de digitar e o encarava por cima do celular com o cenho franzido e os lábios crispados.

— Você o deixou em Wakanda em estado de animação suspensa? — Indignação pingava através da voz dela, e não era algo pelo que Steve estivesse esperando. A cafeteira apitou, avisando que o expresso estava pronto, mas nenhum dos dois deu atenção ao fato.

— Achei que você soubesse.

— Que ele estava em Wakanda, sim, mas não que estava congelado! Como você pôde fazer isso?

— Foi decisão dele! — Steve afirmou, dando um passo atrás inconscientemente. Naquele instante, despenteada e vestindo um moletom que fazia às vezes de pijama, Natasha parecia mais perigosa do que qualquer valentão que ele já enfrentara. — A mente dele estava instável, Nat, ele achou que seria melhor...

— E como voltar a ser congelado ajudaria a estabilizar a mente dele?

— Ele estaria seguro, ok? Tem meio mundo querendo matá-lo, Natasha!!

Céus, vocês são uns idiotas! Imagino que ele também tenha pensado que você estaria mais seguro sem ele ao seu lado.

No momento em que ela falou, pareceu muito óbvio, mas Steve realmente não tinha pensado por aquela perspectiva até então. Bucky apenas parecera tão cansado, ao mesmo tempo em que mantê-lo em Wakanda, seguro até que pudesse lidar com aqueles que queriam matá-lo, soara melhor do que qualquer outro plano que ele já tinha concebido.  

E, bem, havia dado tudo errado. Bucky quase morrera envenenado quando seu corpo rejeitara a medicação que o deixava em animação suspensa para, mais uma vez, acordar em um laboratório. A raiva que sentia de si mesmo roeu suas entranhas.

— Sim, eu fui um idiota. Falhei com ele de novo! É isso que você quer ouvir? Acha que eu não me culpo o suficiente? É por isso que eu preciso de um avião! Se eu pudesse já estaria lá!

Natasha suspirou, deixando a postura combativa diante da sua angústia.

— O voo parte em cinquenta minutos, há um lugar para você — ela disse, mostrando uma mensagem na tela do celular que confirmava a informação.

Steve sentiu uma mistura de alívio e ansiedade.

— Obrigado, Nat.

Estava prestes a se virar e sair quando ela o parou, deslizando as mãos pelos seus ombros e colocando-se à sua frente.

— Nos piores momentos eu pensei em desistir, sabe? Arranjar outra identidade e desaparecer ou colocar uma bala na cabeça, as duas coisas pareciam muito fáceis de se fazer às vezes. Mas Clint ajudou. Estar ao lado dele, ter um referêncial, isso mudou alguma coisa, não me retirar do mundo. Bucky também vai perceber isso.  

Devagar, Steve aquiesceu, percebendo que mais uma vez Natasha tinha lhe dado algo muito intímo, uma parte de si mesma que ela provavelmente só tinha compartilhado com Clint, apenas para que ele tivesse a chance de fazer a coisa certa.

— Acho que eu vou precisar de uma pausa. Você sabe, para cuidar do Bucky. Algum tempo sem ter que lutar, até as que as coisas voltem a fazer sentido para ele.

— Nós damos conta sem você, Capitão — ela afirmou em um tom mais leve, piscando um olho. — De qualquer forma, não vai fazer mal deixar a poeira baixar com o Tony. Nem deixar sua próxima aparição pública para quando os governantes já tiverem esquecido que você invadiu uma prisão que deveria ser impenetrável e libertou uma dezena de heróis — completou com uma ponta de humor, porém aquilo realmente parecia sensato.

Steve acenou em concordância.

— Obrigado, Nat — repetiu, com a sensação de que nunca pararia de precisar agradecer a ela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo