Amanhã

     O que devemos esperar do amanhã? Certamente, mais do que esperamos o hoje. O amanhã é imprevisível, não é sensato, é escorregadio. Dele podemos esperar tanto o tudo, quanto o nada. O amanhã pode surgir como uma manhã ensolarada, um céu aberto, um clima confortável, como também pode surgir como uma tempestade, onde somos arrastados pelas correntezas da vida. O amanhã é incerto pra mim, incerto pra você e incerto para a sua avó. Podemos amanhecer saudáveis, felizes, tristes, angustiados, ou até mesmo, podemos não amanhecer.

     O amanhã pode simplesmente não chegar para mim. Mas caso chegue, eu sei o que querer.

     Quero uma vida melhor, sem falsidade ou tristeza, amigos verdadeiros e amores passageiros. Quero ser clichê. Andar de bicicleta, fazer piquenique ao luar, dividir a pipoca no cinema e participar de um jantar romântico. Quero receber flores, ser amada, ser amiga, ser companheira, quero um futuro melhor para minha família.

     Também quero ser moderna. Aquela garota antenada a tudo e a todos, que sabe ir contra opiniões machistas, e o mais importante, que sabe se impor, sem precisar menosprezar ou rebaixar alguém para isso.

     Quero ser louca. Definitivamente! Quero sair por ai gritando que não me importo, que na verdade, estou pouco me fodendo pro que esta acontecendo naquele exato instante. Quero ligar o botão vermelho do foda-se. Sair, me divertir, quem sabe até ir pra balada só pra dançar em cima de um balcão como uma vadia louca.

    Quero ir alem. Fazer mais, desafiar meus limites, me desafiar acima de tudo. Quero pular de paraquedas. Fazer bungee-jump. Até rapel eu aceito, se você for junto. Quero me sentir livre. Quero ser livre.

     Quero ser mãe. Ter filhos. Garotas. Trigêmeas, de preferência. Quero uma gravidez agitada, com desejos malucos, em horas mais malucas ainda! Quero me sentir amada, poder sentir seus chutes em minha barriga, junto com a dor de cólicas e a pressão de ter que empurrar algo – alguém! – para fora do meu corpo. Quero me sentir completa, com, ou sem marido ao meu lado.

     Quero trabalhar. Fazer o que eu amo.

     Quero ensinar.

     Quero escrever.

     Quero encantar.

     Quero ser encantada.

     Quero ler.

     Quero fazer.

     Quero viver.

     Quero me arriscar.

     Quero pedalar.

     Quero me amar.

Mas acima de tudo, quero viver o hoje. Quero pensar no meu dia, para logo após mexer o meu mindinho do pé só para sentir ele. O agora. Quero relaxar. Não quero pensar nem no ontem e nem no manhã. Quero apenas prestar atenção na suave brisa que toca meu rosto neste exato momento, olhar para o relógio e perceber que, mais uma vez, estou passando a madrugada em claro, fazendo o que eu gosto, ouvindo o que eu gosto.

Quero deixar as preocupações para depois. Não me importar com ninguém. Não ouvir ninguém. Não precisar ajudar ninguém.

Quero sorrir.

Quero chorar por um amor impossível.

Quero ferver de ódio por causa de uma simples série de TV.

Quero ser apenas eu, no meu computador, escrevendo algo sem sentido às duas da manhã.

E o mais importante. Quero viver o hoje.

Quero viver o agora.