Mentes Quebradas escrita por Nando


Capítulo 6
No fundo do poço


Notas iniciais do capítulo

E estou de volta com mais um capítulo! O golpe do Quebra-Mentes atingiu em cheio no seio dos Unknowns. O seu chefe está agora desesperado em busca de uma resposta, encontrando-se perdido no fundo de um poço de mágoas e angústias, conseguirá encontrar o caminho de saída?



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“Será o fim dos Unknowns?”

            Estava farto de ouvir esta pergunta. Após o Quebra-Mentes ter levado ao suicídio uma pessoa que já tínhamos entrado em contacto, reforçamos as conversas com as pessoas onlines, tornando-as mais duradouras e amigáveis. Mas nem isso foi suficiente. Bastou apenas uma semana para ele fazer uma nova vítima. Também tinha sido uma pessoa contactada por nós, e também tinha sido eu a falar com ela. Estava tão enervado que só me apetecia começar a partir tudo ao meu redor e gritar um monte de palavrões. Após este duro golpe, os media disparavam com notícias sobre o nosso grupo e cada vez mais gente era contra, dizendo que não passava-mos de crianças iludidas.

            Seria isso o que erámos? Crianças que pensavam que mudariam alguma coisa, mas que foram paradas em menos de um mês? Seria tudo do que eramos capazes? Não iria conseguir vingar a minha irmã?

            Dei um soco na mesa tentando reprimir estes sentimentos. As palavras do meu pai e a dos repórteres flutuavam-me na cabeça, cada vez mais aumentando o peso que carregava sobre os meus ombros. Já não conseguia dormir direito desde a primeira vez que aquele maldito tinha realizado esta proeza. Após ter realizado a segunda, dormir já não era opção, caso conseguisse, era invadido por pesadelos onde o seu nome era sussurrado por cadáveres presos pelo pescoço. Até na alimentação me tinha descaído, tendo perdido três quilos numa semana. A minha família notava, mas ligavam á morte da minha irmã, o que de certa forma estava correto… Ahhhhhhhh! O que haveria de fazer para contrariar esta situação?

            Recebi uma notificação no telemóvel. Era do grupo. Mais uma pessoa tinha saído, ficando o grupo em volta dos dez mil. A raiz quadrada do número anterior. Havia alguns que ainda tentavam fazer com que o grupo fosse no sentido certo, dando mensagens inspiradoras. As que se destacavam mais eram as da SilentWolf e as de CryingAngel (não fazia a mínima ideia de quem era). Eram estas mensagens que me forçavam a pensar numa maneira de reverter a situação. Mas qual seria a saída deste labirinto?

            Senti alguém tocar-me no ombro. Estes pensamentos revoltosos tomaram o controlo das minhas atitudes no momento em que falei:

            -O QUE FOI?!

            Tinha sido rude demais. Olhei para trás e deparei-me com Alice. Foi como se um peso ainda mais forte se acumulasse com todos os outros. A pessoa que eu queria menos magoar, tinha de me aparecer neste momento. Mas será que estava tudo numa conspiração contra mim? Será que estou num teste feito por um Deus que quer apenas brincar com os meus sentimentos?

            Estes pensamentos passaram-me como um raio na minha cabeça enquanto Alice me fintava num misto de surpreendida e assustada:

            -Desculpa, eu só queria…

            Virou-se e foi na direção contrária. Queria-lhe pedir desculpa, queria-lhe dizer para voltar. Mas as palavras não saiam, e ela desapareceu do meu ponto de vista.

            Naquele momento não pensei em nada. Levantei-me e fui para um lugar sem ninguém. Quando me vi sozinho, olhei a parede que se encontrava á minha frente e dei-lhe um soco, com toda a força que tinha. Senti uma dor a percorrer-me a mão. Era uma dor forte que me fazia querer gritar. Mas não o fiz. Reprimi esta dor para mim, trincando o lábio para impedir que saísse algum som. Por algum motivo, enquanto esta dor me percorria, tinha-me esquecido do enorme fardo que carregava, foram apenas uns breves segundos mas tinham-me ajudado a descarregar toda a minha raiva e o meu peso em alguma coisa.

Sangue escorria-me da mão, deixando a parede e o chão manchados. Limpo o sangue da mão com um guardanapo e vou em direção á sala como se nada tivesse acontecido, tentando ao máximo esconder a minha mão ferida.

Esta tarefa revelou-se mais fácil do que pensara. Edward tinha ido passar uma semana aos EUA com a família, e como tinha sido rude com Alice ela não me dirigiu a palavra mesmo quando nos cruzámos á entrada da sala, baixando a cabeça e passando por mim, evitando qualquer conversa. Marta passou atrás dela mas nem ligou ao comportamento da amiga. Parecia perdida nos seus pensamentos. A minha experiência tinha praticamente comprovado que ela era a SilentWolf por isso devia estar preocupada pelo futuro dos Unknowns. Queria falar com ela. Queria-lhe dizer que eu era o chefe do grupo. Queria-lhe pedir ajuda para me motivar. Mas as palavras não saíram, limitando-me apenas a seguir o fluxo de alunos a entrar na sala. No final eu não passava de mais um, as minhas tentativas para ser alguém tinham-se mostrado infrutíferas. Porque não podia continuar a viver esta vida normal? A melhor opção seria acabar com o grupo. Tinha de me habituar á ideia. O Quebra-Mentes era um adversário muito poderoso. E a cada dia que passava as nossas vitórias para um mundo virtual seguro iam diminuindo, sendo praticamente nulas. O melhor era eu desistir de tudo. Seguiria com uma vida normal. Acabaria a escola e tiraria um curso qualquer na universidade para ter um trabalho qualquer para me puder sustentar, e, quem sabe, talvez sustentar uma esposa e filhos. Uma vida normal era tudo o que eu podia aspirar em conseguir. O grupo simplesmente desapareceria, como se nunca tivesse existido…

As aulas da tarde passaram todas a correr. Embora o meu corpo continuasse na sala, a minha estava noutro local. Num local de sonhos, onde tudo era simples…

A campainha final foi como uma chamada de retorno para a realidade. Tinha de a encarar de alguma maneira. Levantei-me e fui em direção ao portão da escola. Parei antes de sair. Hoje não tinha de ir buscar a minha irmã á escola, ela tinha aulas de piano, por isso podia optar por um caminho mais longo.

Deixei-me levar pelo meu corpo. A minha mente desta vez foi para um lugar onde não se ouvia nada. Onde não havia conflitos entre o que era certo e o que era errado. Num lugar onde as vozinhas irritantes dentro de mim cessaram. Não era um lugar de sonho, mas sim um lugar de paz.

Quando a minha mente voltou ao meu corpo, parei para ver onde me encontrava. Estava longe de casa. Não sabia dizer se isso era bom ou mau. Reparei que estava em cima de uma ponte para peões. Por baixo de mim encontrava-se o rio que atravessava a cidade naquele ponto. Uma ideia passou-me pela minha mente. Como seria a morte? Seria dolorosa? E após isso para onde iria? Estaria Deus á minha espera, ou encontraria o nada?

Fitei a água abaixo de mim. A corrente estava forte. Senti uma pinga de água cair-me na testa. Olhei para cima e deparei-me com nuvens cinzentas a cobrir o céu. Estava a começar a chover.

Voltei a olhar para a água abaixo de mim, em busca de uma resposta. E é então, num momento de loucura, que agarro a rede que impedia que as pessoas caíssem. A minha mente voltou para o lugar de paz. Era o momento de me libertar de tudo. Ia passando para o outro lado, mas algo me percorre a espinha, paralisando os meus movimentos. Senti os olhos de alguém a percorrer cada parte do meu corpo. Olhei para os dois lados e deparei-me com quatro homens, dois vinham do lado esquerdo e outros dois do lado direito, usavam roupas casuais e todos com óculos de sol e chapéu. Fiquei parado onde me encontrava. O que queriam eles? Vendo-me naquela situação qualquer pessoa gritaria ou tentar-me-ia chamar á razão, mas eles limitavam-se a caminhar na minha direção. Pousei os pés no chão, e tentei ver qual eram as minhas saídas. Se tentasse correr provavelmente eles me apanhariam, por isso o melhor era manter-me quieto e perceber porque é que estariam aqui. Teriam descoberto que eu era o chefe dos Unknowns? Teriam sido mandados pelo Quebra-Mentes? Seria assim que ele mataria os seus alvos? Seria o suicídio apenas uma farsa?

Os homens pararam quando chegaram perto de mim, mantendo uma distância considerável. Houve um que se aproximou e disse:

—Foste convocado para ter uma reunião com uma pessoa.

Franzi o sobrolho. O que se estava a passar ali?!

—Que pessoa é essa?

—Saberás quando descobrires.

A resposta dele foi automática, como se soubesse o que eu iria dizer. Mantive-me firme. Aquela situação não me agradava nada.

—Eu não vou para reuniões com pessoas que eu não conheço, lamento.

O homem olhou para os dois lados e aproximou-se sussurrando-me ao ouvido:

—Nós sabemos que tu és o chefe dos Unknowns…

Senti algo dentro de mim quebrar-se. Eu tinha pensado nesta possibilidade, mas esta revelação tinha-me apanhado de surpresa. Como teriam descoberto?! Eu tinha feito o melhor que conseguia para esconder a minha identidade. Ninguém no grupo sabia, como eles tinham descoberto?! Tentei ao máximo manter a compostura, embora tivesse quase a certeza que eles podiam-me ler claramente:

—Lamento mas não sou eu. Nem do grupo sou, por isso desculpem-me…

Tentei sair pela única rota que se encontrava aberta. Agarrei-me á rede e preparava-me para a subir, mas fui puxado por uma mão com uma força tremenda. Senti os meus braços e pernas a serem agarrados. Debati-me o máximo que consegui, tentei gritar mas puseram-me a mão na boca, impedindo a saída do mais ínfimo som. A chuva caía torrencialmente. Os pensamentos tormentosos voltaram em força. Porque é que aquilo me estava a acontecer? Porquê eu? Era este o resultado de tentar salvar as pessoas e tentar tornar o mundo um lugar melhor? Alguém me desse uma resposta!

O homem que tinha falado comigo chegou-se perto de mim trazendo algo na mão que eu não conseguia distinguir o que era. Falou-me em voz baixa:

—Podíamos ter ido pelo caminho mais fácil…

Senti uma dor eletrizante percorrer-me o corpo todo, e, no segundo a seguir, a escuridão envolveu-me, cessando todos os meus sentidos e pensamentos…


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? Não esqueçam de dar a vossa opinião, que eu adoro-vos ouvir! E, se gostaram, não esqueçam de favoritar e acompanhar a história. Isso ajuda-me a progredir! Até á próxima!



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