Durante o dia, as duas garotas tentavam agir, como se nada daqueles atos tão íntimos acontecessem durante a noite, porém, algo mudou entre elas, como suaves carinhos furtivos e ternos beijos no rosto, que demoravam um pouco mais de tempo, principalmente, da parte de Lia, que se sentia mais à vontade consigo mesma.

E como o passar dos tempos, também, Jean foi ficando cada vez mais próximo delas, estava sempre por perto, assim outro hábito, que se criou, era de ele dormir, várias vezes, na casa delas, principalmente, depois das aulas de desenho ou, nos fins de semanas, quando voltava de algum programa, tarde da noite. No princípio, Lia parecia não gostar muito da presença dele ali, sempre, tão atrevido, chegando a reclamar com Sofia.

— Sabe porque você acha isso dele, é porque vocês são muito parecidos, impetuosos e voluntariosos – Sofia declarou, achando graça dela.

— Como assim? Eu não me pareço com ele! – Ela declarou, irritada.

— Claro que são! Vocês dois são intensos, viscerais e instintivos, vão em busca do que querem. Eu invejo isso, porque eu penso muito, deixo de fazer o que eu quero, por medo de me arriscar.

— Por que você teria medo de fazer o que quer? Não sei se ser desse jeito é tão bom, pois, muitas vezes, sinto-me como se queimasse por dentro, com tantas emoções, preste a explodir. E quando isso acontece e eu extravaso, faço o que tenho vontade, me arrependo depois – Lia confessou, Sofia a olhou com dúvidas, imaginando se aquela declaração teria haver com ela, mas a amiga percebeu, acariciou o seu rosto com carinho. – Isso não tem nada a ver com você, minha querida Sofia. Você foi uma das melhores coisas, que aconteceu na nesse momento da minha vida, então por que não se deixar levar e aproveitar?

E a medida que o inverno avançava, Jean ficava mais tempo por lá, Lia se acostumou com sua presença, ficaram mais próximos, quase amigos. Assim, praticamente, em todos os fins de semana, os três bebiam, enquanto conversavam, riam e brincavam, madrugada adentro e, como estava em pleno inverno, eles quase não saíam, passavam muito tempo juntos, dentro de casa. E, como o frio era ficava mais intenso, ele dividia a grande cama com elas, apenas para dormir, disputando quem ficaria no meio.

Naquela madrugada, Sofia perdeu, e já amanhecia, quando ela se virou e abriu os olhos, no mesmo momento que Jean, também, abriu os deles, ficando cara a cara.

— Bom dia – ele disse, baixinho, com a expressão sonolenta e os olhos inchados, os cabelos sobre a testa.

— Bom dia – Sofia sussurrou, Lia se moveu, dormindo, ajeitando-se melhor – Ela vai demorar a acordar – previu e Jean a olhava com interesse por algum tempo, deixando Sofia um tanto constrangida.

— Eu poderia desenhar você assim como está agora – murmurou, tirando alguns fios de cabelos da testa dela.

— Com a cara amassada de quem acabou de acordar? Por que? - Ela indagou, baixinho, divertida.

— Porque você está bonita assim, natural – E, inesperadamente, Jean se aproximou e deu um leve beijo nos lábios, na face, nos olhos dela, surpreendendo-a, Sofia o sentiu rígido junto a ela, ele se afastou sorrindo, enigmático, e quando a mão suave dele a acariciava de modo atrevido, fechou os olhou e suspirou de prazer.

— O que os dois estão fazendo? – Ouviram a voz sonolenta de Lia e se afastaram, ligeiros.

 Perto do natal, Sofia fez uma proposta a Jean e Lia, quando estavam deitados, indolentes, no sofá e no chão da sala, ouvindo música e bebendo vinho.

— Vou à Inglaterra para as festas de fim de ano, vocês poderiam vir comigo, ajudariam aturar meus pais e todo o resto da família.

— Inglaterra! Seria ótimo, mas não tenho dinheiro e vou que trabalhar, antes do feriado – Lia respondeu, prontamente, desanimada.

— Dinheiro não seria problema, pois eu pagaria as passagens e ficaríamos na casa da minha família, lá tem lugar para todos - Sofia deu a solução.

— Mesmo assim, tenho que trabalhar, já que não tenho família aqui, prometi que cobriria as folgas dos outros – Lia revelou, chateada.

— E você, Jean?

— Bem que gostaria de ir, mas, também, tenho que trabalhar, é a época que mais vendemos. Além disso, meus pais virão passar as festas aqui e eu não os vejo, há muito tempo. Eles ficarão chateados, se eu viajar nesta época – desculpou-se Jean.

— Estou vendo, que vou ter de enfrentar a minha família, sozinha – Sofia declarou, conformada.

— Então, por que você vai, se isso a aborrece tanto, Sofia? – Jean perguntou.

— Porque meus pais estarão lá e eu não os vejo há muito tempo, também. Além disso, minha avó é muito idosa, sempre achamos que pode ser o seu último natal. E meu irmão Marcelo e a namorada dele, Ana, também irão e eu estou curiosa para conhecê-la. Você sabe que eles vão se casar em abril – Sofia concluiu, satisfeita pela rebeldia do irmão, em contrariar a família.

— E quando você irá? – Lia indagou, de forma casual.

— Daqui alguns dias, na véspera do natal. E você, Lia, vai passar o natal sozinha?

— Eu acho que sim - Lia respondeu, tristonha.

— Você pode passar o natal na casa dos meus tios, pois será muito triste, passar o seu primeiro natal longe de casa, sozinha, Lia – Jean a convidou.

— Obrigada, Jean.